Tó vs Tó (VI)
31 January 2013
"Tó, pá... Tó, opá... pá, Tó... opá, Tó... pronto, pá, Tó... ... já chega de debate ideológico. O que é que o gajo, pá, Tó, diz, lá de Paris, Tó, pá?... Ah... ... ... Ok... ... tasse, Tó, pá... ... ... vai uma bejeca, pá, Tó?..." (tradução, na edição em papel do "Público" de hoje: "Ó Costa, não fomos almoçar por iniciativa minha? Ó Assis, não te convidei para integrar o secretariado? Ó Silva Pereira, não te pedi para seres tu a fazer a intervenção em nome do PS na primeira moção de censura ao governo?")
30 January 2013
OITO (+ QUATRO) ACHAS PARA A FOGUEIRA (XIV)
+ 6 para outra fogueira (II)
Jordi Savall/Hesperion XX - Llibre Vermell de Montserrat
Ele foi "identificado como cliente da sociedade de gestão suíça que se encontra no centro do caso de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco", recorreu a programas que "foram organizados para dar amnistia a capitais estrangeiros de cidadãos portugueses que não tivessem sido declarados em solo nacional" mas "insiste que nunca fugiu aos impostos": apenas "precisava de manter capital fora de Portugal para fazer face aos investimentos no grupo". Portanto, é possível ser cliente de máfias de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco, não declarar rendimentos em solo nacional e alegar que só colocou uns cobres a bom recato "for a rainy day" e não ser um "bankster" mas sim um cidadão exemplar, certo?
29 January 2013
NÃO ADORMEÇA; SE NÃO TIVER UM PORTÁTIL, NÃO SAIA DE CASA; SE ESTIVER EM CASA, COZINHE, COMA, LAVE-SE A OLHAR PARA O MONITOR OU MANTENHA ALGUÉM, DE VIGILÂNCIA, JUNTO DELE; ACAMPE NA SUA CONTA DE EMAIL!
Ouvir o Relvas, sim, o Relvas, esse mesmo, O RELVAS, incluir numa frase as palavras "estudámos muito" já chegava para encher de alegria qualquer coração. Mas a generosidade do brinde - "uma RTP que não seja um fundo sem poço" - chega a ser comovente. (ouvir mesmo porque a versão em texto é... simpática)
Justice occasionally happens (it gives me hope that we didnt have to pay for the crimes of few banksters)
28 January 2013
Uma das peças incluídas em versão de The New London Consort dirigido por Philip Pickett
(não fora o Arménio o simplório intelectual que, realmente é, e, duplicando a "ofensa", teria respondido: "Vão desculpar-me mas não perco tempo com paneleirices linguísticas politicamente correctas!"... entretanto, chovem louvores e pingam lágrimas sobre a morte de um porco assassino colonial-fascista)
Relvas está para Seara como Mesquita está para Seguro (matemática de latrina)
... já agora, por falar em latrina...
... já agora, por falar em latrina...
O grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), Fernando Lima, diz (no "Público" de hoje, edição em papel) que, após o escândalo de 2011, dos Silva Carvalho, Nuno Vasconcellos et alia, "a frequência das lojas, e inclusive a aderência de elementos, foi significativa, maior do que se poderia esperar após esta situação". É extraordinário como continua a haver quem ainda não compreenda os efeitos positivos de uma estratégia de marketing bem orientada. Muito em particular, se o "target" estiver mais do que disponível para aderir ao produto.
27 January 2013
VINTAGE (CXVIII)
Aimee Mann - "Video"
Tell me why I feel so bad, honey
TV's flat and nothing is funny
I get sad and stuck in a cone of silence
Like a big balloon with nothing for ballast
Labeled like a bottle for Alice
Drink me or I'll drown in a sea of giants
And tell me, "Baby, baby, I love you
It's nonstop memories of you
It's like a video of you playing
It's all loops of seven-hour kisses
Cut with a couple near-misses
Back to the scene of the actor saying:
'Tell me, baby, baby – why do I feel so bad?'"
Tell me why I feel so bad, honey
Fighting left me plenty of money
But didn't keep the promise of memory lapses
Like a building that's been slated for blasting
I'm the proof that nothing is lasting
Counting to eleven as it collapses
And tell me, "Baby, baby, I love you
It's nonstop memories of you
It's like a video of you playing
It's all loops of seven-hour kisses
Cut with a couple near-misses
Back to the scene of the actor saying:
'Tell me, baby, baby – why do I feel so bad?'"
