28 February 2011

MIMETISMO



















The Decemberists - The King Is Dead

Segundos iniciais de "Don’t Carry It All", a primeira faixa, e somos atingidos de frente pelo gemido de uma harmónica dylaniana enquanto dobradiça da porta de entrada para uma canção que, certamente por distracção, os Fairport Convention não terão incluído num dos seus primeiros álbuns. A obediência aos preceitos do folk-rock britânico permanece lá mas nada sequer de remotamente semelhante aos épicos prog-trágico-marítimos em quatro partes, sobre criaturas da floresta, entidades mitológicas e diáfanas donzelas por que os Decemberists, até agora, foram amados e execrados em partes iguais. Segunda canção, "Calamity Song", e oh felicidade!... é, afinal, "Talk About The Passion", dos R.E.M., quase nota por nota, com Peter Buck na tripulação e tudo.



Buck aparece mais duas vezes: em "Down By The Water" – abertura springsteeniana deslizando para uma melodia desenhada à transparência sobre "The One I Love", tal como Richard e Linda Thompson a interpretariam, mas com Gillian Welch no lugar de Linda – e, ao banjo, no tema de abertura. Nenhum Rolling Stone assina o ponto mas "All Arise" é "Honky Tonk Women" em versão Fairports-meets-The Band e, mesmo sem a comparência de Morrissey ou Johnny Marr, “This Is Why We Fight" teria entrada instantânea num Best Of dos Smiths.



Semeiem por aí meia dúzia de pinceladas das paletas de Neil Young, Wilco e Gram Parsons, Springsteen mais umas quantas vezes, entretenham-se a decidir se "Rox In The Box" puxa mais para Richard & Linda, para os Steeleye Span ou para Young com Nicolette Larson, se "January Hymn" contém maior quantidade de material genético de Donovan ou de Simon & Garfunkel e, sem fazer batota, experimentem descobrir qual a faixa em que Laura Veirs se ouve lá ao fundo. O juízo final até é simples: em formato aparado e escanhoado, quanto mais Colin Meloy e cúmplices se despersonalizam e cultivam o mimetismo, melhor é a sua música.

(2011)

27 February 2011

É DESAGRADÁVEL MAS O FUTURO PODE
NÃO SER ASSIM TÃO RADIOSO

(ou "quanto mais me bates mais gosto de ti",
em versão islâmica)



"Pode até haver algumas mulheres que não concordem em apanhar do marido e vejam a punição como humilhação. Muitas mulheres, porém, gostam de apanhar e consideram adequado que o marido lhes bata apenas para fazê-las sofrer"

"A obediência e a cooperação da mulher são um direito do homem. À mulher é proibido revoltar-se contra a autoridade masculina"

"A circuncisão feminina não é obrigatória, mas os pais devem submeter as suas filhas a ela se quiserem. Pessoalmente, sou favorável a isso"
. (Yusuf Al Qaradawi, líder da Irmandade Muçulmana, e único orador da primeira manifestação no Cairo realizada após a queda de Mubarak - aqui)

... mas, reparem, a Santíssima Bíblia cristã não diz coisas muito diferentes.

(2011)
RECORDAR É VIVER (XXIX)

"Problemas da sociedade contemporânea" analisados por Muammar Al Kadhafi, aliás, "O Guia", no Centro de História da Universidade de Lisboa - 7 de Dezembro de 2007



(2011)
ASSIM MESMO É QUE É:
NADA DE POUCAS VERGONHAS!




Berlusconi não permitirá casamento gay enquanto governar

(2011)

25 February 2011

VINTAGE (XXXI)

The Pogues - "The Old Main Drag"



(espreitar aqui)

(2011)
THE DECEMBERISTS (C/ PETER BUCK) - "DOWN BY THE WATER"



See this ancient riverbed
See where all our follies are led
Down by the water and down by the old main drag

I was just some towhead teen
Feeling around for fingers to get in between
Down by the water and down by the old main drag

The season rubs me wrong
The summer swells anon
So knock me down, tear me up
But I would bear it all broken just to fill my cup
Down by the water and down by the old main drag

Sweet descend this rabble round
Pretty little patter of a seaport town
Rolling down the water and rolling down the old main drag

All dolled up in gabardine
The last flashing lee to appear nineteen
Queen of the water and queen of the old main drag

The season rubs me wrong
The summer swells anon
So knock me down, tear me up
But I would bear it all broken just to fill my cup
Down by the water and down by the old main drag

The season rubs me wrong
The summer swells anon
So knock me down, tear me up
But I would bear it all broken just to fill my cup
Down by the water and down by the old main drag

Down by the water and down by the old main drag
Down by the water and down by the old main drag


(2011)
E, JÁ AGORA, QUE TAL RESPONDER POR
- COISA FRANCAMENTE MAIS ATERRADORA DO
QUE OS 40 ANOS DE KADHAFI - DOIS MIL
ANOS DE VIOLÊNCIA, TERROR E SUPERSTIÇÃO?




