(sequência daqui) Se o peso de "carrying a body that's tired from carrying a mind" durante uma descida aos abismos ("It felt like a second adolescence, like puberty, it's ugly. It's rotten. It's bad. It's yucky, you don't feel good") é insuportável, o processo de catarse através da criação musical - a concentração nos detalhes, os exercícios de exploração tímbrica, rítmica e melódica, os contrastes acústico/eléctrico, a estruturação quase geométrica em contigudade com os espaços de libérrimo movimento - pode oferecer algum norte e alívio para navegar sem demasiados acidentes em águas pouco tranquilas. Essa missão quase impossível cuja finalidade Tamara Lindeman sintetiza assim: "Mantermo-nos vivos e viver com a mente que temos. A minha mente é bastante difícil e, por vezes, tenta acabar comigo. É difícil chegar ao conhecimento mas essa dificuldade também é bela. Imaginamo-nos constantemente como anjos, o que é falso. Ou como demónios, o que também é falso. Não conseguimos entender-nos como as confusas criaturas que somos. Mas, se deixarmos de lado tudo o que é sombrio e feio, prestamos um mau serviço à realidade. E eu não faço música escapista".
(sequência daqui) Por altura de Ignorance, Tamara Lindeman confessava: “Não é fácil fazer caber o mundo numa canção. Quando tentamos fazê-lo conscientemente, na maioria das vezes, falhamos. As melhores canções exigem uma certa humildade. Trata-se apenas de descobrir o botão certo, premi-lo, e esperar que quem ouve faça o resto”. Desta vez, terá sido, certamente, ainda menos fácil. Porém, armada com uma terapêutica poderosa ("Uma lista de 4 horas de música experimental, hip hop, June Tabor e Fairport Convention", confessaria ela à "Mojo"), durante duas sessões nos estúdios da Canterbury Music Company, de Toronto, na companhia de Kieran Adams (bateria), Ben Boye (teclados), Philippe Melanson (percussões), Karen Ng (sopros), e Ben Whiteley (baixo), optou por uma abordagem de improvisação livre cujos resultados haveriam de ser burilados posteriormente às mãos do produtor Marcus Paquin, de James Elkington (guitarra), do eclético Sam Amidon e do mago textural, Joseph Shabason, e posteriormente refinados na mesa de mistura de Joseph Lorge para que se constituisse enquanto peça musical unificada por pequenos fragmentos sonoros intersticiais. (segue para aqui)