31 October 2022

"We Let It In"
 
(sequência daqui) A segunda canção e video a serem conhecidos, "We Let It In", espécie de extático hino ao Sol (“We open to the blinding sky, and let it in, and let it in, with open hearts through burning fields, the soul of it in gorgeous flame”), alarga o horizonte do que Eno observa: em animação abstraccionista do multi-disciplinar Orfeo Tagiuri, nas tonalidades de azul-sobre-ouro da bandeira ucraniana, projectam-se as palavras que ele canta e a filha, Darla, á transparência, ecoa. Algo como um manifesto subliminar dos modos de intervir sobre a realidade sem cair na facilidade da agit-prop pronta a usar: “Não pretendo dizer a ninguém como agir ou no que deve acreditar. Em vez disso, são uma exploração dos meus próprios sentimentos. Espero apenas que vós, os ouvintes, partilhem dessas experiências e explorações. Levei muito tempo até acolher a ideia de que nós, artistas, somos, afinal, mercadores de sentimentos. Os sentimentos são subjectivos. A ciência evita-os porque são difíceis de quantificar e comparar. Mas os sentimentos são o ponto de partida do pensamento, uma reacção de todo o corpo, muitas vezes antes de o cérebro começar a carburar, e, frequentemente, com uma lente de muito maior alcance do que o cérebro poderia ser capaz”, diria o possuidor de dois dos mais venerados hemisférios cerebrais, por esse mesmo motivo também anagramaticamente conhecido como Brain One. (segue para aqui)

29 October 2022

VINTAGE (DCIX)

Marianne Faithfull - "There But For Fortune" 
(Phil Ochs)
 
(ver aqui)

INVENTAR UNIVERSOS 

Era 4 de Agosto de 2021 e, no Odeão de Herodes Ático – um teatro construído em 161 EC, na vertente sul da Acrópole de Atenas –, a temperatura subia até aos 45º enquanto, nos subúrbios da cidade, fogos florestais devastavam tudo em volta. “Aqui estamos nós no lugar do nascimento da civilização ocidental, e a ser, provavelmente, testemunhas do seu fim”, diria Brian Eno, de um palco coberto de cinzas, ao público que fora assistir ao concerto que ele, o irmão Roger, a sobrinha Cecily, Leo Abrahams e Peter Chilvers apresentavam no Festival de Epidauro. Seria nesse mesmo local que filmaria o video de "There Were Bells" (“There were horns as loud as war that tore apart the sky, there were storms and floods of blood of human life, never mind, my love, let's wait for the dawn, fly back to tell us there is a haven showing night”), primeira faixa publicada de ForeverAndEverNoMore, successor de Reflection (2017) e, desde Another Day On Earth (2005), o primeiro album em que Brian Eno oferece o seu transparente timbre de barítono quase salmodiado à ondulação sonora sobre que se erguem as canções: “A minha voz transformou-se, ficou mais grave, tornou-se numa outra personalidade a partir da qual posso cantar. Não desejo cantar como um adolescente. Posso ser melancólico, triste... No que respeita a ter voltado a escrever canções – continuam a ser, essencialmente, paisagens mas, desta vez, com humanos dentro. Gosto de criar mundos, é o que, enquanto artista, faço, inventar universos sonoros. Agora, após uma prolongada ausência de humanos nesses mundos, tentei que voltassem a habitá-los e procurei avaliar como se sentem nos mundos que criei”. (daqui; segue para aqui)

26 October 2022

Mas o CEO da Vaticano S.A. não está farto de saber que essa porta por onde o Demónio entra já foi aberta há muito tempo?
 

"Kalush Orchestra have collaborated with The Rasmus on a new version of the latter’s hit single ‘In The Shadows’. The collaboration sees the outfit combine the sound of the Telenka (a Ukrainian wind instrument), a powerful chorus, and Oleg Psiuk’s fast-paced rap with The Rasmus’ classic rock style.  The band, who represented Finland at this year’s Eurovision, met Kalush Orchestra in Turin, Italy this year where they soon began a creative relationship. While both acts were in the city for the competition, they joined forces for an impromptu performance in the town square. 'We immediately loved the original sound of Kalush Orchestra – Ukrainian folk, singing, flute, rap', explained Lauri Ylönen, co-founder and frontman of The Rasmus, in a statement. 'It was inspiring to hear how this song can be reborn like that! And the lyrics are unfortunately even more relevant to what is happening now, in Ukraine and around the world'. The song contains the line: 'They say that I must learn to kill before I can feel safe/ But I’d rather kill myself than turn into their slave'”

