TRANSGRESSORES
Baba Rossa, Mos Iocos, EtonalE, Woild Boin e Farmerboy (aliás, Daniel Beban, Nell Thomas, Erika Grant, Riki Gooch e Reece McNaughten). Clarinete baixo, "ektara" paquistanesa, viola de arco, "biscuit tin guitar", "saz" iraniano eléctrico, sitar, bandolim, fagote, "ruan" chinês, sintetizador, gamelãs, theremin, carrilhão baixo, sax, oboé, "sexomouse marimba" e bateria. Dois mestrados em etnomusicologia não levados muito a sério (ou, se calhar, totalmente a sério). Centro de operações em Wellington, Nova Zelândia, a partir da Frederick Street Sound and Light Exploration Society. Fontes de alimentação? Kuduro, "kwaito" e "shangaan-electro" sul-africanos, "zeuhl" (conceito criado por Christian Vander, dos Magma, que se referia à “memória cósmica que conserva todos os sons existentes nas profundezas do nosso espírito”), "mbalax" senegalês, Brian Eno, free jazz, tarraxo angolano, minimalismo, Fela Kuti, Frippertronics, Sun Ra, "krautrock". O que, segundo a própria Orchestra Of Spheres – designação mais ou menos pitagórica mas também homenagem a Thelonious Sphere Monk –, converter-se-á, após digestão, em especialidades esotéricas tais que "psychedelic primary school disco", "fire music", "kosmische quiche", "witch doctor haus", "orgasmic brain rave", "polynesian no wave prog", "inner brain clap". Ou, para simplificar, "ancient future funk".
“São géneros inexistentes mas não absurdos”, justifica-se Nell Thomas, “é muito difícil categorizar o que fazemos sem sentir que estamos a diminui-lo”. É neste momento que começamos a recordar-nos de mais antigos transgressores de fronteiras identitárias – Saqqara Dogs (novaiorquinos com os pés no Magrebe e a cabeça no Mediterrâneo oriental), C Cat Trance (África e Médio Oriente transfigurados pela "club culture" londrina), ou a brigada Nation Records (Loop Guru, Fun-Da-Mental e os formidáveis Trans-Global Underground da judaica-árabe-belga-britânica Natacha Atlas, “the dirty underbelly of world fusion”). Após Nonagonic Now (2010), Vibration Animal Sex Brain Music (2013) e Brothers And Sisters Of The Black Lagoon (2016), agora, em Mirror, a Orchestra Of Spheres poderá, por vezes, soar aos Velvet Underground capturados pela raga indiana, outras vezes, fará pensar em caravanas tuaregues acossadas pelo Art Ensemble of Chicago ou mesmo nuns Talking Heads de macumba infiltados num filme de Ed Wood. Mas nunca, nunca a escutaremos sendo capazes de adivinhar o que, em cada momento, os compassos seguintes revelarão.
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