29 August 2022

Opá, digam-lhe que sim, que ele ganhou as eleições, que o Batman e o Hulk já confessaram que roubaram votos para o Biden, mas que não pode é interromper assim a medicação de repente sem autorização do director de serviço da ala dos agudos

5 anos depois, renova-se o aviso

Gwenno - "Anima"

 
(sequência daqui) Final do primeiro acto. No segundo, abandonaria a banda, criaria uma empresa de jardinagem, matricular-se-ia no curso de arqueologia do University College de Londres e, quase confidencialmente, ocupar-se-ia com a escrita de canções. Estão todas em Giant Palm que o produtor e arranjador Joel Burton a convenceria a gravar com uma trupe de mais de 30 músicos. Preparem-se, então, para se cruzarem com Astrud Gilberto de braço dado com Sandy Denny, reparem na proximidade de Jim O’Rourke com Bert Jansch, o jazz e o psicadelismo tropicalista e, de um modo geral, refresquem-se neste maravilhoso e impuríssimo chuveiro.

26 August 2022

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (LXXIV)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)
IMPURÍSSIMO CHUVEIRO
Mesmo antes de ser repugnante, a defesa da suposta “pureza” de povos e culturas é absolutamente incompreensível. Seja pela via do nazi-fascismo "old-school" seja pelo seu simétrico contemporâneo que se encarniça contra a chamada “apropriação cultural” – isto é, contra toda a riquíssima história das culturas do planeta que sempre se contaminaram, cruzaram e mutuamente transformaram –, desses caldeirões de tribalismo, territorialidade e xenofobia apenas poderiam resultar monstruosidades endogâmicas geradas num "pool" genético empobrecido. Espreitando do outro lado da questão, tudo é, obviamente, diferente: o mundo é gloriosamente mestiço, bastardo e impuro e, para o que agora importa, Giant Palm, de Naima Bock, é, no que à música respeita, um dos seus mais vibrantes exemplos recentes. Nascida em Glastonbury de pai brasileiro e mãe grega, viveu a infância no Brasil e. no regresso ao Reino Unido, alistou-se nas Goat Girl, quarteto feminino de "art-punk" que, na véspera do dia em que assinaria contrato com a Rough Trade, assistiria enraivecido à vitória do Brexit (“I honestly do think that someone spiked their drinks, how can an entire country be so fucking thick? Hold tight to your pale ales, bite off your nationalist nails”, cantariam elas em "Scum"’, prefácio ao óptimo album de estreia de 2018). (daqui; segue para aqui)

25 August 2022


Revisões da matéria dada (X)

A propósito do debate nesta caixa de comentários, recorde-se aqui, aqui e aqui
Gabriel Kahane - "Little Love"

(de Book of Travelers - álbum integral aqui)
Quando é que começaram a recrutar 
o pessoal político nas urgências de psiquiatria?

(via MnP)

23 August 2022

Coração de imperador refogado com batatinhas

Ingredientes  

1 coração de imperador 

10 batatinhas 

2 tomates 

3 dentes de alho 

1 cebola grande 

1/2 pimentão verde 

Pimenta-de-cheiro 

Colorau 

Sal  

Óleo  

Modo de preparação

Descasque as batatinhas, cozinhe até ficar al dente e reserve; 

 Limpe o coração de imperador e retire o excesso de gordura; 

Corte a carne em cubos e coloque na panela de pressão até ficar bem macia; 

Em uma outra panela, despeje fios de óleo e acrescente o colorau; 

Adicione na panela a cebola picada e deixe refogar; 

Quando a cebola estiver bem refogada, coloque também o pimentão verde picado, tomate picado, alho e a pimenta-de-cheiro e deixe cozinhar por alguns minutos; 

Despeje a carne cozida e as batatinhas na panela e acrescente a quantidade necessária de sal; 

Deixe por uns minutos para incorporar os sabores e sirva quente.

