28 February 2019



Laibach (daqui e daqui)

Moranbong Band
(España, mañana, será republicana!)

Restam, assim, a Barata (sufocada pela Leya) da Av. de Roma e a secção de revistas do Corte Inglés - mas nenhuma à altura da Tema (ou o processo de parolização em curso de Lisboa)

Diz que é uma espécie de Neto de Moura (em versão advogado)
 

27 February 2019

Orchestra of Spheres - "Bliss Raag"

... e ainda...

Não é novidade nenhuma mas sabe sempre bem ouvir dito em voz alta
 
"Podemos dizer que há uma regra não escrita que se verifica quase sempre neste livro: quanto mais homofóbico é um prelado, mais hipóteses existem de ser homossexual" (Frédéric Martel, No Armário do Vaticano)

"(O cardeal George Pell, culpado de cinco crimes de abuso sexual de dois menores) é também conhecido pela sua visão negativa sobre a homossexualidade. 'Acreditamos que tal actividade está errada e acreditamos que, pelo bem da sociedade, ela não deve ser estimulada', disse o cardeal em 1990. Oito anos depois, recusou dar a comunhão a membros do Rainbow Sash, um movimento de católicos gays que participava numa missa em Melbourne. (...) Ainda sobre a homossexualidade, o cardeal George Pell referiu ainda que 'a actividade homossexual é um perigo muito maior para a saúde do que o tabagismo'" (daqui)
VINTAGE (CDLXIV)

The Beatles - "For No One"

(ver aqui)

26 February 2019

Shirley Sofia de Bassey e Fava

VINTAGE (CDLXIII)

C Cat Trance - "Clawhammer Stomp"

BARROCO


A fórmula cunhada por Jerry Goldsmith – “what is ethnic is what Hollywood has made ethnic” – que, durante décadas, autorizou os compositores de bandas sonoras a puxarem da malinha de estereótipos prontos-a-usar sempre que se tratava de caracterizar musicalmente o “índio”, o “selvagem”, o “oriental”, o “africano”, foi também, naturalmente, aplicada às músicas “de época”: “medieval”, “renascentista” ou “barroco” seriam como cada autor de "film music" entendesse que deveriam ser, por mais ténue (ou nenhuma) que fosse a relação com as autênticas músicas da Idade Média, do Renascimento ou dos séculos XVII/XVIII. Um alaúde ou um cravo bastavam para criar a adequada atmosfera “antiga” e ninguém se deixaria estorvar por escrúpulos de rigor musicológico. Algo não muito diferente do que aconteceu por meados dos anos 60 do século passado, quando a pop, naquela era imediatamente antes, durante e logo após o psicadelismo, vivia ávida de temperos exóticos e pigmentos invulgares. 


O solo de cravo (na realidade, um piano com a velocidade de gravação modificada) de George Martin, em "In My Life", o quarteto de cordas de "Yesterday" (ambas de 1965), o clavicórdio e solo de trompa de "For No One" e o octeto de cordas de "Eleanor Rigby" (as duas de Revolver, 1966), dos Beatles, terão estado na origem do que viria a ser – desajeitadamente – designado por “Baroque Pop”. Não esquecer, no entanto, os Rolling Stones – "As Tears Go By" (1965, com orquestração de Mike Leander), "Play with Fire" e "Lady Jane" (1965 e 1966, com o cravo de Jack Nitzsche nas duas e o dulcimer de Brian Jones na segunda) –, o arranjo tudo menos barroco mas orquestral de "Walk Away Renee" (1966), dos Left Banke, e um robusto destacamento de obscuros outros que, agora, a Cherry Red, na "boxset" de 3 CD Come Join My Orchestra: The British Baroque Pop Sound 1967-73, ressuscita. Estava-se, então, razoavelmente aquém dos pesados maneirismos que iriam cristalizar no "prog-rock-clássico-sinfónico" (essa patética ambição tudo menos rock’n’roll de legitimação pela cultura "highbrow") mas, embora o conforto de salão tendesse a ser o cenário desejado, nestas cerca de 80 canções em que uma flauta pastoril ou um violoncelo melancólico eram suficientes para lhe atribuir a certificação “barroca” residia ainda um saudável desejo de experimentação "naïve". Ou, então, era apenas como Bob Stanley dizia: “Just add a harpsichord, a pot of tea, a ginger cat on the windowsill, and you've got the picture”.

