O "Ur-Fascismo" (II)
"1. A primeira característica de um Ur-Fascismo é o culto da tradição. O tradicionalismo é mais velho do que o fascismo. Não foi apenas típico do pensamento contra-revolucionário católico após a Revolução Francesa, mas nasceu na época helenística tardia como uma reaçcão ao racionalismo grego clássico. Na bacia do Mediterrâneo, os povos de religiôes diferentes (todas aceites com indulgência pelo Panteão romano) começaram a sonhar uma revelação recebida na aurora da história humana. (...) Estava confiada aos hieróglifos egípcios, às runas dos celtas, aos textos sagrados, ainda desconhecidos, das religiões asiáticas. Esta nova cultura deveria ser sincretista. "Sincretismo" não é só, como indicam os dicionários, a combinação de formas diferentes de crenças ou práticas. Uma combinação destas tem de tolerar as contradições. Todas as mensagens originais contêm um germe de sabedoria e, quando parecem dizer coisas diferentes ou incompatíveis, é só porque todas aludem, alegoricamente, a qualquer verdade primitiva. Como consequência, não pode haver avanço do saber. A verdade já foi anunciada de uma vez por todas, e nós só podemos continuar a interpretar a sua obscura mensagem. Basta olhar para o sumário de todo e qualquer movimento fascista para achar os principais pensadores tradicionalistas" (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)
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