Baby, baby, I love you
Aimee Mann - "Video"
Tell me why I feel so bad, honey
TV's flat and nothing is funny
I get sad and stuck in a cone of silence
Like a big balloon with nothing for ballast
Labeled like a bottle for Alice
Drink me or I'll drown in a sea of giants
And tell me, "Baby, baby, I love you
It's nonstop memories of you
It's like a video of you playing
It's all loops of seven-hour kisses
Cut with a couple near-misses
Back to the scene of the actor saying:
'Tell me, baby, baby – why do I feel so bad?'"
Tell me why I feel so bad, honey
Fighting left me plenty of money
But didn't keep the promise of memory lapses
Like a building that's been slated for blasting
I'm the proof that nothing is lasting
Counting to eleven as it collapses
And tell me, "Baby, baby, I love you
It's nonstop memories of you
It's like a video of you playing
It's all loops of seven-hour kisses
Cut with a couple near-misses
Back to the scene of the actor saying:
'Tell me, baby, baby – why do I feel so bad?'"
Baby, baby, I love you
26 January 2013
Tortura praticada por agentes da polícia ("foi pontapeado, socado e bateram-lhe com uma tábua de madeira na ponta dos pés, várias costelas partidas, diversas escoriações e hematomas") dá... pena suspensa?!!!
25 January 2013
RETURN OF THE RAT(S)
You better watch out
You better beware
They're coming from all sides of the country
You better beware
Return of the rat
No, no, no, no!
You better confess
You had better confess
You started the mess and seen them do it
better confess
Return of the rat...
O Isaltino que o diga: mesmo em gente com grande "rasgo, enorme capacidade de antecipação e de compreensão da realidade, cada vez mais complexa e em vertiginosa mutação", os primos são sempre uma carga de trabalhos...
MÃO-DE-OBRA À BORLA, UM SONHO HÚMIDO DOS PROFISSIONAIS DA INUTILIDADE
("DN")
... poupava-se uns trocos e, assim, já era mais fácil...
DEUSNOSSENHOR NÃO GOSTA DE ENGENHEIROS; SIGAM TEOLOGIA! (ou, se tiverem uma cunha na aventalagem, arquitectura)
24 January 2013
Um refrão que não sai da cabeça (V): "Pour punir la trahison, la haute rapine, voilà pour qui l'on a fait ce dont on connaît l'effet, c'est la guillotine!"
Londres, Reino Unido, 2011 (Schoony)
Bent double, like old beggars under sacks,
Knock-kneed, coughing like hags, we cursed through sludge,
Till on the haunting flares we turned our backs,
And towards our distant rest began to trudge.
Men marched asleep. Many had lost their boots,
But limped on, blood-shod. All went lame, all blind; D
runk with fatigue; deaf even to the hoots
Of gas-shells dropping softly behind.
Gas! GAS! Quick, boys! — An ecstasy of fumbling
Fitting the clumsy helmets just in time,
But someone still was yelling out and stumbling
And flound'ring like a man in fire or lime
Dim through the misty panes and thick green light,
As under a green sea, I saw him drowning.
In all my dreams before my helpless sight
He plunges at me, guttering, choking, drowning.
If in some smothering dreams, you too could pace
Behind the wagon that we flung him in,
And watch the white eyes writhing in his face,
His hanging face, like a devil's sick of sin,
If you could hear, at every jolt, the blood
Come gargling from the froth-corrupted lungs
Bitter as the cud
Of vile, incurable sores on innocent tongues,
My friend, you would not tell with such high zest
To children ardent for some desperate glory,
The old Lie: Dulce et decorum est Pro patria mori.
(Wilfred Owen)
E COMO IRÁ O POBRE ESTUDANTE DE SCIENCES PÔ, NA SUA ROMÂNTICA MANSARDA PARISIENSE, PAGAR O EMPRÉSTIMO? (abertura de conta solidária, já!)
("CM")
E HÁ AINDA OUTRA "FABULOSA AMY MARTIN" (aka o heteronímico Mulas)
23 January 2013
Segundo o melhor amigo do homem (o Google), a Amy Martin é assim
(até agora, o melhor período das últimas décadas, para os fãs do fake: Autur Baptista da Silva, Mulas, exposição Elmyr de Hory... Wow!)
