26 September 2017

PREVARICAR


Há divórcios (mais ou menos) felizes. Não sabemos ainda como será o quarto álbum dos Vampire Weekend – repetidamente anunciado desde o início deste ano – após a partida, em Janeiro de 2016, do multi-instrumentista, compositor, arranjador e produtor Rostam Batmanglij mas podemos já escutar Half-Light, o primeiro álbum dele a solo. E, porque a separação foi amigável, permanece aberta a possibilidade de continuar a trabalhar em regime de "outsourcing" com a banda de origem. Não que esta tenha sido a sua primeira aventura extra-“matrimonial”: já antes com Frank Ocean, Solange, Hamilton Leithauser, ou Wes Miles (Ra Ra Riot), no intrigante projecto Discovery, ele prevaricara. Mas, desta vez, no ponto de partida, havia um plano verdadeiramente ambicioso: “Tentar compor a música mais complexa sobre a qual alguém poderia cantar. Há uma quantidade de regras que desejo quebrar, tenho um impulso incontrolável para quebrar regras. Quis fazer um disco no qual não se possa exactamente dizer o que é a canção e o que é o arranjo de cordas. Um pouco aquela combinação entre a música clássica e o idioma da canção que ouvimos na pop francesa, nos Beatles ou no Tropicalismo brasileiro”



A primeira faixa, "Sumer", estabelece, imediatamente o tom: algo semelhante a uma versão de "Three Blind Mice" em registo transtornadamente coral "à la" Animal Collective. Mas tudo o que virá a seguir deixará bem assente a ideia de que nada do que pingue na paleta de Rostam deixará de ser utilizado: "Bike Dream" é um exuberante exercício de experimentação texturada sobre a estrutura pop tradicional, "When" desliza da "rêverie" vocal ("When you know something how do you know that you know it?”) para uma fantasmagoria "spoken word" acerca da distribuição da riqueza e o complexo militar-industrial norte-americano, "Rudy" preguiça encostada a um reggae com implante de sopros "free form" que se dissolvem em pura transpiração sonora e "Warning Intruders" é um cristal flutuante de transparências digitais. São, porém, "Wood" (quase 6 minutos de um beat construido em torno de samples de tabla e sitar, uma guitarra de 12 cordas afinada como um "tar" persa e vertiginosas cordas bollywoodianas) e "Gwan" (a vitória da Penguin Cafe Orchestra perante os avanços de uma percussão marcial) que praticamente garantem que, da dissolução da parceria Koenig/Batmanglij não resultará catástrofe idêntica à que aconteceu com Lennon & McCartney. .

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