29 February 2020


Se, como tem sido abundantemente repetido, os mais vulneráveis ao coronavírus são idosos com problemas de saúde prévios, não se tratará, de facto, de uma vasta conspiração mundial para aliviar as imensas despesas dos Estados com reformas e serviços de saúde?
Bravo, drª Graça! É assim mesmo que se combate o alarmismo!!!...
 
"Expresso"

(Graça Freitas, personagem já presente no episódio anterior do H1N1)

28 February 2020

Parece que sou bruxo...
(mas, afinal, em registo mais sério)



Ruth Is Stranger Than Richard
 
Bêbedos irredimíveis,
chutadores de veia (mercadores de pó), 
velhos em lares, crianças em infantários, 
publicanos, onzeneiros, gente de virtudes 
e sinapismos, punheteiros, putanheiros, 
arrebentas, fufas, os que fugiram 
com a mão à palmatória; devotos do Nazareno, 
discípulos de Mafoma; caixeiros 
de supermercado, arrumadores de carros, 
artistas, barbeiros, professores de literatura; 
médicos, doentes, maqueiros, 
juízes, advogados e bedéis; 
cães abandonados, gatos 
a fugir da chuva, moribundos 
renitentes, suicidas entusiastas, 
os que venderam a alma e os que a perderam 
em mansarda bafienta; 
os pobres de espírito (esses estão a salvo) 
e os que deliram, por suspeitarem 
que a realidade é absurda; 
escritores de best-sellers (que a peste 
os preserve), os gordos e os asmáticos, 
vítimas de escárnio e consternação;
todos à procura de um deus menor 
ou de um diabo foragido, 
a quem dedico esta prece.

(José Alberto Oliveira - Rectificação da Linha Geral)

Robert Wyatt - Ruth Is Stranger Than Richard (todo o álbum)
Pronto, entrevistas com criadores de pangolinsnão haverá... fica só aquela indisfarçável ansiedade, aquele nervoso miudinho, até, finalmente, aparecer o primeiro luso-infectado em território pátrio; entretanto, podem ir fazendo uns apontamentos engraçadinhos sobre cerveja e vodka


Babehoven - "Only So"

27 February 2020

A JOKE A DAY KEEPS THE DOCTOR AWAY (LXVII)

As religiões são uma riquíssima e inesgotável fonte de espanto e de WTF instantâneos: depois dos teologicamente inovadores Mücahid Cihad Han e Neophytos Masouras, descubra-se Swami Krushnaswarup Dasji:

Porque vem bastante a propósito, vale a pena recordar algumas conclusões acerca da grande burla do H1N1

 
 

 
O Grande Manipanço Cósmico, na versão da Vaticano S.A., se sabe como é; na versão da concorrência, é igualzinho:


Perante entidade imaginária de tão fraco préstimo, só resta sugerir boas e úteis leituras, e recomendar a máxima higiene:

26 February 2020



... e, já agora, para segurança máxima, pelo menos um cordão sanitário reforçadíssimo em torno da embaixada de Itália, ali ao Conde Pombeiro *...

* ... na verdade, deveria até proibir-se que o palácio erguido pelo 3º Conde de Pombeiro, D. Pedro de Castelo Branco da Cunha Correia e Meneses, senhor de Belas e do morgado de Castelo Branco, em Santa Iria, pudesse ser contaminado por vírus lombardos badalhocos!...
Só pode ser má vontade, o homem é competentíssimo e prestigiadíssimo...

Rain Parade - Emergency Third Rail Power Trip (todo o álbum)

David Roback (1958 - 2020)

Opal - Happy Nightmare Baby (todo o álbum)

Ugam - Azerbaijan bagpipes


"The spacecraft will be encountered and the record played only if there are advanced space-faring civilizations in interstellar space, but the launching of this 'bottle' into the cosmic 'ocean' says something very hopeful about life on this planet" (Carl Sagan)

25 February 2020

Oh quanta falta de fé!...

