21 March 2021

 
(sequência daqui) Gravado num espaço de poucas semanas durante o "lockdown", é o segundo passo de Nick Cave e Warren Ellis no método de composição iniciado em Ghosteen – mas já ensaiado nas cerca de duas dezenas de bandas sonoras para cinema, teatro e televisão criadas por ambos –, no qual, a matéria-prima são os textos de Cave reconfigurados durante sessões de prolongada improvisação (como explica Warren, “duas pessoas sentadas numa sala dispostas a correr riscos, e o que tiver de acontecer, acontece”) e, por fim, cirurgicamente editados e misturados numa perspectiva de libérrimo "bricolage" sonoro, muito pouco preocupado com formatos tradicionais. O confinamento parece não o ter afectado demasiado (“Em muitos aspectos, o confinamento pareceu-me estranhamente familiar (...) Isto não será uma surpresa, pois fui viciado em heroína durante muitos anos e o auto-isolamento e o distanciamento social eram as regras do jogo. Também conheço bem a mecânica do luto – o luto colectivo funciona de uma forma assustadoramente semelhante ao luto pessoal, com a sua confusão sombria, profunda incerteza e perda de controlo. O confinamento parece-me uma versão dirigida pelo Estado de mais do mesmo – uma formalização do tipo de comportamento de eremita para o qual sempre tive uma certa predisposição”) até porque, sem, de facto, se terem esforçado tremendamente, “o disco como que caíu do céu. Foi uma dádiva”. Cuja primeira faixa é, inevitavelmente, "Hand of God". (segue para aqui)

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