30 November 2018

Darren Hayman - Upper Slaughter, Gloucestershire (Thankful Villages/XXIX)

O 44 - PM daquele governo do tempo da grande burla H1N1 e que, depois de varrido, foi direitinho para a Octapharma - tem uma sorte do caraças com os amigos: quando não é o CSS, são "familiares muito próximos, que lhe são muito queridos"...
Está a referir-se à grande burla do H1N1 *, não é verdade?


* ver, em especial, aqui e aqui
A uma tertúlia do adjuntivo/poeta/"diseur" com o marido da poetisa Silva assentava muito melhor o nome de “grupo da charcutaria”

27 November 2018

Goat Girl - "Throw Me A Bone"

AFOGADOS EM HISTÓRIAS


“Some say our empire is passing like all empires do. How do we begin again?” É a primeira frase que surge projectada no ecrã, por trás de Laurie Anderson, no palco do Nimas. Como que escrita a giz sobre ardósia, da mesma forma que acontecia nas imagens de Landfall e em Chalkroom, a instalação de Realidade Virtual que, há um ano, inaugurou no Massachusetts Museum of Contemporary Art. Nessa altura, o objectivo consistia em “investigar como seria viajar pelo interior da arquitectura das histórias, explorar um universo de letras, frases e palavras desenhadas com giz, nas paredes, flutuar através de rampas e corredores que desembocam em torres gigantescas, criar sons tridimensionais”. Agora, a duas dimensões, a frase retirada de "Another Day In America" (de Homeland, 2010), enquadra a totalidade do concerto/performance “Going Places With Laurie’s Stories”, integrado na programação do LEFFEST’18. E, desdobrada na voz do alter-ego digital, Fenway Bergamot, tão microscopicamente quanto há oito anos, observa e descreve: “Ah, America. And yes that will be America, a whole new place just waiting to happen, broken up parking lots, rotten dumps, speed balls, accidents and hesitations, things left behind, styrofoam, computer chips (…) And ah, these days. Oh, these days, what are days for? To wake us up, to put between the endless nights (…) Ah, America. We saw it. We tipped it over, and then, we sold it”



A América de Jack Kennedy que, quando a adolescente Laurie se candidatou à associação de estudantes, a aconselhou a saber tudo o que os estudantes desejavam e, a seguir, prometer-lhes isso mesmo. E que, após ela ter ganhado, lhe enviou um bouquet de rosas vermelhas. A América daquela cinzenta manhã de Novembro de 2016, iniciada com os 19 segundos do grito estridente de Yoko Ono, no Twitter, em reacção à eleição de Donald Trump. “Afogamo-nos em histórias e acabamos a votar na história de que gostamos mais”. Se as palavras bastam para substituir as coisas, a realidade tende a tornar-se cada vez mais abstracta e a memória – como o giz na ardósia –, uma vez filtrada e apagada, deixa apenas vestígios. Sozinha em palco, com um teclado, um violino, um cadeirão, e uma inesgotável colecção de fábulas e alegorias – actualíssimo Aristófanes e o conselho aos pássaros para erguerem um muro entre a terra e o céu – Laurie Anderson partilha uma convicção (“I think that the resistance will be in the language, and I think that it will be artists that do it) e, contra tudo, um programa: “We’re here to have a really, really, really good time”.

25 November 2018

Brass Monkey with Martin Carthy and John Kirkpatrick - "Soldier Soldier"


(ver também aqui e aqui)
2018 - Prémio "... então e as formiguinhas, os passarinhos e os peixinhos?..."

Portocoiso (aliás, Portocarrero, 4º visconde de Macieira,  sacerdote secular da prelatura do Opus Dei, vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Família, Cerimoniário Eclesiástico da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém e Capelão Magistral da Assembleia Portuguesa da Ordem Soberana Militar de Malta

23 November 2018

STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCXXII)

Lisboa, Portugal, 2018


Darren Hayman - Ousby, Cumberland (Thankful Villages/XXVIII)
O "caso John Chau" ensina-nos que: 

1) A "inspiração de Jesus para a vida" nunca é coisa de fiar; 
2) Há tribos que podem ser pré-Neolíticas mas não acham grande piada ao primeiro trafulha que apareça a vender-lhes banha de cobra; 
3) O plano de "estabelecer o reino de Jesus na ilha" não parece ter despertado sentimentos especialmente monárquicos nos indígenas;
4) O John poderia "amar muito a deus" mas, a avaliar pelos factos, o sentimento não aparentava ser correspondido.

