06 March 2018

12 FUTUROS


Richard Hamilton já tinha exibido a colagem Just What Is It That Makes Today's Homes So Different, So Appealing? (1956) que o transformaria num dos pioneiros da Pop Art, cuja definição, aliás, estabeleceu: “popular, transient, expendable, low-cost, mass-produced, young, witty, sexy, gimmicky, glamorous, and Big Business". Fora também o responsável pela capa do White Album, dos Beatles (1968), em radical contraste com a do igualmente pop, Peter Blake, para Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, no ano anterior. Mas foi após ter conhecido a obra dos Roxy Music que não hesitou em declarar Bryan Ferry, seu antigo aluno na universidade de Newcastle, como a sua “maior criação”. Em 2009, dois anos antes da morte de Hamilton, Ferry recordá-lo-ia: “Ele transformou a arte numa parte tão importante da minha vida que influenciava tudo o que eu fazia. Pretendia que os Roxy Music, estilisticamente, fossem muito ecléticos e, quando comecei a escrever canções, todas as influências surgiram. Foi então que a concepção hamiltoniana da colagem me ocorreu, retirando elementos daqui, dali, de todo o lado, e, a partir deles, criando algo novo. Ele foi o nosso Warhol e Duchamp”.



O programa estético estava bem patente – a começar pelo título, "Re-Make/Re-Model" – na primeira canção do álbum de estreia: 26 segundos de colagem sonora "concrète" de uma "cocktail party", explosão rock’n’roll de guitarra, piano, baixo, sax, e bateria perfurada pelos uivos atonais do sintetizador VCS3 de Brian Eno, o texto estranguladamente cantado por Ferry (“I tried but I could not find a way, looking back all I did was look away, next time is the best we all know, but if there is no next time, where to go?”) cujo refrão é uma matrícula de automóvel (“CPL593H”), e os micro-solos finais em que o baixo de Graham Simpson cita "Day Tripper", dos Beatles, a guitarra de Phil Manzanera macaqueia "C’mon Everybody", de Eddie Cochran cruzada com "Peter Gunn" de Duane Eddy, e, à maneira de King Curtis, o sax tenor de Andy MacKay atira-se às Valquírias, de Wagner. Em "Ladytron", Ferry era um cowboy a tocar castanholas numa paisagem lunar à sombra de Prokoviev, "The Bob (Medley)" constituia-se de 7 diferentes secções e 8 mudanças de andamento em menos de 6 minutos, e todo o álbum – agora reeditado em caixa "deluxe" de 3 CD + DVD –, sob o signo da "pin-up", Kari-Ann Muller, era uma extravagante e gloriosa colisão de futurismo e nostalgia. Ou, como diria Brian Eno, “Em 1972, os Roxy Music continham 12 futuros diferentes para o rock”. E 12 diferentes passados.

No comments: