30 November 2023

Se a lógica é a do x + 0, porque não também o MRPP, o PURP ou o RIR?
Shane MacGowan - (1957 - 2023)

Como entender que, num país onde existiram FAP, ARA, LUAR, BR e FP-25 de Abril (de um continente no qual IRA, ETA, FRAP, Baader-Meinhof e Brigadas Vermelhas actuaram), engravatadinhos vários se qualifiquem uns aos outros como... "radicais"?
 
Os galarós esganiçados (acrobatas vocais das altas frequências) (II)
 
Paulo Rangel, aliás, Tweedledee (PSD)

29 November 2023

(sequência daqui) Seguiu-se uma espécie de "projecto Frankenstein". Se a uma melodia lennonicamente preguiçosa se colar uma letra da estirpe "Love Me Do" (“I know it’s true, it’s all because of you, and if I make it through, it’s all because of you”), um arranjo de vozes e cordas a puxar pelas memórias de "Here, There and Everywhere", "Eleanor Rigby" e "Because", um solo de guitarra fantasma de Paul após aspirar o espírito de Harrison e, no inevitável vídeo acompanhante, se cozinhar uma salada russa psicadélica onde o tempo avança e recua e vivos e defuntos se cruzam numa espécie de sessão espírita esgrouviada, resultará, decerto, uma caricatura apatetada do quarteto de Liverpool mas nunca coisa verdadeiramente memorável. Aquando da reedição remasterizada de Sgt. Pepper’s, em 2017 - por mais que Geoff Emerick, engenheiro de som dos Beatles, desde Revolver (1966) até Abbey Road (1969), assegurasse que as conversões de “mono” para “stereo” eram quase uma falsificação: “O ‘mono’ era a verdade. Era dessa forma que eles pretendiam que o álbum fosse escutado, em ‘mono’" -, Giles Martin (filho do 5º Beatle, George) defendia que as versões originais “soam velhas” e era indispensável que “os nossos filhos e netos possuissem uma versão do álbum que funcione bem neste novo milénio”. Quase uma década antes, em Setembro de 2009, quando a totalidade da discografia dos Beatles, digitalmente remasterizada segundo os mais avançados padrões tecnológicos foi apresentada publicamente no Santíssimo Templo de Abbey Road, Allan Rouse, mago sonoro da EMI, colocado perante a questão de saber se novos desenvolvimentos tecnológicos poderão vir a justificar novas remasterizações, não hesitava: "Claro que sim!" E, com o mesmo desembaraço e candura, à pergunta "A tecnologia evolui mas o ouvido humano permanece igual: seremos nós capazes de detectar tais subtilezas sonoras?", a resposta fora igualmente imediata: “Claro que não!" (segue para aqui)

27 November 2023


The Beatles: Get Back - A Sneak Peek from Peter Jackson
 
(sequência daqui) Já George Harrison, quando, em 1994, lhe foi dado escutar a cassete que John Lennon deixara a Yoko Ono e que continha a maqueta de 'Now And Then', em uso muito sucinto e directo da língua de Shakespeare, declarou: "Fucking rubbish!" Nessa altura, tratava-se de avaliar o que, do espólio que Lennon deixara, poderia ser reabilitado como inéditos destinados a integrar os 3 volumes da Beatles Anthology publicados em 1995 e 1996. "Real Love'" e "Free As A Bird" passaram no teste - embora, em plena era do Britpop, descendente directíssimo do legado beatleano, não tenham voado espantosamente alto - mas "Now And Then", foi reprovada: não só não estaria à altura dos clássicos dos Beatles como era apenas um esboço doméstico inacabado, para mais assombrado por um bem audível zumbido na frequência de 60-Hz. Foi Paul McCartney quem, no ano passado, decidiu, enfim, dedicar-se à missão de desmentir a sabedoria popular britânca segundo a qual "you can't polish a turd". Recorrendo à WingNut Films, de Peter Jackson, com quem já trabalhara no documentário de 2021, Get Back, entregou aos serviços de limpeza sonora da MAL ("machine assisted learning", homenagem a Mal Evans, falecido "road manager" dos Beatles e piscadela de olho ao HAL 9000 de 2001: Odisseia no Espaço) a tarefa de desinfestação da fita. Segundo as crónicas, foi coisa para não mais de uma tarde de trabalho. (segue para aqui)

