01 November 2007

TOP 100 DO SÉCULO XX (III)
(organizado - ordem alfabética - para a revista Op em 2003)



DAVID BOWIE - Low
DAVID BYRNE/BRIAN ENO - My Life In The Bush Of Ghosts
DAVID SYLVIAN - Secrets From The Beehive
DEXYS MIDNIGHT RUNNERS - Searching For The Young Soul Rebels
EAST OF EDEN - Snafu


[descoberto no baú:





East Of Eden - Mercator Projected e Snafu

A experimentação no interior daquilo que se chamou jazz/rock sempre correu melhor para o lado do jazz (Miles Davis, Tony Williams, Herbie Hancock) do que para o do rock (Blood Sweat & Tears, Chicago, The Flock). Enquanto, na primeira hipótese, se tratou quase só de literalmente electrificar um idioma musical suficientemente rico e complexo na sua própria natureza, quando o movimento partiu do polo oposto, pouco mais fez do que incorporar alguns dos estereótipos bem coçados do jazz e acolher de braços abertos a ideia do "solo" improvisado — essa manifestação "moderna" do artista romântico divinamente inspirado "no momento" —, desgraçadamente entregue, em regra, a músicos de código restrito e vocabulário reduzido. Naturalmente, como sempre, génios singulares e excepções à norma (Zappa, Soft Machine, por exemplo) que, só de ouvirem a expressão "jazz/rock", entravam instantaneamente em convulsões, alimentaram-se liberalmente dessas e de outras formas de expressão, sem que isso funcionasse como trágico revelador de inépcia ou constrangimento. Nesse reservadíssimo clube é obrigatório incluir os britânicos East Of Eden, autores de dois sobreexcelentes (e persistentemente ignorados) álbuns há pouco reeditados, Mercator Projected (1968) e Snafu (1970). A fornalha criativa era mantida em combustão por Dave Arbus (violino, flauta, sax mas também "doctor of philosophy, actor and linguist"), Ron Caines (sax, orgão e artista plástico), Geoff Nicholson (guitarra e "graphic artist") e uma secção rítmica tensa e versátil que, no primeiro álbum, integrou Steve York, justamente apregoado na contracapa original como "the finest young bass player in the universe". Para caracterizar a música pode utilizar-se generosamente a palavra "free" e fazê-la seguir de "rock", "jazz" e tudo o mais (do folk ao "bluebeat", música concreta, electrónica, Bela Bartok e Archie Shepp) que eventualmente ocorra, pensar em humor zappa/pythoniano e entender no melhor sentido possível aquela afirmação de Jerry Goldsmith segundo a qual "étnico é aquilo que Hollywood decidiu que era étnico". Sim, os East Of Eden travestiam gloriosamente as suas composições de orientalismos magnificamente "fake", estropiavam-nos (e ao resto) em alucinados e vertiginosos delírios instrumentais colectivos e não viam qualquer problema em descrever um tema como "decline and fall of western civilization and violin pie". As raridades e "bonus-tracks" são muitas e apetecíveis. Um banquete. (2005)]

ECHO & THE BUNNYMEN - Porcupine
ELVIS COSTELLO - Imperial Bedroom/Painted From Memory (c/ Burt Bacharach)
ENNIO MORRICONE - A Fistful Of Film Music
FAIRPORT CONVENTION - Unhalfbricking
THE FEELIES - Crazy Rhythms

(2007)

4 comments:

Anonymous said...

Gracias pela dica dos East Of Eden, já tenho enviados especiais ao reino da biberlância a farejar as provas da existência dessa trupe.

João Lisboa said...

É melhor que os enviados especiais sejam arqueólogos.

Paulo said...

Eu arranjei o Snafu sem grande espiga. Obrigado tb pela dica, aqui àtrasado, claro. Grande musicól.

João Lisboa said...

O que eu queria dizer ao jb é que "a trupe" já não existe. Praí desde o Cretácico. Mas é grande musicól, é.