Edit: ... e, depois do Guttenberg, a Alemanha, com Anette Schavan, mantém-se na luta pelo primeiro lugar ameaçado pelo húngaro Pál Schmitt e pelo "duo - dinâmico" da lusa pátria..
22 January 2013
"Behind a disguised offshore company structure, the church's international portfolio has been built up over the years, using cash originally handed over by Mussolini in return for papal recognition of the Italian fascist regime in 1929" (texto integral aqui)
21 January 2013
... como a "motivação e a identificação pessoal com os objectivos organizacionais" devem, por esta altura, ser imensas, será por aí que tudo, de certeza, se resolve...
Um refrão que não sai da cabeça (IV): "Pour punir la trahison, la haute rapine, voilà pour qui l'on a fait ce dont on connaît l'effet, c'est la guillotine!"
Dos Arlindos: versão quase objectiva; versão didactica
Um refrão que não sai da cabeça (III): "Pour punir la trahison, la haute rapine, voilà pour qui l'on a fait ce dont on connaît l'effet, c'est la guillotine!"
O SEGREDO
Lawrence Arabia - The Sparrow
T. E. Lawrence, alias, Lawrence da Arábia – arqueólogo, herói militar, espião, diplomata e escritor britânico –, após uma vida trepidante e aventurosa, quando, em 1935, no Dorset, se dirigia de mota a uma estação de correios para enviar uma encomenda de livros a um amigo, morreria, vítima de queda, ao procurar evitar o embate com dois ciclistas. Lawrence Arabia, aliás, James Milne –, músico e "songwriter" neozelandês – no terceiro álbum, The Sparrow, intitula um dos nove temas "Bicycle Riding" mas, antes de acedermos a ele, no "booklet", deveremos tropeçar no pequeno conto homónimo do disco (antecedido pela qualificação “Honorary Bedouin”) que faz as vezes dos proverbiais textos das canções, ficha técnica e "liner notes": a narrativa da alucinação do jovem Henry Fredericks, patologicamente hipersensível à textura dos tecidos, à própria anatomia e ao obsessivo piar de um pardal, contada a um amigo alfaiate, depois de uma noite a deambular de bicicleta.
Como começará a suspeitar-se, Milne obedece a raras convenções: afirma-se discípulo de Scott Walker e Gainsbourg mas, logo nas primeiras apresentações, "Travelling Shoes" dá-se ares de "Stand By Me" cantado por David Byrne a pensar em "Femme Fatale" e, pouco depois, "The Listening Times" coloca a hipótese de Syd Barrett ter sido mais parcimonioso na dieta de LSD e ter-se transformado em Burt Bacharach, enquanto, três faixas adiante, em "Early Kneecappings", reconhecemos o velho "Walrus" (a silhueta de Lennon já tinha sido avistada antes) prestes a trepar pelo crescendo orquestral de "A Day In The Life". Considere-se ainda o "lounge" em decomposição de "Dessau Rag" ou a pop de câmara orquestralmente desviante de "Legends" e descobriremos, por fim, o segredo: Milne é Kevin Ayers refugiado num filme de Wes Anderson.
Labels:
Bacharach,
Beatles,
cinema,
David Byrne,
drogas,
John Lennon,
Kevin Ayers,
Lawrence Arabia,
Scott Walker,
Serge Gainsbourg,
Syd Barrett,
Velvet Underground,
videoclips,
Wes Anderson
ONDE SE DEMONSTRA QUE UM CV JEITOSO NÃO É NENHUMA GARANTIA DE IMUNIDADE QUANTO AO IMPEDIMENTO DE ENXERGAR O ÓBVIO MESMO QUE ELE NOS PERFURE AS ÓRBITAS (e, adicionalmente, que a antiga 4ª classe, afinal, não era lá grande coisa)
"O problema é que os modelos de previsão funcionam como se estivéssemos numa situação normal. Quando um país está numa situação de crise como a nossa, há medidas que têm um impacto muito maior do que teriam noutro cenário. Pensou-se que, uma vez tomadas medidas fortes de consolidação orçamental, isso restauraria a confiança na economia e haveria financiamento e investimento. Isso não aconteceu e o impacto das medidas foi maior. (...) Um dos problemas que ficaram muito claros da discussão dos multiplicadores orçamentais é que eles variam completamente de país para país e consoante a situação conjuntural da economia". (Teodora Cardoso, presidente do Conselho das Finanças Públicas, no "Público", edição em papel)
20 January 2013
RECORDAR É VIVER (XLII)
* só porque parece ter passado por entre as pesadas gotas de chuva e porque, por mil vezes menos e sem escritórios de advogados a comer à mão, há quem viva na rua.