Queixa no Tribunal Penal Internacional contra o Papa por ocultar abusos sexuais

(2011)
PAUL DOORS: SCRIPTWRITER/DIRECTOR (III)











A já conhecida personalidade poliédrica de Paul Doors - ele que nunca seria juiz porque "não suportaria a ideia de ser responsável pela privação de liberdade de outra pessoa, ou de ter de fazer um juízo quase moral sobre ela" mas defensor dos "julgamentos sumários" - é, agora, reafirmada através da insistência no "cumprimento integral de penas em alguns crimes".

Desta vez - sempre com a intenção de puxar antecipadamente o lustro à sua futura e, sem dúvida, brilhante carreira nos ecrãs do planeta - sugerimos-lhe como tópico de leitura útil: Dissociative identity disorder in movies and television.

(2011)

24 February 2011

O HORROR DO DOMICÍLIO



















Cristina Branco - Não Há Só Tangos Em Paris

Em jeito de justificação de página de diário, Cristina Branco escreve: “Quando uma recordação nos assalta muitas vezes temos que lhe procurar o ‘enredo’. Não há só Tangos em Paris, pode ser um disco de memórias ou de viagens ou flashes. Tenho um velho gira-discos, long plays do Gardel, tenho Buenos Aires e tenho Paris e Lisboa no coração, tenho Amália numa velha fotografia de 1945 no Rio de Janeiro, tenho o fado e o tango, tenho a imensa tristeza no convite à viagem (Baudelaire dizia que sofria do horror do domicílio)”. Fiquemos precisamente aqui, no “horror do domicílio”, essa mesma "malaise" de que Cristina padece: recordam-se de O Descobridor/Cristina Branco canta Slauerhoff (2002)? De Ulisses (2005)?



Desta vez – entre Buenos Aires, Lisboa e Paris – o lema (que, como ela própria confessa, poderia muito bem ter sido o título do álbum) é o “convite à viagem”, tal como Baudelaire o redigiu, apontado a um destino onde “tout n'est qu'ordre et beauté, luxe, calme et volupté”, espécie de prolongamento de Sensus (2004), do fado-fado ("Se Não Chovesse Tanto, Meu Amor") ao tango-tango ("Anclao En Paris") à chanson ("Les Désespérés", de Brel) e aos inúmeros pontos intermédios “entre a miséria e a luxúria”, com uma flor vermelha no cabelo de azeviche de Amália Rodrigues em fundo. O fado não perdeu uma admirável voz que, verdadeiramente, nunca foi sua mas, antes, ganhou aqui (como já, antes, clarissimamente, se pressentia) todo um luminoso espectro de sentidos e ressonâncias que, enriquecido pela guitarra portuguesa de Bernardo Couto, a viola de Carlos Manuel Proença, o contrabaixo de Bernardo Moreira, o piano de João Paulo Esteves da Silva e o acordeão de Ricardo Dias, o desafiam a abandonar o conforto das vetustas calçadas de Lisboa.

(2011)
O CONVITE À VIAGEM















Se Cristina Branco estivesse virada para se inventar problemas, tinha a fórmula perfeita para um mesmo à mão. A saber: ela que, desde o início, fez questão de sublinhar que, apesar de cantar fados, não se via como fadista (ou, pelo menos, do modo como, tradicionalmente, se encara o “ser fadista”), agora que confessa sentir-se mais próxima do que nunca do espírito do fado, tanto em concerto como em disco, a percentagem de fados que inclui tende a encolher seriamente. E, quando lhe chamo a atenção para que isso volta a acontecer no novíssimo Não Há Só Tangos Em Paris, primeiro contra-ataca (“Mas estão lá dois fados tradicionais!...") e, depois, encaracolando a argumentação, acaba por levar a água ao seu moinho: “Eu diria até que é um encontro definitivo com o fado mais tradicional. Acho que me identifico mais, agora, com certos fados e, na forma como o interpreto, sinto que já consigo dizer o que quero através dele. Não é uma coisa de agora, se calhar, já vem desde o Live, nos concertos aparecem fados tradicionais. Sou mais crescida. É preciso maturidade. E maturidade vocal. Hoje, posso dizer que é assim que o sinto, esse é o meu fado. Antes, parecia um pardalito a cantar. Tanto pelo timbre como pela forma de interpretar. É o palco e o que vamos ouvindo, o eco da nossa voz e a nossa experiência artística que nos dá isso, não é só a vida. Não me venham com essas tretas, não sou uma mulher sofrida, uma ‘mulher do fado’... nada disso, muito pelo contrário, acho que tenho uma vida perfeitamente normal”.
















