17 July 2018

BANQUETE


Nos tempos mais próximos, nenhum restaurante norte-americano, por muito "haute" que seja a "cuisine", conseguirá projecção idêntica à que o The Red Hen, em Lexington, na Virginia, nas últimas semanas alcançou. Não exactamente em consequência da avaliação de 4,5 no TripAdvisor mas pelo facto de a proprietária ter-se recusado a atender Sarah Huckabee Sanders, porta-voz de Donald Trump, alegando que o restaurante “não abdica de valores como a honestidade, a compaixão e a cooperação”. Posteriormente, acrescentaria: “Não hesitaria em fazê-lo de novo. Há momentos em que não podemos deixar de viver de acordo com as nossas convicções. Este pareceu-me ser um deles”. Subindo um pouco no mapa até Hoboken, New Jersey – nobilíssima terra natal de Frank Sinatra –, podemos, entretanto, descobrir um outro estabelecimento do mesmo ramo que, embora por motivos diferentes, também fez História. Na verdade, o pretérito perfeito é o tempo verbal adequado: após uma gloriosa existência iniciada em Agosto de 1978, o Maxwell’s, encontra-se à venda, desde Fevereiro passado, por $1,199,000. Mas, durante 35 anos de actividade – em 2013, mudou de mãos e, até ao colapso final, foi descaracterizado pelos novos donos –, constituiu um polo crucial da cena rock local.

The Bongos

Fundado por Steve Fallon que converteria a antiga taverna dos operários da Maxwell House Coffee em restaurante, quase a partir do primeiro dia reservou um espaço para música ao vivo. Em estado mais ou menos embrionário, por lá passaram os Bongos, dBs, Feelies, R.E.M, Replacements, Sonic Youth, Hüsker Dü, Pixies, Dinosaur Jr., Nirvana, The Fall, Buzzcocks, Rain Parade, Wire, Pogues, David Byrne, The Slits... e uma interminável lista de muitos outros. A “New Yorker” ("Best club in New York — even though it's in New Jersey"), o “Village Voice” ("Best reason to leave the state for dinner and a show") e o “New York Times” (“So New York that it's in New Jersey") entoaram-lhe louvores, Jonathan Demme filmou lá o clip dos Feelies para "Away" e Springsteen o de "Glory Days" mas, desde há 5 anos, o destino estava traçado. A boa notícia, porém, é que os "bootlegs" das inúmeras bandas gravados por um empregado da casa, David McKenzie, e organizados pelo coleccionador e radialista Tom Gallo, estão, agora, disponíveis em The McKenzie Tapes, para um opulento banquete musical. Digno de uma avaliação, de certeza, muito superior aos 3.33 que a ementa do Maxwell’s nunca ultrapassou.

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