19 January 2013
A CONSTATAÇÃO DO ÓBVIO
Quer dizer repulsivamente "mal vistos", evidentemente
... e os resultados podem ser surpreendentes...
("Expresso" de hoje)
18 January 2013
MAS QUAL É O PROBLEMA DE, NUMA ACTIVIDADE QUE - COMO O FUTEBOL, O ROCK OU O CINEMA - É APENAS UM RAMO DO SHOW BUSINESS E ABSOLUTAMENTE NADA TEM A VER COM DESPORTO, UM FULANO (QUALQUER FULANO, TODOS OS FULANOS) SE DOPAR(EM)? ALGUÉM FAZ TESTES DE DOPING AO BRAD PITT OU AO NICK CAVE? (sequência daqui)
17 January 2013
E ALI, A DOIS PASSINHOS DO ESTUDANTE DE SCIENCES PÔ QUE DEVIA ESTAR A OUVIR TUDO, O HOLLANDE DEU AINDA OUTRO DESGOSTO AO TOZÉ
ESTE TIPO REALMENTE NÃO DORME E ISSO PROVOCA-LHE PROBLEMAS DE MÚLTIPLA PERSONALIDADE
"I'm a man without conviction,
I'm a man who doesn't know
How to sell a contradiction.
You come and go, you come and go.
Karma karma karma karma karma chameleon,
You come and go, you come and go"
Glenn Branca - The Ascension
Num polo, estão os 4’33”, de John Cage. Em gesto de radical minimalismo zen, a
acção era substituída pela imobilidade e a composição pela total disponibilidade para a
escuta: o mundo é uma inesgotável fonte de acontecimentos sonoros e, se esvaziarmos o
ouvido de tudo quanto esperamos que “a música” lhe ofereça, poderemos reconfigurar
todo o nosso sistema de percepção, tornando-o capaz de apreender e organizar a esfera
acústica em seu redor – as vozes, a cidade, a natureza, o “ruído”, a própria velha
“música” – de acordo com os padrões que, em cada instante, cada aparelho auditivo
decida instituir como critério de selecção para o seu reportório privado. O silêncio,
claro, não existe, mas a ideia que dele fazemos é o atractor ideal de tudo o que, agora,
aqui, ali, produz um som a que atribuiremos (ou não) sentido.
No polo oposto, 29 anos
depois, Glenn Branca bloqueava toda e qualquer possibilidade de dirigirmos a atenção
para outro lado que não a enxurrada eléctrica de quatro guitarras, baixo e bateria, numa
violenta operação de extermínio da mais ínfima possibilidade de silêncio conduzida até
ao último interstício da série harmónica, tão minimal quanto a de Cage (o massacre de
cada acorde, triturado com o volume no vermelho, só é abandonado quando
definitivamente esgotadas todas as hipóteses de o transportar de um paroxismo para o
seguinte e mais além), mas opondo o excesso à ascese, o espasmo à contemplação, a
grande muralha ao jardim de pedras. À época, Rhys Chatham navegava por idênticos
oceanos e a posterior descendência – Sonic Youth, antes de todos, mas também Hüsker
Dü, Godspeed You!Black Emperor, A Silver Mount Zion ou, em registo pop, Jesus &
Mary Chain – aplicou-se na tradução, em diversas variantes, do texto do apocalipse
original. Mas, tal como 5’44” de silêncio nunca seriam iguais ou melhores do que
4’33”, nada nem ninguém voltaria sequer a abeirar-se da intensidade do tremendo abalo
que, em 1981, numa perfeita simetria com o Cage de 1952, The Ascension provocou.
