28 March 2024

"Who + What"
 
(sequência daqui) Agora, ao 5º álbum a solo (Rooting For Love), após a separação dos Stereolab (2009), Laeticia desloca o seu centro de gravidade para o terreno das "personal politics" e, aqui e ali, abeira-se perigosamente da vacuidade "new age": se, em "Don’t Forget You’re Mine", o quadro desenhado é explícito ("Hey, don't scream with rage / It's vain, I'm not impressed /Just exasperated again / A good slap is what you need /A good slap is what you want /Take that, takе that / Get up"), "The Inner Smile", em arranjo coral angélico, chega a ser embaraçoso: “Smile at your spleen / Inundated with light / And be serene / Smile at your kidneys / Lights escaping / Color is blue / Feel your organs smiling back at you”. Bem mais urgentes são as últimas palavras de "Cloud 6" - meia Laurie Anderson, meia Meredith Monk -, “I’m not fucking around / We’re halfway dead”.
Fonte muito próxima do marxismo-leninismo-raimundismo denuncia "manobra de provocação reaccionária contra a guerra pela paz do indomável camarada Putin"

27 March 2024

... e, por Zeus!... exterminem 
"o adulto na sala"!!!...

Eternamente grato ao neo-facho por nos ter proporcionado o enorme prazer de descobrir a teologia geométrica da Igreja do Evangelho Quadrangular (e, através dessa, a Igreja Do Evangelho Triangular, a Igreja Do Evangelho Triangular Livre, e, tenhamos fé, a Igreja Rectangular do Evangelho Redondo não tardará)!

25 March 2024

PERSONAL POLITICS
Nos anos 90, Robert Christgau, decano da crítica musical norte-americana, despachava os Stereolab classificando-os como “Marxist background music” e, numa interrogação que deveria ser lida como um elogio, acrescentava: "So it isn't just silly punk songs - yet other people want to fill the world with silly Marxist songs, and what's wrong with that?" Era a altura na qual a banda de Tim Gane e Laetitia Sadier, socorrendo-se de todas as referências a que podia deitar a mão ("avant-pop", "electronica", "post-rock", "krautrock", "lounge", minimalismo, John Cage, bossa nova, "chanson"), se entretinha a polvilhar de alusões anarco-situacionistas o "consomé" sonoro da dezena de álbuns de estúdio que, entre 1992 e 2010, publicou. Exemplo supremo destes exercícios de ironia assassina, "Ping Pong" (1994): "It's alright, 'cause the historical pattern has shown / How the economical cycle tends to revolve / In a round of decades three stages stand out in a loop / A slump and war then peel back to square one and back for more / There's only millions that lose their jobs". (daqui; segue para aqui)

"Panser L'Inacceptable"
Dos malefícios da literatura

19 March 2024

18 March 2024

Altın Gün - "Kaymakamın Kızları"

(ver aqui)
É, portanto, bastante provável que a mana Kim Yo-jong tenha um acidente fatal, uma doença terrível ou coisa parecida (não excluindo, claro, a hipótese inversa)

17 March 2024

Paul Simon no Les Cousins
 
(sequência daqui) Até ao encerramento em 1972, transformar-se-ia no ponto de encontro e centro nevrálgico das cenas folk, blues e tudo à volta da época, para lá convergindo tanto devotos das músicas tradicionais como audaciosos experimentadores do que não era ainda conhecido como "psicadelismo", futuras celebridades ou eternos desconhecidos. Bob Dylan, Joni Mitchell e Van Morrison terão também andado por lá, Nick Drake era visto como "um jovem nervoso que punha o público a dormir", e, conta o guitarrista Mike Cooper, uma noite, tendo-se cruzado à porta com um tipo que era a cara chapada de Tim Buckley, disse-lho. "Mas eu sou o Tim Buckley" respondeu ele. "Sim, sim, e eu sou o Tim Hardin". Era o Tim Buckley.

13 March 2024

 O TEMPO E O LUGAR


Bert Jansch, John Renbourn, Sandy Denny, Jackson C. Frank, Derroll Adams, John Martyn, Al Stewart, Nick Drake, Anne Briggs, Tim Hart, Maddy Prior, Martin Carthy, Dave Swarbrick, The Watersons, The Young Tradition, The Incredible String Band, Roy Harper, Donovan, Julie Felix, Wizz Jones, The Third Ear Band, Plainsong, Bridget St John, Nadia Cattouse, Hamish Imlach, Mudge & Clutterbuck, Paul Simon, Shirley Collins, Dorris Henderson, Jo Anne Kelly, Shelagh McDonald, Sally Oldfield, A.L Lloyd, Kevin Ayers, Dando Shaft, The Piccadilly Line, Ron Geesin, Dr. Strangely Strange, Trevor Lucas, Davy Graham, Michael Chapman, Sweeney's Men, Tir Na Nog, Tom Rush, Alexis Koerner, Ralph McTell, Tim Hardin, Strawbs. Todos estes e mais os 24 que faltam para completar o alinhamento da "box-set" de 3 CD Les Cousins - The Soundtrack Of Soho's Legendary Folk & Blues Club foram os protagonistas de um histórico tempo e lugar da capital britânica: na cave do nº 49 da Greek Street, no Soho, a 16 de Abril de 1965, abria portas o clube de folk "Les Cousins", assim designado por inspiração do filme homónimo de Claude Chabrol, mas, inevitavelmente, referido pelos locais como "Lez Cuzzens". (daqui; segue para aqui)

Bert Jansch & John Renbourn (Rare footage from 1966)
Talvez recordar isto?