Porquê, então, esta bissectriz entre fado e tango? “Gosto de me reinventar nas músicas e de descobrir coisas novas nelas, como se estivessem escondidas atrás de algumas palavras E, acima de tudo, porque têm muito em comum: ouvindo discos antigos do Gardel, de repente, dizia ‘Caramba, isto é um fado!...’ Tal como se poderia afirmar que "A Moda das Tranças Pretas" é um tango... “Exactamente!” Porém, o índice de surpresas-não-fado neste álbum vai bastante mais longe do que isso, acolhendo também "Les Désesperés", de Jacques Brel, ou uma inesperada melodia de João Paulo Esteves da Silva para a "Invitation Au Voyage", de Baudelaire’... “É inesperada? Sim, deve ser, porque tudo o que, até agora foi feito em torno desse poema, não tem nada a ver com o que está ali… Lendo o Spleen e "L’invitation Au Voyage", há duas coisas distintas: o respeito imenso que os franceses têm pelo Baudelaire e uma leitura de uma portuguesa daquilo que é o poema mais iluminado que está ali naquele livro. Foi sempre considerado por outros autores como uma coisa soturna mas não me parece nada que exprima uma atitude deprimida ou depressiva, fala da viagem e da vontade de partir, porque teria de ser uma coisa negra?… Quando se ouve a música do João Paulo, ela tem muito mais a ver com aquele poema do que tudo o que conhecia antes. Cheguei a propor que o disco se chamasse “Invitation Au Voyage” mas disseram-me que não podia ser”.



A ideia é a do transatlântico que passa por Buenos Aires, pára em Lisboa e (em pirueta geográfica) atraca em Paris, a viagem e a vontade de partir: “Há um outro tema que também fala disso e da dualidade do narrador da história, o "Anclao En Paris": é a história de um argentino (deve ser um bandido que não pode voltar para Buenos Aires) que foge para Paris e ali fica exilado. Tem uma saudade louca de Buenos Aires mas o "faubourg" é uma coisa que também lhe apela muito ao coração. Aí pelo meio, há o sentimento da saudade mas também uma necessidade grande de permanecer no desconhecido. Já, no Ulisses, estes temas estavam presentes, são os temas da minha vida, não posso fugir muito daqui”. Desta vez, porém, ao contrário do anterior Cronos, o conceito não esteve inteiro e acabado desde o princípio: “Houve coisas que surgiram há algum tempo como o ‘Soluço’, do Vasco Graça Moura. Aquilo é um orgasmo, tem muito a ver com a sensualidade. A dada altura, pensei fazer um disco que remetesse para outro anterior, o Sensus. Depois pensei naqueles álbuns antigos da Amália, o fado e o tango e o Gardel e os anos 20... e tudo aquilo começou a mexer comigo.




A minha intenção foi reunir temas diferentes num mesmo propósito. Houve pessoas a quem pedi especificamente poemas, nomeadamente ao Carlos Tê – pedi-lhe um folhetim e que fizesse a música também: o texto enviou-mo logo, a música demorou seis meses, estava um bocado aflito… –, à Manuela de Freitas pedi um tango... pedi-lhe uma daquelas histórias de faca e alguidar e ela escreveu o 'Talvez' e mais uma outra para o fado ‘Súplica’, ‘Se Não Chovesse Tanto Meu Amor’. E, depois, o António Lobo Antunes que não tive a ousadia de contactar mas pedi a um grande amigo meu, o Júlio Pomar, que o fizesse e ele escreveu-me aquela coisa maravilhosa (‘Quando Julgas Que me Amas‘). Para além disso, como gosto muito da simplicidade do Pedro, dos Deolinda, que capta muito bem aquelas subtilezas picarescas da nossa sociedade, pedi-lhe que escrevesse uma daquelas histórias do arco-da-velha que cheirasse a fado por todos os lados e dali saiu ‘Não Há Só Tangos Em Paris’. Sem querer, porque, na altura, nem lhe disse que ia cantar Brel e Baudelaire, ele acabou por passar exactamente pelos sítios que eu queria e o fado acabou em Paris, de repente"
.














