Adam and Eve - Albrecht Dürer (1504)
A propósito desta eructação na caixa de comentários:
Nada devia ter acontecido assim, tudo seria convenientemente planeado. Através da prima de um amigo que é cunhado da mãe de um conhecido que, nas autárquicas de 2005, votou no Bloco - por acaso, as mesmas autárquicas em que votei na Maria José Nogueira Pinto para a CML -, consegui marcar um encontro com o Robles num café da Av. de Roma. Com betos, de esquerda ou de direita, tem de ser na Av. de Roma. E expliquei-lhe que, indo eu, indo eu, a caminho de Viseu (na verdade, não ia a caminho de Viseu - a direcção era a oposta - e, de modo multiculturalmente correcto, articulei "hindu eu, hindu eu"), se a notícia do episódio de "empreendedorismo imobiliário" saísse (porque "I know people who know people") depois de eu cortar amarras com a blogocoisa durante algumas semanas, iria ter de aturar gambuzinos a dizer "Livraste-te de boa... O episódio Robles no ar e tu de férias...". Missão impossível. O moço olhou-me com aqueles olhos azuis que despertam a costela gay que há em mim e contou que a familia, o filho pequenino (confirmei através de pessoa próxima que é um amor de menino), valores muito além da baixa realidade terrena & coiso o tinham levado a fazer o que fizera e, quanto mais tarde a notícia aparecesse, melhor. O coração tem razões que a ideologia desconhece e quem nunca tiver errado que atire a primeira pedra. Vacilei. E, tratando-se de edifício mesmo em frente ao Museu do do Fado, compreendi que só poderia ter a ver com os insondáveis desígnios do destino. Ou com o pecado original sobre o qual o Stephen Greenblatt (que estava a acabar de ler) discorre. Ninguém - diz o gudebuque - é inocente. Mais pulha ou só um bocadinho pulha, todos fazemos merda. Excepto o PCP e o Fazenda, do Bloco. O Robles tinha feito merda e da grossa. Mas deveria eu optar por continuar "gambuzino free" perante um tão comovente caso humano? Paguei-lhe a bica e retomei o percurso "hindu eu, hindu eu".