11 August 2022


(sequência daqui) Por altura dos dois primeiros (e excelentes) álbuns da banda – Hope Downs (2018) e Sideways To New Italy (2020) – os RBCF refugiavam-se numa atitude de cuidadosa contenção no que respeita à expressão de pontos de vista políticos (“Somos todos muito politicamente conscientes e activos. Mas não me parece que tenhamos o direito de falar sobre essas coisas. Quem somos nós, três homens brancos e 'straight', para dizer que pensamos assim e assado?”, dizia, então, Keaney ao “NME”); agora, dois atribuladíssimos anos da história do mundo passados, as coisas modificaram-se sensivelmente: “É difícil impedir que a realidade de tempos tão confusos e frustrantes se infiltre nas nossas canções. Enquanto grupo, somos optimistas e tentamos manter-nos longe de posturas cínicas. Mas tem sido um tempo difícil para optimistas. Há um razoável número de coisas claramente erradas neste país e no mundo a que as canções são permeáveis. ‘The Way It Shatters’, ‘Tidal River’, ‘Bounce Off The Bottom’, todas têm como pano de fundo a paisagem social”. O ódio assassino anti-imigração, a devastação ambiental, as gritantes desigualdades sociais, a violência contra os povos nativos, estão, de facto, todos aqui: engalanados num triplo disparo de guitarras, em barroca pirotecnia que ecoa simultaneamente os Television, Go-Betweens, The Smiths, Echo & The Bunnymen e R.E.M. e, a partir daí, cria uma realidade maior.

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