26 June 2022
23 June 2022
(sequência daqui) Dez anos depois, culminando agora com a invasão da Ucrânia, sente que a intervenção político-artística das Pussy Riot tem sido ímportante?
Não costume fazer esse tipo de avaliações mas posso dizer-lhe que, no ano passado e já neste, tive os meus dois últimos processos judiciais. Antes disso já tinha sido presa seis vezes. O país tem vindo a transformar-se num autêntico pesadelo, uma ditadura na qual temos de enfrentar processos judiciais diariamente. Neste momento, os protestos contra a guerra poderão ter como consequência penas de prisão, entre os 5 e os 15 anos. Esta é a realidade do que tem vindo a acontecer e a agravar-se desde 2012.
Há 15 dias, num concerto de uma banda russa, os Kis-Kis, em S. Petersburgo, milhares de pessoas no público, entoaram em coro “Fuck the war”...
Há imensa gente que está contra a guerra. E muita gente que protesta e é presa. O que nem sempre é muito visível do exterior. O movimento de massas contra Putin precisa de ter uma dimensão internacional. Os milhões que a Rússia continua a receber do Ocidente têm de ser travados. É isso que lhe permite persistir na invasão da Ucrânia e, por outro lado, ter meios para, internamente, oprimir o povo russo.
Mas, caso a queda de Putin venha a acontecer, existirão alternativas viáveis?
Evidentemente que sim! Se houvesse eleições, centenas, milhares de pessoas estariam dispostas a candidatar-se para o parlamento e também para a presidência. Há milhares nas prisões e isso é um sinal de que os russos não se deixaram paralizar. Se as eleições fossem verdadeiramente democráticas poderia haver hipóteses de mudança. Putin deveria ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia, tanto por crimes de guerra na Ucrânia como no interior do seu próprio país.
Quem assistir às apresentações das Pussy Riot deverá ir com a expectativa de algo entre o concerto de rock e o meeting político?
Todos os concertos que, até agora, temos realizado na Alemanha, na Áustria e na Holanda – praticamente metade da digressão – esgotaram. E trata-se, essencialmente, de um manifesto político, um apelo à revolta, que não se resume à dimensão sonora/musical: inclui também a dimensão importante de elementos de video-arte.
22 June 2022
"Governo criou comissão em 2017 para rever rede de cuidados materno-infantis. Trabalho nunca foi concluído" (ou, dantes, era "a longa noite do fascismo", agora, é o intermezzo da Covid)
21 June 2022
20 June 2022
(sequência daqui) Mas fê-lo apenas por causa da digressão ou devido ao facto de ser complicado permanecer na Rússia enquanto activista anti-Putin?
Fugi da Rússia porque, para concretizar esta digressão, não tinha outra solução senão fazê-lo. Mas também porque um dos objectivos destes concertos é angariar fundos para apoiar a reconstrução de um hospital pediátrico, em Kiev, na Ucrânia. Houve (e continua a haver) muitas crianças vítimas da guerra que precisam de todo o apoio que conseguirmos oferecer-lhes.
Pode dizer-se que o grupo que vem tocar consigo são ainda as Pussy Riot que, em 2012, assaltaram a Catedral do Cristo Salvador, em Moscovo?
Sem dúvida. Várias das actuais Pussy Riot são-no já desde 2012, outras... há 60 anos! (risos) Mas, para além daquele instante em que estamos juntas num palco, muito antes disso, já partilhámos inúmeras peripécias.
A Nadya Tolokonnikova, o outro elemento das Pussy Riot que, em 2012, foi presa, julgada e condenada consigo, já não vive na Rússia há bastante tempo. Apesar disso, mantêm-se em contacto e têm alguma espécie de estratégia comum?
Mantemo-nos em contacto, evidentemente, mas isso nem sempre é fácil. No entanto, os nossos sonhos e objectivos continuam a ser os mesmos.
Desde o início, as Pussy Riot nunca corresponderam aquilo que habitualmente designamos como “uma banda” ou mesmo “uma banda punk”. Como deveríamos chamar-lhes? Uma brigada de agitação e propaganda?