12 March 2024

O Sumo-Patífice, tão querido,
tão fofinho e tão velhaco

Cabane - "Melodies of Love"
(feat. Claire Vailler)

"Alice: Would you tell me, please, which way I ought to go from here?

The Cheshire Cat: That depends a good deal on where you want to get to" (Lewis Carroll - Alice's Adventures In Wonderland)

llustration By Sir John Tenniel
Agora, é investigá-los à lupa,  

11 March 2024

Cabane - "Melodies Of Love" (feat. Kate Stables, strings arrangement by Sean O'Hagan)

Por motivo de óbvia necessidade, este post será mensalmente republicado até que se cumpra integralmente o seu objectivo

07 March 2024

 

"Today" 

(sequência daqui) No conjunto, uma belíssima demonstração da rica plasticidade da música de Henri, aliás, Cabane. O mesmo exercício poderia fazer-se com as quatro variantes de "Today" - especial atenção para aquela cujo video, provavelmente inspirado no filme Smoke (1995), de Wayne Wang/Paul Auster, se constrói na rápida sucessão de 365 fotografias tiradas diariamente, entre 9 de Janeiro de 2022 e 9 de Janeiro de 2023, no mesmo ponto da Place Poelaert, em Bruxelas - e com o próprio álbum, Brulée, segundo tomo da trilogia iniciada em 2020 com Grande Est La Maison. Kate Stables e O’Hagan regressam e Bonnie ‘Prince’ Billy é substituido por Sam Genders (Tunng) mas a atmosfera buckleyanamente "happy sad" de folk de câmara impressionista permanece, se possível ainda mais e mais purificada, a milímetros da rarefacção.
Mocidade Portuguesa

(daqui; ver também aqui)
Já houve a "maioria silenciosa"; agora, a "maioria invisível"; quando terminará a intolerável discriminação da "maioria inodora"?...

05 March 2024

 RAREFACÇÃO
 
 
Sentados na relva de um parque onde humanos e cães se passeiam preguiçosamente, Thomas Jean Henri e Claire Vailler esperam 20 segundos até que o ruído de um avião que sobrevoa a zona se dissipe. Nos 4 minutos seguintes, apenas a voz, quase só um suspiro, de Claire e o dedilhado da guitarra acústica de Thomas pairam à beira da inexistência, cerzindo palavras ("For ever and ever we toil in love, to push the waves aside, for ever and ever we dance, fearlessly") sobre a coreografia transparente de "Melodies Of Love". No segundo vídeo, gravado num estúdio de rádio de Bruxelas, Thomas e Kate Stables (This is the Kit) ocupam-se da mesma canção: ele, sentado ao piano, no qual apenas desenha uma introdução e coda minimais e, no resto, alimentando na guitarra a delicada voz luminosa de Kate que se apropria inteiramente da canção. O terceiro é um "lyric video" sobre uma paisagem de montanha, a preto e branco, ainda uma outra abordagem de "Melodies Of Love" envolvida pelo sinuoso e labiríntico arranjo para cordas de Sean O’Hagan (Microdisney, Stereolab e High Llamas). (daqui; segue para aqui)
 
"Melodies Of Love" (feat. Kate Stables)
O Supergrass (também conhecido por "o Relvas") nega tudo, tudo, tudo (portanto, confirma-se); o coiso Correia também (logo, igualmente confirmado); sobra o sargento Silva, pronto a perfilar-se na filinha para as migalhas que sobrarem da gamela temperada pelo neo-facho

02 March 2024

"Seed" 

(sequência daqui) Isto passava-se há 12 anos, quando Chapter 1, o seu álbum de estreia acabava de ser publicado. Seguir-se-ia Cocoon (2017) e, nessa altura, já a sua música, por ângulos vários, havia sido associada às de Björk, Joni Mitchell, Sufjan Stevens, Julia Holter e My Brightest Diamond. Agora, com Come Swim, não esquecendo essa genealogia estética, deveria acrescentar-se Virginia Astley à linhagem, bem como Kate Stables (This Is The Kit) e Rozi Plain, ambas participantes deste álbum, espécie de cinemática aguarela subaquática, feita de violinos, clarinetes, flautas, harpas, sintetizadores e "drum loops", crescendos e transparências.

Opá, não me faças sonhar...
 
Edit (13:10) - ... entretanto, tudo normal, tudo normalíssimo