(sequência daqui) É, praticamente, essa mesma extensão de vida que Songs of Innocence and Experience 1965 – 1995 cobre: os 30 anos dos dois primeiros actos da carreira de Marianne Evelyn Faithful, baronesa Erisso Von Sacher-Masoch. No primeiro, gravou 6 álbuns de refinado ecletismo pop/folk/ country – Bacharach, Beatles, Rolling Stones, Phil Ochs, Dylan, Tom Paxton, Bert Jansch, Ewan MacColl, Serge Gainsbourg, Donovan, Tim Hardin, Waylon Jennings – que, no entanto, nunca a satisfizeram: “A minha ‘primeira voz’ não era a verdadeira, tinha uma voz muito melhor do que isso. Era mezzo-soprano, tinha tido uma educação musical clássica e, quando comecei a gravar, não me deixaram usá-la. O que se ouvia era falso”. Seria apenas após a descida "junkie" aos infernos que, com o avassalador Broken English (1979) – “Foi muito difícil mas fi-lo. Era o resultado de tanta frustração, ressentimento e fúria que tinha de ser mesmo assim. Na altura, estava convencida de que iria ser a última coisa que faria” –, as comportas se abririam e Marianne, a partir de Strange Weather (1987) e A Secret Life (1995) caminharia, de mãos dadas, com a nata pop/rock. Com preciosos 22 inéditos em edição vinil e 9 no duplo CD, Songs of Innocence and Experience detem-se naquele propósito que, há 10 anos, Marianne descrevia ao “Guardian”: “Nestes últimos anos, o meu objectivo tem sido o de encontrar alguma harmonia entre mim e Marianne Faithfull. Era ela que utilizava drogas e bebia, era ela dentro da minha cabeça. Ela, a Fabulosa Besta, como eu lhe chamo. Não posso dar-lhe ouvidos, tenho de ter sempre muito cuidado”.
2022 - Prémio "Ilusionismo nouvelle cuisine"

25 October 2022

"Look at this image. SMZB frontman Wu Wei looks thoroughly chilled out on the cover of his new solo album. Kind of makes you want to go join him in Portugal.

After years of fearlessly leading Wuhan’s punk scene — both with SMZB and through his Wuhan Prison bar — Wu Wei recently relocated to Europe. He’s settled down, has started a family, and by the looks of that picture is enjoying life. So has he shed his political skin? Of course not.

  "The Whistle Blowing in the Sky"

There are politically-charged moments here for those looking for them. But beyond this there are also honest, wry reflections on missing home (and eating reganmian, the classic Wuhan noodle dish, on the Atlantic coast), adapting to life in a new country and becoming a father. Wu’s unvarnished vocals won’t be for everyone, but to some ears his delivery, with every jerked syllable, only serves to add more emotional weight to his lyrics. While he hasn’t gone full-on fado, the largely pared back album does reflect Wu’s new surroundings, sometimes intimately: at one point we hear a baby’s cries and gurgles. But even with a sparser sound and a number of stark ballads, The Man on the Atlantic Coast is still characterised by Wu Wei’s punk spirit. The short burst of ‘Obrigado’, for example, isn’t going to win any awards for its lyrical litheness (Wu just repeats the one word throughout), but there’s little denying its energy, with Wu attacking the strings with a folk punk intensity. If you’re not familiar with Wuhan’s punk scene, this isn’t the record to start with. Start here and listen to Nathanel Amar on the subject instead. But if you’re a fan of SMZB or are interested in what happens to an “old punk” attempting a new beginning far from home while remaining concerned at what they’ve left behind, The Man on the Atlantic Coast is worth a listen". (daqui com a colaboração do correspondente do PdC em Pequim)

Ventas, discípulo de JCM * e do ex-Presidente do Eurogel no Cabelo
 
“Os 125 euros não podem ser gastos em whisky, tabaco e drogas (* intrigante, porém, a ausência de "mulheres"/"freiras"/"homens" na listinha...)