 
 
 
(sequência daqui) Descendente oblíqua do retrofuturismo dos Broadcast ou Stereolab e adepta do neopaganismo anarco-feminista de Monica Sjöö, neste novo manifesto (nove canções em "cornish" e uma em galês), Gwenno tanto recorre aos sinos de Santa Maria Della Salute, em Veneza, ou à sonoridade de um vetusto piano de cauda de um hotel de Viena como invoca Morricone, Agnés Varda, Maya Deren, Jodorowsky, Fellini e Sergei Parajanov. Com uma intenção que não poderia ser mais clara: “É como se fosse um livro de recortes, com coisas que vêm de todo o lado. Estou realmente obcecada pela Europa, num desespero por fazer parte dela. Não é porque desejemos ser insulares que exploramos a nossa cultura, fazemo-lo porque queremos fazer parte do mundo!”.
Folknery & Alex Vaghin - "Dorizhechka"

Andrew Bird - "Eight"

22 August 2022


Isto é muito mais vertiginoso 
do que eu poderia ter imaginado...


20 August 2022

COMO UM LIVRO DE RECORTES
Gravar um álbum que tem como público potencial um universo de pouco mais de 300 pessoas, não é, de certeza, um projecto habitual em lado nenhum. Mas foi exactamente a isso que Gwenno Saunders se lançou quando, há 4 anos, publicou Le Kov, uma colecção de canções cantadas em "cornish", um dialecto da Cornualha cujo último falante fluente morreu em 1777. Desde então considerado “extinto”, apenas em 2010 a UNESCO – na sequência da actividade da Cornish Language Partnership (CLP) – a faria subir um degrau para “em risco de extinção”, e a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias a reconheceria como “língua minoritária”. Segundo a CLP, o aumento de 15% no número de candidatos a exames de "cornish", em 2018, dever-se-ia em boa parte ao impacto de Le Kov e o Cornish Gorsedh Kernow – uma comunidade de bardos contemporâneos – acolhê-la-ia entre os seus “pelos serviços prestados à língua 'cornish' através da música e dos media”. Agora que, 20 anos após o reconhecimento oficial pelo governo britânico do estatuto do "cornish", Gwenno edita Tresor, podemos, finalmente, sossegar: tamanho ardor identitário não é sequer parente próximo do azedo nacionalismo do Brexit. (daqui; segue para aqui)

Esperando-se que, na viagem, seja devidamente acompanhado por uma qualificada equipa de cardiologia (já não está a ir para novo...), seria interessante poder prolongar este intercâmbio de felizes ressonâncias anátomo-literárias: para o ano, uma tíbia, mais tarde, uma rótula, logo a seguir, um testículo...
Faça como Rui Esteves: utilize já o maravilhoso detergente anti-manchas!

19 August 2022

Folknery & Roham Azarpira - "Koliadka na Zhe"

Todo o resto não tem a menor importância mas o nome Riikka Purra, esse, é impossível de esquecer
O sempre maravilhoso e deslumbrante mundo do fake: o Estado Teocrático Antártico de San Giorgio!
Jeff Buckley & Elizabeth Fraser - "All Flowers In Time Bend Towards The Sun"

"After parting from (Robin) Guthrie, but still in the same band (Cocteau Twins), Fraser struck up an intense relationship with Jeff Buckley after they became infatuated with each other's voices. Again, emotion produced music. A sublime duet they recorded called 'All Flowers in Time Bend Towards the Sun' is floating around the internet, to her irritation. 'Why do people have to hear everything?' she complains. I tell her it's wonderful. 'But it's unfinished, you see. I don't want it to be heard'. There's a pause. 'Maybe I won't always think that" (Elizabeth Fraser, "Guardian", 2009)

17 August 2022


(sequência daqui) Agarradas a essas palavras vieram as da escritora Joan Didion – também favorita de Lloyd Cole a quem insuflou a inspiração para “Rattlesnakes” – em “Atomized” (onde John Donne e Didion se cruzam: “Is each of us an island or more like Finland, here’s what I say to them: ‘Things fall apart’”) e “Lone Didion” (“Every Saturday night, she came in with him, table six in the back, tall beer and a gin, now she comes in alone, lone Didion”). E, por outra via, inesperadamente, as inflexões do Lou Reed era-Velvets indelevelmente carimbadas na matéria de “The Night Before Your Birthday”, “Stop n’ Shop” e “Never Fall Apart”. Escoltado por Alan Hampton (baixo), Mike Viola (guitarra) e Abe Rounds (bateria), e brandindo o extraordinário violino amestrado (escutem-no em "Eight"), prestemos a devida atenção a este singularíssimo exemplo de “an irrepressible optimist working with a fatal flaw”.
É verdadeiramente espantoso como, em 2022, o Demónio mantém uma assinalável presença na cena política mundial

