"It was my deep love of Late Medieval and Renaissance polyphony that inspired this album. It is based on generative counterpoint — several independent self-playing melodies performed at the same time on a modular synth. I've been working on the patch since late 2017. After I had enough of recorded improvisations I contacted musicians who specialize in Early Music to look if we could combine period instruments with electronic polyphony on a modular system. On Beatrice, you can hear a brilliant violist Igor Zavgorodnii, from Kyiv, improvising on a baroque viola. Initially, I thought it to be the easiest piece to record but it proved to be much more difficult. At some point, I even considered discarding the piece altogether and changing the material. What helped, I think, was the mythology that gradually and miraculously emerged during several years I spent working on the patch. Generative voices turned into bird-like creatures inhabiting electric gardens of polyphony. One is tiny and full of vigour. It loves to sing high during the day but at night it dives deep under the water, where it hums her deep whale song. Another bird is a shadow. It flew into the garden straight from Elizabethan England, bringing melancholy, a fashionable malady, in its beak. Igor's task was to imagine himself as a different kind of bird in this unfamiliar garden, a caged one. His song dissents, he plays an old, period instrument, a baroque viola, but the microtonal technique he is applying comes straight from the 20th century. It is something that he improvised on the spot during the rehearsals and we just decided to go with it during our recording session".
05 May 2023
(sequência daqui) Aí, em conjunto com outros músicos, organizaria uma série de "live streams" musicais com o duplo objectivo de angariação de fundos e de elevar o ânimo da resistência. “Mas, à medida que os alarmes de ataques aéreos se tornaram mais frequentes, tivemos de cancelá-los até decidirmos que o próximo seria realizado a partir de um abrigo anti-aéreo próximo”. Tomaria como ponto de partida uma das peças que trabalhava para um álbum que a guerra interrompera – “Organa”, uma reconfiguração das polifonias da École de Notre Dame de Paris, dos séculos XII e XIII, em sintetizador modular. “Sem dúvida, uma justaposição bizarra dadas as circunstâncias. Mas, assim que comecei a tocar, senti que, pela primeira vez desde a invasão, redescobrira a ligação com uma parte de mim que julgava desaparecida para sempre. Naquela noite, regressei a casa e ouvi as notícias. Era o massacre de Bucha. Aquilo que pensava ter reencontrado dissipou-se ao aperceber-me que cada uma daquelas pessoas era eu. E elas eram todos nós”. (Live From A Bomb Shelter in Ukraine publicado em simultâneo com Kyiv Eternal - ver também aqui)
(sequência daqui) Enquanto Ensemble Gamut! entregaram-se, pois, à articulação de instrumentos clássicos, tradicionais e electrónicos aplicados à invenção de intersecções entre música medieval, do Renascimento, folk, improvisada e abstraccionismos ambientais. O álbum de estreia, UT (2020), invocava a primeira nota da escala guidoniana, mais tarde substituída pelo “Dó”, e alargava o espectro a referências extra-nórdicas – Hildegard von Bingen, Martin Codax, Landini, Ockeghem. Agora, o segundo, apropriadamente RE, dirige o alcance sonoro da voz de Aino Peltomaa (e, em ‘Veri’, do rapper xamânico Paleface) e dos "soittu", "jouhikkos", "G-violone", flautas de bisel, harpa e electrónica de Heinonen e Myllylä, sobre reportório oriundo de manuscitos medievais, da tradição finlandesa, das contaminações sueca e russa e do canto rúnico da Karelia. Puríssima folia dançante em "Lapsed Caicki Laolacatt (Personent Hodie)", levitação quase imóvel em "Trina Caeli Hierarchia" ou realidade fantasmática no original "Puu", desde os Hedningarna e Värttinä que as luzes do Norte não brilhavam tão intensas.