22 November 2018

A rigorosa definição científica 
da coisa é, sem dúvida, 
Dêem-lhes só uns anitos e estão todos a fazer filinha à porta do museu... (logo a seguir à entrada mais recente)
O SOM ANTES DA LINGUAGEM




Não é o género de notícia que ganhe destaque planetário mas a verdade é que, em 2015, Have You In My Wilderness, de Julia Holter, foi eleito álbum do ano para a “Mojo” e “Uncut”, figurou no top 5 da “Q”, “Wire”, “Guardian” e “Sunday Times” e, ainda no início do ano passado, Brian Eno sobre ele derramava louvores. Uma pouco previsível unanimidade quando dirigida a uma autora que, nas obras anteriores – Tragedy (2011), Ekstasis (2012) e Loud City Song (2013) –, recorria ao Hipólito, de Eurípides, citava Frank O’Hara e Virginia Woolf, e inspirava-se na Gigi, de Colette, como combustível conceptual para o forno criativo, enquanto, em simultâneo, se entregava à exploração das possibilidades microtonais e a divertimentos mais ou menos cageanos, mais ou menos dadaístas. Em comparação, Have You In My Wilderness (apesar de, à transparência, nele se entreverem ainda as silhuetas de Christopher Isherwood e, de novo, Colette) quase parecia cerimoniosamente respeitador do formato clássico da canção. Não havia nenhum motivo para alarme: o belíssimo Aviary, sem se ausentar para paragens longínquas, adopta a perspectiva do aventureiro musical – vigilância atenta à via “para onde os sons desejam dirigir-se”

    Há uma muito marcada diferença de perspectiva na composição entre este álbum, Aviary, e o anterior, Have You in My Wilderness... 

É verdade. Em Aviary, não me concentrei tanto, como aconteceu em Have You In My Wilderness, nas estruturas tradicionais da canção mas muito mais numa abordagem que procura descobrir para onde os sons desejam dirigir-se. 

    Num video de apresentação do disco, um dos aspectos que refere é a sua atitude de colocar preferencialmente o som antes da linguagem. O que significa isso exactamente? 

Tenho sempre presente a ideia de que, quando colocamos palavras numa música elas deixam de ser realmente palavras, linguagem, e transformam-se em puro som, algo de completamente diferente. Por vezes, quando se sofre um AVC, as pessoas esquecem as palavras, não conseguem falar, mas continuam a ser capazes de cantar uma canção e recordam-se das palavras dela. O que quero dizer é que o nosso cérebro processa a linguagem de forma diferente se for cantada. Se quiser, pode interpretar isto como uma tentativa minha de justificar cientificamente o modo como encaro os textos das canções (risos): não são exactamente poemas mas uma entidade em si mesma. 

    Mas vai procurá-los e escolhê-los às mais diversas fontes e épocas... 

A música vem ter comigo mais facilmente do que as palavras. Tenho de jogar com textos meus e outros pré-existentes de modo a que, por aí, acabe por produzir algum sentido. Por exemplo, a última canção do álbum, "Why Sad Song", é a transcrição fonética de um canto budista tibetano de Ani Choying Drolma. Mas o mais interessante é que, desconhecendo eu o sentido do texto original, vim a descobrir, mais tarde, que a primeira palavra era “sadness" (tristeza)


     
    Por outro lado, em "Chaitius", a meio de uma frase, passa, sem aviso, do inglês para o occitano...

Nessa combinação dos dois idiomas desejei obscurecer um pouco a distinção entre ambos, criar um efeito de desorientação e confusão mental em que não somos capazes de identificar qual é qual em cada momento. Mais uma vez, também aí procurei que o som fosse mais importante do que a linguagem mas, neste caso, jogando também com o significado das palavras. 