14 August 2022

Revisões da matéria dada (IX)
É assim uma espécie de "Novas Oportunidades" socráticas recauchutadas para profes (via OMQ)
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UMA ESPÉCIE DE INSÓNIA
Inside Problems? Andrew Bird explica: “Há tempos, estava numa casa de banho pública e, como muitas vezes acontece, comecei a assobiar. Às tantas, aparece um tipo que repara em mim e pergunta: ‘Porque é que está tão contente?’ Respondi: ‘Nada de especial. Na verdade, até me sinto bastante infeliz’”. Tão prosaicamente quanto isto é assim que Bird justifica o título e o conteúdo do novo álbum. Isto é, a dissonância – na realidade, comum – entre a imagem exterior que projectamos e o universo interior que nos habita. O tipo de elucubrações que experiências de isolamento pandémico favorecem: “Escrevi a maior parte do álbum na posição horizontal, basicamente, a meio da noite, como uma espécie de insónia. Não conseguia dormir, o cérebro mudava incessantemente de canal e começava a entrar em espiral. Não há distrações que evitem isso. Somos um público cativo. Felizmente, sempre tive um sistema de 'playback' mental muito forte. Comecei a lançar palavras sobre as melodias que me continuavam às voltas na cabeça”, contou ao site Salon. (daqui; segue para aqui)

"AI is advancing fast – much, much faster than the public realises – and the most serious and important issues of our time are going to start to sound increasingly like science fiction to the average person. (...) There’s an increasing body of evidence that now suggests that beyond a certain intelligence threshold, AI could become intrinsically dangerous" (daqui; ver aqui e aqui)

13 August 2022

A santa, santíssima filial da Vaticano S.A., em Ovar, indigna-se mui justamente que um local onde tantas crianças inocentes podem entrar seja impunemente profanado por oh quão herética! pouca-vergonhice!...
 

12 August 2022


 
Edit (11:47) - O habitual

"A defiant Russian journalist held up a hand-written sign in court on Thursday to continue her protests about Russia's invasion of Ukraine. (...) She was charged over a street protest last month, when she held up a banner that said, 'Putin is a killer, his soldiers are fascists. 352 children have been killed (in Ukraine). How many more children should die for you to stop?'”
Já chegámos ao ponto em que um médico director de serviço, para falar de um telefonema com a ministra da Saúde, prefere o anonimato?...

"Um dos diretores de serviço da ARS Lisboa e Vale do Tejo, que prefere o anonimato, conta ao Observador que a ministra da Saúde lhe ligou..."

Parem só por um segundo: isto parece-vos coisa normal e aceitável fora de restritíssimos círculos de lerdos adolescentes neo-góticos?

11 August 2022

A forma mais avançada de socialismo alguma vez conhecida: o empregado ganha mais do que o patrão! (seria interessante conhecer a opinião da segunda figura do Estado sobre este assunto & outros afins)

(sequência daqui) Por altura dos dois primeiros (e excelentes) álbuns da banda – Hope Downs (2018) e Sideways To New Italy (2020) – os RBCF refugiavam-se numa atitude de cuidadosa contenção no que respeita à expressão de pontos de vista políticos (“Somos todos muito politicamente conscientes e activos. Mas não me parece que tenhamos o direito de falar sobre essas coisas. Quem somos nós, três homens brancos e 'straight', para dizer que pensamos assim e assado?”, dizia, então, Keaney ao “NME”); agora, dois atribuladíssimos anos da história do mundo passados, as coisas modificaram-se sensivelmente: “É difícil impedir que a realidade de tempos tão confusos e frustrantes se infiltre nas nossas canções. Enquanto grupo, somos optimistas e tentamos manter-nos longe de posturas cínicas. Mas tem sido um tempo difícil para optimistas. Há um razoável número de coisas claramente erradas neste país e no mundo a que as canções são permeáveis. ‘The Way It Shatters’, ‘Tidal River’, ‘Bounce Off The Bottom’, todas têm como pano de fundo a paisagem social”. O ódio assassino anti-imigração, a devastação ambiental, as gritantes desigualdades sociais, a violência contra os povos nativos, estão, de facto, todos aqui: engalanados num triplo disparo de guitarras, em barroca pirotecnia que ecoa simultaneamente os Television, Go-Betweens, The Smiths, Echo & The Bunnymen e R.E.M. e, a partir daí, cria uma realidade maior.
Radoslaw — "Kupalo"

