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22 January 2021

(sequência daqui) Penny Rimbaud tinha pouco mais que uma intuição: "Fascinava-me a ideia de descobrir de que modo o maior dos poetas franceses lidaria com as enormidades da guerra e o que, hoje, num mundo tão obcecado pelo conflito, a dor e o sofrimento, isso poderia valer. Tomei de empréstimo os ouvidos de John Coltrane e os olhos de Jackson Pollock e aventurei-me num inferno em vida com Arthur ao meu lado. Não me surpreendeu que fosse necessária tão pouca persuasão para o convencer. Era da sua natureza estar pronto a morrer para melhor viver. Mas interrogava-me acerca do que buscaria ele nisto. Quando lho perguntei, a resposta foi imediata: ‘Mais’”. Em 10 intermezzos instrumentais e 11 peças de "spoken word", três saxofonistas – o lendário Evan Parker, Louise Elliott e Ingrid Laubrock – incorporam simultânea e estridentemente Coltrane e Pollock enquanto Penny vocifera os passos da travessia do horror (“I have a strange feeling that neither of us survived the terror of Verdun. Yes, we were detritus, and in that we found ourselves and each other, the void was complete, and another dawn broke above the carnage”) que se conclui em fúria como deve: “The smug satisfaction of the bourgeoisie, fuck you, fuck you and your hollow whimsy!”. (ver também aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)

03 January 2021

A TRAVESSIA DO HORROR
A batalha de Verdun, travada em 1916 entre França e Alemanha durante a primeira Guerra Mundial, durou 302 dias e teve um custo de 714 231 vidas humanas. Num cenário aterrador de lama, cadáveres e destroços, um oficial francês escreveria no seu diário: “A humanidade enlouqueceu. Só por loucura poderá isto estar a acontecer. Que massacre! Que cenas de horror e carnificina! O inferno não pode ser tão terrível”. O infame título da mais longa e uma das mais sangrentas batalhas da História pertence-lhe. Teve lugar 25 anos após a morte de Arthur Rimbaud. O que não impediu Jeremy John Ratter – aliás, Penny Rimbaud, "elder statesman" do anarco-punk britânico com currículo lavrado à frente dos Crass – de, em Arthur Rimbaud In Verdun, se ficcionar ao lado do iluminado poeta francês nos campos da morte da Frente Ocidental. (daqui; segue aqui; ver também aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)