27 March 2018

 
... ora vamos lá tentar explicar aos Dauerling da vizinhança o que, realmente, aconteceu:

Em alternativa, não podia 
pedir-se uns sutras budistas?

A invenção do polaroid

Verónica pegando no véu - Hans Memling (c. 1470)
Radicais livres (LXIV)


TERRITÓRIO MENTAL

  
O "cornish" (córnico) é uma lingua do grupo britónico – juntamente com o galês, bretão e cúmbrico – que, durante séculos, foi falada na Cornualha (em 1542, Andrew Boorde, médico e informador ao serviço de Cromwell, no Fyrst Boke of the Introduction of Knowledge, relatava que “In Cornwall is two speches, the one is naughty Englysshe, and the other is Cornysshe speche. And there be many men and women the whiche cannot speake one worde of Englysshe, but all Cornyshe“) até que, por volta do final do século XVIII, vítima de um daqueles processos de darwinismo histórico-político-linguístico, foi considerada extinta. O movimento de redescoberta do "cornish" arrancou no início do século XX mas só em 2010 a UNESCO tomou a decisão de elevar o rating de “língua extinta” para “em risco de extinção”, sendo reconhecida como “língua minoritária” pela Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. Proeza de relevo para um idioma que, segundo um censo de 2015, é falado por pouco mais de 300 pessoas, mas não muito maior que o acto de coragem de Gwenno Saunders que ousou gravar Le Kov integralmente em "cornish", após a estreia, Y Dydd Olaf (2015), em galês. 



Filha do poeta da Cornualha, Timothy Saunders, e de mãe galesa com cadastro policial por activismo político nacionalista, a ex-Pipettes (pastiche irónico dos "girl groups" spectorianos), depois do Brexit, deu por si constrangida entre “a tentativa de empurrar a sociedade para a ideia regressiva de uma Idade Média que nunca existiu” e a consciência de que “se fazemos parte de uma cultura dominante, o nacionalismo tem um significado muito diferente do que assume se pertencemos à cultura dominada”. E, no combate entre a homogeneização cultural global e o enquistamento tribal identitário, optou pelo alinhamento a favor da diversidade do "pool" genético linguístico britânico: “Quando perdemos uma língua, é também imensa a História que se perde”. Le Kov (“o lugar da memória”) é, então, um mundo imaginário germinado no interior do "cornish", mas um vasto território mental e sonoro onde mitos, heróis e lugares lendários locais se cruzam com J. G. Ballard e, sem tradicionalismos nativistas, num caleidoscópico oceano de psicadelismo retro-futurista, uma Jane Birkin lunar navega a bordo dos Stereolab, escoltada pelos Pram e Broadcast, enquanto se deixa hipnotizar pelo aroma de uns My Bloody Valentine sinteticamente vaporizados. 

24 March 2018

Danger in the Past: an evening 
with Robert Forster

Uma excelente iniciativa que deveria repetir-se muitas, muitas vezes, e sempre mais intensamente
"Suspeitem sempre da palavra 'inteligente' associada a um qualquer gadget ou device. Significa que ele quer saber mais do que deve" (JPP)

21 March 2018

VINTAGE (CDXI)

The Go-Betweens - "Spring Rain"


... e se estivermos quietinhos, sem caminhar, pode-se?

vhm (galardoado com os Pémios "Lenny, pela tua saúde, não leias agora..." e "A Rebelião do Pipi"), eternamente perplexo com os mistérios do organismo
 
"Nós sabemos que somos o resultado da evolução, do desenvolvimento físico que nos aconteceu mas temos muita dificuldade em explicar a partir de que momento é que o cabelo se perdeu, a barba cresceu, o grisalho se impôs, a barriga passou a notar-se" 

"O 'Cu de Jean Genet' [foi escrito] porque eu uma vez ouvi dizer que ele nas trincheiras, tendo sido enviado para a observação de uma guerra, foi companheiro de umas centenas de homens. Por isso eu sempre pensei em que estado é que estaria o cu dele" (aqui)
  
(mas o que seria mesmo valioso era a publicação 
das críticas de música que escreveu para o "Blitz") 
Francesco Landini - "Ecco la Primavera" (The Waverly Consort dir. Michael Jaffee)

20 March 2018


Gwenno - "Amser"

Em tempo de "visiting scholars", se o outro pode ser "catedrático", se calhar, este (com o apoio da televisão e rádio públicas e tudo) também pode ir passar uma tardezinha amena em Coimbra; o que se percebe mal é o "volta à Universidade"... 

