HOHI, HOHO, BANG, BANG
“Declaro que Tristan Tzara encontrou a palavra Dada no dia 8 de Fevereiro de 1916 às 6 horas da tarde; eu estava presente com os meus doze filhos quando Tzara pronunciou pela primeira vez essa palavra que desencadeou em nós um entusiasmo legítimo. Passou-se isso no Café Terrasse em Zurique, e eu trazia um brioche na narina esquerda. Estou convencido que esta palavra não tem nenhuma importância e que só imbecis ou professores espanhóis se interessam por datas”, garantia Hans Arp. Mas foi em Julho desse ano que Hugo Ball subiu ao palco do Cabaret Voltaire (perto do qual, vivia Lenine, alegado frequentador do clube), e leu o Manifesto Dada: “Dada guerra mundial sem fim, dada revolução sem princípio, amigos e auto-intitulados poetas, estimados cavalheiros, fabricantes e evangelistas. Dada Tzara, dada Huelsenbeck, dada m'dada, dada m'dada dada mhm, dada dera dada, dada Hue, dada Tza. (...) Como nos livrarmos de tudo o que fede a jornalês, a vermes, tudo o que é bonitinho e limpinho, preconceituoso, moralista, europeizado, debilitado? (...) A palavra, a palavra, a palavra fora do vosso domínio, da vossa pestilência, da vossa ridícula impotência, da vossa siderante auto-satisfação. A palavra, cavalheiros, é um assunto público de primeira importância”.
Exactamente a meio dos quatro anos de horror da guerra, Dada definia o seu lugar (“Dada permanece no quadro europeu das fraquezas, não deixa de ser merda também, mas, de agora em diante, desejamos cagar em cores diferentes para ornamentar o jardim zoológico da arte de todas as bandeiras dos consulados. Somos directores de circo e assobiamos por entre os ventos das feiras, conventos, bordéis, teatros, realidades, sentimentos, restaurantes, hohi, hoho, bang, bang”), fazia anti-teoria anti-política ("Poder-se-ia construir uma máquina de fazer política, com um veio excêntrico automodificável, e assim substituir com vantagem o centro governamental; sendo uma espécie de maquiavel automático, essa máquina cuidaria da vida pública de um país com uma precisão impressionante, proveria a todas as combinações necessárias à respectiva saúde e impediria a sua senilidade”) e, de caminho, inventava o mundo moderno nas colagens, "cut-ups", "readymades", fotomontagens, "assemblages" e "sound poetry". Identificando-o como primeiro elo da “história secreta do século XX” que desembocaria no punk, Greil Marcus escreveu: “Dada foi uma profecia mas não fazia nenhuma ideia do que profetizava e a sua força era não querer saber disso para nada”.
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