    Era a isso que, de certo modo, se referia numa entrevista à “Rolling Stone” quando afirmava que “a arte é um permanente processo de tradução”?

Sim, sem dúvida. 

    Numa secção regular da “Mojo” (“Last night a record changed my life”), no mês passado, falava da sua admiração pela banda sonora de Vangelis para Blade Runner e confessava que adoraria ter composto “música medieval para Blade Runner”. Onde é que queria realmente chegar? 

É claro que existe aí uma contradição. O filme é de 1982 e procura representar o presente em que vivemos hoje mas, não o representando com exactidão, também não é tremendamente diferente. É intrigante eu sentir-me atraída por uma imagem do futuro tal como ele era imaginado em 1982, isto é, antes de eu nascer... Por outro lado, desde há cerca de dez anos, tenho-me interessado imenso pela história da Idade Média e pela forma como podemos relacionar essa época com a actualidade, por exemplo, no que respeita às cruzadas e aquela aura de tempo de trevas... Quando olho para as telas do Hyeronimus Bosch – ainda que ele não seja um pintor exactamente medieval, é mais renascentista –, em particular, O Jardim das Delícias Terrenas, parecem-me extremamente futuristas, surreais, não consigo deixar de as associar às imagens de Blade Runner e às interrogações acerca do que é ser humano ou ser um replicante... 

    Onde foi buscar a ideia – que acabaria por ser central em Aviary – de que, na Idade Média, os pássaros eram vistos como símbolos da memória? 

A um livro de Mary Carruthers, The Book of Memory: A Study of Memory in Medieval Culture, no qual, entre outros exemplos, ela se refere a uma representação da memória numa iluminura de um Livro de Horas medieval como pássaros engaiolados. 

    Essa metáfora hitchcockiana dos guinchos dos pássaros como “cacofonia mental num mundo em dissolução”, pode ter também uma interpretação política?  

Nunca é uma questão exclusivamente política, nem exclusivamente pessoal. É tudo isso junto. Enquanto artista, não me interessa enviar grandes mensagens mas sim lançar para o mundo peças abertas a serem interpretadas de modo diferente por cada pessoa. Não é apenas uma questão de desejo ou opinião minha, é o que verdadeiramente são. 

    O facto de o seu pai, Darryl Holter ser historiador teve influência no facto de as suas canções terem um amplo espectro de referências, de Safo a Dante, Guillaume de Machault... 

Nao só o meu pai, a minha mãe também é historiadora. E, como seria de prever, claro que conversavam sobre História o tempo todo mas, quando era miúda, a verdade é que não ligava nenhuma à História... Actualmente, interessa-me de tal modo que não sei se poderei honestamente dizer que isso decorre apenas da influência dos meus pais. 

    A verdade é que podemos escutar cada peça por si mesma mas, ao mesmo tempo, somos quase obrigados a colocá-la num contexto maior no qual se cruzam polifonias medievais, música contemporânea, cânticos budistas... 

Sim, sim... comigo, é sempre uma questão de coligir material de muitas fontes e muitas épocas diferentes, é por isso que dá tanto trabalho compor. Mas o mais difícil continuam a ser os textos.

    A sua confissão de que, durante os últimos tempos, viveu com a sensação de que “everyday is an emergency” – o que veio dar origem a uma canção com esse título – pode ser transposta para fora de um âmbito exclusivamente pessoal?

É verdade, pode. É como, muitas vezes, me sinto. Isto não significa que não seja capaz de apreciar a minha vida e de reconhecer que ela é muito boa. Mas essa sensação repete-se com alguma frequência e tenho consciência de que não vivo sozinha neste mundo e não escrevo apenas para mim. Daí que seja bom manter a capacidade de colocar todas estas questões em perspectiva.