24 November 2023

PROJECTO FRANKENSTEIN 

 

A Prof. Dra. Holly Tessler, da Universidade de Liverpool (senior lecturer, responsável pela criação de uma pós-graduação sobre os Beatles e fundadora do "Journal of Beatles Studies" publicado pela Liverpool University Press), não tem dúvidas: "A publicação de 'Now And Then' é um grande momento. É estranho pensar que uma banda que se separou há mais de 50 anos nos venha dizer agora que esta é a sua última canção. De certo modo, Paul e Ringo, ambos na casa dos 80, traçaram uma linha. Suponho que este seja um momento muito emocionante para todos os fãs dos Beatles: assinala um fim significativo. Qualquer pessoa com menos de 53 anos viveu sempre num mundo no qual os Beatles não existem. A separação do grupo, em 1970, não foi particularmente amistosa. O que isto lhes oferece é uma oportunidade de suavizar a separação e torná-la mais comovente. Um fim natural mais do que uma história de quatro jovens zangados declarando que nunca mais quererão trabalhar juntos. Uma amizade duradoura que se estendeu ao longo de uma vida. Não podemos apagar a história mas possibilita-nos uma compreensão diferente dos Beatles que, de algum modo, continuaram a trabalhar juntos dos anos 60 até hoje". (daqui; segue para aqui)

22 November 2023

"The One That Loves You" (álbum integral aqui)

(sequência daqui)  Desde o princípio, os Dexys foram sempre um grupo completamente à parte de tudo o que ia ocorrendo na cena musical britânica. Hoje, ainda continua a ser assim?

(pausa) Acho que sim. Não conheço nenhuma outra banda que escreva acerca das coisas que, agora, escrevo nem que publique um álbum conceptual com uma narrativa que lhe ofereça unidade. Talvez apenas os Primal Scream. Bobby Gillespie. Ele, ao menos, esforça-se por criar alguma coisa diferente. 

    Uma outra característica dos Dexys, até hoje, foi sempre o grande movimento de entradas e saídas dos elementos que compunham a banda. Poderemos dizer que, fossem eles quem fossem e viessem de onde viessem, em última análise, os Dexys seriam sempre o Kevin e mais meia dúzia de músicos à volta? 

É verdade. Mas não sei porquê. E, hoje, já nem sequer temos aquela atitude quase militar que tínhamos no início. Na verdade, as coisas não seriam bem desse modo. As pessoas chegavam, desempenhavam o seu papel, davam o seu contributo e saíam. Pelo que me toca, só posso dizer que tenho uma capacidade de concentração muito limitada e preciso sempre de ter gente nova â volta. Aliás, pensando bem, os Dexys nunca foram realmente uma banda. Não sei dizer o que eram mas não eram uma banda.

17 November 2023

"The Feminine Divine"

(sequência daqui)  Na série de televisão Peaky Blinders, a personagem colectiva é um grupo de jovens fora-da-lei de Birmingham regressados a Inglaterra depois da I Guerra Mundial. Se acrescentarmos a isso o facto de se distinguirem também por um "dress code" muito próprio, não pude deixar de pensar na encarnação inicial dos Dexys (que eram, igualmente, de Birmingham)...  

Percebo o que quer dizer. Mas quando, no início, nos decidimos a usar aquelas roupas foi puramente um gesto teatral. Apenas isso. 

    As suas raízes irlandesas, aqui e ali, ainda se fazem notar? 

