PROCESSO PIRATE BAY (XIII)
"The Pirate Bay has just released their manifesto in English. The book, titled ‘POwr, Broccoli and Kopimi’ is filled with 100 inspiring principles for everyone who aims to live the Kopimi lifestyle. 'The Internet is right' is the ultimate wisdom" (TorrentFreak)
"In the shadow of the culture industry's final crisis of the 20th-century, grows a larger portrait of the POwr, broccoli and Kopimi. Each step of the culture industry's failures is followed by the uncanny successes of the structurally diffused spread of an Internet elite, spread worldwide. The book you're about to read has no author, no designer, no translators, no distribution channel. Nevertheless, you have it in front of you. How did it happen? Read the frightening instructions of a loosely coherent core of IT specialists grafted into an unsuspecting generation of youths, and how the group stole the eggs, dollars and jpegs in front of the powerless establishment and strong financial interests. Learn how servers, seeders, trackers, e-mail, company formation, foreign investors, Ikko's weekly allowance, scandalous advertisements, links and search services, infiltrated and destroyed an entire world that had nowhere to run, no one to consult, and no one to trust... The machine, which operates under the radar frequency is unhindered from the Cambodian jungle to the gay neighborhoods of San Francisco, via the empty beaches of Tel-Aviv, and into the Internet of plain folks in Jönköping suburbs and Gothenburg harbor. It leaves no one unmoved and mangles everything it in its path. Technically superior and physically independent it's constantly transformed, mutated and reappears in new guises and under new codenames. With a stranglehold on its opponents it's completely untouched and even more - incomprehensible. It has rightly been said that this is the first time Kopimi has freed the world and we can be sure that it's not the last".
(2009)
28 February 2009
27 February 2009
THE FICTITIOUS WOMAN
"After Courbet, L´origine du Monde" - Tanja Ostojic, 2005
"If the image of a woman's body can be seen as a political statement when it comes to the EU presidency, then what about the reality of south-eastern European women who in the year 2006 are still being sold as commodities in the EU? Over here the fictitious woman lies in an apparently lascivious pose in the picture, and over there the real woman stands on the corner or is confined to a brothel. It is a paradoxical image".
(2009)
VIGÉSIMO QUINTO COMUNICADO DO C.A.L.A.
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)
Acidentes? Despedimentos? Crise? Ponham os olhos nos "funcionários cemiteriais" que, numa atitude admiravelmente positiva, gostam do que fazem e estão certos que clientes nunca lhes hão-de faltar. Boas notícias. Portanto.
"Entre as notícias dramáticas de acidentes, mais os despedimentos, mais a radiografia diariamente revista e ampliada da crise, houve uma pequena reportagem na televisão esta semana que me prendeu a atenção. Trata-se de uma iniciativa inédita entre nós: grupos de coveiros em cursos de formação para aprenderem novos gestos, outras maneiras e uma atitude mais adequada às funções dos funcionários cemiteriais. (...) É bom saber que existe esta nova classe de funcionários cemiteriais e que estes homens investem na sua profissão, actualizando métodos e conhecimentos. A única estatística infalível é a da morte e, por isso, estes são os raros profissionais que escapam à crise. Assim sendo, importa perceber que gostam do que fazem e até apostam em fazê-lo melhor. Boas notícias, portanto".
(nota de reportagem saborosa: "[para o "Independente"] fiz algumas entrevistas aos funcionários e aquilo que mais me impressionou foi a naturalidade com que um deles me contou um detalhezinho da sua profissão. "Sabe o melhor que me pode acontecer?", "Não". "É as senhoras virem a enterrar vestidas de collants. É que passados os anos de vir desenterrar, basta pegar nos collants e dar um nó que os ossos estão lá todos. Só aí já está metade do trabalho feito". - "Público")
texto de apoio complementar
(2009)
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)
Acidentes? Despedimentos? Crise? Ponham os olhos nos "funcionários cemiteriais" que, numa atitude admiravelmente positiva, gostam do que fazem e estão certos que clientes nunca lhes hão-de faltar. Boas notícias. Portanto.
"Entre as notícias dramáticas de acidentes, mais os despedimentos, mais a radiografia diariamente revista e ampliada da crise, houve uma pequena reportagem na televisão esta semana que me prendeu a atenção. Trata-se de uma iniciativa inédita entre nós: grupos de coveiros em cursos de formação para aprenderem novos gestos, outras maneiras e uma atitude mais adequada às funções dos funcionários cemiteriais. (...) É bom saber que existe esta nova classe de funcionários cemiteriais e que estes homens investem na sua profissão, actualizando métodos e conhecimentos. A única estatística infalível é a da morte e, por isso, estes são os raros profissionais que escapam à crise. Assim sendo, importa perceber que gostam do que fazem e até apostam em fazê-lo melhor. Boas notícias, portanto".
(nota de reportagem saborosa: "[para o "Independente"] fiz algumas entrevistas aos funcionários e aquilo que mais me impressionou foi a naturalidade com que um deles me contou um detalhezinho da sua profissão. "Sabe o melhor que me pode acontecer?", "Não". "É as senhoras virem a enterrar vestidas de collants. É que passados os anos de vir desenterrar, basta pegar nos collants e dar um nó que os ossos estão lá todos. Só aí já está metade do trabalho feito". - "Público")
texto de apoio complementar
(2009)
26 February 2009
GRANDES VULTOS NACIONAIS (IV)
Margarida Moreira
De há muito que se justifica a compilação e edição das obras escolhidas.
(2009)
Margarida Moreira
De há muito que se justifica a compilação e edição das obras escolhidas.
(2009)
O SUPREMO DESÍGNIO DA PÁTRIA PARA 2009 ESTÁ CUMPRIDO:
O PRIMEIRO-CÃO DOS E.U.A. É UM LUSODESCENDENTE!!!...
A Pátria representada ao mais alto nível
na Administração norte-americana
Olharemos de alto a alegada crise. Não pestanejaremos perante o suposto desemprego. Riremos da economia imaginariamente albanesa. O terceiro vértice do triângulo de ouro redentor acaba de ser desenhado! Para que tudo seja perfeito, há que iniciar, de imediato, a segunda fase do lobbying: que o portie se chame MAGALHÃES (vá, MAGELLAN)!!!
"The whole world, it seems, wants to know: What kind of dog are the Obamas getting and, for goodness sake, when? Speaking to PEOPLE at the White House recently, Michelle Obama leaned in and confided: 'You're getting some scoops here'. So, when? In April, Mrs. Obama says – after she and the President take daughters Malia, 10, and Sasha, 7, on a vacation for spring break. Here's a sample of a typical family conversation on the matter: So Sasha says, 'April 1st'. I said, 'April'. She says, 'April 1st'- It's, like, April!, Mrs. Obama recalls. 'Got to do it after spring break. You can't get a new dog and then go away for a week'.
