31 October 2021

BELO E ESTRANHO
 

Será um caso típico de mais vale tarde que nunca. Mas a Rough Trade que sempre fez questão de andar um passo à frente da concorrência, só há pouco se deu conta de que existia “beautiful and strange traditional music from Britain, Ireland and beyond” (refira-se, contudo, a atenuante de lhe devermos a publicação de Between The Earth And The Sky, 2017, e The Livelong Day, 2019, dos extraordinários Lankum). Para a dar a conhecer, criou a etiqueta River Lea – dirigida por Geoff Travis e Jeannette Lee – na qual publicou já álbuns de Lisa O’Neill, Ye Vagabonds, Brìghde Chaimbeul e, agora, I Would Not Live Always, a imperial estreia a solo de John Francis Flynn, também muito activo membro do quinteto folk de Dublin, Skipper’s Alley. Foi, justamente, num concerto dos Lankum de que Flynn realizava a primeira parte, que Travis se apercebeu da impressionante riqueza daquela música que não se deixava sufocar pelo respeitinho à tradição mas a fazia explodir em mil direcções. (daqui; segue para aqui)

Já há seis anos as minhas preferências eram claríssimas; neste momento em que o grupelho trotsquista está a ferver, há que repeti-lo bem alto: Che do cabelinho à foda-se e Florimelo ao poder!

28 October 2021

Tweedledee - um outro peso político










 
"I Dreamed I Was Awake for a Very Long Time"
 
(sequência daqui) Nascido de uma expedição de "field recording" “em busca de fantasmas”, armadas de um gravador Tascam, “coleccionámos gravações, retirámo-las do contexto e construimos mundos em torno delas; pode dizer-se que o álbum é uma exploração miniatural do som na sua relação com a memória”. Lado a lado e meticulosamente cerzidos, um piano decrépito, uma mesa operatória, uma casa em ruinas, uma única nota de trompete, um "bunker" abandonado em Berlim. Antes, tinham imaginado uma banda sonora para Buster Keaton, trabalhado com os Public Service Broadcasting e inventado contrapontos para música e focos de luz. Agora, fazem pensar numa Virginia Astley dedicada à poética da arqueologia urbana.

26 October 2021

“As palavras, indomáveis como são, fazem sempre ricochete. Como num jogo de espelhos, reflectem-se até ao infinito e, como nas caixas de bonecas russas, afundam-nos até ao nosso interior”. Paulo Rangel, Público, 19/10/2021 

Despedindo-se da sua actividade de cronista neste jornal ("Público"), Paulo Rangel elevou a sua propensão para o kitsch à máxima potência e o resultado é digno de ser lido. Não é a primeira vez que esta sua vocação se manifesta de maneira esplendorosa, mas agora que começou a sua corrida para um dia chegar a primeiro-ministro começamos a antever que após o “ciclo” (como se diz hoje) do discurso baixo e áspero de Costa, vamos ter o ciclo da elevação enfática de Rangel. É a isto que se chama alternância. Não subestimemos o factor da elaboração discursiva: aí aloja-se a ideologia e a visão do mundo. Paulo Rangel será certamente um bom laboratório para a observação dos efeitos do kitsch viscoso nas regiões pragmáticas. (AG; ver também aqui)

Silent Speech — Law of Instability/Orderly Chaos

(álbum integral)
 
 
(com a colaboração do correspondente do PdC em Pequim)