Não me parece. Elas farão sempre parte de mim mas, neste álbum não julgo que transpareçam muito. E uma grande parte dessas "raizes irlandesas" tinha bastante a ver com um certo complexo de culpa que me tenho esforçado por eliminar. Embora, para mim, a Irlanda seja, definitivamente, o sítio que em que me sinto em casa: aquele foi o local no qual os meus pais caminharam, piso as mesmas ruas que eles pisaram. (segue para aqui)

11 November 2023

2023 - Prémio "Meti os diamantes no saco da areia dos gatos?... Opá, aconteceu..."
 

(sequência daqui)  Mas não tem nenhuma noção acerca disso? 

Tudo o que faço é intuitivo. O que fiz nos anos 80 era intuitivo. Agora, continua a ser. Não analiso muito aquilo que faço. Se me ocorre uma ideia, agarro-a e trabalho sobre ela. E não penso demasiado nisso. 

    Mas, por exemplo, enquanto trabalhava para este álbum, nunca se apercebeu de nenhuma relação com a sua música anterior ou com a de outros músicos? 

Imagino que possa reflectir algumas influências de Marvin Gaye ou de Barry White... mas nunca é intencional. São coisas que podem aparecer à superfície. E não vejo nenhuma relação entre o nosso passado e agora. A verdade é que isso me desinteressa por completo. Não me dá prazer nenhum olhar para trás. Na segunda parte do concerto interpretamos algumas das canções antigas mas reinterpretamos-las de acordo com a forma como agora as encaramos. Aliás, comparar os primeiros álbuns dos Dexys com este último é como tentar comparar Taxi Driver com The Irishman (ambos filmes de Martin Scorsese, de 1976 e 2019). É impossível compará-los. São completamente diferentes. A minha forma de ver as coisas mudou tremendamente desde o primeiro álbum. Nem sequer me recordo de quem era o tipo que escreveu aquelas canções. Nem sequer era real. Nem se conhecia a si próprio. (segue para aqui)

06 November 2023

"Tamimi became famous at age 14 when she was filmed slapping an Israeli soldier to prevent him from arresting her little brother who had his arm in a cast. She has become an icon of the Palestinian cause and a large portrait of her has been painted on the Israeli separation wall with the West Bank in Bethlehem near Jerusalem"

(sequência daqui)  Pode dizer-se que a concepção, gravação e, agora, a apresentação de The Feminine Divine constituiu um processo de terapia? 

Acho que sim, é verdade. Mas, ao mesmo tempo, quando pomos alma e coração numa coisa em que estamos muito empenhados e a lançamos para o mundo, não podemos deixar de nos sentir muito vulneráveis. 

    A mudança do nome da banda - de Dexys Midnight Runners para apenas Dexys - significa um desejo de corte com o passado? 

Não! Essa modificação do nome deixa claro que continuamos a ser nós. Em Inglaterra, toda a gente sempre se referiu a nós como Dexys. Não é nada de novo. O que sublinha é o facto de não pretendermos ser uma "revival band". Não temos a pretensão de sernos como em 80, 82 ou 85, é impossível. Não podemos recriar ou voltar a viver no passado. Não nos envergonhamos do nosso passado mas, hoje, é preciso fazer coisas diferentes. Pense no Bob Dylan: não pretendo comparar-me com ele mas ele, hoje, não pode voltar a escrever "Blowin' In The Wind" ou "Sad Eyed Lady Of The Lowlands". Precisa de fazer algo que seja diferente e relevante. 

    Não fez ele outra coisa ao longo de toda a carreira!... Mas o que, desde o início até agora, diria que permanece constante na música dos Dexys? 