And what kind of dog will soon be frolicking on the South Lawn? Mrs. Obama says she thinks she is going to look for a rescue PORTUGUESE WATER DOG who is 'old enough' and a 'match' for the family dynamic. 'Temperamentally they're supposed to be pretty good', she says of the breed that Sen. Ted Kennedy has also lobbied for (he has two Water dogs of his own). 'From the size perspective, they're sort of middle of the road – it's not small, but it's not a huge dog. And the folks that we know who own them have raved about them. So that's where we're leaning'". (aqui)
(2009)
O PRIMEIRO-CÃO DOS E.U.A. É UM LUSODESCENDENTE!!!...
A Pátria representada ao mais alto nível
na Administração norte-americana
Olharemos de alto a alegada crise. Não pestanejaremos perante o suposto desemprego. Riremos da economia imaginariamente albanesa. O terceiro vértice do triângulo de ouro redentor acaba de ser desenhado! Para que tudo seja perfeito, há que iniciar, de imediato, a segunda fase do lobbying: que o portie se chame MAGALHÃES (vá, MAGELLAN)!!!
"The whole world, it seems, wants to know: What kind of dog are the Obamas getting and, for goodness sake, when? Speaking to PEOPLE at the White House recently, Michelle Obama leaned in and confided: 'You're getting some scoops here'. So, when? In April, Mrs. Obama says – after she and the President take daughters Malia, 10, and Sasha, 7, on a vacation for spring break. Here's a sample of a typical family conversation on the matter: So Sasha says, 'April 1st'. I said, 'April'. She says, 'April 1st'- It's, like, April!, Mrs. Obama recalls. 'Got to do it after spring break. You can't get a new dog and then go away for a week'.
And what kind of dog will soon be frolicking on the South Lawn? Mrs. Obama says she thinks she is going to look for a rescue PORTUGUESE WATER DOG who is 'old enough' and a 'match' for the family dynamic. 'Temperamentally they're supposed to be pretty good', she says of the breed that Sen. Ted Kennedy has also lobbied for (he has two Water dogs of his own). 'From the size perspective, they're sort of middle of the road – it's not small, but it's not a huge dog. And the folks that we know who own them have raved about them. So that's where we're leaning'". (aqui)
(2009)
25 February 2009
WHAT WILL CHANGE EVERYTHING?
"What game-changing scientific ideas and developments do you expect to live to see?"
Anton Zeilinger
THE BREAKDOWN OF ALL COMPUTERS
Anton Zeilinger
(University of Vienna and Scientific Director, Institute of Quantum Optics and Quantum Information, Austrian Academy of Sciences)
Some day all semiconductors will break down and therefore all computers as, besides historic instruments, no computers exist today which are not based on semiconductor technology. The breakdown will be caused by a giant electromagnetic pulse (EMP) created by a nuclear explosion outside Earth's athmosphere. It will cover large areas on Earth up to the size of a continent. Where it will happen is unpredictable. But it will happen since it is extremely unlikely that we will be able to get rid of all nuclear weapons and the probabilty for it to happen at any given time will never be zero.
The implications of such an event will be enormous. If it happens to one of our technology based societies literally everything will break down. You will realize that none your phones does work. There is no way to find out via the internet what happened. Your car will not start anymore as it is also controlled by computer chips, unless you are lucky to own an antique car. Your local supermarket is unable to get new supplies.There will be no trucks operating anymore, no trains, no elctricity, no water supplies. Society will completely break down.
Edward Hopper - "Eleven a.m.", 1926
There will be small exceptions in those countries where military equipment has been hardened against EMPs making the army available for emergency relief. In some countries even some emergency civilian infrastructure has been hardened against EMPs. But these are exceptions as most governments simply ignore that danger.
(2009)
24 February 2009
DIZ TIAGO GUILLUL:
"Bacchanalia" - Auguste Levêque, 1866-1921
"Ainda Teixeira de Pascoaes, em São Paulo
'A bela Tarso, com palácios, escolas, teatros, fóruns e o seu deus tutelar, Sardanapalo; o deus da orgia, vestido de mulher. Lia-se, no seu pedestal, esta inscrição: Bebe, come e goza. O resto não é nada'. *
Dawkins, os autocarros britânicos, the whole lot... Na pasmaceira pagã mais antiguinha do mundo".
Não queria ser desagradável, mas parece-me um programa de vida francamente sensato e recomendável. Em versão pequeno-burguesa liofilizada e simplificada (a imprecação "moral" final ajuda a contextualizar melhor...), chegou-nos assim:
É só recuperar o espírito original da coisa na era de Sardanapalo. Ou de Rumi.
(2009)
ONWARD CHRISTIAN SOLDIERS!
Lisboa, Portugal, 2009
Onward, Christian soldiers, marching as to war,
with the cross of Jesus going on before.
Christ, the royal Master, leads against the foe;
forward into battle see his banners go!
Refrain: Onward, Christian soldiers, marching as to war,
with the cross of Jesus going on before.
At the sign of triumph Satan's host doth flee;
on then, Christian soldiers, on to victory!
Hell's foundations quiver at the shout of praise;
brothers, lift your voices, loud your anthems raise.
(Refrain)
Like a mighty army moves the church of God;
brothers, we are treading where the saints have trod.
We are not divided, all one body we,
one in hope and doctrine, one in charity.
(Refrain)
Crowns and thrones may perish, kingdoms rise and wane,
but the church of Jesus constant will remain.
Gates of hell can never against that church prevail;
we have Christ's own promise, and that cannot fail.
(Refrain)
Onward then, ye people, join our happy throng,
blend with ours your voices in the triumph song.
Glory, laud, and honor unto Christ the King,
this through countless ages men and angels sing.
(Refrain)
(2009)
Lisboa, Portugal, 2009
Onward, Christian soldiers, marching as to war,
with the cross of Jesus going on before.
Christ, the royal Master, leads against the foe;
forward into battle see his banners go!
Refrain: Onward, Christian soldiers, marching as to war,
with the cross of Jesus going on before.
At the sign of triumph Satan's host doth flee;
on then, Christian soldiers, on to victory!
Hell's foundations quiver at the shout of praise;
brothers, lift your voices, loud your anthems raise.
(Refrain)
Like a mighty army moves the church of God;
brothers, we are treading where the saints have trod.
We are not divided, all one body we,
one in hope and doctrine, one in charity.
(Refrain)
Crowns and thrones may perish, kingdoms rise and wane,
but the church of Jesus constant will remain.
Gates of hell can never against that church prevail;
we have Christ's own promise, and that cannot fail.
(Refrain)
Onward then, ye people, join our happy throng,
blend with ours your voices in the triumph song.
Glory, laud, and honor unto Christ the King,
this through countless ages men and angels sing.
(Refrain)
(2009)
VIGÉSIMO QUARTO COMUNICADO DO C.A.L.A.
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)
As forças da reacção niilista (repetindo os métodos utilizados com o Presidente da Ucrânia, Viktor Yushenko) conspiram contra a candidata Laurinda - mas, no final, o Bem triunfará sobre o down físico!