Na lista de afinidades estéticas e poéticas que acabam por ir parar aos álbuns e concertos de Cristina (já cantou Joni Mitchell, Chico Buarque, José Afonso, Amália), um dia, ainda poderão ir, facilmente, parar outras vacas sagradas: “Assim de ‘vacas americanas’... (risos) a Ella, Billie Holiday, Sarah Vaughan... mas também o Cohen, o Dylan. Recentemente, fiz um trabalho com a Sinfonietta de Amesterdão em que cantei o Cohen, o Brel, o Schumann, o Debussy. Faz todo o sentido. É quase incontornável não cantar os autores, do fado ou outros, que me fazem crescer”. Fechemos, enfim, o círculo e encontremos-lhe a lógica possível: “Quando canto um fado tem de fazer muito sentido, tem de mexer muito comigo para o cantar. Mas é sempre um fado com um 'twist', eu não canto fado como ele, normalmente, se canta. E porque acontece isso? Porque dou liberdade a quem compõe as músicas, proponho sempre que olhem para a música como olham para mim. E, de facto, aquilo raramente dá fado!...” (risos)

(2011)
STREET ART, GRAFFITI & ETC (LVI)

Lisboa, Portugal, 2010/2011































































































(2011)

23 February 2011

A GUERRA DE CLASSES NA POP (ONDE SE DESCOBRE
QUE GOSTAR DOS MUMFORD & SONS PODE DENUNCIAR
UM PERIGOSO E INQUIETANTE DESVIO DE DIREITA)






















Behind the barricades in rock writers' class war

(2011)
ALLGARVE NO NORTH SIDE DA WEST COAST OF EUROPE



Mangualde vai ter praia com água salgada, tela a simular o horizonte e bolas de Berlim

... presume-se que uma tela a simular um horizonte radioso, ao longo de todo o país, já terá sido também encomendada.

(2011)
TERÁ TODA A RAZÃO O AMADO LUÍS DA ENFUNADA POUPA...



... quando diz que “o Governo não fez nem mais nem menos que o que todos os Estados europeus, americanos e todos os que tentam internacionalizar as suas empresas fizeram”. Mas nem todos se podem gabar de exibir uma "estrela da revolução líbia" à cabeça da governação!

(2011)
JÁ, POR CÁ, RENUNCIAR AO TÍTULO DE ENGENHEIRO É MAIS
DIFÍCIL DO QUE CONVENCER O KADHAFI A TOMAR AS GOTAS
















Ministro Karl-Theodor zu Guttenberg renuncia ao título de doutor

(2011)

22 February 2011

O GOVERNO DE PORTUGAL DEVE DECLARAR DE IMEDIATO
A INCONDICIONAL E TOTAL SOLIDARIEDADE COM KADHAFI
NA SUA JUSTÍSSIMA LUTA CONTRA A VIL CONSPIRAÇÃO DE
RATOS, TOXICODEPENDENTES, ISLAMISTAS, EGÍPCIOS,
TUNISINOS, IMPERIALISTAS E OUTROS ROEDORES!...


















Nada menos se espera de quem se alimentou da sua sabedoria, o proclamou líder carismático e, assente em privilegiadíssimas relações pessoais e numa grande amizade entre os governos de Portugal e da Líbia, foi coroado "estrela da revolução".

(2011)
CON JUDIAS HERVIDAS


Salvador Dali - Construcción blanda con judías hervidas (Premonición de la Guerra Civil), 1936

(2011)
CRUEL. VAINGLORIOUS. STEEPED IN BLOOD. AND NOW, SURELY,
AFTER MORE THAN FOUR DECADES OF TERROR AND OPRESSION, ON HIS WAY OUT?

(Robert Fisk)















"Only a few days ago, as Colonel Muammar Gaddafi faced the wrath of his own people, he met with an old Arab acquaintance and spent 20 minutes out of four hours asking him if he knew of a good surgeon to lift his face. This is – need I say it about this man? – a true story. The old boy looked bad, sagging face, bloated, simply "magnoon" (mad), a comedy actor who had turned to serious tragedy in his last days, desperate for the last make-up lady, the final knock on the theatre door". (texto integral aqui via 5D)

+ direito ao contraditório

(2011)
GOD IS THE SWEAT RUNNING DOWN HIS BACK


PJ Harvey - "A Perfect Day Elise"

"The song 'A Perfect Day Elise' was inspired by J.D. Salinger's short story, 'A Perfect Day for Bananafish', from his collection, Nine Stories".

