07 June 2022

O QUE O OUVIDO FILTRA

Algures pelo final do século passado, Tom Waits gabava-se da sua receita de galinha de churrasco com molho de manga, limão, alho e gengibre e, se antes já havia associado a escrita de canções a “uma questão de trajectórias e balística” mas também de “cirurgia plástica, biologia, química e física básica”, dessa vez, desenvolveu mais o ponto de vista: “Cozinhar acaba por ser o mesmo que dirigir, arranjar e compor música. È a mesma psicologia de avaliar qual o ingrediente correcto, o que é compatível com o que se utilizou, quanto tempo deixar a apurar e quando voltar a mexer-lhe, se deve fritar-se ou cozer-se”. Vinte e picos anos depois, Claire Rousay, gaba-se do seu frango duplamente grelhado em marinada de amoras e não resiste a observar que “na verdade, é apenas um exercício de improvisação: estamos ali, no momento, de vez em quando provamos, apercebemo-nos de que falta um tempero qualquer, cozinhamos um pouco mais (às vezes, demais) e temos de ir inventando soluções”. (segue para aqui)

"it feels foolish to care"

5 comments:

alexandra g. said...

Seguramente, um dos conjuntos de palavras mais deliciosos que já escreveste (e recordo-me que escrevi aqui, um dia, que andei talvez 2 anos a ler-te sem jamais ter deixado qualquer comentário :)

João Lisboa said...

Quase só citei...

alexandra g. said...

Quando quase só citas continuas absolutamente elegível para aluguer:

Não passei dois anos a ler-te sem comentar para que penses que és tu a determinar o quão verdadeiros são os meus comentários.

Portanto! :)

João Lisboa said...

Prontos...

alexandra g. said...

Perfect!
Podes continuar :)