18 February 2023

NO MUNDO DOS VIVOS

“Tinha dado demasiados tiros nos pés. Não tinha desaparecido por completo mas a estrada tinha-se afunilado, quase fechado. Ainda não me tinha extinguido mas cambaleava caminho fora. Havia uma pessoa desaparecida dentro de mim e precisava de a encontrar. Sentia-me gasto, um destroço vazio e esgotado. Demasida estática na minha cabeça de que não conseguia livrar-me. Estivesse onde estivesse, era um trovador dos anos 60, uma relíquia do folk-rock, um artesão da palavra de tempos idos, um chefe de estado de ficção de um país que ninguém conhecia. Não tinha a menor ligação a qualquer tipo de inspiração. Já não era o meu momento da História. O espelho tinha rodado e conseguia ver o futuro – um velho actor a vasculhar o lixo à porta do teatro dos sucessos passados”. Era este o Bob Dylan de 1987 que ele mesmo desenhava em Chronicles Volume One (2004). A salvação chegaria na pessoa de Daniel Lanois – “Ele era 'noir' por todo o lado – sombrero preto, calças pretas, botas altas, luvas – todo ele sombra e silhueta, um príncipe negro das momtanhas negras” – que, numa hora, o convenceria a aceitá-o na qualidade de produtor/anjo redentor. (daqui; segue para aqui)

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