25 October 2021

O estado da arte: magia negra 
EM BUSCA DE FANTASMAS
 

Em 1967, Richard Brautigan – romancista, contista e poeta a meio caminho entre a geração "beat" e a contracultura de São Francisco da época, figura menor mas de culto persistente – publicou 1500 cópias do poema “All Watched Over By Machines Of Loving Grace” o qual, como aconteceu com várias das suas obras iniciais, distribuiria gratuitamente pelas ruas. É uma visão "naïve" de um ciberbucolismo filho de Thoreau, Lafargue e das utopias tecnológicas da época (“I like to think – it has to be! – of a cybernetic ecology where we are free of our labors and joined back to nature, returned to our mammal brothers and sisters, and all watched over by machines of loving grace”) que, relido mais de meio século depois, arrepia um bocadinho quando imaginamos o que poderiam ser (ou no que se tornariam) as “machines of loving grace”. Mas que, enquanto título alusivo da sexta faixa de The Hill, The Light, The Ghost, quinto álbum das Haiku Salut (Gemma Barkerwood, Sophie Barkerwood e Louise Croft, executantes de acordeão, piano, glockenspiel, trompete, trombone, guitarra, ukulele, percussões, melódica, malletkat, sintetizadores, e o resto a que chamam “loopery and laptopery”), sintetiza bem o geométrico pastoralismo assombrado de todo o disco. (daqui; segue para aqui)
 
Vale muito a pena ver tão sublime exemplo da estética e da ética Dauerling, espelho dos mais elevados valores da pátria

22 October 2021

... e 1 000 000€ em 3892

"Descansa a Cabeça"  

(sequência daqui) Em qualquer dos casos, porém, não era, então, habitual nem inócuo escutar canções em que se cantava “Vim ao mundo, por acaso, em Portugal, não tenho pátria, sou sozinho e sou da cama dos meus pais, sou donde vos apetecer, sou do mar e sou do corpo das mulheres estranguladas nos canais” ("Descansa A Cabeça", Sérgio Godinho) ou, inesperada e quase wildeanamente (“All art is quite useless”), se admitia a inconsequência dos propósitos: “Quanto a nós, nós cantores da palidez, nosso canto nunca fez filhos sãos a uma mulher, nem sequer passa o mel nos nossos ramos, pois a abelha que cantamos será mosca até morrer” ("Cantiga Para Pedir Dois Tostões", José Mário Branco). Quatro anos mais tarde, já integrado no GAC (Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta), um colectivo de “militantes, agitadores e propagandistas políticos”, José Mário – em pleno PREC, um cantor de muito menor “palidez” – ensaiaria uma actualização da antiga corrente dos "nacionalismos musicais", de Bela Bartok a Fernando Lopes Graça, e, no programa estético-político do grupo, para além de sublinhar a “riquíssima herança da arte popular espontânea”, reflectiria sobre "a unidade da política e da arte" e sobre o erro que consistia em identificar "o conceito de ‘conteúdo’ com o nível ‘literário’ da arte (seja o texto de uma canção, seja o texto de uma banda desenhada ou de uma peça de teatro), esquecendo que as artes plásticas têm também o seu próprio conteúdo", simétrico daquele outro equívoco que associa "o conceito de ‘forma’ com o suporte plástico de um discurso literário, esquecendo que a música, o desenho ou o jogo dramático são linguagens significantes por si mesmas, mesmo quando, aparentemente, servem ‘só’ de suporte a um discurso literário". Tudo tinha mudado para sempre.

Walter Ruttmann - Wochenende (1930)


20 October 2021

Devia ser esta a "magnificente qualidade de vida" de que falava o outro e ninguém lhe ligou nenhuma, coitado...
 
... e mais um episódio da novela 
"Não podemos apagar a História", observada agora do ângulo oposto

 (diga-se, de passagem, quase tão lindinho como este)

É muito, muito difícil imaginar vidas mais insuportavelmente aborrecidas...
Andrea Falconieri - Folias echa para mi Señora Doña Tarolilla de Carallenos (Delirivm Música Antigua)

19 October 2021

VINTAGE (DXC)

Chuck Berry - "You Can't Catch Me"

(ver aqui)

(com a colaboração do correspondente do PdC em Pequim)

(Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades - álbum integral aqui)
 