"Depois de dois dias estendida neste sofá a olhar para o tecto voltei à vida. Tive qualquer coisa entre a intoxicação alimentar e um down físico enorme que me fez ficar sem um pingo de energia e obrigou-me a ficar 'de cama' nestes primeiros dias destas mini-férias. Muito chato. Hoje estou finalmente melhor! Espero finalmente poder aproveitar a companhia dos amigos e este lugar maravilhoso onde eles moram e é um paraíso..." (aqui)
(2009)
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)
As forças da reacção niilista (repetindo os métodos utilizados com o Presidente da Ucrânia, Viktor Yushenko) conspiram contra a candidata Laurinda - mas, no final, o Bem triunfará sobre o down físico!
"Depois de dois dias estendida neste sofá a olhar para o tecto voltei à vida. Tive qualquer coisa entre a intoxicação alimentar e um down físico enorme que me fez ficar sem um pingo de energia e obrigou-me a ficar 'de cama' nestes primeiros dias destas mini-férias. Muito chato. Hoje estou finalmente melhor! Espero finalmente poder aproveitar a companhia dos amigos e este lugar maravilhoso onde eles moram e é um paraíso..." (aqui)
(2009)
MAS NÃO HÁ UMA CADEIRA DE HISTÓRIA DA ARTE
NO CURRÍCULO DA ACADEMIA DA BÓFIA?
"L'Origine du Monde" - Courbet
PSP apreende livros por considerar pornográfica capa com quadro de Courbet
A PSP de Braga apreendeu hoje numa feira de livros de saldo alguns exemplares de um livro sobre pintura. A polícia considerou que o quadro do pintor Gustave Courbet, reproduzido nas capas dos exemplares, era pornográfico, adiantou uma fonte da empresa livreira. António Lopes disse que os três agentes policiais elaboraram um auto no qual afirmam terem apreendido os livros por terem imagens pornográficas expostas publicamente. O quadro do pintor oitocentista - tido como fundador do realismo em pintura - expõe as coxas e o sexo de uma mulher, sendo, por isso, a sua obra mais conhecida. Pintado em 1866, está exposto no Museu D'Orsay em Paris. António Lopes manifestou-se "indignado" com a atitude da PSP: "isto é uma vergonha, um atentado à liberdade", afirmou. O empresário é um dos sócios da distribuidora 'Inovação à Leitura', de Braga, organizadora da Feira do Livro em Saldo e Últimas Edições, que está a decorrer, até ao dia 8 de Março, na Praça da República - vulgo Arcada - no centro de Braga. (aqui)
... tenho uma vaga ideia de que, no Chile, depois da pinochetada, a bófia apreendia álbuns de pintura cubista porque, naturalmente, eram provenientes de Cuba... já agora, será que o Courbet, neste post (vão verificar: trata-se de reincidência... e dupla!), dá direito a biombo moralmente higiénico?
(2009)
23 February 2009
MELHOR É POSSÍVEL
"Dizer que O Segredo é um manual de pensamento positivo é um eufemismo: O Segredo é a tese filosófica mais ousada desde a 'vontade de poder' de Nietzsche. E com vantagem no campo da eufonia. (...) O importante é a confiança: 'Comece já a gritar para o Universo: A vida é tão fácil! A vida é tão boa! Todas as coisas boas vêm a mim!'. Convém é que gritem antes das dez da noite ou arranjam chatices com os condóminos. (...) O guru Bob Proctor cujo nome remete para uma especialidade médica desgostante, afiança: 'Se consegue ver uma coisa na mente, consegue tê-la na palma da mão'. Mas isso qualquer adolescente sabe". ("Nietzsche para estúpidos", Pedro Mexia, Ler/Livros & Leituras, Fevereiro 2009)
(2009)
"Dizer que O Segredo é um manual de pensamento positivo é um eufemismo: O Segredo é a tese filosófica mais ousada desde a 'vontade de poder' de Nietzsche. E com vantagem no campo da eufonia. (...) O importante é a confiança: 'Comece já a gritar para o Universo: A vida é tão fácil! A vida é tão boa! Todas as coisas boas vêm a mim!'. Convém é que gritem antes das dez da noite ou arranjam chatices com os condóminos. (...) O guru Bob Proctor cujo nome remete para uma especialidade médica desgostante, afiança: 'Se consegue ver uma coisa na mente, consegue tê-la na palma da mão'. Mas isso qualquer adolescente sabe". ("Nietzsche para estúpidos", Pedro Mexia, Ler/Livros & Leituras, Fevereiro 2009)
(2009)
ESMAGADO POR UMA VISÃO
Van Morrison - Astral Weeks Live At the Hollywood Bowl
Escrevendo dez anos depois acerca do seu encontro, no Outono de 1968, com Astral Weeks, de Van Morrison, Lester Bangs, no segundo capítulo de Psychotic Reactions & Carburetor Dung, recordava como, para “o destroço físico e mental” que ele, então, era, esse álbum fora “um farol, uma luz por entre a neblina de costas longínquas, mais do que isso, a prova de que restava algo possível de se exprimir através da arte para além do niilismo e da destruição” e qualifica-o como “o disco de maior significado em toda a minha vida”. Para um ilustre ícone de outro(s) culto(s) – Steven Van Zandt, guitarrista da E Street Band, de Bruce Springsteen, e/ou Silvio Dante, consigliere de Tony Soprano –, a devoção não é menor: “Para nós, Astral Weeks era uma religião”.
Elvis Costello junta a voz ao coro de oficiantes e confessa que esse “continua a ser o álbum de rock mais audacioso de sempre – desde aí, nenhum outro ousou ir tão longe” e, a encerrar provisoriamente o índice de laudas (não seria difícil ampliá-lo indefinidamente), numa entrevista de 2006, Greil Marcus revelava que, em conversa, Martin Scorsese lhe havia confiado que toda a primeira metade de Taxi Driver fora baseada em Astral Weeks. Objectivando estatisticamente um pouco melhor, deverá acrescentar-se que, em inúmeras listas dos “melhores de sempre” – da “Rolling Stone” à “Mojo” e todas as outras que os arquivos da Net abrigam –, Astral Weeks é residente obrigatório e, já agora, que lhe foram necessários trinta e três anos de permanência nos expositores das lojas para que, finalmente, em 2001, atingisse o galardão de “disco de ouro”.
