17 May 2021

TESOURA DADAÍSTA SOBRE 
MATÉRIA-PRIMA BECKETT
Florence Shaw tem um rosto de uma impassível beleza medieval: pálida, longa cabeleira, tão desprovido de expressão que basta um arquear de sobrancelhas para fazer o mundo tremer. Tom Dowse é um latagão com pinta de estivador "hipster". Lewis Maynard parece acabadinho de sair de uma banda de "covers" dos Black Sabbath. Nick Buxton nunca poderia ser confundido com outra coisa que não um baterista. Florence e Tom conheceram-se quando eram estudantes de mestrado no Royal College of Art de Londres. Ele aprendera a tocar guitarra escutando Sister, dos Sonic Youth (1987) e já tinha passado por diversas bandas anónimas apenas “pela 'joie de vivre'”; ela, num beco sem saída perante a perspectiva de uma carreira académica, gatafunhava "cartoons" sardónicos aos quais adicionava títulos e legendas. Tom deu-lhe a ouvir meia dúzia de maquetas que cozinhara com Maynard e Buxton e, perante o entusiasmo dela, desafiou-a a ser a voz e autora dos textos das músicas. Ouviu um “não” que – desarmado pela sugestão de que não teria propriamente de cantar – rapidamente se transformou em “sim”. Num instante, algures em 2018, tinham nascido os Dry Cleaning, a mais extraordinária banda britânica desde os Life Without Buildings do único e precioso Any Other City (2001). (daqui; segue para aqui)
 

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