HISTÓRIA DE ATROCIDADES 


No início dos anos 70 do século passado, o Watford College of Art, vinte e tal quilómetros a Norte de Londres, era uma daquelas academias que tendiam a atrair alguns dos melhores e mais criativos cérebros da altura. Brian Eno deslocava-se até lá frequentemente para, juntamente com Peter Schmidt – ambos conceberiam o jogo de cartas “Oblique Stategies” (um desbloqueador aleatório de impasses criativos) e Schmidt desenharia algumas capas de álbuns de Eno –, propor ideias e projectos para “uma das escolas de educação artística mais evoluídas do planeta”. Na viagem de regresso a Londres, iam habitualmente de carro com outro professor do College, Hansjorg Mayer, que também dava boleia a um seu aluno, Colin Newman. Três décadas depois, em Rip It Up And Start Again: Postpunk 1978–1984, o estudo definitivo de Simon Reynolds sobre esse fertilíssimo período do rock, Newman (fundador dos Wire, em 1976, com Robert Gotobed, Graham Lewis e Bruce Gilbert) diria: “Na minha opinião, os humanos são intrinsecamente criativos mas existe um processo por meio do qual um indivíduo em particular se transforma num artista e pode afirmá-lo sem que isso pareça pretensioso. Se, em determinado momento, isso aconteceu comigo, foi durante aqueles percursos de automóvel. Mal punha o pé dentro do carro, deixava de ser apenas um pobre estudante para me tornar um amigo e igual – um artista a tagarelar sobre as suas ideias com outros artistas”.


Pink Flag (1977), Chairs Missing (1978) e 154 (1979) – o triplo disparo inicial que recortou o perfil dos Wire enquanto praticantes de um punk em transição para o pós-punk, porém, não de todo imune ao contágio do "art-rock", do psicadelismo ou de um ou outro maneirismo "prog", o que lhes valeria a alcunha de “Punk Floyd” – apresentava um programa de canções concisas e compactas mas abertas a diversos níveis de leitura, um universo musical rico e inteligente que, enquanto se aplicava a reduzir cada peça à sua essência (linhas, pontos, planos, espaços, qual Paul Klee traduzindo a Teoria da Forma para o idioma punk), não desistia, ao mesmo tempo, de fazer explodir os limites do género. “Inicialmente, Bruce e eu transportámos uma forma de pensar das Belas Artes para a música: método e design”, explicava Newman, “Era um processo de eliminação, uma lista de todas as coisas que não iríamos fazer. Toda a gordura, toda a divagação, desapareceram. Tudo era drasticamente editado. As canções ficaram reduzidas a um minuto e meio”. Mais do que emanações subjectivas da alma, cada esboço era matéria-prima sonora e verbal destinada a ser esculpida, assente em pressupostos inspirados pela escola-Eno (como escrever o texto de uma canção com apenas 100 sílabas? como reescrever "Johnny B. Goode" usando um único acorde? como estruturar uma música assente num sistema de correspondências entre acordes e os nomes das estações de comboios da linha Londres-Watford?), um micro-manifesto minimalista repleto de sentido(s). 


Com duas prolongadas interrupções na trajectória (entre 1979 e 1987 e de 1991 a 2003, pausas aproveitadas para projectos individuais e de colaboração como Dome, Duet Emmo, Cupol, Githead, Immersion, A.C. Marias), durante os 17 álbuns que compõem a totalidade da discografia dos Wire, uma atitude manteve-se constante: “Respeitamos o nosso passado – de facto, temos imenso orgulho nele – mas não estamos dispostos a que nos capture nem desejamos viver à custa dele. Sempre pretendemos fazer música nova. A nossa política foi sempre a de nunca nos repetirmos. Aqui e ali, isso poderá ter tido a consequência de deitarmos fora o bebé com a água do banho mas preferimos olhar em frente e não para trás”, diz Colin Newman à "Record Collector", agora que é publicado Mind Hive – o 17º registo “que ficará como memória de que não é possível atribuir um preço à nossa integridade artística e moral”–, recordando, igualmente, aquilo que já em 1995 declarara: “De todas as vezes que nos aproximámos do sucesso comercial, voltámos a mergulhar, de cabeça, na obscuridade”