Gravado em três sessões – entre 25 de Setembro e 15 de Outubro de 1968 –, a Astral Weeks colaram-se lendas várias. Falsas, como o boato posto a correr por John Cale (ocupante do estúdio ao lado) que, ao contrário da narrativa oficial, garantia que, porque Van Morrison “era incapaz de trabalhar com quem quer que fosse”, tinha registado guitarra e voz sozinho e todas as restantes partes instrumentais haviam sido overdubbed posteriormente. Verdadeiras, como o facto de não haver dúvidas de que, aos vinte e três anos, o ex-vocalista dos Them, sem um tostão e no meio de um turbilhão de sarilhos contratuais, se fez rodear de um grupo de músicos com currículo ao lado de Eric Dolphy (o contrabaixista Richard Davis), Charles Mingus (o guitarrista Jay Berliner) ou no Modern Jazz Quartet (o baterista Connie Kay), para enorme perplexidade de todos eles, sem sequer se ter devidamente apresentado nem lhes ter fornecido a mais vaga indicação musical, se limitou a dizer-lhes que “tocassem como lhes apetecesse” e, nesse improvável tubo de ensaio, gerou uma indiscutível obra-prima de poesia impressionista e improvisação colectiva verdadeiramente sobrenatural sem antecedentes identificáveis e cuja descendência capaz de não ser arrasada pela comparação se reduzirá a uma ou duas equiparáveis alucinações de Tim Buckley.
Quatro décadas e uma extensa e maioritariamente excelente discografia mais tarde, porém, Astral Weeks nunca havia sido integralmente interpretado ao vivo. Aconteceu em Novembro passado, no Hollywood Bowl (a única testemunha sobrevivente e participante do milagre original era Berliner), e, se o teletransporte até aos momentos e ao lugar que deram origem ao álbum era, naturalmente, impossível, o que ficou documentado neste CD (e em próximo DVD) é, talvez, a mais fiel aproximação hoje viável desses instantes de “estupefacção perante a vida, completamente esmagados, encurralados na própria pele, paralisados pela enormidade do que, numa visão de um segundo, se consegue apreender” (Lester Bangs).
(2009)
22 February 2009
DIVIDED STATES OF AMERICA
On the day Barack Obama was elected the 44th President, more than 58 million voters cast their ballots for John McCain. In the months leading up to this historic election, filmmaker Alexandra Pelosi (HBO's Emmy®-winning Journeys with George) took a road trip to meet some of the conservative Americans who waited in line for hours to support the GOP ticket, and saw their hopes and dreams evaporate in the wake of that Democratic victory. These voters share their feelings about the changing America in which they live.
"In 2008, I followed the McCain campaign across the country to listen to Americans who did not want Barack Obama to be their President. While not representative of the entire Republican Party, these are just some of the party faithful who turned out at campaign rallies along the way" - Alexandra Pelosi
For her fifth HBO project, Pelosi visited 28 states and spoke about the fight for the soul of the country with mostly conservative Americans, who feel underrepresented by the mainstream media. From the Pulpit Freedom Day in Bethlehem, Ga. to the NASCAR circuit, RIGHT AMERICA: FEELING WRONGED - SOME VOICES FROM THE CAMPAIGN TRAIL shows a country at war with itself over the religious and cultural identities that define America. Many interviewees were particularly incensed by what they saw as a lack of any meaningful media attention given to their message during the election campaign - including their views on such hotly contested issues as gun control, abortion rights, religion and gay rights - and by a perceived media bias against McCain and running mate Sarah Palin. 'The way the press handles the election, we feel like our side's never being really represented, never really given a fair shake', says one man. 'It's almost like they think of us as a bunch of hicks, a bunch of idiots. And they don't even wanna hear our side or understand us'.
'The liberal media is selling the American people short', observes one woman. 'That's ridiculous and people should be outraged. And millions and millions of us are'. 'We're the backbone of this country', says another man. 'We're hardworkin,' blue- collared workers that keep this country runnin. He [Obama] talks like he knows us; he doesn't know us'.
RIGHT AMERICA: FEELING WRONGED - SOME VOICES FROM THE CAMPAIGN TRAIL is a snapshot of some of the most enthusiastic conservative Americans, once labeled 'the silent majority' of the voting American public. Many of them feel so alienated over cultural and political issues that they say they will never trust the new president, the Congress or the media. (daqui, descoberto aqui)
(2009)
On the day Barack Obama was elected the 44th President, more than 58 million voters cast their ballots for John McCain. In the months leading up to this historic election, filmmaker Alexandra Pelosi (HBO's Emmy®-winning Journeys with George) took a road trip to meet some of the conservative Americans who waited in line for hours to support the GOP ticket, and saw their hopes and dreams evaporate in the wake of that Democratic victory. These voters share their feelings about the changing America in which they live.
"In 2008, I followed the McCain campaign across the country to listen to Americans who did not want Barack Obama to be their President. While not representative of the entire Republican Party, these are just some of the party faithful who turned out at campaign rallies along the way" - Alexandra Pelosi
For her fifth HBO project, Pelosi visited 28 states and spoke about the fight for the soul of the country with mostly conservative Americans, who feel underrepresented by the mainstream media. From the Pulpit Freedom Day in Bethlehem, Ga. to the NASCAR circuit, RIGHT AMERICA: FEELING WRONGED - SOME VOICES FROM THE CAMPAIGN TRAIL shows a country at war with itself over the religious and cultural identities that define America. Many interviewees were particularly incensed by what they saw as a lack of any meaningful media attention given to their message during the election campaign - including their views on such hotly contested issues as gun control, abortion rights, religion and gay rights - and by a perceived media bias against McCain and running mate Sarah Palin. 'The way the press handles the election, we feel like our side's never being really represented, never really given a fair shake', says one man. 'It's almost like they think of us as a bunch of hicks, a bunch of idiots. And they don't even wanna hear our side or understand us'.
'The liberal media is selling the American people short', observes one woman. 'That's ridiculous and people should be outraged. And millions and millions of us are'. 'We're the backbone of this country', says another man. 'We're hardworkin,' blue- collared workers that keep this country runnin. He [Obama] talks like he knows us; he doesn't know us'.
RIGHT AMERICA: FEELING WRONGED - SOME VOICES FROM THE CAMPAIGN TRAIL is a snapshot of some of the most enthusiastic conservative Americans, once labeled 'the silent majority' of the voting American public. Many of them feel so alienated over cultural and political issues that they say they will never trust the new president, the Congress or the media. (daqui, descoberto aqui)
(2009)
A REGRA DOS MEIOS ÁLBUNS
Morrissey - Years Of Refusal
Existe um elevado risco de que Years Of Refusal e o correspondente primeiro single "I'm Throwing My Arms Around Paris" entrem mais rapidamente para a história pop devido à embalagem do que ao conteúdo. Se, no primeiro, enigmaticamente e com ar de muito poucos amigos, Morrissey carrega à ilharga um sorridente bebé com uma borboleta tatuada na testa, no outro, ele e a respectiva banda – recuperando a iconografia soft-porn-pimba de um cantor português cujo nome, de momento, não me ocorre – posam em vestes adâmicas, apenas com os genésicos apêndices discretamente ocultados por singles de vinil.
