Showing posts with label Simon and Garfunkel. Show all posts
Showing posts with label Simon and Garfunkel. Show all posts

28 January 2020

IMPRESSÕES  DIGITAIS


Meia hora depois de ter escutado o discurso de tomada de posse de Donald Trump enquanto presidente dos EUA, Billy Bragg pegou na guitarra e, de jacto, sobre "The Times They Are A-Changin’’, de Bob Dylan, inventou uma versão inquietantemente actualizada, "The Times They Are A-Changin’ Back" - “Come Mexicans, Muslims, LGBT and Jews, keep your eyes wide for what’s on the news, for President Trump is expressing his views, and I fear that the mob he’s inciting will soon break your windows, burn down your schools, for the times they are a changin’ back” – que, nessa mesma noite, cantaria num concerto em Salisbury. Afinal, nada de muito novo nem no método nem na atitude: nunca hesitou em confessar que o verso de abertura de "New England" – a canção que Kirsty MacColl, em 1983, converteria num êxito – fora tomado de empréstimo a "Leaves That Are Green", de Simon & Garfunkel, e que a melodia se inspirara bastante em "Cowboy Song’", dos Thin Lizzy (o que nem era escancaradamente óbvio), tal como, desde o início, não se deslocou um milímetro do lugar de "songwriter" politicamente activo. 


Quando, há três anos, publicou o livro Roots, Radicals and Rockers (sobre a história do "skiffle"), em entrevista ao “Guardian”, deixou razoavelmente claro o seu ponto de vista na inesgotável polémica acerca das relações entre música e política: “A música pode contribuir para os processos de transformação mas apenas as pessoas podem concretizar a mudança. A música, só por si, não possui essa capacidade de actuar mas pode oferecer uma perspectiva diferente”. Um pouco ao jeito de um Woody Guthrie (de quem, com os Wilco, musicou uma série de textos inéditos) dos tempos actuais, em mais de cinco dezenas de álbuns, EP e singles, programas de rádio e documentários, há impressões digitais suas em todas as causas, lutas e trincheiras, do que este duplo CD Best of Billy Bragg at the BBC, 1983-2019 – compilando gravações dos programas de John Peel, David Jensen, Janice Long, Phill Jupitus, Bob Harris e Tom Robinson – é um exaustivo panorama.

30 June 2016

"Let’s be clear. The global economy is not working for the majority of people in our country and the world. This is an economic model developed by the economic elite to benefit the economic elite. We need real change" (aqui via VB)

14 November 2013

11 May 2013

LADO B


Logo ao princípio, fica-se na dúvida: será Sandy Denny ou Linda Thompson? Mas, imediatamente a seguir, na primeira entrada do refrão, com a totalidade do "ensemble" intrumental e as harmonias corais, tudo parece indicar que se trate de Richard & Linda Thompson. Embora, escutando melhor, também não seria impossível estarmos a ouvir os Fairport Convention, numa versão alternativa de "Meet on The Ledge". Ou algo próximo disso. A verdade é que a canção que Bonnie ‘Prince’ Billy e Dawn McCarthy interpretam é "Breakdown", quinta faixa daquele álbum de Kris Kristofferson (The Silver Tongued Devil and I, 1971) que, em Taxi Driver, Travis Bickle/Robert de Niro oferece a Betsy/Cybill Shepherd depois de ela o ter descrito através de uma frase de outra canção ("The Pilgrim, Chapter 33") desse disco: “He's a prophet, he's a pusher, partly truth and partly fiction, a walking contradiction”. Mais à frente, dir-se-ia claramente termos sintonizado os Jefferson Airplane, por volta de 1967, aplicando a "Somebody Help Me" – tema do jamaicano Jackie Edwards a que, um ano antes, o Spencer Davis Group também se havia atirado – o mesmo tratamento que daria origem a "Somebody To Love". E, pouco antes do fim, os primeiros 60 segundos de "Poems, Prayers and Promises", de John Denver, são puros Simon & Garfunkel do tempo em que Paul e Art tinham desistido de se chamar Tom & Jerry, sua adolescente encarnação inicial sob a magna inspiração dos Everly Brothers.



