03 March 2020

PENSAR EM VOZ ALTA

  
Procure-se “Babehoven” no Google e, inevitavelmente, leremos no topo da página “Será que quis dizer: Beethoven?” O jogo ortográfico-fonético é, evidentemente, deliberado e, se não deveremos estar à espera de uma 10ª sinfonia do mais ilustre cidadão de Bona, em Demonstrating Visible Difference of Height podemos, de certeza, contar com um peculiaríssimo pedaço de rock "indie" norte-americano, de uma banda “de Filadélfia, via Los Angeles (via Portland)” – como pode ler-se na sua conta de Twitter cujo "header" é um retrato do velho Ludwig Van pintado por Joseph Karl Stieler em 1820, a que se sobrepõe uma fotografia de Maya Bon (metade dos Babehoven de que, actualmente, a outra metade é o guitarrista e "sound artist", Ryan Albert, tamém em acção nos Pornog e The Metabolic Studio) adequadamente “beethovenizada”. 

"Maybe I'm Bitter" ("Director and Animator Brin Gordon is a transdisciplinary artist and Pataphysician who uses writing, performance, and video to explore processes of meaning. Their work looks at the intersections and boundaries between forms of knowledge as diverse as poetics, science, and common sense to study the ways in which subjectivity is created and in turn creates the world around it")
 
Após 2 EP – Sleep (2018) e Solemnis (2019) – nos quais se adivinhava uma personagem algures entre Kristin Hersh e Stephen Malkmus iluminada por uma muito vaga memória da country, desta vez, o cenário foi o dos bosques de Vermont, onde, durante três meses, foram concebidas e gravadas as cinco faixas de Demonstrating... O que, se favoreceria o registo intimista de diário, na verdade, abre-nos as portas para um mapa de ruminações maravilhosamente desordenadas acerca do mundo, das gentes e das coisas, como quem pensa em voz alta, falando sozinho. Um exemplo basta: Maya confidencia-nos “I’m allergic to pollen, was stuck in my bed, drained of all energy, pressure in my head”; a terapêutica (“went to the salon to treat myself, searching for a way to restore my health”) conduz a um mea culpa embaraçado (“They charged me 500, I feel like a dud”) que aterra em fúria contra as pérfidas sereias do consumismo: “ As the world is depleted I paid 500 dollars to silken my hair, I feel awful, so much for self care, (…) having short hair as a femme 2019, feels like I don’t know my body, feels like I am just nobody, unless I have some silky soft hair down my back”. De onde esta veio, haverá muitas mais.

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