21 November 2018

O aterrador matrimónio entre "Big Brother"  (para os alunos) e medição de audiências (para os profs)


"As medicinas alternativas, como a homeopatia e outras palermices do género, também têm um estatuto privilegiado de IVA. Regredimos ao tempo dos vendedores de banha da cobra. Quando devíamos estar a discutir a legalidade deste tipo de fraudes ser vendido nas farmácias, estamos, pelo contrário, a subsidiá-lo e incentivá-lo. Se for comprar um medicamento homeopático, que é basicamente nada com água e açúcar, paga o mesmo IVA que paga por um Benuron: 6%. Foi em 2016, por proposta do BE e do CDS, que os prestadores destes serviços fraudulentos passaram a estar isentos de IVA. E, com honestidade, se no futuro, cartomantes, bruxos e bruxas e astrólogos exigirem a mesma isenção, poderemos criticá-los?" (LAC) (e tinha-me escapado que a PUPK tinha levado a sua avante...)

20 November 2018

(O 8º ANO A SEGUIR AO) ANO DO TIGRE (CXXXVIII)


ARMISTÍCIO


Quando menos se espera, volta e meia, surgem em Portugal as ideias mais surpreendentes. Por exemplo – antecipando de uma semana a celebração, em Paris, do Armistício da I Guerra Mundial –, festejar a paz que pôs termo à selvática carnificina inter-imperialista (na qual, rasgando novos horizontes para a historiografia, o comandante supremo das Forças Armadas portuguesas conseguiu enxergar o quadro quase hippie de uma luta "pela compreensão contra o ódio, pela liberdade contra a opressão, pela justiça contra a iniquidade, pela Europa aberta contra a Europa fechada") com... “o maior desfile militar em 100 anos”! Leram bem: festejar a paz = desfile militar. O maior em 100 anos. Tantos quantos os do Armistício. Se, para um estudo da natureza profunda da mente militar, a literatura recomendada continua a ser O Bom Soldado Švejk, de Jaroslav Hašek, que tem lugar, justamente, durante a guerra de 1914-18 – preste-se particular atenção à personagem do alferes Konrad Dauerling –, evocar de forma decente e enxuta as memórias desse tempo é o que, desde 2016, Darren Hayman tem andado a fazer com o tríptico Thankful Villages de que é agora publicado o terceiro e último volume. 

Wysall, Nottinghamshire (Thankful Villages/XXVII)

Não há aqui monumentos aos mártires nem epopeias heróicas: apenas um inventário das 54 “aldeias gratas” por todos os seus soldados terem regressado vivos a casa. Hayman visitou-as uma a uma e, em cada uma delas, realizou um video e uma aguarela, conversou com os residentes locais, registou entrevistas, histórias e "field recordings", e criou atmosferas sonoras e canções "site specific". Nas últimas 19 etapas do Volume 3, em Minting, no Lincolnshire, um gato invadiu-lhe o carro e recusou-se a sair enquanto David, professor da escola da terra, músico, e detectorista amador foi com ele desenterrar moedas chinesas antigas; chega a Ousby, Cumberland, onde um cavalo o olha fixamente, um cão lhe ladra, e recebe a notícia do assassinato da deputada trabalhista Jo Cox por um extremista de direita, a um mês do referendo do Brexit; no dia a seguir à vitória de Trump nos EUA, em Wysall, Nottinghamshire, dão-lhe a ver um filme das irmãs “Miss Evans” sobre a vida da aldeia e o último dia da escola, quando Mrs. Kettle era a professora; e, Sally Beers, um dos 48 habitantes de Teigh, Rutland County (pano de fundo musical cortesia de Simon Fisher Turner), conta-lhe a história do avô, o reverendo Henry Tibbs, preso por ser simpatizante nazi. Uma miniatural história secreta da Grã Bretanha que vale por mil desfiles militares.
Poderá, pois, falar-se já de uma Santa Aliança entre PS, beatagem social-fascista, racista e marialva, o bardo e o inquilino da Casa dos Bicos (que é um fofinho mas "não se lembra de ter ficado indignado" com a tortura até à morte dos toiros na arena)

