31 December 2016
Tópico de reflexão para 31.12.2016
“I’ve known a lot of cardboard boxes in my life, and I’ve loved them all, for different reasons. Each one taught me something different about myself. There’s a few I miss more than others, but ultimately I’m happy to have had each and every one” (Moxie, Upper East Side)
"There’s a whole group of people in the world – many of them in America – who can’t believe that the complexity of the universe is possible without postulating a god, but I can pretty much prove that it is. You don’t have to be involved with this thing for very long to see how complexity arises out of simplicity – that was the big perception of Darwin. The most important thing to come from Darwin, that great scientist, was that he showed the history of evolution is the progression from simplicity to complexity and this is quite the opposite of what religious people think – they think God is the most complex thing and therefore God can create less complex things. This is not true. This is probably not true. I think in eight and a half minutes I could convince any creationist that they have got the wrong end of the stick. (...)"
"We’re now looking towards a future where there will be less and less employment, inevitably automation is going to make it so there simply aren’t jobs. But that’s alright as long as we accept the productivity that the automations are producing feeds back to people, so we don’t end up in this situation where we’re heading to at the moment where you have this huge underclass and a few really really wealthy individuals because they own all the robots and control all the systems. So we have to change that so people are simply paid. I believe in universal basic income, which is basically saying we pay people to be alive – it makes perfect sense to me. (...)"
"The thrill that somebody gets to find that they can actually do something autonomously, not do something that somebody else told them to do, well, in the future we’re all going to be able to need those kind of skills. Apart from the fact that simply rehearsing yourself in creativity is a good idea, remaining creative and being able to go to a situation where you’re not told what to do and to find out how to deal with it, this should be the basic human skill that we are educating people towards and what we’re doing is constantly stopping them from learning. It makes me so angry. Sorry. I get in a bad mood when I start to think about it" (Brian Eno)
O Capelão Magistral é intransigente na defesa dos direitos dos doentes mentais mas acha que os da ala dos psicóticos que alucinam com o filho do Panthera não são obrigados a reforçar a medicação para não perturbar a concentração manual dos da ala ao lado
"(...) Muitas tecnologias de 'contacto' — como programas de 'presentificação', que fazem as pessoas olharem para os seus telemóveis centenas de vezes por dia, e os adolescentes, na vanguarda desta nova ignorância juntamente com os seus jovens pais adultos, passarem o dia a enviarem mensagens sem qualquer conteúdo — só têm sucesso porque se deu uma deterioração acentuada das formas de sociabilidade interpessoais, substituídas por um Ersatz de presença e companhia tão efémero que tem de estar sempre a ser repetido. Sociedades sem relações humanas de vizinhança, de companhia e amizade, sem interacções de grupo, sem movimentos colectivos de interesse comum dependem de formas artificiais e, insisto, pobres, de relacionamento que se tornam aditivas como a droga. (...) Um dos maiores riscos para o mundo é ter um presidente dos EUA que governa pelo Twitter como um adolescente, com mensagens curtas, sem argumentação, que, para terem efeito, têm de ser excessivas e taxativas. (...)" (JPP)
30 December 2016
"(...) A ideia de comunidade homossexual, não designando nenhuma entidade formalmente constituída, mas apenas uma abstracção estatística ou uma ficção menos fabulosa e inocente do que os unicórnios, tem origem numa generalização que expropria os indivíduos da sua singularidade e os rasura. A comunidade homossexual é como a noite onde todos os gatos são pardos. Esta gente que faz associações de grupo e cria ficções identitárias transforma os indivíduos em marcas, em portadores de uma bêtise, de uma estupidez, que é afinal a de quem os nomeia como comunidade. Supor que os indivíduos homossexuais são representáveis numa comunidade fundada em pressupostos de pertença e identidade é próprio dos discursos tendencialmente essencialistas. Começa-se na 'comunidade homossexual' e acaba-se a denunciar os lobbies gays, a clamar pela Família em vias de destruição, pela Civilização ameaçada e pelo Ocidente em declínio. Todo o processo identitário, enraizado muito profundamente nas nossas representações colectivas, tem uma grande capacidade em maquilhar-se, mas é de uma violência constante. (...)" (AG) - ler também aqui
29 December 2016
Se ainda não tinham reparado, fiquem, agora, a saber: "a 'revolução sexual', a nível global, [que] passou da política e da economia para o sexo, pretendendo mudar o mundo de forma insidiosa, obteve pouco consenso e foi já reconhecida como muito negativa" (só não entendo bem é a "revolução sexual' ter passado "da política e da economia para o sexo"... mas ninguém ignora que os caminhos do totalitarismo do orgasmo são insondáveis)
28 December 2016
O luxuoso Dorchester, com vista sobre Hyde Park, foi o hotel escolhido por David Bowie para, no domingo 16 de Julho de 1972, acolher dezenas de jornalistas americanos a quem iria apresentar Ziggy Stardust And The Spiders From Mars. Lou Reed (de unhas "bordeaux" e óculos escuros) e Iggy Pop (cabelo prateado, olhos pintados e t-shirt dos T. Rex) estavam presentes. E, conta Simon Reynolds em Shock And Awe: Glam Rock And Its Legacy (arrume-se já o assunto: ensaio pop do ano), Bowie, dirigindo-se aos convidados, declarou: “Pessoas como o Lou Reed e eu anunciam, provavelmente, o fim de uma era... e digo isto, catastroficamente. Qualquer sociedade que deixa à solta gente como nós está seriamente perdida. Somos ambos muito confusos, paranóicos, absolutos desastres ambulantes. Se somos a vanguarda de alguma coisa, não somos necessariamente a vanguarda de algo bom”. A 8 de Janeiro de 2016 – data do seu 69º aniversário e antepenúltimo dia de vida – David Bowie oferecia ao mundo uma derradeira Estrela Negra. Mas não suficientemente negra. You Want It Darker, murmurou Leonard Cohen, duas semanas antes de recusar ser testemunha do que, há muito previra (“I've seen the future, brother: it is murder”): no dia seguinte a ter “saído de jogo”, o planeta – seriamente perdido, sim – dava-se conta de que um candidato apoiado pelo Ku Klux Klan e pronto a partilhar o saque com um tirânico ex-director do KGB chegara à presidência dos EUA.