O que nem sequer seria uma terrível injustiça: perpetuando a regra em vigor nos últimos anos de se (e nos) procurar satisfazer com meios-álbuns, Years Of Refusal insiste na fórmula das canções de veia rock musculada (Jeff Beck em “Black Cloud”?!!!) e, ocasionalmente, "glam", semeia três ou quatro daquelas frases que está seguro virão a ser citadas (exemplo: “The motion of taxis excites me when you peel it back and bite me”), recupera duas (boas) canções anteriores (“All You Need Is Me” e “That’s How People Grow Up”) mas, de um total de doze temas, apenas metade será digna de beijar o índice da discografia dos Smiths. Preguiçoso.
(2009)
Morrissey - Years Of Refusal
Existe um elevado risco de que Years Of Refusal e o correspondente primeiro single "I'm Throwing My Arms Around Paris" entrem mais rapidamente para a história pop devido à embalagem do que ao conteúdo. Se, no primeiro, enigmaticamente e com ar de muito poucos amigos, Morrissey carrega à ilharga um sorridente bebé com uma borboleta tatuada na testa, no outro, ele e a respectiva banda – recuperando a iconografia soft-porn-pimba de um cantor português cujo nome, de momento, não me ocorre – posam em vestes adâmicas, apenas com os genésicos apêndices discretamente ocultados por singles de vinil.
O que nem sequer seria uma terrível injustiça: perpetuando a regra em vigor nos últimos anos de se (e nos) procurar satisfazer com meios-álbuns, Years Of Refusal insiste na fórmula das canções de veia rock musculada (Jeff Beck em “Black Cloud”?!!!) e, ocasionalmente, "glam", semeia três ou quatro daquelas frases que está seguro virão a ser citadas (exemplo: “The motion of taxis excites me when you peel it back and bite me”), recupera duas (boas) canções anteriores (“All You Need Is Me” e “That’s How People Grow Up”) mas, de um total de doze temas, apenas metade será digna de beijar o índice da discografia dos Smiths. Preguiçoso.
(2009)
SOCKS (c.Março 1989–20 de Fevereiro 2009)
"Former First Cat Socks, one of the world’s most famous felines, died Friday at the age of 20 after battling throat cancer since November. A stray cat rescued by the Clinton's daughter, Chelsea, Socks lived in the governor’s mansion in Arkansas and later moved with the family to the White House.
'Socks brought much happiness to Chelsea and us over the years, and enjoyment to kids and cat lovers everywhere', the Clintons said in a statement, released first to PEOPLE.COM. 'We're grateful for those memories, and we especially want to thank our good friend, Betty Currie, for taking such loving care of Socks for so many years'.
Currie, the president's personal secretary, and her husband, Bob, took over care of Socks after the Clintons left the White House. It was near their home in Maryland that Socks was put to sleep Friday morning. 'He could no longer stand and wasn’t eating', according to family friend and presidential historian Barry Landau".
Violent Femmes - "Blister In The Sun"
(2009)
"Former First Cat Socks, one of the world’s most famous felines, died Friday at the age of 20 after battling throat cancer since November. A stray cat rescued by the Clinton's daughter, Chelsea, Socks lived in the governor’s mansion in Arkansas and later moved with the family to the White House.
'Socks brought much happiness to Chelsea and us over the years, and enjoyment to kids and cat lovers everywhere', the Clintons said in a statement, released first to PEOPLE.COM. 'We're grateful for those memories, and we especially want to thank our good friend, Betty Currie, for taking such loving care of Socks for so many years'.
Currie, the president's personal secretary, and her husband, Bob, took over care of Socks after the Clintons left the White House. It was near their home in Maryland that Socks was put to sleep Friday morning. 'He could no longer stand and wasn’t eating', according to family friend and presidential historian Barry Landau".
Violent Femmes - "Blister In The Sun"
(2009)
21 February 2009
CONQUISTAS DE ABRIL
Ao contrário de todas as previsões catastrofistas, 2009 está a ser um annus mirabilis para Portugal. Primeiro, a coroação de Cristiano Ronaldo, agora o merecido reconhecimento dos milagres de São Nuninho, em breve - se tudo correr como se espera - a tomada de posse do Primeiro-Cão. Não duvidemos: melhor é possível!
Nuno Álvares Pereira canonizado a 26 de Abril
"Cidade do Vaticano, 21 Fev (Lusa) - O Papa Bento XVI anunciou hoje a canonização este ano de dez beatos, entre os quais o carmelita português Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, segundo um comunicado do Vaticano. Nuno Álvares Pereira integra, ao lado de quatro italianos, o primeiro grupo, que será canonizado no próximo dia 26 de Abril. (...) Uma cura milagrosa reconhecida pelo Vaticano foi relatada por Guilhermina de Jesus, uma sexagenária natural de Vila Franca de Xira, que sofreu lesões no olho esquerdo, por ter sido atingida com salpicos de óleo a ferver quando estava a fritar peixe. O cardeal Saraiva Martins, Prefeito Emérito da Congregação para as Causas dos Santos, conduziu no Vaticano o processo de canonização. Segundo D. José Saraiva Martins, a idosa sofria de 'uma úlcera na córnea, uma coisa gravíssima'.
'E os médicos, realmente, chegaram à conclusão que aquilo [a cura] não tinha explicação científica', frisou, em declarações recentes à Lusa, explicando que o processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira chegou ao fim "em três meses" , entre Abril e Julho de 2008. Em Abril, 'o milagre atribuído à intervenção do beato Nuno foi examinado pelos médicos [do Vaticano]' e, em Maio, pelos teólogos, 'no sentido de saber se tinha sido efeito da oração feita pela doente, pedindo-lhe a sua cura'. Os cardeais da Congregação das Causas dos Santos viriam a aprovar as conclusões, 'tanto dos médicos como dos teólogos', e, em Julho, a documentação resultante foi presente ao Papa Bento XVI por D. José Saraiva Martins". (aqui)
"O Presidente da República congratula-se, em nome de Portugal, pela notícia da decisão tomada hoje no processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira, figura maior da nossa História que, no passado como no presente, deve inspirar os portugueses na busca de um futuro melhor", refere a Presidência da República numa nota enviada à agência Lusa". (aqui)
(2009)
Ao contrário de todas as previsões catastrofistas, 2009 está a ser um annus mirabilis para Portugal. Primeiro, a coroação de Cristiano Ronaldo, agora o merecido reconhecimento dos milagres de São Nuninho, em breve - se tudo correr como se espera - a tomada de posse do Primeiro-Cão. Não duvidemos: melhor é possível!
Nuno Álvares Pereira canonizado a 26 de Abril
"Cidade do Vaticano, 21 Fev (Lusa) - O Papa Bento XVI anunciou hoje a canonização este ano de dez beatos, entre os quais o carmelita português Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, segundo um comunicado do Vaticano. Nuno Álvares Pereira integra, ao lado de quatro italianos, o primeiro grupo, que será canonizado no próximo dia 26 de Abril. (...) Uma cura milagrosa reconhecida pelo Vaticano foi relatada por Guilhermina de Jesus, uma sexagenária natural de Vila Franca de Xira, que sofreu lesões no olho esquerdo, por ter sido atingida com salpicos de óleo a ferver quando estava a fritar peixe. O cardeal Saraiva Martins, Prefeito Emérito da Congregação para as Causas dos Santos, conduziu no Vaticano o processo de canonização. Segundo D. José Saraiva Martins, a idosa sofria de 'uma úlcera na córnea, uma coisa gravíssima'.
