26 August 2022

IMPURÍSSIMO CHUVEIRO
Mesmo antes de ser repugnante, a defesa da suposta “pureza” de povos e culturas é absolutamente incompreensível. Seja pela via do nazi-fascismo "old-school" seja pelo seu simétrico contemporâneo que se encarniça contra a chamada “apropriação cultural” – isto é, contra toda a riquíssima história das culturas do planeta que sempre se contaminaram, cruzaram e mutuamente transformaram –, desses caldeirões de tribalismo, territorialidade e xenofobia apenas poderiam resultar monstruosidades endogâmicas geradas num "pool" genético empobrecido. Espreitando do outro lado da questão, tudo é, obviamente, diferente: o mundo é gloriosamente mestiço, bastardo e impuro e, para o que agora importa, Giant Palm, de Naima Bock, é, no que à música respeita, um dos seus mais vibrantes exemplos recentes. Nascida em Glastonbury de pai brasileiro e mãe grega, viveu a infância no Brasil e. no regresso ao Reino Unido, alistou-se nas Goat Girl, quarteto feminino de "art-punk" que, na véspera do dia em que assinaria contrato com a Rough Trade, assistiria enraivecido à vitória do Brexit (“I honestly do think that someone spiked their drinks, how can an entire country be so fucking thick? Hold tight to your pale ales, bite off your nationalist nails”, cantariam elas em "Scum"’, prefácio ao óptimo album de estreia de 2018). (daqui; segue para aqui)

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