Em “30 Days 30 Songs” (que cresceria até “30 Days 50 Songs”), um site independente que, na qualidade de “artists for a Trump-free America”, entre 10 de Outubro e 8 de Novembro, juntou R.E.M., Franz Ferdinand, Aimee Mann, Andrew Bird, Moby, Lila Downs, Matt Berninger, Mirah, Ani Di Franco, Bob Mould e diversos outros, dispararam-se rajadas de agit-prop musical contra o Orange Clown e Michael Stipe espumou de fúria a propósito da utilização de "It’s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)" num comício de Trump (“Go fuck yourselves, you sad, attention-grabbing, power-hungry little men. Do not use our music or my voice for your moronic charade of a campaign”), tal como fariam os Rolling Stones, Neil Young e Aerosmith. No centenário do Manifesto Dada, filho natural da Primeira Grande Guerra, e nos 40 anos do punk (a cujas relíquias, avaliadas em 5 milhóes de libras, o filho de Malcolm McLaren lançou fogo, em protesto contra a sua mumificação institucionalizada no UK do Brexit), nada impediria a História de, uma vez mais, recuar vertiginosamente.
Talvez não seja motivo para, nos EUA, voltar a cantar-se já, já, "Strange Fruit". Mas a crua reportagem de PJ Harvey por alguns dos lugares da peste contemporânea (Afeganistão, Kosovo, os bairros esquálidos da periferia de Washington D.C.) em paralelo com a metralha de videos de pesadelo de Nadya Tolokonnikova/Pussy Riot ("Chaika"/"Straight Outta Vagina"/"Organs"/"Make America Great Again") deixam adivinhar o renascimento de uma contracultura de protesto. E, é verdade, o artista anteriormente conhecido como um impronunciável "Love Symbol" regressou à condição do confirmadamente mortal Prince Rogers Nelson. E, valha-nos isso, Dylan ganhou o Nobel. E, tudo bem medido e avaliado, parece que, afinal, 2016 não terá sido o pior ano de sempre. Que nunca venhamos a ter saudades dele. Porque não se trata de saber se estava meio cheio ou meio vazio mas, sim, se o fundo do copo está furado ou não.
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27 December 2016
MÚSICA 2016 - INTERNACIONAL (IV)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 26)
* a ordem é razoavelmente arbitrária...
A atmosfera geral – de Cohen a PJ Harvey, Burroughs, Darren Hayman, Shirley Collins, Paul Simon, Christy Moore – não foi propriamente festiva. Há anos assim. Mas alguns, como este, na música e no resto, carregam claramente nas tintas. Do francamente sepulcral à nostalgia dorida, ao delírio assombrado ou à denúncia política, a paleta raramente recorre às cores primárias. O que, seria facilmente acentuado se, dilatando a lista dos dez primeiros, incluíssemos Blackstar, de David Bowie, Lover, Beloved: Songs From An Evening With Carson McCullers, de Suzanne Vega, Skeleton Tree, de Nick Cave, ou You Can't Go Back If There's Nothing to Go Back To, dos Richmond Fontaine. Fiquemos, pois, gratos à vibrante experimentação electro-acústica de Anna Meredith, ao suave neo-classicismo de Meilyr Jones (e, noutro registo, Bob Dylan) ou à iconoclastia de Luke Haines e Neil Hannon, por terem permitido que um pouco de luz penetrasse.
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26 December 2016
2016 - Prémio "Opá, chega-me aí um dicionário!"
"Jesus Cristo foi o primeiro ‘consumista’. Com efeito, as suas últimas palavras, antes de expirar na Cruz, foram: 'Tudo está consumado!' (Jo 19, 30)" (O Capelão Magistral)
MÚSICA 2016 - INTERNACIONAL (III)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 26)
* a ordem é razoavelmente arbitrária...
25 December 2016
Deusnossenhor está muito zangado (II) com a Rússia (versão alternativa: ninguém há-de calar a voz de Andrei Zhdanov!!!)