24 October 2022

VINTAGE (DCVIII)

Richard Harris - "MacArthur Park" 
(J. Webb)
 

A FABULOSA BESTA


Horas antes de subir ao palco do Coliseu de Lisboa, no qual, em 1993, se apresentaria pela primeira vez em Portugal, no bar do hotel onde ficara instalada, Marianne Faithfull recordava os primeiros passos, em meados dos anos 60, de modo muito pouco nostálgico: “Nessa altura, eu tinha um tremendo desprezo pela música pop. Quando jovem, artisticamente, era uma enorme snob. Queria ser actriz, tinha uma excelente voz que me fazia pensar numa carreira na ópera, queria dedicar-me a qualquer coisa séria. E, não sei muito bem como, acabei por ser desviada (de certo modo, por engano) para a pop. Agora, sinto-me muito satisfeita e reconhecida por isso. Mas, na altura, o que cantava parecia-me puro lixo. Em certa medida, foi só quando comecei a entender o Andy Warhol que realmente compreendi que a pop também era arte. Até aí, não passava de matéria descartável, pronta para usar e deitar fora”. (daqui; segue para aqui)

23 October 2022

Habituemo-nos àquilo a que nunca nos deveríamos habituar

"A guerra da Ucrânia vai-se agravar em termos militares, em termos de destruição, em termos de mortes civis. A guerra da Ucrânia não tem solução negociada. A guerra da Ucrânia vai-se alastrar em termos geográficos e nacionais. A guerra da Ucrânia vai chegar ao limiar de um conflito nuclear, não penso que o ultrapasse. Para já. Quem não compreende isto não se prepara como deve. Nenhuma previsão realista pode deixar de ter em conta estas circunstâncias: estamos em guerra com todas as consequências económicas, sociais, militares e políticas. Não é uma questão de a desejarmos, é um facto. As acusações de belicosidade só podem ter um destinatário, Putin, e, quando não têm e misturam tudo, são pura hipocrisia. 

Acho, apesar de tudo, que vários governos democráticos, incluindo o português, já o perceberam. Podem não ter tirado ainda todas as consequências, mas sabem que vamos conhecer anos, senão décadas, marcados pela guerra da Ucrânia, seja 'a quente' seja 'a frio'. Deixo de parte os aliados objectivos de Putin, quer na direita, quer na esquerda que, mesmo com um palavreado sobre a 'paz', a última coisa que desejam é que a Rússia perca a guerra que provocou. (...) 

A afirmação de que esta guerra não tem solução negociada é talvez a mais controversa e a que precisa de explicação. Em bom rigor, penso que nunca a teve, mas agora é mais evidente que não tem, desde que a Rússia anexou os territórios ucranianos na federação. Este é um ponto sem retorno, porque a partir da anexação não é possível haver uma paz que não seja a rendição da Ucrânia com perda do seu território nacional. Por outro lado, Putin nunca pode recuar nessa incorporação imperial, sem admitir que perdeu a guerra e que as reivindicações territoriais russas na Ucrânia, incluindo a Crimeia, na Geórgia, na Moldova, são ocupações por uma potência estrangeira. Se a paz já era difícil, depois das anexações é impossível. Quem continua a falar de 'paz', assobiando para o lado depois dos referendos fantoches e da formalização da anexação pela Federação Russa num simulacro de legalidade, de novo quer apenas a rendição da Ucrânia (...)" (JPP)

20 October 2022

AJ Lambert - "Staff of the Flag"

Muito, muito bom! Mas, mesmo assim, ainda a considerável distância daqueles maravilhosos 8 meses do governo de Santana Lopes, quando todos os dias se acordava com mais outra impensável peripécia para saborear (... saudades...)

.... mas realmente preocupante é a prolongada e não explicada invisibilidade do Larry...

Edit (15:47) - ... afinal, no que realmente importa, está tudo bem

Jesca Hoop - "Lyrebird"

 

19 October 2022

Um "homem de fé", coitado, 
não anda por aí a fazer poucasvergonhices dessas

 Em português, diz-se
300 trabalhadores despedidos!
 
