COMO UM LIVRO DE RECORTES
Gravar um álbum que tem como público potencial um universo de pouco mais de 300 pessoas, não é, de certeza, um projecto habitual em lado nenhum. Mas foi exactamente a isso que Gwenno Saunders se lançou quando, há 4 anos, publicou Le Kov, uma colecção de canções cantadas em "cornish", um dialecto da Cornualha cujo último falante fluente morreu em 1777. Desde então considerado “extinto”, apenas em 2010 a UNESCO – na sequência da actividade da Cornish Language Partnership (CLP) – a faria subir um degrau para “em risco de extinção”, e a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias a reconheceria como “língua minoritária”. Segundo a CLP, o aumento de 15% no número de candidatos a exames de "cornish", em 2018, dever-se-ia em boa parte ao impacto de Le Kov e o Cornish Gorsedh Kernow – uma comunidade de bardos contemporâneos – acolhê-la-ia entre os seus “pelos serviços prestados à língua 'cornish' através da música e dos media”. Agora que, 20 anos após o reconhecimento oficial pelo governo britânico do estatuto do "cornish", Gwenno edita Tresor, podemos, finalmente, sossegar: tamanho ardor identitário não é sequer parente próximo do azedo nacionalismo do Brexit. (daqui; segue para aqui)
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