Deusnossenhor está muito zangado (I) com a Alemanha (versão alternativa: milagre!... 50 000 alemães salvos no aniversário do filho do Panthera!!!!)
"Trump tem todos os defeitos que já apontámos e aparece agora a brincar com as armas nucleares no Twitter, a doença infantil dos homens maduros, mas sabe o que quer e, acima de tudo, o que não quer. Mesmo que não faça um décimo do que ameaça fazer, basta isso para consolidar um ponto sem retorno da política mundial, e se há homem que é capaz de explorar isso, é Putin. Num certo sentido são parecidos: Putin retratado como macho russo a andar a cavalo, em cima do gelo, a mergulhar, a caçar ursos; Trump apanhando-as pela 'pussy', vivendo entre ornatos de falso ouro, e aquelas cadeiras e móveis que a gente jurava que ninguém comprava, mas compra. Só que há uma enorme diferença, Trump é habilidoso e esperto, Putin é inteligente e frio. E Putin tem um mapa por detrás, com muita história dentro" (JPP)
23 December 2016
MÚSICA 2016 - INTERNACIONAL (II)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 26)
* a ordem é razoavelmente arbitrária...
Porque é que, na lista de livros do ano do "Público", a tradução da Bíblia de Frederico Lourenço aparece em "não-ficção"?
A "carinha laroca", trabalhadora incansável do blog direitolas, ou é daltónica ou está convencida que luso que é luso só pode ser ser caucasiano
22 December 2016
"In a most Burroughs-ian gesture, this year a 'single-serving' website calling itself 23Skidoo came into being, with the promise of supplying readers with '23 random paragraphs from Naked Lunch' every time the refresh button is activated. The reader is invited to take in the newly forged juxtapositions while the inimitably phlegmatic voice of Burroughs reads from the work" (daqui)
(ver também aqui)
Segunda oportunidade?... Segunda?!!!... A Vaticano S.A. tem 2000 e tal anos de história assassina no mercado da superstição e quer uma segunda oportunidade?... Só extinguindo-se...
21 December 2016
MÚSICA 2016 - INTERNACIONAL (I)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 26)
* a ordem é razoavelmente arbitrária...
20 December 2016
APELO ÀS ARMAS
Em 2002, vinte e seis anos após a morte de Ulrike Meinhof – fundadora, com Andreas Baader, da Rote Armee Fraktion (Fracção do Exército Vermelho), grupo alemão de guerrilha urbana, activo de 1970 a 1998 -, a filha, Bettina Röhl, descobriu que, após o alegado suicídio de Ulrike na cadeia de Stammheim, em 1976, o cérebro da mãe havia sido removido do crânio na sequência da autópsia realizada pelo neurocirurgião Jürgen Pfeiffer, com o objectivo de investigar se uma anterior cirurgia poderia ter determinado alterações de personalidade e correspondente inimputabilidade. O recuperado cérebro acabaria por juntar-se ao resto do corpo num cemitério de Berlim mas Luke Haines que (em 1996, sob o "alias" Baader Meinhof) já havia dedicado um álbum inteiro à história da RAF, não o deixa descansar em paz: agora, em "Ulrike Meinhof’s Brain Is Missing" (primeira faixa de Smash The System), muito à sua maneira, reconta a história: “Ulrike Meinhof’s brain is missing, organic matter on the run, there’s a hullabaloo in the Stasi HQ, Jürgen, Jürgen, call the surgeon...”
Sim, porque para a personagem que tanto assina com o próprio nome como enquanto The Auteurs, Black Box Recorder ou... Baader Meinhof, e exibe um CV com mais de vinte álbuns, nenhum tema é inacessível. Espécie de singularidade cósmica resultante da colisão entre Jarvis Cocker, Momus e um Syd Barrett menos descompensado, Haines é um historiador iconoclasta da coisa pop – espreitem os livros Bad Vibes: Britpop and My Part in Its Downfall (2009) Post Everything: Outsider Rock and Roll (2011) e a compilação de receitas Outsider Food And Righteous Rock And Roll (2015) –, um comentador sulfúrico da paisagem social britânica e confesso adepto da “personal anarchy”, actualmente “obcecado pelo maoísmo, a Incredible String Band e a segunda guerra mundial”. Um belíssimo caldo de cultura, pois, para este “Ritual magick agit prop call to arms” que celebra Marc Bolan e o sexo oral, reune "Bruce Lee, Roman Polanski and Me", recomenda (com solo de kazoo incorporado) a Incredible String Band – uns fulanos que cantavam “songs about caterpillars, hedgehogs and death (...) like a couple of weasels trapped in a sack” –, e convoca as massas para a revolta sob a palavra de ordem “I like the Monkees, do you like the Monkees? Let's smash the system!”
“When somebody asks me where I’m from, I say I’m from Vagina. When people say I’m from Cambridge or Paris or China, I say ‘no you’re not, you’re from Vagina'. Globalism is in trouble today. There’s a rise in populism all over the world, and my version of ultra globalism is vaginal globalism. Vagina has no borders”(Nadya Tolokonnikova)
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