Volta (mas é numa quarta-feira, nem sequer é num domingo...)?!!!...
COMO?


A Stargaze Orchestra é um "ensemble" de câmara sedeado em Berlim mas que, sob a direcção de André de Ridder, cultiva uma eclética rede de contactos que lhe permitiram colaborar com tão diversos parceiros como Uri Caine, Nico Muhly, Efterklang, John Cale, Matthew Herbert, Deerhoof, These New Puritans, Matmos, Julia Holter, This Is The Kit e Lee Ranaldo. Emparelhada, em 2015 – por iniciativa do projecto Liquid Music, da Saint Paul Chamber Orchestra  – , com o quinteto de electronica-trip pop de Minneapolis, Poliça, começaram por aquecer os músculos com Bruise Blood: Reimagining Steve Reich's ‘Music for Pieces of Wood’ e, partiram, a seguir, para uma “residência artística virtual” (ou “uma relação de ping-pong”, segundo Ryan Olson, cérebro sonoro dos Poliça), trocando mails e ficheiros através do Atlântico. 



Se o estímulo inspirador era The Long Emerency (2005), o livro de James Kunstler sobre a iminente distopia de um mundo com recursos petrolíferos esgotados e devastado por alterações climáticas, quando a Stargaze Orchestra chegou a Minneapolis, a 9 de Novembro de 2016 (o dia a seguir à eleição de Donald Trump), foi encontrar uns Poliça à beira do desespero: “Crescemos numa época em que, na América, parecia termos progredido desde a época dos linchamentos e do Ku Klux Klan. E, agora, aqui e na Europa, estamos a andar para trás. Tínhamos o progresso nas mãos e ele escapou-se-nos. Como fazer música nestes rempos de tragédia? A cabeça anda-nos à roda com as notícias. Como criar algo que não nos entorpeça, que não seja apenas uma pílula para nos acalmar? Como sentir profundamente tudo isto e não ficar perturbado?” perguntava Channy Leaneagh, a voz da banda. A resposta foi, nesse mesmo dia, colocar em acção a relação simbiótica já estabelecida entre ambos os colectivos e gravar "How Is This Happening?", longos 10 minutos de um olhar atordoado sobre um buraco negro (“I can’t breathe, I can’t see, resisting him, resisting us, don’t believe a single lie they will tell you so they will divide, I’ll fight until my days are done, protect the ones he preys upon, lost as I am, lost as I can be...”), pintado em sinistros "clusters" electro-acústicos e implacável pulsação subliminar. Após as apocalípticas diatribes de "Marrow" e "Cursed" e os outros avassaladores 10 minutos da faixa-título, não poderia haver mais tremenda conclusão para Music For The Long Emergency, a banda sonora para um desamparado pedido: “Give me a worthy tool to tell me it's not over, to seep in deep, my madness”

18 March 2018

VINTAGE (CDX)

The Pipettes - "Pull Shapes"

Felizes Barreiras da Arte (da escrita e do pensamento filosófico português)

Edit: ou o "exiting scholar"
"America’s weird. Use a military grade weapon to slaughter a classroom of school kids and there won’t be no handgun ban. Post a nipple on your Facebook page and you’ll be kicked off that social media platform quicker than you can say 'Right to bear arms...' Blood and guts in high school is apparently okay but a Janet Jackson wardrobe malfunction... not so much. Artist and graphic designer Émir Shiro has created a series of highly suggestive collages that make their point about social media’s double standards in an amusing and eye-catching way. (...) Shiro’s mash-up images subvert social media’s overly censorious approach to the right to bare flesh” (aqui via DM)