16 January 2013
Relatório do FMI teve "mão" do Governo: é o próprio Fundo que o afirma (e o Zorrinho não conhece o Mulas de lado nenhum)
Mulas undercover
SALTOS DE PRANCHA
O Experimentar - 2: Sagrado e Profano
Para quem leva religiosamente a sério as proverbiais listas e balanços de fim de ano (que fique assente, de uma vez por todas: nunca são organizadas de ânimo leve mas, se em vez de terem ficado definitivamente estabelecidas numa sexta-feira à tarde, sob temperatura de 14ºC, isso tivesse acontecido noutro dia e a outras horas e temperatura, é assaz provável que não fossem exactamente iguais), convém dizer já que, se 2: Sagrado e Profano não constou da que, no que à música portuguesa diz respeito, poderia, facilmente, tê-lo sido. Tal como – e uma vez que de deambulações pelos trilhos das músicas tradicionais se trata – os volumes 2 e 3 das “diversões” das Unthanks, The Unthanks With Brighouse And Rastrick Brass Band e Songs From The Shipyards (desgraçadamente não distribuídos por cá), não precisariam de qualquer tipo de lobbying para assegurar lugar na lista internacional. Não porque qualquer deles necessitasse, verdadeiramente, de tal legitimação.
2: Sagrado e Profano, em particular, segunda encarnação do que, antes, se designava por O Experimentar Na M'Incomoda, é uma magnífica descendência do que a Banda do Casaco, Chuchurumel, Gaiteiros de Lisboa, Amélia Muge, Campanula Herminii e, muito em especial, a Sétima Legião de O Sexto Sentido (para referências exteriores, procurar em Hedningarna, Transglobal Underground ou Loop Guru), foram inventando tomando a tradição popular como potente prancha de salto. No caso, a da música dos Açores, partindo de matéria-prima sonora previamente recolhida e, entre Copenhaga, Lisboa e o Faial, transfigurada por Pedro Lucas e cúmplices (Carlos Medeiros, Zeca Medeiros, Pedro Gaspar, Miguel Machete, Nicolaj Høj) em algo de, simultaneamente, arcaico e contemporâneo, local e fulgurantemente global.
15 January 2013
É absolutamente indiscutível que o Zico veio desencadear o debate que há muito tardava para a revitalização da esquerda revolucionária
... sem dúvida, muito mais importante e decisivo do que, por exemplo, reparar nisto.
14 January 2013
Leonard Cohen - Songs Of Love And Hate
Se houve um momento em que ninguém duvidou que o formato da canção, tal como a segunda metade do século XX a conheceu, não era, de todo, incompatível com o texto literário poético, muito mais do que no caso de Bob Dylan, isso aconteceu na totalidade da obra de Leonard Cohen e, em particular, no devastador Songs Of Love And Hate. Não porque, aqui, Cohen se tenha aproximado da palavra e da melodia de forma diferente do que já fizera ou viria a fazer. Como sempre, o que o leva a mover-se é “a intoxicação pelo amor, a ideia de me render como um ébrio perante esse mistério, como no êxtase de Santa Teresa. Todos esses processos – cristãos, islâmicos, sufis, judaicos, tântricos – de união com Deus que passam por uma metáfora sexual, por uma embriaguês com o ser amado”. Mas nunca como desta vez, tais passos seriam dados tão à beira do abismo (“And we read from pleasant Bibles that are bound in blood and skin that the wilderness is gathering all its children back again”), tão próximo do desespero final que o esgar que nos olha da capa mal disfarça (“Now Santa Claus comes forward, that's a razor in his mit; and he puts on his dark glasses and he shows you where to hit”), tão sufocadamente aflito perante a perda e o fim de tudo (“There are no letters in the mailbox and there are no grapes upon the vine, and there are no chocolates in the boxes anymore, and there are no diamonds in the mine”). Abraçado à sumptuosa decadência desenhada pelas orquestrações de Paul Buckmaster, resta apenas o êxtase material (“here, right here, between the birthmark and the stain, between the ocean and your open vein, between the snowman and the rain, once again, love calls you by your name”) e o fogo que derrete o gelo de uma Joan Of Arc chamada Nico.