17 November 2018

Voltemos, então, a recordar 

"Podem dar as voltas que quiserem, mas as touradas são a exibição pública da tortura de um animal, que é esfaqueado para enfraquecer e depois, no caso das touradas de morte — que todos os defensores das touradas desejavam poder ter sem limitações —, ser morto. As touradas vivem do sangue, da dilaceração da carne, do cansaço até ao limite e da morte. Podem ter todos os rituais possíveis, ter toda a 'arte' de saracotear à volta de um bicho, mas as touradas não são uma arte, são a exibição circense de um combate desigual entre homens e animais, cuja essência é a sua tortura para gáudio colectivo" (JPP)
Convém saber que o orçamento de Estado também serve para que, no serviço público de televisão, sejam emitidos programas de escancarada apologia da(s) maçonaria(s), "templários", outras seitas "ocultas" e duvidosos covis "esotéricos" (a inefável OBOD também por lá passou), igualmente utilizáveis como albergue de criaturas desvalidas (caso do pequeno-médio-intelectual-armado-ao-pingarelho)

Poderá ser uma pouca begonha 
já ninguém a tira

16 November 2018

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XLIX)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)
Acerca do único debate - para além do que envolve os Cavaleiros Stromp da Antiquíssima e Mística Ordem do Treponema Pallidum - que parece verdadeiramente entusiasmar a pátria, já que, aparentemente, não é demasiado grave regredir, recue-se, então, em alternativa, até muito mais antigas tradições do Império Romano, de grande aceitação popular (mas onde quem se divertia eram os animais)


13 November 2018

MUNIÇÕES


Primeiro, um pouco de taxonomia: o "grindcore" é um género musical resultante da fusão a alta pressão do "heavy metal" com o "punk hardcore" – a adição de partículas de "thrashcore", "crust punk" e "extreme metal" é opcional –, subdividindo-se, a gosto, em "goregrind", "pornogrind", "deathgrind", e "electrogrind". É perfeitamente compreensível que, mesmo um ouvido treinado, revele alguma dificuldade em identificar as subtis distinções entre os diversos ramos e tendências uma vez que, de um modo geral, consiste num vertiginoso cagarim eléctrico sobre o qual são guinchados indecifráveis jactos verbais. Com uma simpática particularidade: é abençoadamente breve. A "microsong" é um dos seus traços característicos, detendo os Napalm Death – segundo os textos sagrados, alegados fundadores do género e subproduto sonoro da Inglaterra de Thatcher – o Guinness para a canção mais curta de sempre: “You Suffer” (1.316 segundos). 



Óptima deixa para o que, agora, importa: The First 100 Songs, dos Anal Trump, com a duração total de 11 minutos, isto é, uma média de 6.6 perfurantes segundos por faixa. Se o nome da banda homenageia os anatomicamente problemáticos Anal Cunt – outra lenda "grindcore" –, a opção por “Trump” no lugar da "c-word" decorre do objectivo último de Rob Trump e Travis Trump (aliás, Rob Crow e Travis Ryan, dos Pinback e Cattle Decapitation): criar uma ferramenta política de protesto mas exclusivamente gerada “from the point of view of the asshole”. Por outras palavras, os títulos de cada canção constituem o único texto e cada um deles foi pronunciado por Donald Trump ou, se não foi, poderia ter sido. Trata-se, portanto, de um espelho (deformante mas não muito) da realidade que recupera munições da série de EP iniciada em 2016 (títulos exemplificativos: If You Thought 6 000 000 Jews Was A Lot Of People, You Should've Seen My Inauguration!, If You Wanted To Qualify For Health Insurance, Then Maybe You Shouldn't Have Gotten Raped?) e lhes acrescenta outras do mesmo poço sem fundo: uma longa lista de coisas/pessoas que “is/are gay” (“Journalism”, “Breast Feeding”, “Mammograms”, “Sick People/Old People”...), clássicos como “Some Mexicans Aren’t Rapists”, “My Daughter Is a Piece of Ass” e “Grab’em By The Pussy”, ou pérolas do estilo “Blood Coming Out of Her Wherever” e “I’m Like a Smart Person”. Foi publicado a 6 de Novembro – o dia das "midterm elections" – e a intenção declarada é “pôr fim a este feio capítulo da história humana”. Oxalá... “
Ora, ora... o 44 fazia praticamente 
o mesmohá muito tempo


(via Malomil)
Michael Moore - "Fahrenheit 11/9"


11 November 2018

Darren Hayman - Bigby, Lincolnshire (Thankful Villages/XXV)
 