10 August 2022

"The charges relate to a protest last month, when Marina Ovsyannikova held up a poster that read 'Putin is a murderer, his soldiers are fascists' on the Moskva river embankment opposite the Kremlin. Three 'blood-soaked' toy dolls were laid on the ground in front of her" 
"The sparkling story of two early modern Portuguese travellers and their competing views of the world. (...) To show how different minds reacted to the challenge of a new world opening up, Wilson-Lee presents us with two contrasting accounts. The first is from Damião de Góis, a minor Portuguese functionary who travelled the world in an official capacity, curious and alert, ready to be amazed at what he found and confident enough to allow new ideas about everything from personal salvation to talking monkeys to work upon him. (...) Against this expansive vision Wilson-Lee sets the work of Luís de Camões, Portugal’s greatest poet. Of particular interest here is The Lusiads, his epic account of Vasco da Gama and the Portuguese heroes who sailed around the Cape of Good Hope opening a new route to India. The title itself clangs with nationalist pomp, being derived from the ancient Roman name for Portugal, Lusitania. In addition, De Camões transforms Da Gama and his crew into Jason and the Argonauts, semi-divine heroes questing east in search of miraculous treasures. Despite his impeccable humanist credentials, the Iberian Shakespeare’s narrative is one of triumphalist place-naming, land-staking and colonial bluster"

09 August 2022

Pode, por exemplo, começar por aqui
 
Edit (10/08/2022) - O intelectual do Largo do Rato Mickey, recordando-se do que lhe custou arranjar um lugarzinho, acha tudo muito bem
Não se arranja um buraquinho para este fulano na festa do "Avante"?
O "vai para a tua terra!" (para além de imbecilmente xenófobo) só pode fazer perder apoios ou conquistar apoios indesejáveis
(e, na versão académico-cabalística, particularmente indigesto)
Joryj Kłoc — LIS

08 August 2022

... sempre, sempre a melhorar...
 
(sequência daqui) Seria em "Dive Deep" (“Blind in the disorder, lambs to the slaughter, still upon the surface, treading heavy water”) que os RBCF achariam o centro de gravidade sobre o qual todo o álbum haveria de ser edificado. Iniciada como uma experiência inconsequente com uma "drum machine" â qual foram agrafando elementos sonoros diversos, foi necessário reduzi-la de 8 para 5 minutos: “Não tinha qualquer estrutura, era apenas um conjunto de melodias diferentes, sequências de acordes e vozes quase 'stream of consciousness', sem nenhuma ordem definida. Extraimos-lhe todas as nossas partes preferidas e transformámo-la em algo reconhecível que continha estrofe, refrão, pré-refrão e melodia pincipal. Foi daquela canção que emergiu a forma final do álbum. Colocámos os amplificadores no andar de cima e escutámo-la junto à lareira, sob as estrelas, aspirando aquela espécie de atmosfera celestial. Foi a cola que agregou todo o álbum”. Criado, acrescente-se, de acordo com uma lista de regras o menos constrangedoras possível: “Se um refrão apenas aparece uma vez e isso acontece no final de uma canção, se nos parece bem, é exactamente por esse caminho que a canção deverá seguir. Agarrámo-nos muito aos nossos instintos mas a presença de um elemento externo como o Burke foi importante para que tudo ficasse no lugar certo”. (segue para aqui)

05 August 2022

 

