FESTIM
Quando publicaram o segundo álbum, II (2018), os Sunwatchers fizeram questão de que na capa, desenhada por Catherine Wheeler, figurasse a sua "mission statement": “In solidarity with the dispossessed, impoverished and embattled people of the world”. E, não escondendo serem “homens brancos, nascidos na América”, perante “o facto terrível e indiscutível de que, neste mundo, os homens brancos possuem um milhão de vezes mais recursos de comunicação e mobilidade do que qualquer outro género ou etnia”, propunham-se usar o “imerecido púlpito” para “propagandear os direitos dos espoliados”. Acrescentavam: “Toda a arte criada no interior de um determinado sistema é, inerentemente, política. Vivemos numa das décadas mais tóxicas, desonestas e perigosas da História na qual um esquema de enriquecimento criminoso e explorador mascarado de sistema político hegemonizou o mundo. Apercebemo-nos disto bem antes de o idiota fascista Trump e a sua confederação de gangsters anarco-capitalistas terem tomado o poder. O capitalismo põe a humanidade em perigo e devemos acabar com ele se desejamos sobreviver”.
O que, para Jeff Tobias, Peter Kerlin, Jim McHugh e Jason Robira seria sinónimo de “criar música liberta da tirania semântica, longe do lamaçal das abstracções sem sentido”. Pelo menos tão importante era o que, por fim, confessavam: ”É preciso que se diga que estivemos quase a intitular o álbum ‘Let’s Have Some Fun!!!’ porque também não passamos sem isso...” Puríssima verdade: tanto essa gravação como Illegal Moves (2019) e, agora, Oh Yeah? e o EP praticamente simultâneo, Brave Rats, são aquilo a que apenas pode chamar-se uma exuberante celebração da música, de todas as músicas, num imenso caldeirão sonoro sobrenaturalmente coeso. Se pensarmos nuns Archie Shepp, Roland Kirk, John Coltrane, Albert Ayler e Pharoah Sanders psicadélicos ou em Zappa, Beefheart e East Of Eden de costela punk, eles apressam-se a informar que, para completar o diagrama de Venn estético faltam ainda “o minimalismo moderno, o underground/punk/noise/drone rock, o cajun, o klezmer, a country, a tradição tailandesa e da Irlanda”. Todos ingredientes indispensáveis a um festim “ávida e pronunciadamente político”.
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