29 December 2015

O pessoal queixa-se, queixa-se, mas Portugal ainda é um país tão civilizado...
2015 - Prémio "Teoria e Praxis Musicais Portuguesas"

"Sócrates Sempre" e "Obrigado José Sócrates" 
(ex aequo)

(daqui)


(daqui)
Steve Earle - "Dirty Old Town"
(Ewan MacColl - de Joy Of Living)

ENCOSTAR O OUVIDO AO CHÃO 



Para desenhar mentalmente um cenário do útero urbano onde foi gerado Astral Weeks (1968), não é absolutamente indispensável conhecer a bastante deprimente Belfast. Em particular, se, como aconteceu comigo, esse conhecimento tiver ocorrido no dia a seguir aquele em que se comemorava o 25º aniversário do Bloody Sunday – quando, a 30 de Janeiro de 1972, em Derry, o exército britânico abateu a tiro 14 manifestantes desarmados –, com a ocupação militar da cidade a reflectir o sufocante patrulhamento religioso, rua a rua, igreja católica, sim, igreja protestante, não, sob um céu (como diria Jacques Brel) “si gris qu'un canal s'est pendu, un ciel si gris qu'il faut lui pardonner”. Mas foi essa a data na qual, em 1997, Van Morrison apresentou ao vivo, no Waterfront Hall, o seu recém-publicado The Healing Game.



Não será, de facto, indispensável conhecer Belfast mas ajuda a identificar nomes e moradas: a Cyprus Avenue “with a childlike vision leaping into view” onde “all the little girls rhyme something on the way back home from school and the leaves fall one by one, by one, by one, call the autumn time a fool”, e “the one and only Madame George (…) jumps up and says Lord have mercy, I think it's the cops, and immediately drops everything she gots, down into the street below, and you know you gotta go, on that train from Dublin up to Sandy Row, throwing pennies at the bridges down below”, a avenida, atravessando a linha de comboio, do outro lado da pobríssima Beersbridge Road e do 125 de Hyndford Street “where you could feel the silence at half past eleven on long summer nights, as the wireless played Radio Luxembourg, and the voices whispered across Beechie River”. Como quem encosta o ouvido ao chão da cidade e pressente a vibração distante das sublimes oito faixas de um dos dois ou três mais perfeitos álbuns de sempre. E que, por isso mesmo (não se aperfeiçoa o que é perfeito), nesta ou noutra reedição dispensaria quaisquer bónus ou faixas extra. Algo que, talvez se justifique em His Band And The Street Choir, pela razão de ser apenas excelente e porque isso contribua para nos darmos conta de como, em 1970, o caldo de cultura de que emergiria Springsteen (“Para nós, Astral Weeks era uma religião”) já fervilhava ali. 
Eu gostava muito, muito 
que fosse um destes dois
 fedelhos javardolas...

25 December 2015

... e o pasquim direitolas online diz que o CEO da Vaticano S.A. é do prog-rock e nasceu antes do PREC, cedo demais para o proto-punk, branco demais para ser do rap (a crítica musical direitolas, mesmo se realizada por "doutorandos" e "conselheiros", é igualzinha à esquerdolas: a musiquinha será uma merdúncia mas "o que importa é a mensagem")
Agora despudoradamente às claras, 
o horror da pedofilia (na modalidade trabalho de sopro, ainda que estrábico), 
na Vaticano S.A.!

24 December 2015

VINTAGE (CCXCIII)

Iggy Pop - "White Christmas"

MÚSICA 2015 - INTERNACIONAL (IV)

(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 25)




















* a ordem é razoavelmente arbitrária...

Foi, essencialmente, um ano assaz pluralista e de óptima música. Do experimentalismo em cambiantes vários de Holly Herndon, FKA twigs, Laurie Anderson, Momus e Julia Holter, ao discreto mas significativo ressurgimento folk – com a sofisticação das Unthanks, o minimalismo de This Is The Kit e Rozi Plain, a crueza dos Stick In The Wheel ou a felicíssima amplitude das óptimas homenagens a Shirley Collins e Ewan MacColl –, e ao inevitável e sempre bem-vindo contingente de "singer-songwriters" de distintas gerações (Sufjan Stevens, Robert Forster, David Corley, Laura Marling, Richard Thompson, Rickie Lee Jones), desta vez, brilhando com fulgor particularmente intenso no extraordinário álbum dos Apartments, de Peter Milton Walsh. E houve ainda espaço para singularidades como o encontro Dylan-Sinatra, as investidas políticas de Darren Hayman e Milky Wimpshake ou o devaneio filarmónico dos British Sea Power.