(sequência daqui) Numa noite de 1969, em Paris, José Afonso e José Mário Branco haviam-se conhecido quando este, que cantava numa associação popular dos arredores, teve notícia de que Afonso iria actuar no Foyer International des Étudiants, no Boulevard Saint Michel, e não quis perder a oportunidade de se encontrar com ele. Foi o instante zero: Zeca Afonso passaria a actuar como pombo-correio entre Branco e a editora Sassetti (que publicaria Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades em Novembro de !971) e Zé Mário seria responsável pela produção de Cantigas do Maio (saído um mês depois). Ao mesmo tempo, este e Sérgio Godinho colaboravam nos álbuns um do outro e, pelo caminho, iam encontrando respostas para a questão “o que é uma canção e para a descoberta desse “objecto novo” e dessa “linguagem diferente”. Respostas inevitavelmente diferentes também. Embora tendo como pivot natural José Mário Branco (produtor dos três álbuns), se Godinho filigranava os textos e não escondia a francófila contaminação pela "chanson" em simultâneo com a respiração pop/rock/folk anglo-americana, Zé Mário, naquilo a que, mais tarde, chamaria “a luta de fundo contra os limites da forma da canção”, iniciava a ofensiva contra “os ‘clichés’, quase todos subprodutos da harmonia temperada de Bach” e atirava-se a um “conjunto de desafios criativos que partem sempre de uma referência ao mais antigo que há e que nos parece sempre moderníssimo, inventado ontem”. Por diversas vias, tudo isso se derramaria no disco de José Afonso, escancarando-lhe as portas para o período musicalmente mais rico da sua discografia. (segue para aqui)
Três palavras, três erros  
(até para a Lenita deve ser um record)

16 October 2021

A nova palavra de ordem do Chaga:

Não à invasão dos Vikings oriundos da Jutlândia às Lofoten, de Sogn a Uppsala!
Desde a Pouca Begonha que isto andava muito parado...
Confissões da latrina (ou por trás de um gebo javardolas talhado em corno existe sempre um delicado malmequer)

Foundation Velvet: The Drumming Of Maureen 'Moe' Tucker (real. Cam Forrester)

15 October 2021

Quem fará a caridade de explicar ao Tweedledee o significado de "esperança"? ("Disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa se há-de realizar ou suceder; coisa que se espera", "crença de quem espera que seu desejo se torne realidade", "Esperança é sinónimo de: espera (...)"; "Designação de espera"; "Acto de esperar aquilo que se deseja obter (...) Aquilo que se espera, desejando"; ou, vaneigemizando um pouco, "A esperança é a trela da submissão")

Se eu responder "rafeiro" ("Say it loud, I'm rafeiro and I'm proud!"), serve?
Cantigas do Maio (álbum integral)
 
(sequência daqui) Agora que se assinala meio século sobre o lançamento das três gravações que deslocaram decisivamente o centro de gravidade da música popular portuguesa – Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades, Os Sobreviventes (estreias em álbum de José Mário Branco e Sérgio Godinho) e Cantigas do Maio, de José Afonso e produzido por Mário Branco – não é irrelevante recordar como, na atmosfera da época, esse abalo se produziu. Zeca Afonso era já uma figura decisiva no campo da oposição política e cultural – seria preso em Caxias por duas vezes – ao Estado Novo: tinha já gravado Baladas e Canções (1964), Cantares do Andarilho (1968), Contos Velhos Rumos Novos (1969) e Traz Outro Amigo Também (1970) mas não apenas continuava ainda demasiado preso às coordenadas estéticas das baladas de Coimbra – embora, a partir de Contos Velhos..., começasse a alargar o espectro da sua paleta sonora – como, por outro lado, ele que encarava a escrita enquanto “uma espécie de exorcismos ou evocações de vivências populares, com termos e vocábulos que já não existem e que me reportam a uma certa saudade de aspectos de uma vida comunitária que, agora, me ultrapassa (...), uma espécie de estado de semiconsciência em que as palavras vêm à superfície, desligadas de qualquer necessidade lógica”, ver-se-ia acusado dos gravíssimos desvios de “poetismo”, “hermetismo” e de “não compreender a função da música na vida das massas”. Ou, no outro lado da barricada, de excesso de “panfletarismo”. Era um momento em que, à canção popular, pouco mais se exigia do que ser o equivalente musical de uma palavra de ordem ou de uma pichagem, coisa que incomodava seriamente José Afonso (“A canção de protesto está a transformar-se num bem de consumo e num álibi de consciências”) e lhe alimentava o desejo de “matar definitivamente a choradeira das baladas”. (segue para aqui)