E, na verdade, o que podemos escutar em Mind Hive é uma banda que insiste em não limar arestas na música que cria, um rock robusto, esquinado e tenso de guitarras corrosivas, batidas metronómicas, sintetizadores geométricos e baixo sinuoso, entregue à missão de captar instantâneos glaciais da inquietante colmeia mental contemporânea (“The collective hive-mind, algorithmically scanning, defending exploration and language hair extensions”), dos mecanismos orwellianos de controlo e vigilância (“People praying, disappearing, CC cameras, knives and hammers, people sleeping, broken, beaten, people lying, homeless, dying”) sobre um mundo para o qual a designação de distópico é já insuficiente (“It’s history, rabid dogs tearing skeletons into piles of bones, nothing new about that, too little of this, not enough of that, nothing new about that, they play it all for you, they explain it all to you, telling you to be like them”) e que não é senão ainda outra etapa na negra e interminável história de atrocidades do sapiens (“The men are lined up, then shot into graves, the children are murdered, the women enslaved, shadow of the future, shadow of the past”). Trinta e cinco minutos de uma provocatória sequência não narrativa na qual cada um dos 9 capítulos, mais do que uma canção fechada e acabada, é uma "password" para o acesso a um universo cruel e severo – paradoxalmente tornado quase sedutor – pronto para ser decifrado e explorado. Não é sintoma de paranóia que, num cenário implacavelmente dividido e fracturado, para onde quer que olhos e ouvidos se dirijam, pareçam espreitar perigos e ameaças. Mas também não é provável que alegar autocriticamente um momento de amnésia e desatenção – “Spy the Russians, brushing scandals under oligarchy rugs, I can’t quite remember, when it went wrong, someone was humming a popular song” – possa funcionar como atenuante.

21 February 2020







(com a colaboração do correspondente do PdC em Pequim)
 Já agora

 
2) A vida humana é sagrada? Apenas porque foi "uma dádiva de deus" que "criou o homem à sua imagem e semelhança" - e quem ousa liquidar a "imagem e semelhança de deus"?...

3) A vida humana é sagrada? O que justifica, então, a existência de forças armadas cujo modus operandi intrínseco, passa pela eliminação (ou ameaça de eliminação) de vidas humanas?

4) Porque haveria Portugal de legalizar a eutanásia quando, em tantos países mais "desenvolvidos" e "civilizados" ela é ilegal? Exactamente pelos mesmos motivos que conduziram Barjona de Freitas a ser pioneiro na abolição da pena de morte.

5) O que junta a beatagem social-fascista e a Vaticano S.A. na condenação da eutanásia? O mesmo culto do sofrimento e do martírio tão bem ilustrado pelo obsceno exemplo da degradação em público do Kinky Wojtyla.

20 February 2020

Primeiro round

(sem o voto contra, em bloco, da beatagem social-fascista, a Santíssima Aliança teria apenas 75/76 votos)
Musica Reservata ‎– 16th-Century Italian Dance Music

Derek Jarman and friends 
in Dungeness (mais aqui)


"Recently Jarman has campaigned against the closure of St Bartholomew's Hospital. Once again, he was just really talking about himself: 'There's a good deal of fun about the place. And I don't think you could get treatment like that anywhere else in the world. It's state of the art, both in the treatment, and in the freedom you're given. 'Derek, we're going to give you this, this and that.' But if you were to say 'I honestly don't want these, Mark', he'd say, 'It's up to you'. How long do you carry on against the inevitable? Do you let it happen? There is that freedom for you to say, 'end of treatment'.' There is a line in Blue: 'We all contemplated suicide. We hoped for euthanasia.' 'I just wanted to know what my doctor would think,' Jarman says. 'He was very, very uncommittal about it. I said that I really didn't want to end up an absolute wreck, that I'd prefer to be quietly terminated. We discussed it, and he didn't really say anything apart from a tacit agreement that it might be a possibility. What's the point of hanging on grimly if it's just a few agonising weeks? The funny thing is, if you are very unwell you don't register everything, you just come and go, half-conscious. I told one of the sisters that it's worse when you get better, when you begin to feel the pain'"(daqui; ver também aqui)

19 February 2020

L'OSSERVATORE ROMANO (XLIX)

(clicar na imagem para ampliar)
2020 - Prémio "Darwin dos iletrados"
(ou o pequeno Bolsonaro)