25 February 2019

Qualquer coisinha de português (LXIX)

... e a senhora que tira os cafés no estúdio onde foi montado o filme também é bisneta de emigrantes minhotos no Kentucky
Quem é que merecia ser sovado por um batalhão de estivadores armados com mocas de pregos e ter os tímpanos (e o resto) rebentados a murro enquanto ia recitando uns versículos da Bíblia?
Ó D. Gonçalo Nuno Ary Portocarrero de Almada, Capelão Magistral da Assembleia Portuguesa da Ordem Soberana Militar de Malta mas também - e é isso que, agora, importa - Cerimoniário Eclesiástico da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém, não vai exigir já, já, já  um auto de fé para o Frédéric Martel que ousa escrever enormidades como "Segundo as informações de que disponho, recolhidas pelos meus investigadores numa dezena de países, um número significativo de 'lugar-tenentes', 'grandes oficiais' e 'chanceleres' da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém, nos países onde está representada, seriam [homossexuais] 'closeted' e 'praticantes', ao ponto de alguns gozarem com esta ordem, cuja hierarquia seria um 'exército de malucas a cavalo'. A presença de inúmeros homossexuais praticantes nas estruturas hierárquicas da Ordem não é segredo para ninguém - garante-me um grande oficial da Ordem, ele próprio abertamente homossexual"???...

21 February 2019

Uma sequência que começa a ser 
inquietantemente alucinatória
 

A "avaliação psicológica dos candidatos ao sacerdócio" - já aqui abordada e discutida - deverá também considerar o facto de os moços serem capazes de repetir, sem se rirem, a história do pipi da outra
(O 9º ANO A SEGUIR AO) ANO DO TIGRE (CXLIII)

 
não se percebe nada... mas, então, a ideia não era organizar um mega-exorcismo global para expulsar o mafarrico do corpo dos involuntários pecadores (e, já agora, dos tenebrosos inimigos da Vaticano S.A.)?...

19 February 2019

STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCXXVII)

Lisboa, Portugal, 2019





Darren Hayman - Woolley, Somerset (Thankful Villages/XXXIV)
... apesar de ser um direito atribuído apenas a "African American New Yorkers" convém não abrandar a vigilância sobre pérfidas apropriações culturais...

TRANSGRESSORES 


Baba Rossa, Mos Iocos, EtonalE, Woild Boin e Farmerboy (aliás, Daniel Beban, Nell Thomas, Erika Grant, Riki Gooch e Reece McNaughten). Clarinete baixo, "ektara" paquistanesa, viola de arco, "biscuit tin guitar", "saz" iraniano eléctrico, sitar, bandolim, fagote, "ruan" chinês, sintetizador, gamelãs, theremin, carrilhão baixo, sax, oboé, "sexomouse marimba" e bateria. Dois mestrados em etnomusicologia não levados muito a sério (ou, se calhar, totalmente a sério). Centro de operações em Wellington, Nova Zelândia, a partir da Frederick Street Sound and Light Exploration Society. Fontes de alimentação? Kuduro, "kwaito" e "shangaan-electro" sul-africanos, "zeuhl" (conceito criado por Christian Vander, dos Magma, que se referia à “memória cósmica que conserva todos os sons existentes nas profundezas do nosso espírito”), "mbalax" senegalês, Brian Eno, free jazz, tarraxo angolano, minimalismo, Fela Kuti, Frippertronics, Sun Ra, "krautrock". O que, segundo a própria Orchestra Of Spheres – designação mais ou menos pitagórica mas também homenagem a Thelonious Sphere Monk –, converter-se-á, após digestão, em especialidades esotéricas tais que "psychedelic primary school disco", "fire music", "kosmische quiche", "witch doctor haus", "orgasmic brain rave", "polynesian no wave prog", "inner brain clap". Ou, para simplificar, "ancient future funk".  