14 October 2021

Para o que verdadeiramente importa: 1) Reafirma-se a legalidade e legitimidade da selvajaria mascarada de "cultura"; 2) Aprova-se um decreto-lei totalmente inútil e inconsequente; 3) Simula-se (mal e porcamente) a existência activa de um ministério e de uma ministra (grande defensora dos "valores civilizacionais") realmente inexistentes *
 
 
* ... mas não é garantido que isso renda algum voto da beatagem social-fascista-racista e marialva
Rats On Rafts - "Osaka"

"We wrote 'Osaka' about our very brief visit to the Japanese city of Osaka, a short but very inspiring visit, such an amazing city though it was all over before we ever realized it happened. The song has become one of our favourites to play live. The music-video was recorded live as part of our music film Visions Of Chapter 3. Because of the COVID-19 related restrictions it was impossible to play our new album Excerpts From Chapter 3: The Mind Runs A Net Of Rabbit Paths live at the time so we teamed up with A Small Production Company to record a live show in which many different art forms are combined"

Um primeiro ensaio - ainda tosco e pouco sofisticado - do género de paleio que milhões de trabalhadores (aliás, "colaboradores") irão ouvir quando lhes for comunicado que, é uma pena, mas tornaram-se obsoletos   

"O receio por parte dos trabalhadores de que a introdução de robots leve a uma diminuição das necessidades de mão-de-obra e conduza as pessoas ao desemprego é uma das questões abordadas por João Xará. 'Temos de ter sempre uma comunicação muito clara com os nossos colaboradores', afirma. 'Comunicarmos o porquê de o estarmos a fazer e quais as vantagens é importante, para os trabalhadores perceberem que as mudanças são para fazer crescer e evoluir a empresa e não para lhes tirar o posto de trabalho'"

12 October 2021

Batman e Robin são já um velho casal; o Tintin exige reserva de privacidade; o Asterix e o Obelix é uma questão de tempo; mas, quanto ao Super-Homem, há que reconhecer que, como sempre, só o Kaizer Albino viu o futuro


O QUE É UMA CANÇÃO?


“Acho que é mesmo uma fruta do tempo. Coincidiram ali vários aspectos que talvez ajudem a perceber porque comecei por ir por aí... o Zeca Afonso, o movimento dos ‘baladeiros’... tínhamos discussões de caixão à cova entre nós por causa daquela prótese criativa que existia na altura e que era pegar nos livros dos poetas e fazer canções. O debate – que chegou a levar a cortes de relações – era sobre o que é uma canção. Uma canção não é uma poesia servir de auto-colante para uma música qualquer, é um objecto novo, uma linguagem diferente. É filha, mesmo no sentido genético, da música e da palavra. Não há hipótese de fugir a isso e eu insurgia-me contra essa mania dos livros de poemas (ainda por cima, coisas neo-realistas), e fazer canções a metro com dois, três acordes, primeira-segunda-e-marcha-atrás, uma melodização extremamente pobre e, frequentemente, contraditória com o sentido das palavras. Nem a música nem a poesia precisam de muletas para nada. São duas artes importantíssimas que existem por si. Depois, acontecem esses encontros e isso já é outra coisa. Desde a minha adolescência, existia uma ligação quase tão importante, da minha parte, à música como à poesia. À música enquanto música e à poesia enquanto poesia“, foi a resposta de José Mário Branco – na sua última entrevista ao “Expresso”, há três anos, por ocasião da públicação dos Inéditos 1967–1969 –, a uma pergunta sobre se o seu EP Seis Cantigas de Amigo (1969) tinha algo a ver, nesse tempo, com uma ideia de identidade ou de procura de uma raiz. (daqui; segue para aqui)

"Leda M'and'eu"
Ao cuidado de quem "polvilha" o cenário de The Great Fatima Swindle: novos pontos de vista acerca do comprimento da saia (e demais adereços) da Super-Virgem:
 
(clicar na imagem para ampliar)

 Portugal numa casca de noz (LXIII)

