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22 November 2007

THE BROTHERHOOD OF THE UNKNOWN * (II)

(* segundo David Thomas: "The first Pere Ubu record was meant to be something that would gain us entry into the Brotherhood of the Unknown that was gathering in used record bins everywhere")



Leila - Like Weather

Leila Arab é irmã de Roya Arab, a excelsa cantora de origem iraniana que conhecemos em Londinium, dos Archive. Além disso, foi ouvida a tocar teclados em Debut, de Björk, e, mais tarde, desempenhou a missão de "live sound engineer" durante a digressão de Post. Como cartão de apresentação, é razoavelmente suficiente. Mas, à parte esse currículo e um curso universitário de "media studies" (que, hoje, no meio de uma entrevista, lhe permite dizer com a arrogância indispensável "You want to get pretentious? I'll tell you about Czech cinema, buddy. I wrote the fucking book on pretentious!"), é agora importante fazer saber que, em completo regime de produção doméstica - isto é, gravando no quarto convertido em estúdio com a colaboração dos amigos mais íntimos -, ela acaba de publicar o que se arrisca a ser um dos mais importante álbuns de 1998. Like Weather, o título, foi sugerido por uma observação casual de Graham Massey (dos 808 State) mas, na verdade, descreve fielmente o que o disco contém: aquela variedade de arquitectura atmosférica contemporânea que Björk mas também Tricky, os Alpha, Attica Blues ou (muito a propósito) os Archive praticam, entre um discreto impressionismo geométrico de raiz electrónica e a memória de uma certa soul mais recordada do que realmente presente.


(c/ Donna Paul)

"Something" e "Don't Fall Asleep", os temas iniciais, são o género de manifestos minimalistas que, em meia dúzia de compassos e ainda menos conceitos sonoros, estabelecem as regras do jogo: um desenho rítmico de configuração mais ou menos variável, uma sucinta ideia de encenação do espaço, o fantasma de uma melodia e o absoluto essencial de adereços. "Underwaters" recua ainda mais em puro jogo de equilíbrio entre frentes sonoras de altas e baixas pressões. Depois, "Feeling" e "Blue Grace" propõem o tipo de esboços que se diriam urdidos em torno de uma amostra laboratorial do código genético de Tricky e "Space Love" oferece um fabuloso exercício de relojoaria poética para autómatos em busca do lirismo perdido. A primeira metade define a totalidade do disco e, com as vozes de Luca Santucci, Donna Paul e Roya Arab enquanto protagonistas eventuais de cada tema, ilustra bem a meteorologia de uma alma de que "Misunderstood" (já a meio da segunda metade) é a radiocardiografia exacta e o tema anónimo de "piano-strings" a banda sonora assimétrica.
Obra prima? Deixem-me ouvir mais umas boas vinte vezes e então eu digo. (1998)