De novo, se recomenda a leitura de Resistance to Christianity - A
Chronological Encyclopedia of the Heresies From the Beginning to the Eighteenth Century, de Raoul Vaneigem(PDF aqui)
(sequência daqui) "Apesar de a Igreja preconizar o livre consentimento dos cônjuges no matrimónio, apesar de o amor cortesão fazer da mulher aparentemente 'a senhora' do trovador, em ambos os casos esta, na verdade, servia os interesses masculinos. (...) Mas, na Cocanha, em função do seu espírito panteísta, sexo e sentimento formam um todo que se manifesta de forma constante e natural. Não há necessidade de um espaço específico para o jogo amoroso, como a côrte no caso trovadoresco, ou um espaço para legitimar a união sexual, como a igreja no caso do cristianismo. (...) A Cocanha ultrapassa o conceito amoroso tanto cristão quanto feudal, ao possibilitar liberdade sexual - ali faz-se amor nas ruas -, sem com isso diminuir o padrão moral das pessoas, que são virtuosas como os clérigos e corteses como os trovadores". (Hilário Franco Júnior - Cocanha - A História de Um País Imaginário - 6)
Cocanha - 5 Cants Polifonics A Dançar (na íntegra aqui)
27 March 2021
Um dos momentos em que o núcleo duro da horda troglodita-medieval que vive nas caixas de comentários do pasquim direitolas online espuma fel e baba perante um texto apenas sensato e razoável(ver também aqui)
24 March 2021
OLD, WEIRD BRITANNIA
"Sumer Is Icumen In" é o mais antigo cânone inglês, escrito no dialecto de Wessex do Middle English, na segunda metade do século XIII. O manuscrito no qual foi descoberto encontrava-se na abadia de Reading e é incertamente atribuído tanto a John Farnsette – monge dessa abadia – como a W. de Wycombe (aliás, Willelmus de Winchecumbe ou William of Winchcomb), compositor e copista do Herefordshire. Ouvimo-lo já neste século no preciosíssimo 1000 Years Of Popular Music (2003), de Richard Thompson – essa fantástica viagem que se inicia, justamente, com "Sumer Is Icumen In" e, passando por Orazio Vecchi, Thomas Morley, Gilbert & Sullivan, Cole Porter, Easybeats, Kinks e tradicionais vários, se conclui, em glória, com Britney Spears –, e, mais recentemente, como porta de entrada em forma de "sample", para Half-Light (2017), do Vampire Weekend foragido, Rostam Batmanglij. Serve, agora, também como título de mais uma colectânea da Grapefruit, selo da Cherry Red para raridades museológicas: Sumer Is Icumen In: The Pagan Sound of British & Irish Folk 1966-1975.(daqui; segue para aqui)
Spriguns Of Tolgus - "Flodden Field"
20 March 2021
Sempre a crescer, com a bófia (pedagogicamente) a ver, a horda medieval aposta, agora, tudo no FIST (Foco Infeccioso de Sábado à Tarde), que esta vergonha de não haver sequer 10 mortes por dia não pode continuar
(sequência daqui) "A narrativa cocaniana é uma luta alegórica que valoriza o Carnaval diante da Quaresma. A terra maravilhosa com os seus excessos alimentares, alcoólicos e sexuais é um Carnaval ininterrupto. (...) Ao contrário das demais festas, cujo espírito pagão não tinha sido anulado pela evangelização, a Quaresma era essencialmente cristã. Apesar de as suas restrições terem sido flexibilizadas ao longo da Idade Média, ela continuava a ser um dos grandes símbolos da cultura eclesiástica, daí a forte e difundida resistência laica a ela. (...) A Quaresma também é ridicularizada pelo Fabliau de Coquaigne, segundo o qual ela ocorre no país maravilhoso apenas uma vez a cada vinte anos. E ainda por cima, sem restrições alimentares ou sexuais. A Cocanha, terra da vida (fartura, juventude, sexo livre), nega a Quaresma, símbolo da morte (jejum alimentar, abstinência sexual, decadência física)" (Hilário Franco Júnior - Cocanha - A História de Um País Imaginário - 5)
Cocanha - "Dempuèi Auriac" (do álbum i ès ?, aqui na íntegra)