30 May 2012

A REGRA DE TRÊS SIMPLES 
(4ª parte da entrevista com Jack White publicada na "Blitz") 



Detroit, na história pessoal de Jack White e na própria biografia da cidade, chegaria ao fim. Já em decadência antes, e definitivamente devastada pela rebentada bolha assassina do “subprime”, em 2008, a “motortown”, capital mundial da indústria automóvel, transformou-se em quase cidade-fantasma, habitada por pouco mais do que espectros da história do século XX. Nos EUA, as maiores cidades morrem como minúsculas aldeias e – imagens, imagens, imagens sempre –, agora, é a vez de caber a The Ruins of Detroit – colecção de fotografias de Yves Marchand e Romain Meffre, contendo “todos os edifícios arquetípicos de uma grande cidade americana em estado de mumificação”) o papel de exibir os deslumbrantes e paralisantes testemunhos iconográficos de tão “esplêndidos monumentos em decadência, tal como as pirâmides do Egipto, o Coliseu de Roma, ou a Acrópole de Atenas, destroços não menos significativos da queda de um grande império”.



No entanto, já em 2006, White trocara Detroit por Nashville, em conflito com a cena musical local:

“Tinha-se tornado demasiado cínica e negativa. Sentia-me odiado, indesejado, desencorajado. É a cidade em que cresci e, até me ter tornado famoso, nunca me tinha acontecido tal coisa. Parecia que ninguém nos queria por lá. Era horrível, não podia ir a um bar, não podia ir a concertos, um autêntico desastre. Não conseguia de todo continuar a viver e a criar ali, era uma coisa incrível. Tive, por isso, de procurar outro lugar para viver. O que não é fácil quando isso significa abandonar a nossa própria cidade. Não porque o desejemos mas porque nos forçam a isso”.

Apesar de ser um indígena de Detroit que sempre confessou não ter especial afeição pela música da Tamla Motown, a cidade – mesmo que, agora, Nashville se esforce por mimá-lo, nomeando-o embaixador musical (“Foi uma decisão do mayor e, sem dúvida, um gesto de apoio muito simpático“) – há-de ter-lhe ficado agarrada à pele...

“Evidentemente que sim. Quando criamos alguma coisa e não desistimos nunca de o fazer, acabamos por ser vítimas do ambiente em que vivemos. E isso é igual quer vivamos em Inglaterra, no Japão ou na Lua. O sítio em que crescemos inspira-nos das mais variadas formas. Detroit influenciou-me de um modo que nunca poderia ter sido igual caso vivesse, por exemplo, na Califórnia”.


Mas parece-lhe que a cidade pode começar a reerguer-se?

“Não. As infraestruturas estão arrasadas e a atitude positiva de reconstrução pura e simplesmente não existe. Chamam-lhe uma cidade em renascimento mas não está a acontecer renascimento nenhum porque a atitude que prevalece é a pior possível”.

1 comment:

JQ said...

a propósito do último parágrafo, um doc decente com 26 mins sobre o antes e o agora em detroit - http://vimeo.com/couchmode/user930546/videos/sort:date/2371774