16 March 2018

Condecorar a comunidade islâmica... porquê? O Estado não é laico??... "Os valores humanistas são, por natureza, os valores do Islão"???... "O Islão está na alma de Portugal"???!!!... Não basta já que a Vaticano S.A. tenha sequestrado uma importante parte da "alma de Portugal"???!!!... Não mereceriam muito mais ser condecoradas Aliaa Elmahdy, Amina Tyler, ou a riquíssima cultura árabe?... Não, isso seria pedir muito ao Marselfie, grande adepto dos hipermercados da superstição e incapaz de alguma vez ser apanhado a citar Salman Rushdie!

A nave espacial com as cores da lusa pátria (carregadinha de especialistas em medicina e engenharia alienígenas) impedida de uma gloriosa existência pelos que desprezam o eduquês!
O maravilhoso mundo do fake
 
El Lissitzky?
Rozi Plain - "Cold Tap"


Uma Página de Loucura, 1926 (real. Teinosuke Kinugasa)

14 March 2018



NÓS, INSECTOS


“Desde o início, os Velvet Underground foram um processo de eliminação. Primeiro, saiu o Andy Warhol, depois, a Nico, a seguir, o John Cale, por fim, já não havia Velvet Underground. Subitamente, eu era Lou Reed”. Foi esta a muito sintética versão de Lou, para a trajectória de uma das bandas mais cruciais da história do rock, quando, no final de 1971, em Londres, se preparava para gravar o primeiro álbum a solo. A verdade é que, no ano anterior, o Lou Reed que Lou Reed era (e seria) por pouco não o foi: decidido a desistir da música, durante seis meses arranjou emprego no escritório de contabilidade do pai. E, como vários outros antes dele, encalhados em profissões de horizontes rasteiros – Melville, Kafka, Pessoa, T.S. Eliot –, enganou o tédio escrevendo. Poesia. “We are the people without land. We are the people without tradition. We are the people who do not know how to die peacefully and at ease. We are the thoughts of sorrows. Endings of tomorrows. We are the wisps of rulers and the jokers of kings” é um excerto de "We Are The People", um dos 12 poemas e "short stories" escritos nesse período de indecisão que, em Abril, serão publicados sob o título Do Angels Need Haircuts?, juntamente com gravações de uma leitura pública por ele realizada na St Mark’s Church de Nova Iorque, a 10 de Março de 1971 – com Allen Ginsberg a assistir –, e posfácio de Laurie Anderson.



Na Soundcloud, podemos já escutar, na íntegra, "We Are The People" e alimentar o pessimismo antropológico, reparando como tudo o que atormentava Lou Reed há quase meio século permanece venenosamente vivo: “We are the people who have known only lies and desperation. We are the people without a country, a voice or a mirror. We are the crystal gaze returned through the density and immensity of a berserk nation. We are the victims of the untold manifesto of the lack of depth of full and heavy emptiness. We are the people without sorrow who have moved beyond national pride and indifference to a parody of instinct. We are the people who are desperate beyond emotion because it defies thought”. A New York Public Library, após a morte, há 5 anos, de Reed, adquiriu-lhe o arquivo e inicia, agora, a sua devolução ao legítimo destinatário: “We are the people who conceive our destruction and carry it out lawfully. We are the insects of someone else’s thought. A casualty of daytime, nighttime, space and god without race, nationality or religion. We are the people. The people. The people”.
Poliça + s t a r g a z e - "Agree"




"I regard the brain as a computer which will stop working when its components fail. There is no heaven or afterlife for broken down computers; that is a fairy story for people afraid of the dark"
Vá Marselfie, já a correr dar beijinhos e afectos aos heróis da pátria que estão muito tristinhos!