He got lucky one time
Hitting with the girl in room 509
She turned her back on him facing the frame
Said, "Listen Joe, don't you come here again".
White sun scattered all over the sea
He could think of nothing but her name 'Elise'
God is the sweat running down his back
The water soaked her blonde hair black
Its a perfect day Elise
He got burned by the sun
His face so pale and his hands so worn
Let himself in room 509
Said a prayer, pulled the trigger and cried,
'It's a perfect day Elise'


(2011)
A GLORIOSA PÁTRIA


PJ Harvey - Let England Shake

Passava alguma coisa das nove da manhã do domingo 18 de Abril do ano passado, quando, no programa de Andrew Marr, da BBC One, PJ Harvey, dedilhando apenas uma autoharp mas utilizando como fundo o "loop" de um "sample" de "Istanbul (Not Constantinople)" (um êxito de 1953, dos Four Lads), cantou perante o ainda então primeiro-ministro britânico, Gordon Brown (o entrevistado do dia), palavras que não o deverão ter deixado excessivamente confortável no sofá: “The West’s asleep, let England shake, weighted down with silent dead, I fear our blood won’t rise again, England’s dancing days are done, another day, Bobby, for you to come home and tell me indifference won”. Um mês depois, o Labour – e Brown com ele – sofria a mais pesada derrota eleitoral desde 1931.



Não se tratou, seguramente, de praga que PJ Harvey lhe tivesse lançado mas da consequência inevitável dos dez anos de hipocrisia política do “New Labour” que, em Junho de 2007, Tony Blair lhe depositara no colo. Até porque, durante aqueles embaraçosos minutos no interior do estúdio da BBC, Harvey nem sequer destilara o fel mais amargo que o álbum que agora publica acabaria por conter: Brown foi poupado, por exemplo, a "The Glorious Land" (onde, sob um clarim militar de alvorada, se escuta “what is the glorious fruit of our land? Its fruit is orphaned children”), também a "England" (o enlace arrepiante de uma voz búlgara com um desespero folk que entoa “I live and die through England, it leaves sadness, it leaves a taste, a bitter one”), e, de um modo geral, livrou-se dos quarenta e tal minutos de Let England Shake, um aterrador cenário de devastação e morte – “death was in the staring sun, fixing its eyes on everyone” – que, se, aparentemente, toma como pretexto diversos episódios da absurda carnificina da Primeira Guerra Mundial, na verdade, fala tanto deles como da Inglaterra e do mundo contemporâneos.


Real. Seamus Murphy

Polly Jean (em entrevista à “Pitchfork”) confirma-o e explica como, neste segundo capítulo da inflexão iniciada com o anterior White Chalk (2007) que a conduziu de um universo herdeiro do punk e dos blues via-Beefheart e Patti Smith (com referências a Flannery O’Connor e Salinger interpoladas) até aos lívidos fantasmas da Olde England, se deixou submergir pelos Desastres da Guerra, de Goya, os quadros de Dali acerca da Guerra Civil espanhola, Paths Of Glory e Barry Lyndon, de Kubrick, poesia e ensaios políticos de Harold Pinter, música dos Pogues, Velvets, Doors e diversas tradições populares do mundo e, colocando-se na situação de “song correspondent from the front-line”, se decidiu erguer esta desmedida imprecação sobre a “gloriosa pátria” (“How is our glorious country ploughed? Not by iron ploughs, our land is ploughed by tanks and feet marching”), a fétida Albion (“Let me walk through the stinking alleys, to the music of drunken beatings”), a obscenamente imperial Britannia (“people throwing dinars at the belly-dancers, in a sad circus, beside a trench of burning oil”). Em registo folk contra-pastoral (Mick Harvey e John Parish avinagrando o tempero), com sarcásticos implantes de reggae ("Blood And Fire", de Niney the Observer) e dos "Summertime Blues", de Eddie Cochran, imprevisível e tremenda Guernica resultante da colisão de London Calling com "A Hard Rain’s A Gonna Fall" numa tela remendada.

(2011)

21 February 2011

VAMOS VER É SE, EM ABRIL, AINDA HÁ ALGUÉM
DO OUTRO LADO PARA ASSINAR O CONTRATO...

(é que, em plena guerra civil, até para as
"estrelas da revolução" pode haver problemas)

















"O contrato para o fornecimento à Líbia de, no mínimo, um milhão de computadores Magalhães terá ainda de ser assinado em Abril".

edit 1: eu não apostava muito no negócio dos Magalhães, não... mas, se a rutilante "estrela da revolução" - os amigos são para as ocasiões - não volta a armar a tenda em S. Julião da Barra para acolher aquele de quem bebia a sabedoria, é muito, muito feio...

edit 2: e há sempre um funcionário de serviço pronto para se prestar às mais tristes figuras...

