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14 May 2015

POLÍTICA DO PARAÍSO


Guy Standing, professor de Economia na University of London, é o autor de The Precariat: The New Dangerous Class (2011), quase-manifesto em que, a propósito desse emergente grupo social situado entre os “indignados” espanhóis, o Den Plirono (Não Pagamos) grego e as revoltas árabes (“O precariado, classe em construção que se aproxima de uma consciência da vulnerabilidade comum, consiste de todos aqueles que sentem que a sua vida e identidade são constituídas de fragmentos dispersos a partir dos quais não são capazes de construir uma narrativa desejável ou uma carreira”), propõe a adopção de algo, pela sua própria designação, capaz de pôr os cabelos em pé aos apologistas do respeitinho pelas folhas de Excel dos donos da “realidade”: as "politics of Paradise", assentes na “reinvenção do lema progressista da liberdade, igualdade e fraternidade”.



Foi, justamente, inspirada por Standing que Holly Herndon classificou o seu terceiro álbum, Platform, como “um gesto paradisíaco”. Licenciada em música electrónica pelo Mills College, de Oakland, na Califórnia, e, actualmente, a concluir doutoramento em composição na Stanford University, bebeu o biberão do techno nos clubes de Berlim, estudou a gramática contemporânea com John Bischoff e Fred Frith, e, hoje, afirma que “o laptop possui muito mais conteúdo emocional do que qualquer violino poderia sonhar: estão lá o meu Skype, a minha conta bancária, os meus emails, as minhas relações”. Deve ser por isso que já viu a sua música qualificada como techno recuperado de uma "hard drive" que esteve demasiado tempo debaixo de água. Não é realmente verdade. Ela própria admite que, desejando criar “música que reage em termos actuais sem dependência de nenhuma nostalgia do passado”, para este fulgurante jogo de espelhos sonoro tanto contribuíram Meredith Monk, Morton Feldman e Laurie Anderson como Missy Elliot, Charles Ives, William Byrd, Thomas Tallis ou o "grime" britânico. E, acrescente-se, uma "guest list" de activistas dos microuniversos mutantes da Internet e arquipélagos afins – Claire Tolan/ASMR, Spencer Longo, Mat Dryhurst, Colin Self, Amnesia Scanner –, cúmplices e co-artífices das ruidosas utopias e paraísos digitais de que tanto carece a pobre e aterrorizada “realidade”.