'E os médicos, realmente, chegaram à conclusão que aquilo [a cura] não tinha explicação científica', frisou, em declarações recentes à Lusa, explicando que o processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira chegou ao fim "em três meses" , entre Abril e Julho de 2008. Em Abril, 'o milagre atribuído à intervenção do beato Nuno foi examinado pelos médicos [do Vaticano]' e, em Maio, pelos teólogos, 'no sentido de saber se tinha sido efeito da oração feita pela doente, pedindo-lhe a sua cura'. Os cardeais da Congregação das Causas dos Santos viriam a aprovar as conclusões, 'tanto dos médicos como dos teólogos', e, em Julho, a documentação resultante foi presente ao Papa Bento XVI por D. José Saraiva Martins". (aqui)
"O Presidente da República congratula-se, em nome de Portugal, pela notícia da decisão tomada hoje no processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira, figura maior da nossa História que, no passado como no presente, deve inspirar os portugueses na busca de um futuro melhor", refere a Presidência da República numa nota enviada à agência Lusa". (aqui)
(2009)
ORIGEM DAS ESPÉCIES
The Boys
"Kiss Like A Nun" - The Boys
You look so bold
You act so cool
So tell me why babe
When I'm kissing you...
You kiss like a nun... just like a nun
and it drives me crazy
You kiss like a nun... just like a nun
Kiss like a nun... just like a nun
Little sister
Tell me do
You got a nasty habit
When I'm kissing you
You weren't born yesterday
You ain't so dumb
So please tell me why honey
When I'm kissing you...
(2009)
The Boys
"Kiss Like A Nun" - The Boys
You look so bold
You act so cool
So tell me why babe
When I'm kissing you...
You kiss like a nun... just like a nun
and it drives me crazy
You kiss like a nun... just like a nun
Kiss like a nun... just like a nun
Little sister
Tell me do
You got a nasty habit
When I'm kissing you
You weren't born yesterday
You ain't so dumb
So please tell me why honey
When I'm kissing you...
(2009)
19 February 2009
O PODER DAS PALAVRAS
Silêncio absoluto. Concentração total. O público perfeito para um concerto de June Tabor. No mesmo instante em que a neve caía sobre o Sahara, na sala do S.Luiz, a atmosfera dividia-se entre a absorção completa por uma voz dedicada à narração de histórias de "love gone wrong" e o calor dos aplausos. Tradição e modernidade, clássicos do jazz, da Auvergne e da Escócia, "happy ends" improváveis e lendas de ciganos sem destino. Três horas antes, no interior de um camarim gelado, devotara-me a aprender as razões por que, um pouco depois, "I've Got You Under My Skin" iria significar algo mais do que apenas um título de uma canção de Cole Porter.
Começou por cantar música tradicional a capella, a pouco e pouco foi-lhe acrescentando algum apoio instrumental, depois, retirou-se. Quando regressou, gravou um álbum de temas de jazz e, logo a seguir, outro diferente com a Oyster Band. Qual é, afinal, o rumo musical da sua carreira?
Durante o tempo em que, para além de cantar, mantive um outro emprego, o meu reportório permaneceu mais ou menos igual. De repente, tudo se alterou: não só me dediquei profissionalmente à música a tempo inteiro como Martin Simpson (o guitarrista com quem trabalhava) foi viver para a América. Tive, por isso, de encontrar outro companheiro de trabalho, o Huw Warren, que, com o seu background de jazz moderno e música experimental, me fez descobrir outros tipos de música, tentar outras direcções e me propôs um desafio. À maioria das pessoas, isso acontece por volta dos 20 anos; a mim, foi um pouco mais tarde... Mas sempre olhei para as canções do ponto de vista das palavras, sempre me encarei como alguém que canta canções que contam histórias.
Penso que Angel Tiger é a progressão lógica de todos os álbuns anteriores a solo, que absorveu todas as influências de jazz e do trabalho com a Oyster Band, tanto na forma de expressão e na escolha do material e arranjos como na interpretação das canções. Para mim, cantar tem de ser um processo de desenvolvimento e descoberta permanentes, senão aborreço-me. A única constante é o poder das palavras, venham de onde vierem, e, naturalmente, a transparência e sobriedade dos acompanhamentos. Use quantos instrumentos usar, têm apenas de sublinhar o sentido dos textos.
Como é que passou do reportório a capella à primeira experiência das Silly Sisters?
No fim dos anos 60, princípio de 70, quando estava na universidade, em Oxford, ouvi os Fairport Convention e os Steeleye Span e, embora gostasse imenso deles, não era esse, então, o meu caminho. Preferia cantar sem acompanhamento. Foi só por volta de 1973 que, por puro divertimento, comecei a cantar com a Maddy Prior, dos Steeleye Span, e, pela primeira vez, utilizei alguma forma de acompanhamento. O que me ensinou imenso acerca de outras vias a experimentar. Essa experiência (de que só em 76 saiu a gravação) e o meu primeiro disco com o Nic Jones e o John Gillespie foram o início do meu trabalho com outros músicos e instrumentos.
Hoje, acha que já é limitativo chamar-lhe "folk singer"?
Não me considero "folk singer". Foi dessa área que vim, continuo a cantar canções folk mas, no universo da língua inglesa, essa é uma expressão demasiado limitativa que autoriza imediatamente ideias preconcebidas acerca da música que praticamos. Digamos que sou apenas alguém que canta canções com palavras fortes que é preciso escutar com atenção, com imagens intensas, relevantes para a vida de hoje. Não vistas como peças de museu que é preciso preservar. Claro que é isso que acontece com os melhores exemplos de música tradicional. São intemporais. Todas as canções que escolho têm de me provocar uma reacção: arrepiar-me, fazer-me chorar ou até fazer-me rir que é uma coisa que há quem não acredite que eu faça!...
Mesmo neste último disco pareceu-me continuar a ver uma certa desconfiança sua relativamente ao uso dos instrumentos. Como se, de certa forma, continuasse a cantar a capella... com instrumentos...
É porque, no género de canções que canto, a função dos instrumentos é criar silêncio à volta das palavras, não as submergir. Mas "canções a capella com instrumentos", essa é muito boa... Posso usá-la?
À vontade... (risos) Por outro lado, a sua voz, de disco para disco, tem-se tornado mais grave e ganho maior profundidade. Foi um aspecto que trabalhou ou apenas um processo natural?
