Kevin Ayers - Joy Of A Toy, Shooting At The Moon,
Whatevershebringswesing e Bananamour
Para quem não esteja familiarizado com a personagem, pode muito bem dizer-se que Kevin Ayers é exactamente aquilo que Syd Barrett teria sido com uns valentes gramas de LSD a entupirem-lhe os circuitos cerebrais substituídos com vantagem por algum whisky e gin e bastante sol do Mediterrâneo. Típico excêntrico de extracção britânica, dandy preguiçosamente diletante que se entreteve a transformar o espírito "progressivo" dos anos 70 numa espécie de divertimento de salão para cavalheiros freak de tendência surrealista, após, com Robert Wyatt, ter ajudado a fundar um dos raríssimos colectivos "prog" que deixaram herança perdurável — os Soft Machine —, pareceu-lhe mais interessante reverter esse património de experimentação musical para o interior de canções que conciliavam um "soit disant" tradicionalismo de songwriter com imensa falsa candura, uma considerável dose de esquizofrenia deliciosamente "fake" e q.b. de bizarrias sonoras. Agora reeditados (com uns quantos bónus, outakes e as raridades previsíveis neste tipo de operações) os seus primeiros quatro álbuns de 1969, 1970, 1971 e 1973 — depois disso, honra lhe seja, seguindo o sábio princípio "I'm naturally lazy but what can I do?", também não se esforçou muito, não indo, até hoje, além de mais umas oito ou nove gravações — ajudam a confirmar a imensa falta que gente desta estirpe sempre faz para o desejável cultivo de uma imaginação rica e desordenadamente povoada. Mais acentuadamente indispensável nas delirantes alquimias de Joy Of A Toy, Whatervershebringswesing e Bananamour, um tanto perdido nos labirintos sonoros de Shooting At The Moon, a Kevin Ayers apetece sempre dizer: se não for incomodá-lo muito, importava-se de nos oferecer mais um álbunzito para o nosso deleite privado? (2003)
8 comments:
O "Shooting at the Moon" é mais que indispensável.
Pois é. Parece que, em quatro anos, mudei de opinião, como no texto sobre o Unfairground (depois de o ter escrito), reparei. Também era só que faltava, em quatro anos, não mudar de opinião sobre umas 30 ou 40 coisas.
Cool (in the pool).
Eu nunca ouvi o Joy of a Toy, vê lá...
Mudaste de opinião em relação ao Anthony, se não estou em erro. (Graças a Zeus)
Em relação ao Antony?... Esse, acho que não. Que me lembre, só recebeu a minha benção no The Raven, do Lou Reed.
Ao Antony apetece-me fazer o mesmo que ao Devendra Banhart: se tivesse uns filhos assim, ia a correr vendê-los no mercado negro... Agora mais a sério: Em relação ao Antony admito estar errado, pois 2 dos artistas que mais gosto (Reed e Bjork) parecem apreciar bastante.
Pois era mesmo daí (do corvo) que me lembro do elogio rasgado a Tóino.
Pronto, ainda tenho esperança (quais esperanças quais quê?!) que volte atrás e torcide a vaca (sagrada) da Rosie Thomas. Que coisinha mais sem jeito.
Bom post, João. Já não falamos há imenso. Estou com o cabelo grande. Temos de jantar. Telefona. (I know you won't).
JB
Orraite.
Post a Comment