“São géneros inexistentes mas não absurdos”, justifica-se Nell Thomas, “é muito difícil categorizar o que fazemos sem sentir que estamos a diminui-lo”. É neste momento que começamos a recordar-nos de mais antigos transgressores de fronteiras identitárias – Saqqara Dogs (novaiorquinos com os pés no Magrebe e a cabeça no Mediterrâneo oriental), C Cat Trance (África e Médio Oriente transfigurados pela "club culture" londrina), ou a brigada Nation Records (Loop Guru, Fun-Da-Mental e os formidáveis Trans-Global Underground da judaica-árabe-belga-britânica Natacha Atlas, “the dirty underbelly of world fusion”). Após Nonagonic Now (2010), Vibration Animal Sex Brain Music (2013) e Brothers And Sisters Of The Black Lagoon (2016), agora, em Mirror, a Orchestra Of Spheres poderá, por vezes, soar aos Velvet Underground capturados pela raga indiana, outras vezes, fará pensar em caravanas tuaregues acossadas pelo Art Ensemble of Chicago ou mesmo nuns Talking Heads de macumba infiltados num filme de Ed Wood. Mas nunca, nunca a escutaremos sendo capazes de adivinhar o que, em cada momento, os compassos seguintes revelarão.

17 February 2019

Eu não digo?...
 
"O Vaticano tem uma comunidade homossexual que se conta entre as mais elevadas do mundo e duvido mesmo que no Castro de São Francisco, esse bairro gay tão emblemático, hoje em dia mais misturado, haja tantos homossexuais!" (do prólogo de No Armário do Vaticano, de Frédéric Martel, em pré-publicação da "Visão")
Vera Sola - "Honey and Peaches"

Alexandria Ocasio-Cortez exposes the problem of dark money in politics

STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCXXVI)

Lisboa, Portugal, 2019



VINTAGE (CDLXII)

Loop Guru - "Amrita"

15 February 2019

L'OSSERVATORE ROMANO (XLIII)

Aprender com os doutores da igreja (II)


"Outro problema, já levantado por Santo Agostinho (De Civitate Dei XII, 20), é o que aconteceria a um morto devorado por canibais. Para Agostinho, a carne que alimentou o canibal dissolveu-se, mas, como Deus omnipotente pode trazer de volta o que se desfez, ela será restituída ao indivíduo comido: foi tomada de empréstimo pelo canibal e deve ser devolvida àquele a quem pertencia. Seria absurdo pensar que, não obstante nenhum cabelo da cabeça possa ser desperdiçado, se poderiam perder tantos quilos de carne" (Umberto Eco, Aos Ombros de Gigantes)
VINTAGE (CDLXI)

Saqqara Dogs - "Across The Sky"

14 February 2019

Os Dauerling, coitadinhos, querem ter brinquedos novos ("É como ver uma ferida sangrar" é daquelas frases que comovem uma pedra)... vá lá, são só uns milhõezitos que não fazem falta nenhuma para a saúde, a educação...
Crass - Christ The Movie 
(real. Mick Duffield)

(ver aqui)
L'OSSERVATORE ROMANO (XLII)

Aprender com os doutores da igreja (I)


"Na quaestio 80 do Supplementum, São Tomás pergunta-se se os intestinos ressuscitarão, que são certamente órgãos do corpo humano, mas que não poderiam ressurgir cheios de imundície e muito menos vazios, pois a natureza tem horror ao vácuo. E o braço de um ladrão justamente amputado, caso ele depois se penitencie e se salve, poderá ser recuperado mesmo não tendo cooperado para a salvação do arrependido? Também não poderia ser eliminado, pois essa falta puniria alguém que passou a ser beato. Tomás responde que, assim como a obra de arte não seria perfeita se lhe faltasse algo que a arte exige, também é preciso que o homem ressurja perfeito e, portanto, é necessário que todos os membros realmente existentes no corpo sejam reconstituídos na ressurreição. 

Portanto, os intestinos ressurgirão cheios, não de ignóbeis dejectos, mas de nobres humores. E, quanto ao ladrão, embora o membro amputado não tenha cooperado para que o homem conquistasse a glória merecida posteriormente, ele merece ser premiado com todas as suas partes. 

Mas ressurgirão os cabelos e as unhas? Diz-se que são produtos, como o suor, a urina e os outros excrementos, do alimento supérfluo e que certamente não ressurgirão com o corpo. Mas o Senhor disse: 'Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça'. Os cabelos e as unhas foram dados ao homem como ornamentos. Ora, o corpo humano, especialmente o dos eleitos, deve ressurgir em toda a sua beleza. Deve, portanto, ressurgir com cabelos e unhas. 