(2011)

20 February 2011

RECORDAR É VIVER (XXVIII)



Mais de 200 mortos só na cidade líbia de Bengasi: "Mais de 200 pessoas foram mortas e 900 feridas nas acções de repressão de manifestantes em Bengasi, a segunda maior cidade da Líbia, segundo fonte médica citada pela BBC. Uma médica referiu-se ao sucedido como 'um verdadeiro massacre'".

REVISÕES:








(2011)
ARTE POÉTICA (José Emílio Pacheco)
(capturado aqui)


(clicar na imagem)

Lisonjeei o meu auditório renovei
o seu repertório de lugares comuns
de ideias adequadas aos tempos que correm
Pude fazê-lo rir uma ou duas vezes
e terminei quando se instalava o tédio
Em recompensa aplaudiram-me
Aonde
vou eu esconder-me e devorar a minha vergonha?

(2011)
PJ HARVEY NA "MAROQUINERIE" (ARTE)



(2011)

19 February 2011

O NOME DA ROSA


Azadeh Razaghdoost - "Sick Rose Series" *

"Empresas ligadas a Rui Pedro Soares e Emídio Rangel compraram os direitos de transmissão dos jogos da liga Espanhola, quiseram adquirir o Porto Canal, compraram a rádio Europa, preparam um novo semanário e negociam a compra dos direitos de transmissão dos jogos do Benfica.

Até agora estas empresas assinaram compromissos no valor de 12 milhões de euros (3 milhões na Rádio Europa e 9 milhões com a liga Espanhola) mas o investimento total pode ser superior aos 50 milhões de euros. Tudo isto sem que se perceba de onde vem o dinheiro. A MediaPro, empresa espanhola anunciada como parceira destes negócios, tem um passivo superior a 900 milhões de euros e está sob administração judicial.

Considerando que Rui Pedro Soares é arguido no caso Figo/TagusPark e, de acordo com notícias vindas a público, terá tentado comprar o canal TVI com dinheiros públicos, considerando que é sua renovada intenção criar um novo grupo de media; considerando que não se percebe de onde vem o dinheiro para estas operações;

Considerando tudo isto, e ao abrigo do seu papel de supervisão, solicita-se à ERC que dê início a um inquérito público para averiguar quais são as fontes de financiamento destes negócios". (assinar a petição aqui)

* William Blake - The Sick Rose

O Rose, thou art sick!
The invisible worm,
That flies in the night,
In the howling storm,

Has found out thy bed
Of crimson joy;
And his dark secret love
Does thy life destroy.


+ Les Fleurs Du Mal (Charles Baudelaire)

(2011)
SÃO SAUDADINHAS DO TERRE'BLANCHE
(BOM NOME, NUNCA ENGANOU NINGUÉM)
OU O TIPO É MESMO FÃ DOS NEW ORDER?















Berardo defende mudança de sistema político e admite "um novo género de ditadura": "Temos que ter liderança. Tem que haver uma ordem nova de progresso". (ver aqui)

(2011)
VINDO DO SENHOR DOS ROBALOS, NEM SURPREENDE MUITO; MAS, NUM CENTRO DE SAÚDE, É ASSIM TÃO FÁCIL PASSAR UM ATESTADO MÉDICO AO PRIMEIRO MELIANTE QUE, PORQUE"ESTÁ COM PRESSA", APARECE, DE REPENTE, A... EXIGI-LO?... OU É ATENDIMENTO RESERVADO A EX-MINISTROS CONSTITUÍDOS ARGUIDOS COM PÓS-GRADUAÇÕES ANTERIORES À LICENCIATURA?

















... e porque seria tão grande a "pressa" - iria em trabalho para a Camargo Corrêa ou trocar experiências com Dias Loureiro, em Cabo Verde?... e médica e utente não serão processados por atestado médico manifestamente falso?... (as semelhanças com o gémeo todos os dias se acentuam).

