29 November 2023

(sequência daqui) Seguiu-se uma espécie de "projecto Frankenstein". Se a uma melodia lennonicamente preguiçosa se colar uma letra da estirpe "Love Me Do" (“I know it’s true, it’s all because of you, and if I make it through, it’s all because of you”), um arranjo de vozes e cordas a puxar pelas memórias de "Here, There and Everywhere", "Eleanor Rigby" e "Because", um solo de guitarra fantasma de Paul após aspirar o espírito de Harrison e, no inevitável vídeo acompanhante, se cozinhar uma salada russa psicadélica onde o tempo avança e recua e vivos e defuntos se cruzam numa espécie de sessão espírita esgrouviada, resultará, decerto, uma caricatura apatetada do quarteto de Liverpool mas nunca coisa verdadeiramente memorável. Aquando da reedição remasterizada de Sgt. Pepper’s, em 2017 - por mais que Geoff Emerick, engenheiro de som dos Beatles, desde Revolver (1966) até Abbey Road (1969), assegurasse que as conversões de “mono” para “stereo” eram quase uma falsificação: “O ‘mono’ era a verdade. Era dessa forma que eles pretendiam que o álbum fosse escutado, em ‘mono’" -, Giles Martin (filho do 5º Beatle, George) defendia que as versões originais “soam velhas” e era indispensável que “os nossos filhos e netos possuissem uma versão do álbum que funcione bem neste novo milénio”. Quase uma década antes, em Setembro de 2009, quando a totalidade da discografia dos Beatles, digitalmente remasterizada segundo os mais avançados padrões tecnológicos foi apresentada publicamente no Santíssimo Templo de Abbey Road, Allan Rouse, mago sonoro da EMI, colocado perante a questão de saber se novos desenvolvimentos tecnológicos poderão vir a justificar novas remasterizações, não hesitava: "Claro que sim!" E, com o mesmo desembaraço e candura, à pergunta "A tecnologia evolui mas o ouvido humano permanece igual: seremos nós capazes de detectar tais subtilezas sonoras?", a resposta fora igualmente imediata: “Claro que não!" (segue para aqui)

2 comments:

Miguel said...

All they need is money!

João Lisboa said...

Intrigante é que nem deve ser isso...