Foi um processo natural, uma questão de aprender a cantar, cantando. Não tive formação musical académica. Por isso, tive de descobrir como comunicar através da voz, como utilizá-la enquanto forma de representação. Quando comecei, possuía a capacidade técnica essencial mas ainda me faltava a dimensão das emoções.
É uma voz em que há uma mistura de frio e calor, lisa, sem vibrato, que, por exemplo, em "Useless Beauty", de Elvis Costello, abre as vogais e como que cospe as consoantes...
É sempre difícil descrevermos a nossa própria voz. Se eu quisesse, podia ornamentar uma canção até fazê-la desaparecer ou cantar soul, mas isso não me diz nada, é só técnica. Da forma como canto, prefiro ser mais directa, transmitir emoções sem as dissimular.
Some Other Time, o seu disco de "standards" de jazz, não foi muito bem recebido...
De um modo geral, foi bastante mal compreendido. Terá começado pelo erro que foi gravarmos primeiro o álbum e só depois trabalharmos as canções em profundidade. Se tivéssemos levado mais um ano e o processo tivesse sido o inverso, as interpretações talvez tivessem sido mais amadurecidas. Depois, acontece que, com certas pessoas, basta dizer a palavra "jazz" e elas fogem, em pânico. O que é uma pena pois há imensa riqueza de canções no reportório do jazz, canções que não são apenas uma sequência de palavras a separar dois solos, como muitas vezes parece... O que fiz foi apresentá-las sob o meu ponto de vista, mostrar as imagens que contêm, tais como as da música tradicional ou outras quaisquer. No fundo, só peço ao público que confie em mim e não se peocupe demasiado em saber de onde vêm as canções.
Para si, que se iniciou com aquilo a que poderíamos chamar a "música étnica" britânica, a actual explosão da "world music" nunca a tentou a experimentar outras músicas não-europeias ou ocidentais?
Para o fazer, teria de deixar de atribuir o papel principal às palavras, uma vez que deveria cantar em idiomas que não domino. É verdade que, há bastante tempo, eu e a Maddy Prior chegámos a cantar em búlgaro. O primeiro álbum das Silly Sisters tem algumas influências desse estilo de canto balcânico, por exemplo, nas harmonias de "Four Loom Weaver". Pode também ser interessante incorporar elementos instrumentais de outras culturas. Mas, em última análise, cantar em línguas que não entendo não é o que me apetece mais fazer.
Costuma cantar uma série de autores que não são muito conhecidos fora das ilhas britânicas, como Michael Marra, Les Barker ou Bill Caddick. Pode dizer-me alguma coisa acerca deles?
Michael Marra é frequentemente chamado "o Randy Newman escocês". É um militante nacionalista e socialista e um autor muito carismático e sarcástico que trabalha bastante em teatro com uma companhia de Glasgow. "Happed in Mist", a canção que canto em Angel Tiger, tem a ver com o fascínio dele pela Primeira Guerra Mundial. É inspirada num romance clássico escocês, Scots Quair, uma trilogia de Lewis Gibbons. O Les Barker é mais conhecido em Inglaterra pela sua faceta de poeta cómico. Há algum tempo, começou a escrever paródias de canções pop e tradicionais e, a partir daí, surgiu-lhe a ideia de compor uma ópera feita de melodias gaélicas (escocesas e irlandesas), com textos em inglês, sobre o despovoamento das Ilhas Hébridas. Deu origem a um duplo álbum, The Stones Of Callanish, e fê-lo continuar a escrever canções "sérias". É, verdadeiramente, o que nós chamamos um "wordsmith", um artesão das palavras. Do Bill Caddick, já gravei cinco ou seis canções, como "Aqaba", sobre o Lawrence, que deu o título a um dos meus álbuns. Mas todos eles escrevem o tipo de canções que me atrai em termos de economia dos textos. Quanto mais canções escuto mais gosto das que não contam a história toda, oferecem só pistas de leitura e nos permitem exercitar a imaginação.
É por isso que acabou por não ser uma enorme surpresa ter gravado "Useless Beauty", de Elvis Costello, que, segundo parece, já era seu admirador...
É verdade, tinha-me feito elogios na imprensa e, no final de um concerto em Dublin, veio ter comigo, apresentou-se e disse-me que como, pelos vistos, nenhuma canção dele me tinha ainda agradado, era melhor escrever-me uma propositadamente. Quase um ano depois, quando estava a preparar-me para as gravações de Angel Tiger, lembrei-me dessa promessa e telefonei-lhe. Faltavam-lhe cinco dias para entrar em estúdio com o Brodsky Quartet e disse-me que ia ver o que conseguia fazer. Cinco dias depois, mandava-me a canção. Não tive de lhe mudar uma palavra, era perfeita, cheia de níveis diferentes de interpretação, um autêntico argumento de cinema em potência.
(1993)
Silêncio absoluto. Concentração total. O público perfeito para um concerto de June Tabor. No mesmo instante em que a neve caía sobre o Sahara, na sala do S.Luiz, a atmosfera dividia-se entre a absorção completa por uma voz dedicada à narração de histórias de "love gone wrong" e o calor dos aplausos. Tradição e modernidade, clássicos do jazz, da Auvergne e da Escócia, "happy ends" improváveis e lendas de ciganos sem destino. Três horas antes, no interior de um camarim gelado, devotara-me a aprender as razões por que, um pouco depois, "I've Got You Under My Skin" iria significar algo mais do que apenas um título de uma canção de Cole Porter.
Começou por cantar música tradicional a capella, a pouco e pouco foi-lhe acrescentando algum apoio instrumental, depois, retirou-se. Quando regressou, gravou um álbum de temas de jazz e, logo a seguir, outro diferente com a Oyster Band. Qual é, afinal, o rumo musical da sua carreira?
Durante o tempo em que, para além de cantar, mantive um outro emprego, o meu reportório permaneceu mais ou menos igual. De repente, tudo se alterou: não só me dediquei profissionalmente à música a tempo inteiro como Martin Simpson (o guitarrista com quem trabalhava) foi viver para a América. Tive, por isso, de encontrar outro companheiro de trabalho, o Huw Warren, que, com o seu background de jazz moderno e música experimental, me fez descobrir outros tipos de música, tentar outras direcções e me propôs um desafio. À maioria das pessoas, isso acontece por volta dos 20 anos; a mim, foi um pouco mais tarde... Mas sempre olhei para as canções do ponto de vista das palavras, sempre me encarei como alguém que canta canções que contam histórias.
Penso que Angel Tiger é a progressão lógica de todos os álbuns anteriores a solo, que absorveu todas as influências de jazz e do trabalho com a Oyster Band, tanto na forma de expressão e na escolha do material e arranjos como na interpretação das canções. Para mim, cantar tem de ser um processo de desenvolvimento e descoberta permanentes, senão aborreço-me. A única constante é o poder das palavras, venham de onde vierem, e, naturalmente, a transparência e sobriedade dos acompanhamentos. Use quantos instrumentos usar, têm apenas de sublinhar o sentido dos textos.
