22 January 2021

(sequência daqui) Penny Rimbaud tinha pouco mais que uma intuição: "Fascinava-me a ideia de descobrir de que modo o maior dos poetas franceses lidaria com as enormidades da guerra e o que, hoje, num mundo tão obcecado pelo conflito, a dor e o sofrimento, isso poderia valer. Tomei de empréstimo os ouvidos de John Coltrane e os olhos de Jackson Pollock e aventurei-me num inferno em vida com Arthur ao meu lado. Não me surpreendeu que fosse necessária tão pouca persuasão para o convencer. Era da sua natureza estar pronto a morrer para melhor viver. Mas interrogava-me acerca do que buscaria ele nisto. Quando lho perguntei, a resposta foi imediata: ‘Mais’”. Em 10 intermezzos instrumentais e 11 peças de "spoken word", três saxofonistas – o lendário Evan Parker, Louise Elliott e Ingrid Laubrock – incorporam simultânea e estridentemente Coltrane e Pollock enquanto Penny vocifera os passos da travessia do horror (“I have a strange feeling that neither of us survived the terror of Verdun. Yes, we were detritus, and in that we found ourselves and each other, the void was complete, and another dawn broke above the carnage”) que se conclui em fúria como deve: “The smug satisfaction of the bourgeoisie, fuck you, fuck you and your hollow whimsy!”. (ver também aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)

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