(2011)
LOS DESASTRES DE LA GUERRA (1810 - 1820) - FRANCISCO GOYA











(2011)

18 February 2011

QUINZE DIAS DEPOIS DA "OVERDOSE HOMEOPÁTICA", UM MUI EXCELENTE DOSSIER SOBRE O ASSUNTO NA "VISÃO"


James Randi's Challenge to Homeopathy Manufacturers and Retail Pharmacies

"As principais instituições médicas e científicas denunciam a homeopatia como pseudociência, mas tal não impede os seus produtos de serem comercializados em farmácias como medicamentos 'normais'. A 'Visão' perguntou ao Infarmed, a agência portuguesa do medicamento (...), se a venda destas substâncias não entra em colisão com o facto de, entre muitos outros organismos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não reconhecer a prática da homeopatia como um ramo válido e científico da Medicina. (...) O vice-presidente daquele instituto público, Helder Mota Filipe (...), [remeteu] para uma resolução da OMS sobre medicinas tradicionais, de 13 de Maio de 2009. No entanto, em nenhuma das três páginas da referida resolução é referida a palavra homeopatia ou qualquer dos seus derivados.

O responsável do organismo que regula o mercado dos medicamentos em Portugal enviou também um "link" para um documento técnico que funcionaria como reconhecimento tácito da homeopatia por parte da OMS. Mas fica a dúvida sobre se o responsável do Infarmed terá lido o que mandou: (...) na 13ª página, é dito expressamente que o estudo 'não aborda o tema da eficácia ou do uso clínico' da homeopatia. (...) Pelo contrário, a posição da OMS sobre o assunto é claramente contra esta prática. (...) O Infarmed, porém, garantiu à 'Visão' que tem essa prova de eficácia. 'Os medicamentos homeopáticos que invoquem indicações terapêuticas' demonstram 'a sua segurança, qualidade e eficácia', nos documentos entregues àquele instituto, para se registarem em Portugal, escreve Helder Mota Filipe.(...)
















Apesar de todas as acusações segundo as quais a homeopatia é uma pseudociência, muitos farmacêuticos sugerem activamente produtos deste tipo aos clientes, atitude que o director-geral de Saúde considera 'inadmissível'. O Infarmed, por seu lado, assegura que o facto de as caixas conterem a indicação 'medicamento homeopático' é suficiente para os consumidores terem 'garantida a sua liberdade de escolha'. (...) Essa 'liberdade de escolha' dos consumidores é ajudada pela considerável margem de lucro dos remédios homeopáticos. Uma estratégia habitual dos laboratórios que fabricam estas altas diluições é oferecer às farmácias 50 embalagens na compra de um lote de 100, incentivando assim as vendas". (do dossier de Luís Ribeiro na "Visão")

(2011)
COM UM TIPO CHAMADO GUTTENBERG, HÁ QUE TER UMA
CERTA TOLERÂNCIA EM RELAÇÃO AO COPY-PASTE...



Johannes Guttenberg (c. 1398 – 1468)

Ministro da Defesa alemão é agora o "barão do Copy-Paste"

... desde que a tese não tenha sido aprovada num domingo de Agosto, claro.

(2011)
"CONSULTEM O HORTA OSÓRIO" ROSNAVA A CAVACAL FIGURA...












... e o Horta Osório poderia, realmente, ter explicado como acentuar o fedor da latrina.

(2011)

17 February 2011

PJ HARVEY NO "CULTURE SHOW" (BBC)



(2011)
STREET ART, GRAFFITI & ETC (LV)

Salónica, Grécia, 2010















"Vota Ali Babá, ele só tem 40 ladrões"

(2011)
"O DESEMPREGO": NOVELA CAMPEÃ DE AUDIÊNCIAS COM A PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO AMESTRADO DE BOSTON, VALTER LEMOS (último episódio e resumo dos anteriores)





















ÚLTIMO EPISÓDIO (nº 10 de 17 de Fevereiro de 2011)



RESUMO DOS EPISÓDIOS ANTERIORES:




















Episódio 6 (17 de Setembro de 2010) - "Desemprego: Números mostram tendência de estabilização"



Episódio 9 (17 de Janeiro de 2011) - "Valter Lemos: 'O pior do desemprego já passou'"

(2011)

16 February 2011

O PENSAMENTO FILOSÓFICO PORTUGUÊS (LIX)

Escola filosófica Rádio Táxis-Autocoope





















Rádio sintonizado na TSF: "O Ministério Público pediu que todos os arguidos [do processo Face Oculta] sejam levados a julgamento, considerando existirem 'indícios suficientes e fortes para que sejam pronunciados'".

Filósofo ao volante:
"Ora... falta lá um".