(sequência daqui) Foram mesmo. Sem "livestreams" nem outras terapêuticas de substituição (“Somos, geralmente, pessoas positivas e gostamos de ver as coisas pelo lado mais favorável. Mas, naquela altura, pensámos ‘Não! Estamos numa situação de merda, não vamos dourar a pílula!”), mas, cada um no seu canto, alinhavando esboços de canções ou canções praticamente completes que iam fazendo circular pelos cinco. Se Tom Russo afirma que a maioria das suas canções que iriam figurar em Endless Rooms surgiram de “ideias que me ocorriam durante intermináveis caminhadas sempre pelas mesmas ruas de West Brunswick, em Melbourne” e Fran Keaney fala de “passar fins-de-semana inteiros a criar canções no Garageband, sem ter a menor noção se alguém, alguma vez, estaria interessado em escutá-las”, Joe White explica que “Habitualmente, trazemos uma ideia inacabada para a banda. Mas, para este disco, não tivemos outra alternativa que não fosse tentar finalizar as canções, descobrir-lhes as introduções adequadas, saber onde colocar-lhes um ponto final. Algumas chegaram totalmente acabadas. O que é um processo completamente diferente do que costumamos usar”. E, mal o sobe-e-desce dos "lockdowns" lhes permitiu, rumaram todos a The Basin, uma casa rural à beira de um lago, em Victoria, propriedade da família Russo, onde iniciaram as gravações com o produtor Burke Reid ao comando. (segue para aqui)
"Clima de comunhão fraterna" deve ser o paleio de engate que utilizam com os miúdos antes de passarem à violação pura e dura (a propósito: o Chaga ainda não propôs a castração química para a padralhada pedófila? - Edit (19:06) - o que é preciso é "compreensão", claro...)

03 August 2022

Eram já tantas, tantas as saudades...
E, se houver justiça, seguir-se-ão os vhm, Peixotos e afins que não são menos pimba do que este
STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCCVI)
 
Aveiro, Portugal, 2022

PIROTECNIA BARROCA 

Haverá, certamente, de chegar um dia em que, ao escrever-se sobre a publicação de um disco, de um livro ou a estreia de um filme, não seja inevitável incluir as palavras “pandemia”, “confinamento”, “coronavirus” (e todos os sinónimos ou variações afins), enquanto marcadores de um “antes”, um “depois”, e daquele “durante” em que tudo o que deveria ter acontecido ficou suspenso. Ou foi realizado de modo muito diferente do que tinha sido planeado. Não será, porém, ainda o caso de Endless Rooms, dos australianos Rolling Blackouts Coastal Fever. Saiba-se, então, que, na manhã da sexta-feira 13 de Março de 2020, quando os três guitarristas – Joe White, Fran Keaney e Tom Russo –, o baixista Joe Russo e o baterista Marcel Tussie se preparavam entusiasmadamente para o concerto nas escadarias da Ópera de Sydney que, no dia seguinte, iriam partilhar com os seus heróis, os Pixies, tiveram conhecimento de que estes o haviam cancelado e abandonado a Austrália. Como em muitos outros países, o primeiro-ministro, Scott Morrison, proibira os ajuntamentos “não essenciais” de mais de 500 pessoas, a ter início na segunda-feira seguinte.

"The Way It Shatters"

Na noite da própria sexta-feira, pesaram prós e contras e acabaram por decidir que, no domingo, poucas horas antes de as restrições entrarem em vigor, dariam um último concerto gratuito no pub The Vic On The Park, em Marrickville. No passado, já lá haviam tocado para uma sala vazia. Desta vez, anunciaram uma lotação máxima de 250 pessoas… que seria, naturalmente, excedida. Como, mais tarde, Fran Keaney confessaria ao “New Musical Express”, “O que, na sexta-feira, nos tinha parecido bem, no domingo já não era exactamente igual. Não que nos sentíssemos irresponsáveis. Sentíamos apenas que não estava a ser uma celebração tipo ‘Uau!... É a véspera do dia em que vamos todos para os abrigos!’, um último ‘hurra!!!’, mas só uma sensação desalentada de ‘e, agora, vamos ter de ir todos para casa...’” (daqui; segue)