12 October 2021

O QUE É UMA CANÇÃO?


“Acho que é mesmo uma fruta do tempo. Coincidiram ali vários aspectos que talvez ajudem a perceber porque comecei por ir por aí... o Zeca Afonso, o movimento dos ‘baladeiros’... tínhamos discussões de caixão à cova entre nós por causa daquela prótese criativa que existia na altura e que era pegar nos livros dos poetas e fazer canções. O debate – que chegou a levar a cortes de relações – era sobre o que é uma canção. Uma canção não é uma poesia servir de auto-colante para uma música qualquer, é um objecto novo, uma linguagem diferente. É filha, mesmo no sentido genético, da música e da palavra. Não há hipótese de fugir a isso e eu insurgia-me contra essa mania dos livros de poemas (ainda por cima, coisas neo-realistas), e fazer canções a metro com dois, três acordes, primeira-segunda-e-marcha-atrás, uma melodização extremamente pobre e, frequentemente, contraditória com o sentido das palavras. Nem a música nem a poesia precisam de muletas para nada. São duas artes importantíssimas que existem por si. Depois, acontecem esses encontros e isso já é outra coisa. Desde a minha adolescência, existia uma ligação quase tão importante, da minha parte, à música como à poesia. À música enquanto música e à poesia enquanto poesia“, foi a resposta de José Mário Branco – na sua última entrevista ao “Expresso”, há três anos, por ocasião da públicação dos Inéditos 1967–1969 –, a uma pergunta sobre se o seu EP Seis Cantigas de Amigo (1969) tinha algo a ver, nesse tempo, com uma ideia de identidade ou de procura de uma raiz. (daqui; segue para aqui)

"Leda M'and'eu"

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