Um século e tal depois, por fim, tudo se esclarece: socialismo é assinar a petição em defesa do Zico
NO "PÚBLICO" DE HOJE, A DEFESA DA CHACINA COMO TÁCTICA MILITAR LEGÍTIMA E EFICAZ (sequência daqui)
“Não tenho qualquer dúvida que o relatório aludido é verdadeiro e que o caso relatado não foi o único que ocorreu. Isto é, não foi a única vez que se cortaram cabeças aos bandidos que nos retalharam a carne e os haveres. (…) Quero acrescentar, para eventual escândalo de muitos que, apesar do horror da cena, ela se justificou. (…)” (João Brandão Ferreira, herói da pátria, oh quão injustamente punido por, enquanto adido militar na Guiné-Bissau, ter ido passar o fim-de-semana ao Senegal)
13 January 2013
LES ISILDAS FRANÇAISES DES PETITES VACHES ET DES PETITS BOEUFS SE PROMÈNENT À PARIS
... o que combina muito bem com esta animada performance junto à sede da Vaticano S.A.:
UMA COISA NÃO COSTUMA EXCLUIR NECESSARIAMENTE A OUTRA (II)
"O homem que se apresentou na insólita cerimónia, contudo, parecia mais um homem de negócios que um pirata"
"O homem que se apresentou na insólita cerimónia, contudo, parecia mais um homem de negócios que um pirata"
ESTE ACHA QUE A HIPÓTESE 1 É A CERTA (continuo a votar na 2 ou na 3... e, por falar nisso, isto tudo não era por causa de 4 mil milhões?)
12 January 2013
ESTUDO DE MERCADO E PLANO DE NEGÓCIOS DA VATICANO S.A. REALIZADO POR UM QUADRO MENOR DA EMPRESA (mas que também reflecte as preocupações do CEO)
NUNCA ESQUEÇAMOS QUANTO DEVEMOS AO MULAS DA MESMA INTERNACIONAL SOCIALISTA DO MUBARAK, DO BEN ALI, DO ESTUDANTE DE SCIENCES PÔ E DO TOZÉ!
... não esquecendo outros "bons amigos" (e brilhantes dias se anunciam!).
ALGURES NA HIPÓFISE
É todo esse percurso que poderá ser, agora, revisto e reavaliado, através da reedição pela Orfeu da discografia, em álbum, de Afonso: já disponíveis – com restauro sonoro e remasterização digital de António Pinheiro da Silva, a partir das matrizes originais – encontram-se Cantares do Andarilho (1968), Contos Velhos Rumos Novos (1969), Traz Outro Amigo Também (1970), Cantigas do Maio (1971), Eu Vou Ser Como a Toupeira (1972), Venham Mais Cinco (1973), Coro dos Tribunais (1974), Com as Minhas Tamanquinhas (1976), devendo, entre Março e Abril de 2013, ser publicados os últimos três álbuns: Enquanto Há Força (1978), Fura Fura (1979) e Fados de Coimbra (1981) – ficando apenas de fora Como Se Fora Seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985), à época editados, respectivamente, pela Sassetti e Transmedia. Cortando com a fase formativa anterior dos fados e baladas coimbrãs, Cantares do Andarilho (acompanhado por Rui Pato) dá início à individualização criativa de Afonso que, na etapa seguinte, Contos Velhos Rumos Novos, introduzindo bombo, cavaquinho, harmónica, marimba, reco-reco e lampião chinês, assinalaria, segundo o próprio, a despedida da “choradeira das baladas” e funcionaria como trampolim para o período mais rico da sua discografia, entre 1970 e 1974: o de Traz Outro Amigo Também, Eu Vou Ser Como A Toupeira e Venham Mais Cinco, mas, acima de todos, o extraordinário Cantigas do Maio, que, com José Mário Branco como director musical e “advogado da música”, fez questão de concretizar com clareza e nitidez que “uma canção não é apenas música mais palavras mas, sim, algo de novo que resulta desse encontro”.
A 13 de Maio de 1973, preso pela PIDE numa cela de isolamento do forte de Caxias, José Afonso escrevia à companheira, Zélia: “Com a devida vénia me reporto junto do tampo de mármore, meu secretário tão certo. Desde quando deixara eu de ouvir esta palavra? Logrei substitui-la numa manhã óptima mas não esta em que a mola salta reprimida sabe-se lá donde, algures na hipófise. (...) Na laje sobre a qual o papel branco me obedece sem que o habitem outros sinais, pequeninos veios avolumam-se em áreas mais densas, configurando pássaros de porcelana chinesa. Afundo-me neste fundo para descobrir-lhes um sentido branco, amarelo, de novo branco, cada centímetro um fuso de seres minúsculos, buscando reorganizar-se, perder-se, reagrupar-se”. Não, José Afonso não enviava nenhuma mensagem encriptada nem alucinava fruto da tortura do sono a que não foi submetido. Durante as três semanas de detenção, nem sequer fora agredido fisicamente, acabando por ser posto em liberdade por falta de “elementos indiciários suficientemente comprovativos de que tivesse atentado contra a segurança do Estado”.