A Grande Procissão de Entrega da Santíssima Pen (das tradições e devoções populares tão ao gosto das nossas gentes simples)

09 October 2021


(ver também aqui)
 

(sequência daqui) Publicado em Novembro de 1970, sete meses após a dissolução dos Beatles, a declaração de independência de Harrison (e também o primeiro álbum triplo de um músico a solo) foi qualificada como “Wagnerian, Brucknerian, the music of mountain tops and vast horizons" e “um ar revigorante de libertação criativa” do “único Beatle que terá ficado feliz com a extinção dos Beatles”. Mas foi Martin Scorsese – que, sobre ele, realizou Living In The Material World (2011) – quem mais se terá aproximado da verdade: “Tinha a grandiosidade da música litúrgica ou dos sinos usados nas cerimónias do Budismo Tibetano”. Ao contrário de Bob Dylan, apedrejado durante o severo período "born-again", a salada russa de cristianismo, hinduismo e budismo cozinhada por George Harrison em All Things... dava-se bem com o ar dos tempos em que o esoterismo "new age" já germinava. Na reedição do 50º aniversário, liberta-se também dos mais invasivos excessos spectorianos que, concluídas as gravações, Harrison nunca verdadeiramente amou, mantendo como bússola o princípio que Dhani enuncia: “Não quis, como em muitos 'box-sets' acontece, incluir 8 'takes' de uma canção mais 8 de outra. Nunca irei rapar o fundo ao tacho. Prometi-o a mim mesmo quando o meu pai morreu”. (50th anniversary super deluxe edition integral aqui)

06 October 2021

 
(sequência daqui) Quando Klaus Voorman (baixista, amigo dos Beatles desde os tempos heróicos de Hamburgo e autor do desenho da capa de Revolver) pôs o pé dentro do que, em breve, iria ser conhecido como os estúdios de Abbey Road, não fazia a menor ideia do que ali estava em curso. Sabia apenas que, na companhia de George e Ringo, iria gravar 15 canções e, no dia seguinte, outras tantas. Meia dúzia nunca chegaria a conquistar lugar no álbum mas as outras foram entregues nas mãos de Phil Spector. A partir daí, enquanto Harrison acendia velas e pauzinhos de incenso junto a um pequeno altar no interior do estúdio e autorizava que os seus amigos do movimento Hare Krishna circulassem livremente, Spector exigia luzes muito fracas e o ar condicionado no máximo – a temperatura deveria ser tão baixa quanto humanamente suportável. Eram essas as condições ideais para dirigir a imensa trupe de músicos que incluía duas baterias, pianos, orgãos e sintetizadores vários (tocando as mesmas harmonias em diferentes oitavas), cinco guitarras rítmicas, cordas, percussões, sopros e coros, numa orgia de eco, "reverb" e "overdubs". Pelo caminho, Spector foi-se aborrecendo com os atrasos na gravação (Harrison, por motivos familiares, tivera de se ausentar), e acabou por fracturar um braço, para o que os dezoito "cherry brandies" de que necessitava para começar a carburar terão, certamente, contribuído. O pacífico George irritou-se e acabou por concluir a produção do álbum sozinho, isto é, com a multidão de músicos (Gary Brooker, Peter Frampton, Eric Clapton, Dave Mason, Carl Radle, Bobby Keys, Phil Collins, Jim Price, Gary Wright, Tony Ashton, Billy Preston, Jim Gordon, Pete Drake) que nele foram participando. (segue para aqui)
E, muito provavelmente, 
chamam "ciência" a isto...

05 October 2021

Andrea Falconieri - Battalla de Barabaso Yerno de Satanas (I Virtuosi Delle Muse)
Sean Carroll's Mindscape: Robert Sapolsky on why we behave the way we do

"A common argument against free will is that human behavior is not freely chosen, but rather determined by a number of factors. So what are those factors, anyway? There’s no one better equipped to answer this question than Robert Sapolsky, a leading psychoneurobiologist who has studied human behavior from a variety of angles. In this conversation we follow the path Sapolsky sets out in his bestselling book Behave, where he examines the influences on our behavior from a variety of timescales, from the very short (signals from the amygdala) to the quite ancient (genetic factors tracing back tens of thousands of years and more). It’s a dizzying tour that helps us understand the complexity of human action."