13 March 2018

This Is The Kit  
(live from Old Granada Studios)

Deixem-se lá de merdices com o pobre homem! O outro também adorava a "Fenomenologia do Ser" e, agora, é catedrático (e ainda não percebi por que razão o musicólogo não está a dar aulas na Escola Superior de Música...)
O CÁLICE DO OPTIMISMO

  
Em Janeiro passado, David Byrne criou “Reasons To Be Cheerful”, um site-antídoto para um muito particular tipo de sensação que, diz ele, não deverá ser o único a experimentar: “Suponho que, como muitos de vós quando recordam o último ano, parece que o mundo caminha direito ao Inferno. De manhã, acordo, olho para o jornal e, ‘oh não!’... por vezes, fico metade do dia deprimido. Não importa em quem votámos ou qual a nossa simpatia ideológica, o sentimento é transversal a todo o espectro político”. A terapêutica foi entregar-se a um exercício de optimismo forçado (“Hey, there's actually some positive stuff going on!”) e proceder à recolha de todo o tipo de notícias, sinais e experiências animadoras que “Reasons To Be Cheerful” recenseia e divulga. Organizado em diferentes secções – Civic Engagement, Climate/Energy, Culture, Economics, Education, Science/Tech, Urban/Transportation – e filtrado através de três critérios de selecção (1 - iniciativas locais; 2 - comprovadamente testadas e globalmente replicáveis; 3 - independentes da acção de ‘figuras excepcionais’), tanto inclui o programa de partilha de bicletas, Velib, em Paris, como as acções de combate à toxicodependência em Vancouver, Portugal e no Colorado, as bibliotecas instaladas nos terminus de autocarros em Bogotá ou a acção cultural e social do grupo AfroReggae nas favelas brasileiras. E, agora que American Utopia é publicado, confessa: “Trabalhei no novo álbum ao mesmo tempo que recolhia material para ‘Reasons To Be Cheerful’ e suspeito que ele influenciou bastante este conjunto de canções”. 



Naturalmente, dele, nunca seriam de esperar transcrições literais do activismo para a música. Se a atitude que determina tudo é “I wish I was a camera, I wish I was a postcard”, e as alusões à realidade não abusam da ambiguidade – a inevitável consequência de “The judge was all hungover when the president took the stand, so he didn't really notice when things got out of hand, then the press boys thank the president and he tells them what to say” haverá de ler-se em “Someone in a dangerous place, someone got lost somewhere, many people are locked outside, many people lost out there” –, o ágil e sofisticado radar sonoro montado sobre as batidas de Brian Eno e os contributos de Doveman, Oneohtrix Point Never, Sampha e Joey Waronker capta sinais sob os mais diversos ângulos: “Now the chicken imagines a heaven full of roosters and plenty of corn, and god is a very old rooster and eggs are like Jesus, his son” investe no relativismo das parábolas teológicas; “The bullet went into him, his skin did part in two, skin that women had touched, the bullet passed on through” opta pela metáfora da anatomopatologia forense; e as últimas palavras que se escutam no álbum – “Here is many sounds for your brain to comprehend, here the sound is organised into things that make some sense, here there is something we call hallucination, is it the truth or merely a description?” – mais do que uma brevíssima introdução às neurociências, é a chave para iniciar a desmontagem da arquitectura do mundo tal como julgamos conhecê-lo. “Perguntar é começar o processo para encontrar uma resposta. As canções são sinceras e o título não é irónico. Não se refere a uma utopia específica mas às nossas aspirações, medos, esperanças e frustrações acerca do que será possível fazer”, diz David Byrne. Bebamos, então, um gole do cálice do optimismo: “We're only tourists in this life, only tourists, but the view is nice”.
Social-facho até quase aos 50 anos, 
o avô Cantigas, como todo o social-facho 
que se preza, continua com

11 March 2018

Verdadeira arrebatadora de prémios PdC (2016: Prémios "Flower Power" e "Portugal Fashion"; 2017: Prémio “Perfume de Mulher”), "a Assunção", em versão laranja ou rosa, garante a "pole position" para a reconquista do "Portugal Fashion", em 2018 (possivelmente, ex aequo com outro concorrente demasiado apressadamente nomeado)
 


... e, porque vem muito a propósito recordá-lo, falemos do jovem Simão Ribeiro, príncipe herdeiro de Lousada, bravo combatente da causa "ou há moralidade ou comem todos", aos 32 anos, deputado da nação e, com o curso ainda em águas de bacalhau, membro (entre outras) da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência e da Comissão Para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas
Há que pôr fim ao ataque bárbaro e sistemático a alguns dos nossos melhores artistas!