"A Adidas vai dispensar cerca de 300 colaboradores na Maia", aliás, "haverá mudanças na estrutura organizacional no Porto", aliás, "cerca de 300 posições são afetadas pelas mudanças,  mas "lamenta o impacto que a decisão poderá ter nos colaboradores e está "a tentar encontrar soluções justas para todos os colaboradores afetados em conversas pessoais" (daqui via DT)
"My Blood"

(sequência daqui) “Para mim, é tudo exactamente igual a quando Alan Lomax andava por todo o mundo a descobrir as músicas locais. As canções estão aí para ser colhidas”, dizia ela à WNYC. Isto, enquanto, com Greg Ahee e Michael Wallace, alimentava a fogueira dos Bloodslide, trio pós-punk de incandescências elétricas. Agora, em Dirt! Soda!, continuando rodeada de gente dos círculos privados de Bill Laswell, Julia Holter, Yves Tumor e Joan As Policewoman, à excepção de "Strings of Nashville", dos Pavement, e "Broken Hearted Wine", dos Codeine (fundidas numa liga metálica única), e de "Then You Can Tell Me Goodbye", de The Casinos, AJ assina todos os outros temas. E o que se escuta é coisa hipnótica de essência medularmente lynchiana, traduzida e expandida para o vocabulário já antes, em várias tonalidades, ensaiado por Julee Cruise, PJ Harvey, Nick Cave, Kate Bush ou Chrysta Bell.

18 October 2022

17 October 2022

Marianne Faithfull - Blazing Away 
(concert film 1990)

ESSÊNCIA LYNCHIANA

Com Angela Jennifer Lambert (aliás, AJ Lambert) nada é, realmente, como se imagina. Após uma “juventude perdida” a bordo de ilustres bandas desconhecidas (ou quase) – Sleepington, Looker, Here We Go Magic –, com quem se dirigiria ela para os estúdios de Steve Albini, em Chicago, com o objectivo de gravar um EP (Lonely Songs, 2018) comemorativo dos 60 anos de Only The Lonely (1958), de Frank Sinatra? Evidentemente, Greg Ahee, dos Protomartyr, escolha instantânea de AJ que, não escondamos mais o jogo, é neta de Frank e filha de Nancy Sinatra. E, quando, aos 44 anos, se decidiu, enfim, por um percurso de cantora, para além de concertos de voz e piano em que interpretava os clássicos do avô, que reportório escolheu para si no álbum de estreia, Careful You (2019)? John Cale, Chris Bell, TV On The Radio, Spoon, Billie Holiday, e duas pepitas de Ol' Blue Eyes, de entre uma lista de candidatos onde se incluiam também Robert Wyatt, Elvis Costello e David Bowie. (daqui; segue para aqui)

"How Many"

14 October 2022

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (LXXVII)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)
 
 
 
 
 It's Immaterial - Life's Hard And Then You Die (álbum integral aqui)
 

Iggy Pop - "Shades" (Blah-Blah-Blah - álbum integral aqui)
 
 
"Lenin In Zurich" - Easterhouse  (Contenders - álbum integal aqui; ver também aqui)
Não, "activista" não é sinónimo 
VINTAGE (DCVII)
 

(sequência daqui) Para orientar o trânsito nesse potencial labirinto, foi, uma vez mais, escolhido o ubíquo John Parish (Dry Cleaning, PJ Harvey, This Is The Kit, Chrysta Bell...) e deixados os arranjos intrincadamente geométricos para quarteto de sopros nas mãos de Jess Vernon (This Is The Kit), primeiro responsável pela profundidade de campo, minimal mas imprescindível. A Jesca Hoop que, há poucos anos, reivindicava liberdade total – “Temos de exprimir o que sentimos. Se somos camaleões, deixemos que as nossas cores mudem e brilhem. Incorporemos novas linguagens. Resistirei sempre à ideia de que não posso jogar com formas de expressão que não provenham da minha educação ou do meu ambiente próximo. O mundo é a nossa ostra e a arte é liberdade” –, essa, permanece saudavelmente alérgica aos tribalismos contemporâneos: “Juntamo-nos sob bandeiras para nos protegermos contra os inimigos que fabricamos. Talvez devêssemos antes pensar noutras formas de sobreviver neste vasto e complexo mundo”.