O que vem imensamente a propósito uma vez que What The Brothers Sang, terceiro capítulo da colaboração de Bonnie ‘Prince’ com a cantora e compositora dos sobreexcelentes Faun Fables (urgência máxima para a escuta de Family Album, 2004, The Transit Rider, 2006, e Light Of A Vaster Dark, 2010) após The Letting Go (2006) e Wai Notes (2007), reúne a sua dupla visão de treze temas de Phil e Don Everly, anunciada no final do ano passado pelo single "Christmas Eve Can Kill You" (instantâneo tudo menos tradicionalmente feliz da noite de 24 de Dezembro). Correcção: como o título, de facto, aponta, estas são algumas das canções que os irmãos Everly cantavam porque só raramente eram eles os autores do próprio reportório. O que concedeu a Will Oldham e Dawn McCarthy a total liberdade (de que mui liberalmente tiraram partido) para relerem as composições dos atrás referidos e ainda de Felice e Boudleaux Bryant, Karl Davis, Goffin/King, Tony Romeo e vários outros artífices da indústria musical de maior ou menor relevo, sem se sentirem excessivamente obrigados a manter no radar a característica sonoridade pop/folk/rock/country + harmonias vocais em terceiras paralelas dos Everly Brothers. Fazendo ainda questão de não optar pelo modelo revisão de "greatest hits": escusam de procurar que não encontrarão aqui "All I Have To Do Is Dream", "Bye Bye Love" ou "Wake Up Little Susie". Mas, em contrapartida, numa espécie de rememoração da história evolutiva da música popular dos últimos 60 anos com desvios, mutações genéticas e hibridações inesperadas – este não é mais um caso clínico de “retromania” – permite-nos espreitar para o lado B dos Everly Brothers e vê-lo como nunca imaginámos. 

01 March 2012

NÃO SEI SE VÁ ALI CORTAR OS PULSOS MAS ESTE FENÓMENO SOCIAL DOS NOVOS POBRES DEPRIME-ME DE UMA MANEIRA AVASSALADORA

Ricardo Salgado fica sem remuneração variável em 2012 e baixa salário em 32% no BES


Simon & Garfunkel - "Richard Cory"

(2012)

21 December 2011

07 June 2011

UMA TARTE DE MAÇÃ



Alela Diane & Wild Divine - Alela Diane & Wild Divine




Fleet Foxes - Helplessness Blues

Dois dias antes do 70º aniversário de Bob Dylan – celebrado no passado 24 de Maio –, o “Observer” decidiu inquirir uma série notáveis da música e outras artes acerca de qual o presente que achariam mais apropriado para lhe oferecer. As propostas foram, previsivelmente, assaz diversas: Martin Carthy (recordando um episódio ocorrido no Inverno de 1962 entre ambos) sugeriu um piano e uma espada de samurai para despedaçar o piano e o usar como lenha para a lareira nas noites frias; Isobel Campbell pensou numa camisa de seda e num par de sapatos italianos; Chrissie Hynde lembrou-se de um jogo de dardos (“por nenhuma razão especial: suponho que ele gostaria”); e Alela Diane, imaginando sensatamente que ele poderá comprar tudo aquilo que quiser, optou pelos valores básicos e seguros: uma tarte de maçã que confeccionaria segundo a infalível receita da mãe. E explicou-se: “A música folk, na sua essência mais profunda, foi criada para as pessoas conviverem à sombra do alpendre e eu associo a tarte de maçã a esse tipo de comportamento. Suponho que a vida do Bob Dylan, nestes últimos tempos, se tenha tornado muito mais simples e que, no dia de anos, lhe saiba bem sentar-se no alpendre e fazer o que lhe apetecer. Como companhia, uma tarte de maçã será tudo o que precisa”.



A música que emergiu do que foi baptizado como "new weird America" (padrinho do baptismo: David Keenan, no número de Agosto de 2003 da “Wire”), "free-folk", "psych-folk" ou "freak-folk" não foi, assim, senão um ensaio do regresso da boa velha tarte, mais ou menos condimentada com temperos psicotrópicos, e preparada de acordo com uma interpretação livre dos antiquíssimos preceitos recuperados das tradições britânica e norte-americana. Que, agora, quase dez anos depois, e após a poeira ter assentado suficientemente, permite distinguir com maior facilidade os folqueiros de fim-de-semana (aqueles que apreciavam travestir-se de descendentes híbridos de Jesse James e feiticeiros comanches com uma costela de bardo celta) dos outros que, verdadeiramente, reinventavam e retomavam o fio da história no ponto em que – sem nunca, de facto, ter sido interrompida –, há trinta e tal anos, ficara suspensa. Por motivos de proximidade geracional e geográfica, inicialmente, Alela Diane foi associada a algumas das cintilações da seita neo-hippie, caso, por exemplo, de Joanna Newsom.