09 March 2018

VINTAGE (CDVII)

Roxy Music - "Ladytron"

... mas a Lusófona também 
podia ser uma opção fixe
Claro, claro... "dignidade"
"prestígio" (imenso!) e coiso (parte II)
"(...) Os principais inimigos dos livros que precisam de ser defendidos são precisamente os livros que não precisam que se faça nada em favor deles. (...) Não é o livro que está em perigo (esse, é produzido em abundância); o que está em perigo (e não faltam nos últimos anos os gritos de alarme, um pouco por todo o lado) é precisamente o sector da literatura, do ensaísmo, da ciência e das humanidades, que foi, até ao momento em que a edição seguiu o modelo do consumo e da produção industrial, o tronco da actividade editorial. Tanto livro, tanto livro, mas a maior parte do património literário está completamente ausente da edição e, ainda mais, das livrarias. Podemos dizer que os livros gozam hoje de um prestígio que, na generalidade, já não merecem; e que não há maior injustiça do que o triunfo deste canibalismo do lixo editorial que, ainda por cima, se alimenta do capital simbólico daqueles que ele devora. (...) Aguardamos com impaciência e pouca esperança um assalto total perpetrado por grandes destruidores" (AG, sequência daqui)

07 March 2018

06 March 2018

PJ Harvey and Harry Escott - "An Acre of Land"

(BSO de Dark River real. Clio Barnard)
VINTAGE (CDVI)

The Go-Betweens - "Your Turn My Turn"

Francamente, David!... Depois de Love This Giant (a meias com St. Vincent) e Here Lies Love (com Florence Welch, St. Vincent, Candie Payne, Tori Amos, Martha Wainwright, Nellie McKay, Cyndi Lauper, Allison Moorer, Ganda Suthivarakom, Charmaine Clamor, Róisín Murphy, Camille, Theresa Andersson, Sharon Jones, Alice Russell, Kate Pierson, Sia, Santigold, Nicole Atkins, Natalie Merchant e Shara Worden), não te parece absolutamente idiota um pedido de desculpa? (ou existe uma lei das quotas que, retroactivamente, também desvalorizará uma imensa parte da história da música?)
Palhacitos (pré) eleitorais (XXXVI)

12 FUTUROS


Richard Hamilton já tinha exibido a colagem Just What Is It That Makes Today's Homes So Different, So Appealing? (1956) que o transformaria num dos pioneiros da Pop Art, cuja definição, aliás, estabeleceu: “popular, transient, expendable, low-cost, mass-produced, young, witty, sexy, gimmicky, glamorous, and Big Business". Fora também o responsável pela capa do White Album, dos Beatles (1968), em radical contraste com a do igualmente pop, Peter Blake, para Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, no ano anterior. Mas foi após ter conhecido a obra dos Roxy Music que não hesitou em declarar Bryan Ferry, seu antigo aluno na universidade de Newcastle, como a sua “maior criação”. Em 2009, dois anos antes da morte de Hamilton, Ferry recordá-lo-ia: “Ele transformou a arte numa parte tão importante da minha vida que influenciava tudo o que eu fazia. Pretendia que os Roxy Music, estilisticamente, fossem muito ecléticos e, quando comecei a escrever canções, todas as influências surgiram. Foi então que a concepção hamiltoniana da colagem me ocorreu, retirando elementos daqui, dali, de todo o lado, e, a partir deles, criando algo novo. Ele foi o nosso Warhol e Duchamp”.