04 October 2021

VINTAGE (DLXXXVIII)

The Beatles - "Come Together"

"'Come Together' is the opening track to Abbey Road, written by John Lennon and to be used as a campaign song for famed LSD enthusiast Timothy Leary, who was running for Governor of California at the time. It’s been suggested that each verse talks about one of the members of The Beatles or a self-portrait of Lennon himself. However, by his own admission, Lennon often simply filled his lyrics with non-sequiturs: 'The thing was created in the studio. It’s gobbledygook; 'Come Together' was an expression that Leary had come up with for his attempt at being president or whatever he wanted to be, and he asked me to write a campaign song. I tried and tried, but I couldn’t come up with one. But I came up with this, 'Come Together', which would’ve been no good to him – you couldn’t have a campaign song like that, right?'" (ver aqui)
A Lenita, batendo-se pelo seu estatuto de direitolas "hardliner", mais uma vez puxa ferozmente as orelhas aos direitolas online de menor firmeza (aliás, na justíssima linha do grande Kaizer Albino)
 
(sequência daqui) “Ele tinha o álbum completo na cabeça bem antes de ter começado a gravá-lo. Pensava nele há muito. Tinha tido imensa paciência com os Beatles. Quando chegou o momento de passar à acção, sabia exactamente o que estava a fazer. Não precisava de se dirigir a um produtor para lhe pedir uma opinião. Tinha tudo pronto”, diz Dhani Harrison, o filho que tem sido o produtor executivo de todas as reedições póstumas de All Things Must Pass, o álbum que, à época, levou Richard Williams, crítico do “Melody Maker”, a afirmar que ele representava “um choque equivalente ao dos cinéfilos de antes da guerra quando, pela primeira vez, Greta Garbo abriu a boca num filme sonoro: a Garbo fala! Harrison está livre!”. George não estaria dependente da opinião de um produtor mas, quando entrou nos estúdios da EMI a 26 de Maio de 1970, tinha um nome debaixo da língua: Phil Spector, o génio de grau máximo na categoria não-é-flor-que-se-cheire, inflexivelmente contrário a sequer admitir que "less" pudesse ser "more" – "more" era sempre "more" e quanto mais, melhor. O método seria baptizado por Andrew Loog Oldham como “The Wall of Sound” – Spector chamava-lhe “a Wagnerian approach to rock & roll: little symphonies for the kids" – e haveria de ser aplicado com grande proveito em gravações dos Righteous Brothers, Ronettes, Crystals ou Ike & Tina Turner. Dos Beach Boys aos Jesus & Mary Chain, deixaria inúmeros discípulos, entre os quais George Harrison que apreciava especialmente a pós-produção por que ele fora responsável em Let It Be (McCartney detestava-a) bem como a sua intervenção no single de Lennon e Yoko, "Instant Karma!". (segue para aqui)

03 October 2021

Andrea Falconieri - Passacaglia & Ciaccona (D'EL'SA Consort)

As "45 medidas para combater 'os mecanismos institucionais e culturais' que permitiram décadas de violações, abusos sexuais e maus-tratos de crianças na Igreja Católica francesa" não poderiam reduzir-se a uma única: fechar o bordel de uma vez por todas?

  "Comissão identifica 3000 pedófilos na Igreja Católica francesa desde 1950" (numa "estimativa por baixo")

01 October 2021



 

Marc Ribot's Ceramic Dog - "The Activist"

Bravo Leopardo cita os clássicos
 
"(...) Para abreviar, tenho para mim que nenhum dos parágrafos anteriores esclarece devidamente a derrota do ex-presidente (para mais itens, pode consultar-se o blogue do crítico João Lisboa, 'Provas de Contacto', onde este chegou a publicar uma lista exaustiva de “22 razões (pelo menos) para não votar Medina”). (aqui)
 
(nota: 22 razões e mais uma)