11 October 2022

Com a presença do recém-galardoado com o Prémio "Desde que não chegue aos 450, está tudo bem", a Filósofa Laurinda, em regresso triunfal, encabeça o Piquenique/Marcha dos Miseráveis (poderosa reconstituição histórica de cenas medievais)

2022 - Prémio "Desde que não chegue aos 450, está tudo bem"
TODAS AS PERSONAGENS
 
 
A sequoia vermelha Colonel Armstrong do Redwood National Park, na costa Norte da Califórnia, é a mais antiga árvore do parque, com idade estimada em mais de 1400 anos. Jesca Hoop conta como, durante horas, costumava sentar-se na base do tronco de quase 100 metros de altura e a dor que a consome ao ver os incêndios que devastam a Califórnia: “É como se sentisse o coração das sequoias em chamas, a arder de dentro para fora. Árvores que sabiam o meu nome”. E, concentrando-se em Order Of Romance – o sexto álbum, três anos após o óptimo Stonechild –, fala desse recurso à memória enquanto ferramenta indispensável: “Desejo amadurecer, clarificar a minha voz e a minha atitude através de melodias e frases que apenas eu seja capaz de construir. Order of Romance parece-se muito com o que teria resultado se a todas as pessoas, personagens ou artistas que fui sendo ao longo das fases da minha vida tivesse sido oferecido um instrumento para tocar pelo meio das canções”. (segue para aqui)

Para acrescentar ao código restrito vocabular dos "neanderthal" redactores de material noticioso (e outros insignes vultos da pátria) já inventariado nesta, nesta e nesta listas, eis os novos bordões em repetitivo uso agoniante: "mitigar" e "colmatar"

Edit (12/10/2022) - ... não esquecendo o pitoresco "aquilo que é.../aquilo que são..."

09 October 2022

... e continua: I, II e III

 
(sequência daqui) Tinha Earthling (1997) acabado de sair, Jones/Bowie, por entre gargalhadas, revelar-me-ia um último segredo: “Eu e o Brian Eno, em 1978, fundámos a Escola do Pretensiosismo de que nos tornámos os curadores e principais conferencistas. O nosso objectivo era criar conceitos e ideias que irritassem toda a gente!” Em 2003, porém, antes de uma longa pausa de uma década, já muito mais a sério, diria: “Nos últimos 20 anos, a realidade transformou-se numa abstracção para muita gente. Não há conhecimento, apenas a interpretação dos factos com que, diariamente, nos inundam. Sentimo-nos como que à deriva no mar. E as circunstâncias políticas ainda empurram o barco para mais longe”. O fim de uma era?

06 October 2022

Se este fulano fosse o escolhido era, sem dúvida, motivo mais do que suficiente para um Lusexit (ou uma variação sobre o lema marxista: "Eu nunca faria parte de um clube que o aceitasse como sócio")
Brett Morgen talks about his David Bowie film Moonage Daydream
 
(sequência daqui) Na verdade, como, em 2016, aquando da conferência “David Bowie: Interart/Text/Media” organizada pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa, Will Brooker, (escritor e professor de Film and Cultural Studies na Kingston University de Londres) sublinharia, as coisas não são assim tão simples: “David Bowie é um mosaico. Uma obra de arte e uma obra de vida criadas por David Robert Jones durante um período de 50 anos. Ele é, talvez, a maior obra de arte dos séculos XX e XXI. O artista, David Jones, já não está entre nós mas a sua criação ‘David Bowie’, permanece”. A 16 de Julho de 1972, na apresentação de Ziggy Stardust And The Spiders From Mars a dezenas de jornalistas americanos, Jones, aliás, “a sua própria personagem”, Bowie, não poderia ter sido mais claro: “Pessoas como o Lou Reed e eu anunciam, provavelmente, o fim de uma era. E digo isto catastroficamente. Qualquer sociedade que deixa à solta gente como nós está seriamente perdida. Somos ambos muito confusos, paranóicos, absolutos desastres ambulantes. Se somos a vanguarda de alguma coisa, não somos necessariamente a vanguarda de algo bom”. (segue para aqui)
Isto * e isto ** são verdadeiramente
 maus de mais
 
* ver também aqui e aqui
 
** alerta daqui
Mas que coisinha mais quiducha: 
o Soares e o porta-chaves (enquanto jovem)!...
(via DT)