Simplesmente, ele escrevia assim mesmo e, se em muitas das suas canções, o sentido de denúncia era francamente mais explícito, em inúmeras outras, obrigava-se (e obrigava quem o escutava ou lia) a deixar-se arrastar pelo jogo de livre associação de palavras e ideias, procedimento tão canonicamente surrealista como popular: “É uma espécie de exorcismos ou evocações de vivências populares, com termos e vocábulos que já não existem e que me reportam a uma certa saudade de aspectos de uma vida comunitária que, agora, me ultrapassa, (...) uma espécie de estado de semiconsciência em que as palavras vêm à superfície, desligadas de qualquer necessidade lógica”.
Hoje, poderá não ser fácil de acreditar mas, por causa disso, o lendário herói de "Grândola" – senha e logo sonoro da revolução –, o consensual fundador da nova música popular portuguesa, antes e depois do 25 de Abril, na fase mais radicalizada do PREC, foi asperamente acusado de “poetismo”, “hermetismo” e de “não compreender a função da música na vida das massas” (enquanto, simétrica e paradoxalmente, outros lhe reprovavam o “panfletarismo”). A verdade é que, a despeito de todos os preconceitos e ideias feitas, como aponta Irene Flunser Pimentel na Fotobiografia de José Afonso (Temas & Debates, 2009), “numa estatística efectuada às suas gravações, menos de um terço foram ‘canções de intervenção’, sendo as restantes de carácter lírico ou folclórico”.
É todo esse percurso que poderá ser, agora, revisto e reavaliado, através da reedição pela Orfeu da discografia, em álbum, de Afonso: já disponíveis – com restauro sonoro e remasterização digital de António Pinheiro da Silva, a partir das matrizes originais – encontram-se Cantares do Andarilho (1968), Contos Velhos Rumos Novos (1969), Traz Outro Amigo Também (1970), Cantigas do Maio (1971), Eu Vou Ser Como a Toupeira (1972), Venham Mais Cinco (1973), Coro dos Tribunais (1974), Com as Minhas Tamanquinhas (1976), devendo, entre Março e Abril de 2013, ser publicados os últimos três álbuns: Enquanto Há Força (1978), Fura Fura (1979) e Fados de Coimbra (1981) – ficando apenas de fora Como Se Fora Seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985), à época editados, respectivamente, pela Sassetti e Transmedia. Cortando com a fase formativa anterior dos fados e baladas coimbrãs, Cantares do Andarilho (acompanhado por Rui Pato) dá início à individualização criativa de Afonso que, na etapa seguinte, Contos Velhos Rumos Novos, introduzindo bombo, cavaquinho, harmónica, marimba, reco-reco e lampião chinês, assinalaria, segundo o próprio, a despedida da “choradeira das baladas” e funcionaria como trampolim para o período mais rico da sua discografia, entre 1970 e 1974: o de Traz Outro Amigo Também, Eu Vou Ser Como A Toupeira e Venham Mais Cinco, mas, acima de todos, o extraordinário Cantigas do Maio, que, com José Mário Branco como director musical e “advogado da música”, fez questão de concretizar com clareza e nitidez que “uma canção não é apenas música mais palavras mas, sim, algo de novo que resulta desse encontro”.
Numa época em que a canção popular se desejava como pouco mais do que um cartaz, uma pichagem ou uma palavra de ordem revolucionários, algo de funcional ao serviço de uma agenda política, afirmar (como Afonso o fez à “Capital”) que a “canção de protesto” se estava “a transformar num bem de consumo e num álibi de consciências” e procurar elevá-la ao mesmo patamar artístico para que, na mesma altura, apontavam Os Sobreviventes, de Sérgio Godinho, e Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades, de Mário Branco, não era o tipo de declaração que caísse bem na ortodoxia. Mas, daí em diante, convocando os mais diversos tipos de referências que, de certo modo, antecipavam a ideia de "world music", e chamando a si poetas e músicos como Grabato Dias, Pessoa, Fausto e Júlio Pereira, mesmo que persistentemente empenhada no combate político, a música de José Afonso nunca mais seria a mesma.
Subscribe to:
Posts (Atom)