(via DdO)
 AGUARELA INGÉNUA


Gato repetidamente escaldado pelas inúmeras e desavergonhadas campanhas de "hype" à volta de “génios incompreendidos na sua época” que, trazidos à luz, se revelam muito pouco geniais e justissimamente ignorados, teme, naturalmente, a água fria de mais uma “inigualável descoberta” pronta a servir. Foi, pois, inteiramente justificado que, ao ser anunciada a exumação de duas preciosidades do início dos anos 70, desde então remetidas para a clandestinidade, e cujo autor, durante os 40 anos seguintes, se vira obrigado a sobreviver como jardineiro, operário e trabalhador rural, a oferenda tenha sido recebida com os dois pés firmemente colocados atrás. Afinal, por uma vez, o "hype" tinha toda a razão de ser: Bill Fay (1970) e Time of The Last Persecution (1971) – muito especialmente o primeiro – eram o género de peças perante as quais apenas podia pensar-se “Mas como foi possível?...”
 

Entusiasticamente apregoado por Jeff Tweedy, David Tibet, Nick Cave e Jim O’Rourke, era, de todo, impossível não alinhar no coro. E fi-lo: Bill Fay era “coisa da estatura de Goodbye and Hello, de Tim Buckley, dos quatro primeiros de Scott Walker, de American Gothic de David Ackles, ou, do ponto de vista da encenação sinfónica, de Songs Of Love And Hate, de Leonard Cohen”. Provavelmente decisivas eram as orquestrações de Mike Gibbs (jazzman às ordens de Carla Bley, Bill Evans, Peter Gabriel, Marianne Faithfull, e Joni Mitchell) porque, embora também valiosos, Time of The Last Persecution e os dois que gravaria pós-ressurreição (Life Is People, de 2012, e Who Is the Sender?, de 2015), sem a mão de Gibbs, tendiam a aconchegar-se demasiado às ecografias da alma dos velhos  "singer-songwriters". Countless Branches vem confirmar essa ideia: quase só pele e osso de voz e piano com ocasionais pinceladas transparentes de violoncelo e trompete, é uma aguarela intimista de deslumbramento cripto-cristão perante o mundo, a vida e os humanos, talvez excessivamente ingénua – confrontar com Leonard Cohen - para um cavalheiro de 77 anos.

18 February 2020

Este pessoal dos jornais, rádios e televisões anda frenético, à procura de um infectado pelo Kung Flu com o qual possam estar duas semanas a abrir noticiários, a montar a tenda à porta dos hospitais, a perguntar, na rua, "aos portugueses", se ir aos restaurantes e lojas chinesas é ou não "um perigo" e, quiçá, a entrevistar um criador de pangolins

O pangolim
Tradução: a Máfia existe 
e está bem viva


Depois da eutanásia, para manter os direitolas a espumar de fúria como eles tantam gostam, que tal lançar o debate sobre os assistentes sexuais para pessoas com deficiência?

Howard Zinn - A People's History Of The United States (VIII)

Cap. 22: The Unreported Resistance

Cap. 23: The Clinton Presidency And The Crisis Of Democracy

Cap. 24: The Coming Revolt Of The Guards

17 February 2020

Ivor Cutler - "Here's A Health For Simon" (Citizen Bravo, Raymond MacDonald & Friends)

(daqui)
Não fazia ideia de quem é o Marega mas percebi instantaneamente que iria gostar muito de o ver sovar sem piedade o crápula do Ventura e os trogloditas das bancadas que o insultaram

14 February 2020



"Os sindicatos devem ser valorizados, mimados" (Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, aos 5'58"): a Vaticano S.A. sela a Santíssima Aliança com a beatagem social-fascista
A arte ao serviço do po(l)vo

Stick In The Wheel - "Nine Herbs Charm"

Leonard Cohen - "The Warrior Boats" 
(via AdS, aqui no original em inglês) 

The warrior boats from Portugal
Strain at piers with ribs exposed
And seagull generations fall
Through the wood anatomy

But in the town, the town
Their passion unimpaired
The beautiful dead crewman
Go climbing in the lanes
Boasting poems and bitten coins

Handsome bastards
What do they care
If the Empire has withered
To half a peninsula
If the Queen has the King’s Adviser
For her last and seventh lover

Their maps have not changed
Thighs still are white and warm
New boundaries have not altered
The marvellous landscape of bosoms
Nor a Congress relegated the red mouth
To a foreign district

Then let the ships disintegrate
At the edge of the land
The gulls will find another place to die
Let the home ports put on mourning
And little clerks
Complete the necessary papers

But you swagger on, my enemy sailors
Go climbing in the lanes
Boasting your poems and bitten coins
Go knocking on all the windows of the town

At one place you will find my love
Asleep and waiting
And I cannot know how long
She has dreamed of all of you

Oh remove my coat gently
From her shoulders.