Contudo, pelo contrário, os genitais não ressurgirão, visto que no paraíso 'nem eles se casarão, nem elas serão dadas em casamento', como não ressurgirá o esperma, que não serve à perfeição do indivíduo, como os cabelos, mas apenas à perfeição da espécie. Ou seja, no paraíso será possível fazer tranças, mas amor, não" (Umberto Eco, Aos Ombros de Gigantes)

12 February 2019

VINTAGE (CDLX)

Fairport Convention - "Dear Landlord" (B.Dylan)

O Capelão Magistral (e restantes funcionários da Vaticano S.A.) está ao corrente deste convite que o pasquim direitolas online coloca no rodapé de vários dos textos que publica?
  
"Se tiver uma história que queira partilhar ou informações que considere importantes sobre abusos sexuais na Igreja em Portugal, pode contactar o Observador de várias formas — com a certeza de que garantiremos o seu anonimato, se assim o pretender"

Será que já nem no covil dos direitolas há respeitinho por uma tão venerável multinacional da superstição?!!!...

Edit (18:55) - ... até porque, óbalhamedeus!...  
"são pouquíssimos"!...
DESORDENADAMENTE



“Anarco-punk”. Procure-se onde se procurar pelos Crass (“an English art collective and punk rock band formed in 1977 who promoted anarchism as a political ideology”, informa a Wikipedia) é impossível encontrá-los descritos de outra forma que não essa. E, no entanto, hoje, Penny Rimbaud (motor estético e político da banda), a pretexto da reedição iminente da totalidade da discografia dos Crass, não hesita em declarar à “Uncut”: “Usar símbolos anarquistas foi apenas uma forma de dizermos ‘Fuck off!’ à esquerda e à direita. Nenhum de nós tinha qualquer ligação ao pensamento anarquista. Desconhecíamos e continuamos a desconhecer a teoria anarquista, nunca nos interessámos por isso. A última coisa que teríamos desejado era ser vistos como líderes do movimento anarco-punk”. Em 1976, "Anarchy In The UK" poderá ter lançado fogo ao rastilho mas o que Rimbaud e Steve Ignorant (logo depois, também Eve Libertine, Gee Vaucher, Joy De Vivre e vários outros), na comuna Dial House, no Essex, construiam era uma ponte entre a contracultura dos anos 60 e o emergente punk sobre a qual se cruzavam desordenadamente, o situacionismo, os "beats", o dadaísmo, o zen, a "performance art", Baudelaire, os "angry young men", e o existencialismo, com banda sonora a condizer – um caldeirão das bruxas onde ferviam Benjamin Britten, free jazz, Beatles, John Cage, Bowie, Stockhausen, e os Clash. 



Durante 7 anos, até 1984 (quando a banda se extinguiu), da Dial House, saíram também panfletos, filmes, expedições de grafitagem dos túneis do metro com mensagens pacifistas (ou nem tanto), feministas, anti-religiosas, de apoio a "squats" ou à duríssima greve dos mineiros. A coroa de glória dos Crass seria, no entanto, a operação Thatchergate Tape: uma tosca montagem doméstica das vozes de Margaret Thatcher e Ronald Reagan (enviada para a imprensa durante a campanha eleitoral de 1983), na qual, em conversa telefónica fictícia, discutiam a guerra das Falklands e a possibilidade de a Europa ser um alvo para as armas nucleares num conflito entre os EUA e a União Soviética. O Departamento de Estado americano e o governo britânico morderam o isco, atribuiram a divulgação da cassete ao KGB e documentos classificados chegariam aos jornais até o logro ser, enfim, descoberto. “Se fosse hoje, seríamos presos”, diz Penny Rimbaud que, 30 e tal anos mais tarde, coloca toda a esperança e optimismo no poder de higienização mental que a ciência pode trazer: “É a nova poesia. Estou muitos passos atrás de Richard Dawkins”.

11 February 2019


The Delines - "The Imperial"

Is Big Tech Merging With Big Brother? Kinda Looks Like It


"A friend of mine, who runs a large television production company in the car-mad city of Los Angeles, recently noticed that his intern, an aspiring filmmaker from the People’s Republic of China, was walking to work. When he offered to arrange a swifter mode of transportation, she declined. When he asked why, she explained that she 'needed the steps' on her Fitbit to sign in to her social media accounts. If she fell below the right number of steps, it would lower her health and fitness rating, which is part of her social rating, which is monitored by the government. A low social rating could prevent her from working or traveling abroad. China’s social rating system, which was announced by the ruling Communist Party in 2014, will soon be a fact of life for many more Chinese.  

