10 December 2019

NUNCA ESQUECEREMOS


Quando era miúdo, Grzegorz Kwiatkowski, poeta e guitarrista polaco, acompanhava o avô até ao Museu de Stutthof, perto de Gdańsk, onde ambos viviam e, em silêncio, via-o chorar: “Ele tinha sido um dos presos naquele campo de concentração. Para mim, não se tratava de História, era a realidade”. Stutthof – primeiro campo de extermínio nazi construído fora das fronteiras alemãs – esteve em funcionamento de Setembro de 1939 a Maio de 1945 e recebeu 110000 prisioneiros de 25 países e 27 nacionalidades, 28000 dos quais, judeus. 65000 morreram nas câmaras de gás, em consequência de epidemias, e da violência do trabalho escravo. Foi igualmente em Stutthof que, dirigida pelo médico nazi, Rudolf Spanner, ocorreu a produção experimental de sabão a partir de cadáveres humanos. A intimidade com o horror intensificou-se ainda mais em 2015, num dia em que Grzegorz e um amigo passeavam por um pinhal nas imediações de Stutthof e descobriram um enorme aterro de sapatos. Escavando-o, encontraram muitos mais: “Não centenas mas milhares. Sapatos de crianças. De mulheres. Provavelmente, retirados aos prisioneiros à chegada ao campo”. Invisíveis e ignorados durante décadas mas, para Grzegorz, um símbolo vital: “Vivemos e respiramos a história do local onde o apocalipse aconteceu. Estes sapatos são uma verdade antiga. Muitos desejam apagar a História. Por isso, temos o dever de preservar estes artefactos do Holocausto para que não seja tão fácil negar a sua existência, uma forma de dizer que nunca esqueceremos”.



Em Of the Sun, último álbum dos Trupa Trupa (“Cadáver Cadáver”), a banda de Grzegorz Kwiatkowski, o texto de "Remainder", repetidamente proferido sobre um remoínho de guitarras, é apenas “It did not take place”, simétrico com o de "Never Forget"“We never, we never forget, those ghetto deaths, they sound like a midnight choir” –, do anterior Jolly New Songs (2017), e antecâmara da avalanche eléctrica de "Satellite" (faixa final, decisivamente final, de Of the Sun), espécie de canção de embalar psicótica hipnotizada por uma só ideia: “No one will ever remember your name”. Ninguém. “No one, no way, no one, nowhere, I dream about”, também vocabulário único de "Dream About", ensaio para o narcótico pesadelo desmantelado da faixa-título desta (nas palavras de Kwiatkowski) "colecção de canções contemplativas sobre extremos, aquilo a que chamo pessimismo vital. Amamos a liberdade mas o lugar de onde vimos não nos autoriza a esquecer o mal”.

6 comments:

Anonymous said...

Soviet forces liberated Stutthof on 9 May 1945, rescuing about 100 prisoners who had managed to hide during the final evacuation of the camp.[17]

João Lisboa said...

Porém... https://en.wikipedia.org/wiki/Gulag

Anonymous said...

Coisas entre comunistas .

João Lisboa said...

Tem de melhorara sua capacidade de interpretação da língua portuguesa.

Anonymous said...

“Melhorara “ ?
Assim fica difícil

João Lisboa said...

Tem razão. Um "lapsus teclae" pode ser fatal para quem, mesmo com tudo certinho, já tem dificuldades de compreensão. As minhas desculpas.