13 February 2020

A cimeira da indústria da superstição, coluna vertebral da Santíssima Aliança, pretende convencer-nos que a vida é "sagrada" porque se trata de uma dádiva do imaginário Grande Manipanço Cósmico - espera-se, ansiosamente, que, logo a seguir, proponham a extinção das forças armadas
A beatagem social-fascista (sempre fiel à Santíssima Aliança) exige, pois, que o Estado, a ciência  e a tecnologia façam o milagre de garantir que o sofrimento e a doença se extingam! (possivelmente, vivem ainda assombrados por aquela ideia de que os comunistas matavam os velhinhos com uma injecção atrás da orelha)


 
Lina e Raül Refree na "Pitchfork"


(daqui)
Ouvir o Macron a dizer alguma coisa acertada só pode ser motivo de celebração!



 Reactivando o Dia da Blasfémia (VIII)

11 February 2020

Junta-se mais outra peça à Santíssima Aliança


The Great Hunger:The Life & Songs Of Shane MacGowan

FILÓSOFO MUSICAL OBLÍQUO


Para além do "fish and chips", dos "scones", da "steak and kidney pie", e do "five o’clock tea", não existe produto mais vincadamente britânico do que o “British eccentric”. Podem ser importantes inventores como Alexander Graham Bell (que pretendia ensinar o cão a falar), o venerado poeta William Blake (no jardim da sua casa, em Lambeth, ele e a mulher, Catherine, declamavam o Paradise Lost, de Milton, em trajes de Adão e Eva), ou Lord Cornbury (nomeado pela rainha, em 1702, seu representante em Nova Iorque e New Jersey, fez questão de apresentar-se nas cerimónias oficiais com roupagens femininas), mas a todos une essa característica de inclassificáveis “one of a kind”. Ivor Cutler (1923-2006) – surrealista, sábio absurdista, poeta, professor, figura da rádio, piloto da Royal Air Force (dispensado por ser demasiado “sonhador”), e "songwriter" – definia-se como “filósofo musical oblíquo” e era uma espécie de Lewis Carroll arraçado de Samuel Beckett.



No Magical Mystery Tour, os Beatles ofereceram-lhe o papel de Buster Bloodvessel (o condutor do autocarro), Bertrand Russel, John Lydon, Jim O'Rourke, Elvis Costello, David Toop e os Monty Python eram fãs, Robert Wyatt convidou-o para Rock Bottom (1974) e, no EP Nothing Can Stop Us (1982), interpretaria a sua "Go And Sit Upon The Grass", e, apenas atrás dos Fall, foi o segundo mais frequente convidado do programa de John Peel, na BBC. Na verdade, podemos verificá-lo agora, não apenas esses mas diversos mais recentes como aqueles que se reuniram para o duplo álbum de homenagem, Return to Y'Hup: The World of Ivor Cutler, referência à imaginária ilha da sua psicogeografia privada. A saber, Citizen Bravo/Matt Brennan, Raymond MacDonald, Malcolm Benzie, e Andy Monaghan, núcleo em torno do qual orbitam Tracyanne Campbell (Camera Obscura), Alex Kapranos (Franz Ferdinand), Stuart Braithwaite (Mogwai), Stuart Murdoch (Belle & Sebastian), Emma Pollock (The Delgados), Karine Polwart, Wyatt e vários outros entregues à invejável missão de, sob múltiplos ângulos, declinar, estas 26 preciosas miniaturas. Pelo menos, "Women Of The World" (“Women of the world, take over, ‘cos if you don’t the world will come to an end, and we haven't got long”), merecia sucesso global instantâneo.

06 February 2020