Nós não somos uma banda punk. Somos um colectivo político-artístico que luta contra a ditadura de Putin, um colectivo feminista e a favor dos direitos LGBTQ. (segue para aqui)
19 June 2022
18 June 2022
"A RÚSSIA É UM PESADELO"
A 21 de Fevereiro de 2012, Nadya Tolokonnikova, Maria (Masha) Alekhina e Yekaterina Samutsevich pularam sobre o altar da Catedral do Cristo Salvador, em Moscovo, e entoaram uma “oração punk” em que imploravam à Virgem que livrasse os russos de Vladimir Putin. Imediatamente presas e julgadas, as três Pussy Riot – na verdade, não uma “banda” mas uma brigada de teatro de guerrilha de cerca de 10 performers e 15 elementos responsáveis pela logística técnica (incluindo filmagem, montagem e distribuição de vídeos via-Internet) –, seriam condenadas por um tribunal de Moscovo a uma pena de dois anos de prisão “por hooliganismo e incitação ao ódio religioso”. Na altura, afirmariam: “Não são as três cantoras das Pussy Riot que estão a ser julgadas. É o aparelho de Estado da Federação Russa que está a ser julgado e que, infelizmente para si mesmo, se deleita em publicitar a sua crueldade para com os seres humanos, a indiferença perante a sua honra e dignidade, o pior do que aconteceu na História da Rússia até hoje. Lamento profundamente que este tribunal não seja muito diferente das troikas estalinistas”. Libertadas em Dezembro de 2013, numa manobra de relações públicas antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, Masha e Nadya, fora e dentro da Rússia, através de videos, acções de agit-prop, publicação de livros e concertos, nunca baixaram os braços. O que, tal como agora aconteceu com Masha – à beira de uma digressão europeia que passaria por Portugal –, as obrigou a uma táctica de fuga permanente.
Há semanas, quando, aparentemente, iria haver uma possibilidade de termos esta conversa, ela acabou por ser impossível. Ao mesmo tempo, surgiu na imprensa internacional a notícia de que, por essa altura, a Masha, via Bielorússia e Lituânia, tinha fugido para a Islândia sob o disfarce de entregadora de refeições...
É, de facto, verdade. Estava a preparar-me para dar início a esta digressão e vi-me obrigada a resolver, de urgência, uma série de problemas. Sabia que iriam surgir grandes dificuldades na passagem da fronteira, tinha a minha casa constantemente vigiada pela polícia... Tive de arranjar forma de resolver esses problemas da maneira mais expedita possível.
(daqui; segue para aqui)
A voz da sabedoria
What is your guiltiest pleasure? I never feel guilty about pleasure.
What is the worst job you’ve done? I just hate to work, so I can’t choose one.
17 June 2022
16 June 2022
14 June 2022
13 June 2022
12 June 2022
11 June 2022
"Conheci a Paula Rego em Londres, quando para lá fui viver, em 1978, na qualidade de conselheiro cultural da nossa embaixada. Fui-lhe apresentado em casa do Helder Macedo. Logo me impressionaram muito o seu sorriso travesso, a quase intolerável amperagem dos seus olhos e a total despretensão da sua conversa. A Paula tornava-se rapidamente amistosa e recusava o jargão dos pseudo-cultos. Falava, com ironia mal velada, nos críticos de arte, que construíam grotescas catedrais de interpretação, à volta de soluções de pintura muito simples e muito óbvias. Em literatura, passa-se o mesmo, mas os críticos de arte refinam, neste delírio interpretativo. Ao longo da minha vida, conheci mais do que um pintor de nome que dizia gostar de ouvir opiniões sobre as suas obras, desde que não fossem opiniões de críticos de arte. Lembro-me de a Paula, que gentilmente me convidara a visitar o seu enorme estúdio, em Londres, me ter ali mostrado um seu quadro de enormes dimensões. Disse-me que quando concluíra aquela obra, notara que no canto inferior esquerdo, ficara um espaço em branco, que se tornou, para ela, irritante. Para obviar a isso, pintou lá uma figura de um animalzinho que me mostrou, comentando: 'Não imagina, Eugénio, as coisas delirantes que alguns críticos disseram do significado profundo deste animalzinho, que eu ali pusera só para encher espaço...'" (daqui)