OLDE ENGLAND
Arthur Mee (1875-1943), jornalista, escritor e pedagogo inglês, foi o autor da obra em 42 volumes, The King's England – um guia exaustivo cobrindo 10,000 cidades e aldeias –, na qual criou o conceito de “thankful villages”: aqueles locais de onde todos os homens que partiram para combater na primeira Guerra Mundial regressaram sãos e salvos após o Armistício. Em Let England Shake, PJ Harvey já se havia debruçado sobre a selvagem carnificina, assassina de 16 milhões, e cujos incontáveis horrores Wilfred Owen, em "Dulce et Decorum Est", gravou com a cor do sangue: “If you could hear, at every jolt, the blood come gargling from the froth-corrupted lungs, bitter as the cud of vile, incurable sores on innocent tongues, my friend, you would not tell with such high zest to children ardent for some desperate glory, the old lie: Dulce et decorum est pro patria mori”. Darren Hayman, logo após a conclusão do óptimo álbum do ano passado, Chants For Socialists (sobre textos de William Morris, romancista, poeta e iniciador do movimento Arts & Crafts no final do século XIX), em conversa com o guitarrista, Ian Button (Death In Vegas, Thashing Doves), teve conhecimento da existência das “thankful villages”, pretexto instantâneo para a concepção de novo disco.
Strethall, Essex (Thankful Villages/IV)
A intenção não era compor sobre a guerra (embora, inevitavelmente, aqui e ali, ela surja) mas, tirando partido da definição de Mee, ter um ponto de partida para visitar 54 lugarejos perdidos da Olde England: “Sou agorafóbico mas interessa-me particularmente a ideia de que a música criada em determinados lugares leva consigo algo deles. Tanto desejei ser bem acolhido, sentar-me e conversar com as pessoas como mover-me como um fantasma, silencioso e invisível. Algumas visitas foram planeadas, outras completamente às cegas em busca de uma reacção imediata à paisagem e ao local”. Foi assim que, em Thankful Villages Vol.1, espécie de From Gardens Where We Feel Secure mais rural e num registo algures entre "field report" e "field recording", Hayman procurou um fio narrativo entre as experiências vividas nos 18 primeiros locais, gravou o vento ou a leitura de velhas cartas e poemas, pelo meio, inventou esboços de canções (e, tal como fizera PJ Harvey, uma sequência de videoclips paralela) e, enfim, auscultou o coração daquela antiga e amável Inglaterra que não confia na Europa.
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