Não sei. E não me parece que isso seja coisa para eu fazer. Esse é o seu trabalho. (segue para aqui)

05 November 2023

"A Terra Prometida?" (VIII): New Jerusalem Down Under: The Search for a Jewish Homeland in Australia (ver também aqui)
 
"The Sally and Ralph Duchin Campus Lectureship Series with Prof. Adam Rovner, Ph.D. - In his talk, Adam Rovner (Associate Professor of English & Jewish Literature and Director of the Center for Judaic Studies, University of Denver) details the cultural context and legacy of proposals to create mass settlements of Jewish refugees in Australia during the Nazi era. Archives located on four continents reveal how poets, playwrights, journalists, and social revolutionaries all worked to imagine the creation of a Jewish city-state 'down under'. This little-known chapter of intellectual history stems from a long tradition of Jewish Territorialism, a political ideology that merged the literary imagination with nationalist projects. For much of the 20th century, the question was not whether there should be a Jewish political entity, but where to put it. The abortive efforts to settle Jews in the Kimberley region and in southwestern Tasmania dramatize the story of centuries of Jewish homelessness"
Geno Washington & the Ram Jam Band - "Michael (The Lover)"

(de Oh, Geno! Rare Pye Singles As and Bs, na íntegra aqui; ver aqui)

03 November 2023

A criatura ultrapassou clarissimamente o prazo de validade
Tudo muito correcto e verdadeiro; mas... e se, sem o poder dizer aberta e explicitamente, finalmente se tivesse reparado que, para uma arrepiante percentagem dos actuais alunos, tudo aquilo para que a escola foi concebida, mais tarde ou mais cedo, se tornará inútil e desnecessário e não será preciso muito mais do que "vigilantes" com habilitações mínimas para manter a ordem em parques de estacionamento para infanto-juvenis? (muito mais aqui)

(sequência daqui)  Há 6 ou 7 anos sentia-se e dizia-se criativamente esgotado. O que, aparentemente, o trouxe de volta após a morte da sua mãe, foi a descoberta do Tai chi e uma viagem à Tailândia que, seria, na verdade, mais uma jornada de exploração mental...  

Sentia-me completamente vazio, tinha perdido todo o entusiasmo pela vida, Tive de olhar em volta em busca de algo que me fizesse sentir melhor e uma dessas coisas foi o Tai-chi. Viajei também até à Tailândia onde tive contacto com os ensinamentos do taoísmo, a antiga filosofia chinesa. Quanto mais aprendia sobre o meu corpo mais o modo como pensava se transformava e via as coisas de forma diferente. Foi nesse momento que comecei a encarar as mulheres de modo diferente, a encará-las e valorizá-las de outro modo. A reconhecer aa sua essência divina e a venerá-las. Um dia, sentei-me a reflectir sobre esse conceito do Divino Feminino e essa canção emergiu. Tinha aprendido a lição. E foi a partir daí que todas as outras canções surgiram e o álbum se foi formando. Juntamente com outras canções antigas representativas do velho eu que fui repescar. 

    Essa veneração do feminino sagrado existe desde os cristãos gnósticos, os cátaros medievais, no judaísmo, no hinduismo. Tinha noção disso? 

Desconhecia tudo isso. E não foi exactamente um estudo do taoísmo ou de outras correntes orientais. Foi um pouco o lado mágico de tudo isso. Foi mais o resultado de um trabalho sobre o meu corpo do que um processo mental, intelectual. (segue para aqui)


Christopher Hitchens on Israel and Zionism

01 November 2023

 Revisões da matéria dada (XXI)

 (em sintonia antecipada com o 2 de Novembro):  

"Morrer de riso"

"'A new Nakba': settler violence forces Palestinians out of West Bank villages" (aqui)
 
Edit (16:59) - "The foundational events of the Nakba took place during and shortly after the 1948 Palestine war, including 78% of Mandatory Palestine being declared as Israel, the expulsion and flight of 700,000 Palestinians, the related depopulation and destruction of over 500 Palestinian villages by Zionist militias and later the Israeli army and subsequent geographical erasure, the denial of the Palestinian right of return, the creation of permanent Palestinian refugees, and the 'shattering of Palestinian society'. (...) The Palestinian national narrative views the Nakba as a collective trauma that defines their national identity and political aspirations, which the Israeli national narrative rejects and views it as a war of independence that established Jewish aspirations for statehood and sovereignty"
Entregar a vítima de violação 
aos cuidados do violador