(2011)
GHALIA BENALI SINGS OUM KALTHOUM (2)




(2011)
VINTAGE (XXX)

The Four Lads - "Istanbul (Not Constantinople)"



(2011)
PAUL DOORS: SCRIPTWRITER/DIRECTOR (II)





















Encore un effort, se, verdadeiramente, desejamos contribuir para que Hollywood, Bollywood, os "Cahiers" e San Fernando Valley acolham de braços abertos Paul Doors, o mais promissor talento da arte desde que os Lumière deram à manivela, em 1895. Mantendo como referência o farol que, confessadamente, o ilumina (Clint Eastwood), eis, então, mais algumas sugestões de inspiração, desinteressadamente oferecidas:

- Dirty Harry (1971), a lei e a ordem "by any means necessary", um "thriller" político;

- Pink Cadillac (1989), mistério, intriga e corrupção em torno de um automóvel de luxo - na "remake" doorsiana, por imperativos de "product placement", um Jaguar - com desfecho feliz e moralizador;

- Unforgiven (1992), marcado para a vida pelos devaneios jornalísticos da juventude, um político sério e incorruptível enfrenta a violenta hostilidade dos que, antes, denunciou;

- Flags Of Our Fathers (2006), a Pátria, a Pátria, a Pátria, a Virgem de Fátima e os Combatentes do Ultramar, num inolvidável épico de seis horas;

- Mystic River (2003), uma reflexão serena e contemplativa sobre a democracia cristã com o estuário do Tejo em fundo.

(2011)

15 February 2011

OUVIR DIZER TRÊS VEZES, EM DOIS CANAIS, QUE É
NECESSÁRIO "REPENSAR O PARADIGMA" É A GARANTIA
DE QUE ESTA TROPA FANDANGA NEM PENSA NEM FAZ
A MAIS PÁLIDA IDEIA DO QUE É UM "PARADIGMA"
















... entretanto, a ministra da Cultura (militante das hostes dos "repensadores do paradigma"), citava "Ítaca", de Kavafis, para justificar como a "fuga de cérebros" superiormente qualificados até é uma benção que irá "dar mundo" às jovens mentes ameaçadas de sufocação pelos miasmas da latrina-pátria, e alguém da oposição assegurava que a moção de censura do BE "não é sincera".

Há momentos em que o impulso incendiário parece absolutamente razoável.

(2011)
SE ALGUÉM SUSPEITA QUE É O ASSANGE QUE ESTÁ
POR TRÁS DISTO, DESTA É QUE ELE NÃO SE SAFA...













Receita da Coca-cola é revelada e tem coentros

(2011)

14 February 2011

PJ HARVEY
(Andrew Marr Show 18 de Abril 2010 - 2)



(2011)
VINTAGE (XXIX)

Eddie Cochran - "Summertime Blues"



(2011)
COISA IMENSA


Nina Nastasia - Outlaster

Deve ser praticamente impossível escrever (e pior, cantar) algo mais frio e, paradoxalmente, cruel e desesperado do que “every day I tear a bit from myself and from the one I love and from the other one I love”. E com o sentido de cada golpe e cicatriz implacavelmente tatuado nas palavras que vêm a seguir: “with each tear another stitch, there's always something new to fix, till blazing flames burn it all to pitch”. A dois versos do fim, uma alusão a The Blackened Air (2002): “Through the blackened air and all will I meet you this familiar way”. Mas não se suponha que se trata de um exercício de intolerável intensidade apenas verbal: "This Familiar Way" é um jogo de massacre em forma de tango, desfigurado pelo suplício de uma orquestra de câmara esventrada a frio perante os nossos ouvidos.



Dois passos à frente, "A Kind Of Courage" coreografa uma transtornada valsa de espectros para uma cerimónia de despedida do mundo dos vivos e os termos não são mais amáveis: “Don't think about, best to ignore, no one will miss you, no one will know (...) you're one of a million more of the same mind who deserve all to fade”. E, imediatamente antes, em "What's Out There?", pelo meio de estrondos, incêndios e estridências de cordas em desordenada aflição, Nina Nastasia, como se, naquele instante, o peito se lhe esvaziasse do último sopro, uiva, em ameaça “Oh window, window, I have to smash you out and let in something mean”. De Dogs (2000) a You Follow Me (2007), o "songbook" de Nina nunca foi ameno e feliz. Em Outlaster, porém – de novo escoltada pelo invariável Steve Albini –, num derradeiro passo de gigante, devora as Kristin Hersh, Sandy Denny ou Nico de cujas carcaças sempre se alimentou e, com o orquestrador Paul Bryan no lugar de Paul Buckmaster, cria aquilo que só se pode designar como as suas Songs Of Love And Hate. Coisa imensa, sim.

(2011)

13 February 2011