Mas, com The Pirate’s Gospel (2006) e To Be Still (2009), tudo ficaria devidamente esclarecido: a ascendência poderia ter ramos comuns mas o que dela resultava era, afinal, uma novíssima e valiosa voz de songwriter bem mais afim de Neko Case ou Jolie Holland (ou, recuando até às origens, Sandy Denny) do que de míticas lambisgóias “celtas”. Alela Diane & Wild Divine (a saber: ela e banda acompanhante que, em registo de "family affair", inclui o pai e o marido), sem exibir tremendas alterações no perfil musical reconhecível, encorpa sensivelmente a sonoridade das óptimas canções – o produtor Scott Litt, com CV ao lado dos R.E.M., Nirvana e Patti Smith, terá modificado dois ou três parâmetros – e aproxima-as dos igualmente recomendáveis padrões de Neil Young ou Richard & Linda Thompson, povoadas de inquietantes recados como “death is a hard act to follow” ou “we are hopeful, we are scattered, we are dust”.



Genuína emanação da cena "freak-folk", os Fleet Foxes, pelo seu lado, mantém inalterada a faceta menos digerível da genealogia – a da chinela “poética” que os obriga a, sem se rirem, formularem portentosas interrogações do gènero de “why is the Earth moving around the sun? why is life made only for it to end?” – mas como, muito mais do que canções, o que eles criam são majestosas catedrais de remoinhos corais que ampliam desmedidamente a matriz Beach Boys-CSN&Y-Simon & Garfunkel, “Helplessness Blues” não deixa de ser uma tentadora peça de dulcíssima massagem auditiva.

(2011)

27 April 2011

O QUE PENSAM AS ZEBRAS



Paul Simon - So Beautiful Or So What

“Um belo objecto? Quem precisa dele? É esse mesmo o seu mistério e o seu fascínio. O truque, tal como o vejo, é prestar-lhe toda a atenção e, ao mesmo tempo, não lhe ligar nenhuma”. Elvis Costello, 56 anos, escrevendo acerca de So Beautiful Or So What, de Paul Simon, 69 anos, no texto de introdução do "booklet" do álbum. O qual, algumas linhas à frente, qualifica como “uma das mais conseguidas gravações” de Simon que “rejeita a sedução pelas trevas em moda e a hipnose da ignorância”. É absolutamente natural que dois tão "beaux esprits" se encontrem mas já é menos comum que aquele que entrou pela primeira vez em estúdio (o single "True or False"/"Teenage Fool", sob o pseudónimo de True Taylor) quando o outro tinha apenas dois anos lhe peça que, deste modo, lance a sua bênção sobre a obra do mestre. Não que ele necessitasse, realmente, disso: bastava-lhe exibir o precioso CV (com Art Garfunkel e a solo) repleto de medalhas e louvores por bravíssimo comportamento nos teatros de guerra da folk/pop para que quaisquer dúvidas dos ignaros se dissipassem de imediato. Mas, independentemente do que possa existir de genuína cumplicidade e justificadíssima admiração mútua, a verdade é que os três álbuns que, na última década e (quase) meia, Paul Simon publicou (Songs From The Capeman, 1997, You’re The One, 2000, e Surprise, 2006, com Brian Eno) não incendiaram, propriamente, as tabelas de vendas de modo sequer remotamente semelhante ao que se passara com os anteriores Graceland (1986) e The Rhythm Of The Saints (1990). Pelo que “a little help from his friend” até poderá ser bem-vinda.



E convenhamos que, à primeira vista, um olhar de relance pelos títulos das canções faz pensar que Simon está determinado a complicar a própria vida: três ostentam “love” no título, outra chama-se "Questions For The Angels" e outra ainda, "The Afterlife". Alerta vermelho instantâneo: querem ver que o passar dos anos empurrou o adepto das "quickies" com a "Cecilia" para um cenário de sininhos tibetanos e paus de incenso "new age"? Nada disso. So Beautiful Or So What não será exactamente um Life Of Brian mas, em todos esses casos – ainda que Paul Simon, não se confessando adepto de nenhuma fé, reconheça que a mortalidade e o... err... sentido da vida insistiram em picar o ponto neste disco – a forma como os “grandes temas” são abordados tem mais a ver com Randy Newman do que com suites esotéricas para o alinhamento dos chacras. Reparem, por exemplo, na tal "Questions For The Angels": “A pilgrim on a pilgrimage, walked across the Brooklyn Bridge” para dar de caras com que revelação? A de um cartaz com “Jay-Z, he’s got a kid on each knee, he’s wearing clothes that he wants us to try”. Sim, confirma-se, “God and his only son” (em "Love & Hard Times") fazem também uma “courtesy call” à Terra mas rapidamente se arrependem: “these people are all slobs here, if we stay it’s bound to be a mob scene”. E, desiludam-se, no insondável "Além", há que fazer fila para o atendimento e preencher um porradão de impressos para, no final, continuarmos sem ter a certeza se a explicação derradeira para a Vida, o Universo e Tudo à Volta é “Bebop A Lula or ooh Papa Doo?”. Envolva-se tudo isto num destilado de sofisticadíssimo "songwriting" americano clássico decantado pela "world music" tal como, há vinte anos, Paul Simon a digeriu, admitam-se dois ou três "samples" e um aroma de blues do Delta e tome-se nota: a interrogação a que os anjos não souberam responder foi “If every human on the planet and all the buildings on it should disappear, would one zebra grazing in the African Savannah care enough to shed one zebra tear?”.

