NA SOMBRA, ENTRE O BEM E O MAL
Em 2012, após 17 anos de prolongadíssima pausa, os Monochrome Set voltaram, inesperadamente, à actividade. Um ano antes, Bid, dínamo criativo de uma banda pela qual já circularam quase duas dezenas de músicos, havia sido vítima de um aneurisma. Submetido a cirurgia que lhe colocaria espirais de platina nas artérias cerebrais, narraria todo o processo em Platinum Coils, um “musical sobre um internamento hospitalar” e tiro de partida para um surto criativo que, nos últimos 10 anos, deu origem a 7 álbuns. Por altura do último Fabula Mendax (2019), confessava-nos que “Agora, não consigo parar de escrever. Não vem do subconsciente, não tem nada a ver com a consciência mas com uma entidade diferente dentro de mim. (...) Essa criatura é uma entidade criativa que emerge através da parte do cérebro que lida com o pensamento lateral”. Nesse álbum, ocupar-se-ia da história – alegadamente inspirada por um manuscrito medieval – de Armande de Pange, uma obscura seguidora de Joana D’Arc.
"Really In The Wrong Town"
Acerca do anterior, Maisieworld (2018), explicava que “Maisie, a vossa anfitriã, guiar-vos-á através de uma sucessão de canções que iluminam a natureza volátil, caprichosa e, essencialmente, instável dos Monochrome Set (...), nestes esgotos sonoros onde as guitarras saltam como cimitarras ferrugentas”. No novo Allhallowtide, a misteriosa “entidade criativa” conduziu-o a crer que os últimos dois anos de vida no mundo foram palco de um combate na sombra entre o Bem e o Mal (aliás, os Illuminati), no qual (apertem os cintos!) Trump é um dos “good guys”. “Just assume I’m mad”, diz ele numa entrevista a “Life Elsewhere”. Não precisava fazê-lo. Naquele singularíssimo registo entre o Music Hall britânico, o pós-punk, a "film music" e Scott Walker, a música dos Monochrome Set continua próxima da perfeição. Mas alguém deveria ver com muito cuidado se está tudo bem com as espirais de platina. (daqui)
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