10 November 2018

Ora deixa cá ver durante quanto tempo irá o LAC continuar a escrever no pasquim direitolas online

... mas haja quem encomende já à artista - a qual, na inauguração, deverá vestir um equipamento do FCP com lantejoulas e chuteiras Louboutin - uma gigantesca cascata de tripas à moda do Porto que se derramará pelos 18 hectares do parque de Serralves e onde navegará uma dúzia de barcos rabelos carregados de francesinhas e alhos porros

Nike Louboutin (por €40.99, até é um preço catita)

Edit - acaba de me chegar por email uma valiosa proposta de enriquecimento do conceito da instalação: "só falta o arroz de sarrabulho e o mercado do Bolhão todo iluminado como a igreja do Trio Odemira"

09 November 2018

06 November 2018

Professor(a) Karamba agora diz-se "Facilitadora de Mindfulness"

TUMULTO


13 canções, 13 Rivers. Parece fácil demais descrever assim o 19º álbum a solo de Richard Thompson. E é fácil demais, apesar de ser o próprio a fazê-lo. O motivo talvez seja – confessa-o no seu "website" – não compreender como funciona o processo criativo: “Por vezes, escrevemos canções sem perceber acerca do que são; supomos que tratam de coisas que vivemos mas acabam por resultar de modo diferente, ocupam um mundo alternativo. Reflectem as nossas circunstâncias mas também esse outro mundo. Imagino que seja uma bizarra existência paralela à minha vida. É frequente olhar para uma canção concluída e interrogar-me acerca do que raio haveria dentro de mim”. Em entrevista ao “Aquarium Drunkard”, sublinha que é, essencialmente, do seu tumulto interior que elas surgem, embora conceda que algumas são suficientemente abstractas para poderem ser lidas politicamente. E, vivendo há 30 anos nos EUA, não se esquiva a reconhecer que o país atravessa um momento de insanidade: “Donald Trump está para além da sátira! Seria preciso escrever uma canção nova todos os dias. Estamos às escuras acerca do que poderá acontecer a seguir mas é preciso estar preparado para tudo”. 



"The Storm Won’t Come", o primeiro “rio”, corre turbulentamente por esse território entre o íntimo e o político: “I'm longing for a storm to blow through town and blow these sad old buildings down, fire to burn what fire may and rain to wash it all away, but the storm won't come”. O segundo, "The Rattle Within", diagnostica a origem da inquietação (“Just when you think that your horses are running, just when you think that you're fixing to win, there's that wandering deep inside you, who's gonna save you from the rattle within?”) e, um pouco mais adiante, em "The Dog In You", avista-se a silhueta do mal: “All of the pain, again and again, to put a twinkle in your eye, all the grief, to give you some relief and to satisfy the dog in you”. Pelo meio de incendiárias explosões de guitarra, todos os rios convergem para o dilúvio final (“Don't need a ticket for the future, the apocalypse is free, Armageddon's in the mirror”) e, em modo de aproximação dissimulada – “Gosto de alternar entre a luz e as trevas, nunca deixar prever o que virá a seguir. É então que cravo o punhal sem que se apercebam” –, Richard Thompson arrasta-nos com ele, sonambulamente, até ao penúltimo instante: “If my feet betray me, lock the door, my heart may never be this wise again, I'm shaking, I'm shaking, I'm shaking the gates of hell”.
Mas não se trata de uma questão de "gosto" - considerar-se algo esteticamente valioso ou não -, trata-se, sim, da cruel exibição de uma lenta tortura sanguinária e selvagem, acerca da qual não deveria estar a discutir-se a percentagem do IVA mas a proibição! (e, para o caso, quero lá saber do Picasso e do Hemingway que, em várias outras matérias, também estavam longe de ser um exemplo)

Edit (10:20): desapareceu o texto do director do "Público", Manuel Carvalho, "As touradas e o risco das ditaduras do gosto"?...

Edit (10:52): "Este editorial foi actualizado às 10h30. A versão original transcrevia erradamente as declarações da ministra Graça Fonseca, que defendeu a manutenção da actual taxa de IVA para as touradas “não por uma questão de gosto, mas de civilização”, quando no editorial original se lhe atribuía a opinião de que em causa estava uma questão de gosto e de civilização".

