17 March 2021

 
(sequência daqui) Também em Janeiro, o Goran, de Liubliana, na Eslovénia, dirigia-lhe a interrogação “Como sabe se escreveu algo valioso? Qual é o seu processo?” Já não será muito arriscado imaginar que Sua Santidade Nicholas Edward Cave pegou na Bíblia mais à mão (confirma-se, pegou) e, citando a sua “passagem preferida do Novo Testamento”“Maria Madalena e a outra Maria permaneceram, à espera, diante do sepulcro” –, fez descer sobre o esloveno a boa nova: “Esta frase parece-me resumir o processo de criação. William Blake dizia que ‘Jesus é a imaginação’ e essas palavras sempre ecoaram em mim. Reuniram as noções de Jesus e do acto de criação e elevaram-no à esfera do sobrenatural. Grande parte do processo da escrita de canções é esperar atentamente frente ao desconhecido. Em vigília, à espera que Jesus – a ideia divina, a ideia bela – saia do túmulo e se revele. Tal como Maria Madalena não reconheceu Jesus, também, muitas vezes, a ideia bela nos parece estranha e improvável. Continuamos à espera, alerta e preparados para a receber. Não confiemos nas ideias que nos chegam demasiado facilmente. Não queremos uma ideia em segunda mão. Queremos uma ideia nova, a ideia bela. A ideia difícil e perturbadora, cintilando suavemente por entre as ideias mortas e defeituosas, puxando-nos a manga, delicada mas persistentemente – a ideia de Jesus”. (segue para aqui)

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