Como é que passou do reportório a capella à primeira experiência das Silly Sisters?
No fim dos anos 60, princípio de 70, quando estava na universidade, em Oxford, ouvi os Fairport Convention e os Steeleye Span e, embora gostasse imenso deles, não era esse, então, o meu caminho. Preferia cantar sem acompanhamento. Foi só por volta de 1973 que, por puro divertimento, comecei a cantar com a Maddy Prior, dos Steeleye Span, e, pela primeira vez, utilizei alguma forma de acompanhamento. O que me ensinou imenso acerca de outras vias a experimentar. Essa experiência (de que só em 76 saiu a gravação) e o meu primeiro disco com o Nic Jones e o John Gillespie foram o início do meu trabalho com outros músicos e instrumentos.
Hoje, acha que já é limitativo chamar-lhe "folk singer"?
Não me considero "folk singer". Foi dessa área que vim, continuo a cantar canções folk mas, no universo da língua inglesa, essa é uma expressão demasiado limitativa que autoriza imediatamente ideias preconcebidas acerca da música que praticamos. Digamos que sou apenas alguém que canta canções com palavras fortes que é preciso escutar com atenção, com imagens intensas, relevantes para a vida de hoje. Não vistas como peças de museu que é preciso preservar. Claro que é isso que acontece com os melhores exemplos de música tradicional. São intemporais. Todas as canções que escolho têm de me provocar uma reacção: arrepiar-me, fazer-me chorar ou até fazer-me rir que é uma coisa que há quem não acredite que eu faça!...
Mesmo neste último disco pareceu-me continuar a ver uma certa desconfiança sua relativamente ao uso dos instrumentos. Como se, de certa forma, continuasse a cantar a capella... com instrumentos...
É porque, no género de canções que canto, a função dos instrumentos é criar silêncio à volta das palavras, não as submergir. Mas "canções a capella com instrumentos", essa é muito boa... Posso usá-la?
À vontade... (risos) Por outro lado, a sua voz, de disco para disco, tem-se tornado mais grave e ganho maior profundidade. Foi um aspecto que trabalhou ou apenas um processo natural?
Foi um processo natural, uma questão de aprender a cantar, cantando. Não tive formação musical académica. Por isso, tive de descobrir como comunicar através da voz, como utilizá-la enquanto forma de representação. Quando comecei, possuía a capacidade técnica essencial mas ainda me faltava a dimensão das emoções.
É uma voz em que há uma mistura de frio e calor, lisa, sem vibrato, que, por exemplo, em "Useless Beauty", de Elvis Costello, abre as vogais e como que cospe as consoantes...
É sempre difícil descrevermos a nossa própria voz. Se eu quisesse, podia ornamentar uma canção até fazê-la desaparecer ou cantar soul, mas isso não me diz nada, é só técnica. Da forma como canto, prefiro ser mais directa, transmitir emoções sem as dissimular.
Some Other Time, o seu disco de "standards" de jazz, não foi muito bem recebido...
De um modo geral, foi bastante mal compreendido. Terá começado pelo erro que foi gravarmos primeiro o álbum e só depois trabalharmos as canções em profundidade. Se tivéssemos levado mais um ano e o processo tivesse sido o inverso, as interpretações talvez tivessem sido mais amadurecidas. Depois, acontece que, com certas pessoas, basta dizer a palavra "jazz" e elas fogem, em pânico. O que é uma pena pois há imensa riqueza de canções no reportório do jazz, canções que não são apenas uma sequência de palavras a separar dois solos, como muitas vezes parece... O que fiz foi apresentá-las sob o meu ponto de vista, mostrar as imagens que contêm, tais como as da música tradicional ou outras quaisquer. No fundo, só peço ao público que confie em mim e não se peocupe demasiado em saber de onde vêm as canções.
Para si, que se iniciou com aquilo a que poderíamos chamar a "música étnica" britânica, a actual explosão da "world music" nunca a tentou a experimentar outras músicas não-europeias ou ocidentais?
Para o fazer, teria de deixar de atribuir o papel principal às palavras, uma vez que deveria cantar em idiomas que não domino. É verdade que, há bastante tempo, eu e a Maddy Prior chegámos a cantar em búlgaro. O primeiro álbum das Silly Sisters tem algumas influências desse estilo de canto balcânico, por exemplo, nas harmonias de "Four Loom Weaver". Pode também ser interessante incorporar elementos instrumentais de outras culturas. Mas, em última análise, cantar em línguas que não entendo não é o que me apetece mais fazer.
Costuma cantar uma série de autores que não são muito conhecidos fora das ilhas britânicas, como Michael Marra, Les Barker ou Bill Caddick. Pode dizer-me alguma coisa acerca deles?
Michael Marra é frequentemente chamado "o Randy Newman escocês". É um militante nacionalista e socialista e um autor muito carismático e sarcástico que trabalha bastante em teatro com uma companhia de Glasgow. "Happed in Mist", a canção que canto em Angel Tiger, tem a ver com o fascínio dele pela Primeira Guerra Mundial. É inspirada num romance clássico escocês, Scots Quair, uma trilogia de Lewis Gibbons. O Les Barker é mais conhecido em Inglaterra pela sua faceta de poeta cómico. Há algum tempo, começou a escrever paródias de canções pop e tradicionais e, a partir daí, surgiu-lhe a ideia de compor uma ópera feita de melodias gaélicas (escocesas e irlandesas), com textos em inglês, sobre o despovoamento das Ilhas Hébridas. Deu origem a um duplo álbum, The Stones Of Callanish, e fê-lo continuar a escrever canções "sérias". É, verdadeiramente, o que nós chamamos um "wordsmith", um artesão das palavras. Do Bill Caddick, já gravei cinco ou seis canções, como "Aqaba", sobre o Lawrence, que deu o título a um dos meus álbuns. Mas todos eles escrevem o tipo de canções que me atrai em termos de economia dos textos. Quanto mais canções escuto mais gosto das que não contam a história toda, oferecem só pistas de leitura e nos permitem exercitar a imaginação.
É por isso que acabou por não ser uma enorme surpresa ter gravado "Useless Beauty", de Elvis Costello, que, segundo parece, já era seu admirador...
É verdade, tinha-me feito elogios na imprensa e, no final de um concerto em Dublin, veio ter comigo, apresentou-se e disse-me que como, pelos vistos, nenhuma canção dele me tinha ainda agradado, era melhor escrever-me uma propositadamente. Quase um ano depois, quando estava a preparar-me para as gravações de Angel Tiger, lembrei-me dessa promessa e telefonei-lhe. Faltavam-lhe cinco dias para entrar em estúdio com o Brodsky Quartet e disse-me que ia ver o que conseguia fazer. Cinco dias depois, mandava-me a canção. Não tive de lhe mudar uma palavra, era perfeita, cheia de níveis diferentes de interpretação, um autêntico argumento de cinema em potência.
(1993)
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