O programa estético estava bem patente – a começar pelo título, "Re-Make/Re-Model" – na primeira canção do álbum de estreia: 26 segundos de colagem sonora "concrète" de uma "cocktail party", explosão rock’n’roll de guitarra, piano, baixo, sax, e bateria perfurada pelos uivos atonais do sintetizador VCS3 de Brian Eno, o texto estranguladamente cantado por Ferry (“I tried but I could not find a way, looking back all I did was look away, next time is the best we all know, but if there is no next time, where to go?”) cujo refrão é uma matrícula de automóvel (“CPL593H”), e os micro-solos finais em que o baixo de Graham Simpson cita "Day Tripper", dos Beatles, a guitarra de Phil Manzanera macaqueia "C’mon Everybody", de Eddie Cochran cruzada com "Peter Gunn" de Duane Eddy, e, à maneira de King Curtis, o sax tenor de Andy MacKay atira-se às Valquírias, de Wagner. Em "Ladytron", Ferry era um cowboy a tocar castanholas numa paisagem lunar à sombra de Prokoviev, "The Bob (Medley)" constituia-se de 7 diferentes secções e 8 mudanças de andamento em menos de 6 minutos, e todo o álbum – agora reeditado em caixa "deluxe" de 3 CD + DVD –, sob o signo da "pin-up", Kari-Ann Muller, era uma extravagante e gloriosa colisão de futurismo e nostalgia. Ou, como diria Brian Eno, “Em 1972, os Roxy Music continham 12 futuros diferentes para o rock”. E 12 diferentes passados.

05 March 2018



"When you can't trust lawyers or advertising men, what has America come to, huh?..."

"Y'know what I was thinking about today? I was thinking 'bout those street gangs they had down in Los Angeles, those Crips and those Bloods? I was thinking about that buncha new laws they came up with, in the 1980's I think it was, to combat those street-gangs, those Crips and those Bloods. And, if I remember rightly, the gist of what those new laws were saying was if you join one of these gangs, and you're running with 'em, and down the block one night, unbeknownst to you, one of your fellow Crips, or your fellow Bloods, shoot up a place, or stab a guy, well then, even though you didn't know nothing about it, and even though you may've just been standing on a streetcorner minding your own business, what these new laws said was you're still culpable. You're still culpable, by the very act of joining those Crips, or those Bloods, in the first place. Which got me thinking, Father, that whole type of situation is kinda like your Church boys, ain't it? You've got your colors, you've got your clubhouse, you're, for want of a better word, a gang. And if you're upstairs smoking a pipe and reading a bible while one of your fellow gang members is downstairs fucking an altar boy then, Father, just like those Crips, and just like those Bloods, you're culpable. Cos you joined the gang, man. And I don't care if you never did shit or you never saw shit or you never heard shit. You joined the gang. You're culpable. And when a person is culpable to altar-boy-fucking, or any kinda boy-fucking, I know you guys didn't really narrow that down, then they kinda forfeit the right to come into my house and say anything about me, or my life, or my daughter, or my billboards. So, why don't you just finish your tea there, Father, and get the fuck outta my kitchen" (IMDb)
VINTAGE (CDV)

Duane Eddy - "Peter Gunn" (H. Mancini)




The Art of Noise featuring Duane Eddy - "Peter Gunn" (H. Mancini)

03 March 2018


"O problema não é substituir os livros por um ecrã de um telefone inteligente ou de um tablet — o problema é o mito perigoso de que a 'leitura', mesmo numa forma diferente, está a emigrar de um meio para outro, porque não está. O que se está é a ler diferente, pior e menos, como se está a 'saber' demasiado lixo — meia dúzia de performances rudimentares com as novas tecnologias — e pouco saber. A morte das livrarias é um aspecto desse soçobrar no lixo, mas infelizmente estão demasiado acompanhadas pela morte de muitas outras coisas, do valor do conhecimento, do silêncio, do tempo lento, da leitura, da verdade factual, e da usura da democracia" (JPP; ler também aqui)