(sequência daqui) E não, não se trata de jogo de cintura calculado para fugir a assumir compromissos políticos claros. Basta pesquisar um pouco no labirinto do Google e facilmente se descobrirão os seus diálogos com o nada conciliador ex-ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis (com quem fundaria o movimento DiEM25 - Democracy in Europe Movement 2025), o apoio ao boicote cultural a Israel em consequência da ocupação dos territórios palestinianos, a criação da plataforma EarthPercent (dedicada a angariar fundos oriundos da indústria musical para o combate à emergência climática) ou o video de puríssimo escárnio-Monty Python, de 2019, "Everything’s On the Up With the Tories", no qual o governo Conservador – aliás, “the government from Hell” –, a propósito da doença profunda do Serviço Nacional de Saúde britânico, é devidamente escarnecido: “They’re selling off the NHS to cowboys, they’re cutting back on nurses but investing it in hearses, the nitwits and the we-don’t-have-a-clue boys”. Porque, na verdade, o que está em causa é algo como uma obrigação de honestidade de que fala à “Uncut”: “Sinto que envolver uma mensagem pré-formatada numa obra de arte com a capacidade de produzir emoções é um pouco desonesto. De certo modo, assume que o criador já conhece as respostas. E eu, de certeza, não as conheço. É admitir que não há problema nenhum em vender as nossas respostas dramatizando-as numa embalagem emocional para soarem convincentes. Não tenho um programa que desejo que as pessoas sigam. Sugiro apenas que experimentem um outro lugar e que decidam se se sentem bem nele”. (segue para aqui)
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02 November 2022
10 November 2021
16 August 2021
15 February 2020
14 December 2018
10 December 2018
03 December 2018
Cada vez é mais claro que "a new authoritarian axis demands an international progressive front"
(banda sonora já há)
(banda sonora já há)
20 April 2018
"Marx and Engels based their manifesto on a touchingly simple answer: authentic human happiness and the genuine freedom that must accompany it. For them, these are the only things that truly matter. Their manifesto does not rely on strict Germanic invocations of duty, or appeals to historic responsibilities to inspire us to act. It does not moralise, or point its finger. Marx and Engels attempted to overcome the fixations of German moral philosophy and capitalist profit motives, with a rational, yet rousing appeal to the very basics of our shared human nature"
10 January 2017
COWBOYS E AGRICULTORES
Há cerca de um ano e picos, Brian Eno e o ex-ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, encontraram-se para uma conversa nas páginas do “Guardian”. Muito apropriadamente, o título era “Two Bald Heads Collide” e os possuidores de dois dos mais activos cérebros europeus contemporâneos dialogaram prolongadamente sobre darwinismo e os cães vadios da Crimeia que aprendem a utilizar elevadores, política e arte, CD vs vinil, Star Trek vs The Matrix (enquanto metáforas da relação entre humanos e inteligência artificial), a extinção do trabalho, Octavio Paz e o comunismo, Richard Dawkins e o gospel, o terrorismo e a fé. Não surpreendeu muito, por isso, que, em Fevereiro do ano passado, Eno – juntamente com Noam Chomsky, Julian Assange, Ken Loach, Slavoj Žižek, Toni Negri e vários outros – aparecesse como um dos fundadores do movimento DiEM25 (Democracy in Europe Movement 2025), de Varoufakis.
Também não será, então, surpresa que, no formato mais convencional da recentíssima entrevista (à “Loud And Quiet”) a propósito do álbum Reflection – publicado no dia de ano novo –, os tópicos abordados não fossem muito diferentes: a desnecessidade de postular a existência de deus para explicar a criação de um universo complexo, a importância das artes no currículo escolar face a um futuro no qual a criatividade será uma das poucas armas de sobrevivência para o sapiens laboralmente obsoleto, ou o seu fascínio pela obra de Julia Holter. E tudo isso como irradiação natural de um disco contendo 54 minutos de música “generativa” (isto é, infinitamente auto-gerada a partir de uma série de algoritmos criados em colaboração com Peter Chilvers), algures entre o silêncio e o registo em "slo-mo" do movimento das marés aprisionadas num aquário. Brian Eno situa-se: “Talvez os artistas se dividam em duas categorias: agricultores e cowboys. Os agricultores tomam conta de um pedaço de terra e cultivam-na cuidadosamente, Os cowboys procuram lugares novos, excita-os a descoberta e a liberdade de estar onde poucos antes foram. Costumava supor que era mais cowboy... mas o facto de esta série de 'ambient music' durar já há 40 anos faz-me pensar que devo ter uma boa costela de agricultor”. Obviamente, terá também reparado no quanto esta música maravilhosamente não-humana é, em si mesma, um sinal indisfarçável do mundo que vai emergindo.
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