By 2020, if the Party’s plan holds, every footstep, keystroke, like, dislike, social media contact, and posting tracked by the state will affect one’s social rating. Personal 'creditworthiness' or 'trustworthiness' points will be used to reward and punish individuals and companies by granting or denying them access to public services like health care, travel, and employment, according to a plan released last year by the municipal government of Beijing. High-scoring individuals will find themselves in a 'green channel', where they can more easily access social opportunities, while those who take actions that are disapproved of by the state will be 'unable to move a step'" (texto integral aqui)
Radicais livres (LXXII)

Brandalism/Subvertising ("le détournement" XX)



05 February 2019

Ai, ai, ai que o menino foi um malandreco... vamos lá ver se não tenho de dizer isto outra vez...

PRIMEIRO DIA DO (9º ANO A SEGUIR AO) ANO DO TIGRE (CXLII)




É inegável que os grandes heróis da pátria não podiam ser mais fiéis aos valores tradicionais

ABRIR PORTAS E JANELAS 


“The New Europeran” é um semanário britânico lançado a 8 de Julho de 2016 em reacção ao referendo do Brexit. Dirigido aos “remainers” – os cidadãos do Reino Unido que votaram contra a saída da UE –, intitula-se, por esse motivo, "The New Pop-up Paper For The 48%". Fazendo figas para que essa percentagem possa crescer, aplica-se a divulgar traços da História e da identidade britânicas numa perspectiva de relação aberta com o exterior político e cultural. No número de 15 de Janeiro, trazia um texto de Sophia Deboick (I) sobre “1951: a year in music and the first rock‘n’roll single”. O pano de fundo é a Britânia do imediato pós-guerra, quando se celebrava o futuro – afinal, acabavam de abrir os primeiros supermercados e surgiam as "zebra crossings" (passagens de peões)!... – mas o passado estava ainda demasiado presente: o Festival of Britain, centrado na zona de Waterloo, em Londres (década e meia depois, Ray Davies recorreria à memória da visita que lá fizera com os pais para o cenário de "Waterloo Sunset"), imaginava-se moderno com um programa de Elgar, Vaughan Williams e Haendel e as tabelas de vendas eram dominadas por Frankie Laine, Nat King Cole, Tony Bennett e "crooners" afins. 



O mundo novo, porém, estava a bater à porta: em Abril, seria publicado "Rocket 88", de Jackie Brenston & His Delta Cats (na verdade, os Kings of Rhythm, de Ike Turner), gravado no Memphis Recording Service de Sam Phillips, que, no ano seguinte, se transformaria no quartel general da Sun Records. Uma coluna do amplificador da guitarra rasgada e atamancada com papel de embrulho numa canção que glorificava o Oldsmobile 88 enquanto infalível arma de engate (“V-8 motor and this modern design, my convertible top and the gals don't mind”) fariam de "Rocket 88" a canção mais frequentemente citada como protótipo do rock’n’roll e trampolim para a etapa seguinte que, via Beatles, Stones et alia, se desenrolaria em Inglaterra. No entanto, o título de “first rock‘n’roll single” que Deboick também lhe atribui está longe de ser unânime. A lista de candidatos – de "That’s All Right" (Arthur “Big Boy” Crudup, 1946) a "Good Rockin' Tonight" (Wynonie Harris, 1948), "Guitar Boogie" (Arthur Smith, 1948), "Saturday Night Fish Fry" (Louis Jordan & The Tympany Five, 1949), "Rock Awhile" (Goree Carter, 1949), "Rock This Joint" (Jimmy Preston & His Prestonians, 1949), "The Fat Man" (Fats Domino, 1950), ou "Hound Dog" (Big Mama Thorton, 1953) – é rica e extensa. Mas, seja qual for, uma coisa é certa: abrir portas e janelas refresca sempre o ar.
PRIMEIRO DIA DO (9º ANO A SEGUIR AO) ANO DO TIGRE (CXLI)

03 February 2019

VINTAGE (CDLIX)

 
(ver aqui)
"'Identity is a pain in the arse'" (Zadie Smith on political correctness): "If someone says to me: ‘A black girl would never say that’, I’m saying: ‘How can you possibly know?’ The problem with that argument is it assumes the possibility of total knowledge of humans. The only thing that identifies people in their entirety is their name: I’m a Zadie”

Vera Sola (II)