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06 May 2008

ARQUEOLOGIA FUTURISTA


Peter Thomas Sound Orchester (Neo Astronautic Sound) - Warp Back To Earth 66/99

Uma parte muito interessante da pop contemporânea assemelha-se bastante ao que se poderia chamar uma espécie de arqueologia futurista. Ao contrário da pura atitude "retro" que se limita a mimetizar as estéticas do passado transpondo-as tal e qual para a actualidade, os arqueólogos futuristas desenterram literalmente os tesouros esquecidos para, a partir dos fragmentos deles, construir novos edifícios de uma idade pós-pós-moderna onde a realidade anulou o conceito de tempo e a legitimidade de todos os impulsos sonoros é equivalente desde que musicalmente eficazes e funcionais.
Warp Back To Earth 66/99, acabado de publicar, é um dos mais eloquentes exemplos do género. Os principais instigadores da conspiração foram os Pulp que, ao utilizarem um "sample" de "Space Patrol" em This Is Hardcore, redescobriram o ignorado Peter Thomas, um até aqui obscuro compositor alemão de bandas sonoras dos anos 60.



Foi o bastante para que a editora Bungalow congeminasse o projecto deste álbum duplo onde 29 temas de Peter Thomas servem de material reciclável destinado à concepção do "neo astronautic sound", condensado em 17 reelaborações de grupos músicos e remisturadores actuais como os Stereolab, Tipsy, John McEntire, High Llamas, Momus, Coldcut, Stock, Hausen & Walkman, St. Etienne ou Yoshinori Sunahara. De acordo com a versão "oficial", a história é um bocadinho mais "sci-fi": "Em 1966, o compositor Peter Thomas — hoje com 73 anos de idade — abandonou o planeta Terra para acompanhar musicalmente as viagens aventureiras da Space Patrol Orion. Os seus sons, demasiado bizarros e futuristas para a época, não tinham sido devidamente apreciados e compreendidos. Por esse motivo, o seu regresso atrasou-se exactamente 33 anos. Poucas pessoas valorizavam o se trabalho e ninguém quis cobrir os custos do seu bilhete de volta. Mas, agora, as coisas mudaram. Estamos a poucos passos do novo milénio e a Terra está a ser povoada por uma nova geração de pessoas e músicos que veneram este pioneiro musical e criativo excêntrico — e não apenas músicos alemães. O trabalho de Peter Thomas é hoje reconhecido por todo o mundo (e mesmo nas galáxias mais longínquas) ao nível de outros como Henry Mancini, Esquível, John Barry, Ennio Morricone e, especialmente, Gator Gnulp do planeta Org".



O texto não refere sob o efeito de que substâncias o autor estava quando o escreveu mas devem ter sido mais ou menos as mesmas que as dos músicos no momento em que, a partir dos 29 "soundbytes" seleccionados (de um total de 2734, como precisa o livrete), montaram uma épica odisseia espacial em modelo "cadavre exquis". Vagueando entre os planetas "E-Z", "Techno", "Ambient" e uma dúzia de asteróides situados no espaço sideral que os envolve, Warp Back To Earth é verdadeiramente educativo: para a superior ilustração de quem o escuta, oferece ainda num segundo CD os 29 extractos dos temas originais de Peter Thomas (surpreendentemente modernos, intrigantes e inspiradores) como material de estudo comparativo e deleite auditivo geral. No Além digital onde paira a alma de Hal 9000, esta é a música que lhe ocupa os tempos livres durante toda a eternidade.

(2002)