(2011)

24 April 2011

"AFTER CHANGES UPON CHANGES
WE ARE MORE OR LESS THE SAME"



















Simon & Garfunkel - Bridge Over Troubled Water (2CD + DVD)

"Bridge Over Troubled Water" (a canção), oração secular em registo gospel branco, terá sido o poderoso sopro de vento que fez descolar o último álbum homónimo da dupla que reuniu durante seis anos Paul Simon e Art Garfunkel e o projectou para uma gloriosa carreira de chuvas de Grammies, listas de "Greatest All time Albums" et alia. Mas – como é de regra na estirpe dos, de facto, clássicos a que ele justamente pertence – não era a única pérola alojada no interior do estojo. Nem sequer a mais preciosa e luminosa.



"The Boxer", cruel instantâneo realista disfarçado de "singalong" (a que, na versão original foram amputadas cinco linhas de gélida reflexão: “I am older than I once was, and younger than I'll be and that's not unusual, no it isn't strange, after changes upon changes, we are more or less the same”) disputava-lhe o lugar e, muito mais discretas peças de joalharia literária e musical como "So Long, Frank Lloyd Wright", "The Only Living Boy In New York" ou a sublime "Song For The Asking" confirmavam sem deixar espaço para disputa que Paul Simon pertencia, já em 1970, à mais ilustre linhagem norte-americana de "songwriters".



Não que isso fosse estritamente necessário: dois anos antes, o duo havia publicado Bookends, o seu verdadeiro opus magnum, sucessão de pequenos assombros de nome "America", "Save The Life Of My Child", "Old Friends", "Overs", "Mrs. Robinson" ou "A Hazy Shade Of Winter". Entretanto, quem, por hipótese improvável, nunca tenha escutado Bridge Over Troubled Water tem, agora, a oportunidade de o fazer nesta cuidada reedição que – para esses e para os outros – inclui ainda os bónus de um Live 1969 e um DVD (Songs Of America), documentário da CBS do mesmo ano, testemunho de S&G numa curva da história americana.

(2011)

28 February 2011

MIMETISMO



















The Decemberists - The King Is Dead

Segundos iniciais de "Don’t Carry It All", a primeira faixa, e somos atingidos de frente pelo gemido de uma harmónica dylaniana enquanto dobradiça da porta de entrada para uma canção que, certamente por distracção, os Fairport Convention não terão incluído num dos seus primeiros álbuns. A obediência aos preceitos do folk-rock britânico permanece lá mas nada sequer de remotamente semelhante aos épicos prog-trágico-marítimos em quatro partes, sobre criaturas da floresta, entidades mitológicas e diáfanas donzelas por que os Decemberists, até agora, foram amados e execrados em partes iguais. Segunda canção, "Calamity Song", e oh felicidade!... é, afinal, "Talk About The Passion", dos R.E.M., quase nota por nota, com Peter Buck na tripulação e tudo.



Buck aparece mais duas vezes: em "Down By The Water" – abertura springsteeniana deslizando para uma melodia desenhada à transparência sobre "The One I Love", tal como Richard e Linda Thompson a interpretariam, mas com Gillian Welch no lugar de Linda – e, ao banjo, no tema de abertura. Nenhum Rolling Stone assina o ponto mas "All Arise" é "Honky Tonk Women" em versão Fairports-meets-The Band e, mesmo sem a comparência de Morrissey ou Johnny Marr, “This Is Why We Fight" teria entrada instantânea num Best Of dos Smiths.



Semeiem por aí meia dúzia de pinceladas das paletas de Neil Young, Wilco e Gram Parsons, Springsteen mais umas quantas vezes, entretenham-se a decidir se "Rox In The Box" puxa mais para Richard & Linda, para os Steeleye Span ou para Young com Nicolette Larson, se "January Hymn" contém maior quantidade de material genético de Donovan ou de Simon & Garfunkel e, sem fazer batota, experimentem descobrir qual a faixa em que Laura Veirs se ouve lá ao fundo. O juízo final até é simples: em formato aparado e escanhoado, quanto mais Colin Meloy e cúmplices se despersonalizam e cultivam o mimetismo, melhor é a sua música.

(2011)