MUNIÇÕES
Primeiro, um pouco de taxonomia: o "grindcore" é um género musical resultante da fusão a alta pressão do "heavy metal" com o "punk hardcore" – a adição de partículas de "thrashcore", "crust punk" e "extreme metal" é opcional –, subdividindo-se, a gosto, em "goregrind", "pornogrind", "deathgrind", e "electrogrind". É perfeitamente compreensível que, mesmo um ouvido treinado, revele alguma dificuldade em identificar as subtis distinções entre os diversos ramos e tendências uma vez que, de um modo geral, consiste num vertiginoso cagarim eléctrico sobre o qual são guinchados indecifráveis jactos verbais. Com uma simpática particularidade: é abençoadamente breve. A "microsong" é um dos seus traços característicos, detendo os Napalm Death – segundo os textos sagrados, alegados fundadores do género e subproduto sonoro da Inglaterra de Thatcher – o Guinness para a canção mais curta de sempre: “You Suffer” (1.316 segundos).
Óptima deixa para o que, agora, importa: The First 100 Songs, dos Anal Trump, com a duração total de 11 minutos, isto é, uma média de 6.6 perfurantes segundos por faixa. Se o nome da banda homenageia os anatomicamente problemáticos Anal Cunt – outra lenda "grindcore" –, a opção por “Trump” no lugar da "c-word" decorre do objectivo último de Rob Trump e Travis Trump (aliás, Rob Crow e Travis Ryan, dos Pinback e Cattle Decapitation): criar uma ferramenta política de protesto mas exclusivamente gerada “from the point of view of the asshole”. Por outras palavras, os títulos de cada canção constituem o único texto e cada um deles foi pronunciado por Donald Trump ou, se não foi, poderia ter sido. Trata-se, portanto, de um espelho (deformante mas não muito) da realidade que recupera munições da série de EP iniciada em 2016 (títulos exemplificativos: If You Thought 6 000 000 Jews Was A Lot Of People, You Should've Seen My Inauguration!, If You Wanted To Qualify For Health Insurance, Then Maybe You Shouldn't Have Gotten Raped?) e lhes acrescenta outras do mesmo poço sem fundo: uma longa lista de coisas/pessoas que “is/are gay” (“Journalism”, “Breast Feeding”, “Mammograms”, “Sick People/Old People”...), clássicos como “Some Mexicans Aren’t Rapists”, “My Daughter Is a Piece of Ass” e “Grab’em By The Pussy”, ou pérolas do estilo “Blood Coming Out of Her Wherever” e “I’m Like a Smart Person”. Foi publicado a 6 de Novembro – o dia das "midterm elections" – e a intenção declarada é “pôr fim a este feio capítulo da história humana”. Oxalá...
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