Foi-se, portanto, "o gosto" mas permanece a ideia de que "quando se entra em matérias como a dos valores civilizacionais, ou do gosto (mas, então, é uma questão de 'gosto' - que, aliás, continua no título - ou não é?...), arrisca-se a cair no paternalismo moralista que raramente encaixa nos preceitos de uma sociedade livre" e que "coexistir com hábitos culturais que rejeitamos é uma parte indispensável da tradição das sociedades abertas". Vivam, pois, a escravatura, a excisão genital, a Sharia e os acordãos judiciais trogloditas!!!

05 November 2018

"Beautiful"?... Nem pensar,
 "a piece of ass"é que é!

A falsificação aqui (ou a reescrita, sem vergonha, da história da I Guerra Mundial onde se teria lutado "pela compreensão contra o ódio, pela liberdade contra a opressão, pela justiça contra a iniquidade, pela Europa aberta contra a Europa fechada, o mundo solidário contra o mundo dos egoísmos, das xenofobias e exclusões")
Ou como, a propósito de uma carnificina, a religião consegue tornar-se ainda mais repugnante

04 November 2018

"A Ciência pode substituir a religião"? Não, a ciência é o contrário da religião!
A Bial, essa "explicadora de milagres", na qual o ex-ministro da Saúde depositava total confiança, prossegue, imparável, na gloriosa via da karambização, investigando os pintos que influenciam o movimento de robots e os papagaios que lêem o pensamento dos donos (notar que "a parte científica está sob a alçada do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas")

"(Durante o show-off dos Dauerling) Marcelo recordou ainda várias histórias particulares de militares portugueses – 'das trincheiras de França, ao Atlântico ou nos desertos de Angola e Moçambique'

Recordemos, então, a heróica gesta:

"Na Flandres, o Corpo Expedicionário conhecia a sua quase destruição. No dia 4 de Abril de 1918, as tropas amotinavam-se em pleno campo de batalha. O Corpo Expedicionário vivia dias de horror e inferno: do dia 9 para 10 daquele mês, quando a 2ª Divisão do Corpo Expedicionário Português retirava dos campos de batalha para ser substituída, sofreu um dos maiores bombardeamentos do exército alemão seguido por um ataque em massa alemão embora com grandes focos de resistência por parte dos portugueses o CEP acaba quase por desaparecer. (...) As perdas atingiram quase 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objectivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade" 

"(Em Angola) Na fronteira sul, após um ataque alemão ao posto fronteiriço de Cuangar, as tropas portuguesas tentaram expulsar os alemães do território, mas em Dezembro de 1914, foram derrotadas em Naulila (Desastre de Naulila), tendo que recuar para Humbe. As tropas alemãs também retiraram mas, em simultâneo, as populações locais acabaram por se revoltar contra a soberania portuguesa" 

"(Em Moçambique) A força, que chegou a Moçambique em Outubro de 1914, estava completamente desorganizada, de tal forma que, passados alguns meses, mesmo sem ter tido nenhum contacto com o inimigo, já tinha perdido 21% dos seus efectivos devido a doenças. (...) Uma nova força de 1543 homens (...) tinha como finalidade recuperar a ilha de Quionga, mas também devido a desorganização idêntica à da primeira força, só em 4 meses perdeu, por doença, metade dos efectivos. (...) Uma 3ª força (...) constituída por 4642 homens consegue passar o Rovuma e conquistar Nevala mas, logo de seguida, é derrotada no combate de Nevala, tendo que retirar novamente para Moçambique. (...) Em Novembro de 1917, Lettow-Vorbeck passa o Rovuma e derrota as tropas portuguesas em Negomano, e percorre Moçambique sempre fugindo e derrotando as tropas (inglesas e portuguesas) que encontrava pelo caminho e provocando a revolta das populações locais contra os portugueses(...) Para Portugal ficaram, além das grandes derrotas militares, as revoltas das populações locais, que demoraram a ser reprimidas" (daqui)